- Você deixou seu navio ser roubado por uma cega.

- Calado.

- Jack, isso é absurdo! Por pouco não fomos lançados ao mar por Barbossa! – Gibbs parou a caminhada dos dois, fazendo algumas pessoas chocarem-se contra ele na rua movimentada.

      O capitão limitou-se a lhe lançar um olhar gélido, dando-lhe as costas um segundo depois.

      O imediato suspirou, arrastando os pés atrás dele. As crises de mau-humor de Jack, antes raras, agora eram quase comuns. O fato de estarem sem navio ou tripulação, mais uma vez, não facilitada as coisas.

      Mas isso estava longe de ser o pior de tudo.

      Observou, quase com pesar, o capitão entrar em uma taberna qualquer empurrando as pessoas em seu caminho, ignorando xingamentos e ameaças como se fosse surdo. Afastou com um empurrão desinteressado um bêbado que dormia em cima da bancada, derrubando-o no chão pegando a garrafa que ele havia deixado pela metade. Bebeu tudo num gole só, como...

      Como Brooke fazia quando chegara ao Pearl.

- Jack...

      O capitão o olhou de canto de olho, ainda com a garrafa nos lábios. Tinha os mesmos olhos opacos desde o dia que ela se foi.

      Gibbs franziu as sobrancelhas, sem saber como continuar. A verdade é que não havia nada para ser dito. Não havia como passar ileso pela vida, como seu capitão acreditava, e ele não sabia como ajudá-lo, talvez porque ele nunca tenha precisado de ajuda.

      Era desconcertante ver seu melhor amigo daquela forma. Mesmo que ele não soubesse, precisava fazer alguma coisa.

      Abriu a boca no mesmo instante em que Jack bateu a garrafa no balcão, com mais força do que o necessário. Mas sua voz foi completamente coberta por uma música ribombante. Sem que percebessem, todos no bar se silenciaram para ouvir a música, e, quase tão rápido quanto ela surgira, eles foram para as ruas tentar descobrir sua fonte.

      Gibbs também, sendo acompanhado por um Jack quase apático. O imediato buscava qualquer distração, e se os músicos não fossem bons, poderiam apenas gastar algum tempo zombando deles.

      Não era sempre que algo assim ocorria em Tortuga. Ali não havia um público muito receptivo para pessoas exibicionistas, mas por algum motivo todos pareciam satisfeitos. Depois de algum tempo até passaram a assobiar e gritar uma variedade de coisas obscenas, provavelmente para alguma outra prostituta que passava por eles.

      Ou talvez não.

- Por todos os santos, aquela... – Gibbs balbuciou baixinho, sua voz quase inaudível sob a música. Os olhos claros do pirata quase saltaram de seu rosto, e ele não conseguiu desviá-los para ver que Jack tinha a mesma expressão.

      Passou rodopiando por eles... Um vulto de cachos ruivos.