Eu fui para casa, eu só tinha que fazer uma única coisa antes de abrir meu café no dia seguinte: convencer meu cozinheiro a trabalhar! Não falei com ninguém quando cheguei em casa, fui correndo para o banheiro e tomei um banho, eu já estava me enojando da minha pele suada. 

Depois que terminei vesti uma roupa para a noite, uma saia vermelha com um lacinho e uma camisa branca com listrar azuis bastavam para mim. Coloquei uma meia calça escura, pois estava frio e um sobretudo enorme que minha mãe comprou para mim, ele ia até meus joelhos, parava um pouco acima, eu achei desnecessária a compra dele quando o vi, mas depois eu me apaixonei.

- Olha! Não vi que tinha chegado - disse minha mãe, ela estava preparando algo para comer. Eu percebi que eu não tinha comido nada, mas provavelmente no lugar para onde eu ia com tanta pressa teria comida, era quase certo!

- Cheguei a um tempo, e já estou saindo! - falei, pegando meus saltos vermelhos da cor de veludo.

- Você está sempre ocupada!

Ignorei ela e peguei minha bolsa, estava chovendo, eu quase desisti de ir, mas o meu café dependia daquilo! Peguei meu guarda-chuva e fui andando até onde eu pude achar um táxi decente.

Falei o endereço da casa do meu amigo, muito enrolada, por sinal, e o senhor que dirigia deu partida no carro. Aposto que ele riu de mim quando eu entrei atrapalhada no carro.

Demoramos uns cinco minutinhos, ficar em silencio já estava me deixando louca. Paguei o motorista e desci do carro. A chuva não estava mais tão forte, deixei meus cabelos aproveitarem um pouco a chuva e fui sem o guarda-chuva até a porta do edifício.

Um senhor me ajudou a entrar. Eu falei o número do apartamento e ele avisou ao morador que eu já estava subindo. Suspirei um pequeno "obrigada" e subi pelo elevador. Terceiro andar, apartamento 204, pensei. Apertei o botão e o elevador me levou até o terceiro andar.

Eu já tinha ido no apartamento dele, mas eu sempre me esquecia o número, e já tinha passamo mico por causa disso. Eu chequei os números nas portas e apertei a campainha da porta número 204. Esperei um pouco, nervosa, e um garoto abriu a porta. Um garoto loiro abriu a porta. Ele pareceu um pouco surpreso pela minha visita.

- Posso entrar? - perguntei, sorrindo. Sem esperar resposta eu entrei e coloquei minhas coisas no sofá, arrumei meu cabelo, que estava todo molhado, tirei meu sobretudo e o joguei em algum lugar. Depois me sentei numa poltrona.

- Posso imaginar que não veio aqui para comer alguma coisa, né? - falou o garoto.

- Ah, se tiver alguma coisa, eu não me importo, se tiver que preparar também, se for sua comida é claro que eu aceito, Lysander - falei.

- Ótimo - falou ele. - E não me chame de Lysander.

Lysander é um antigo amigo meu, ele estudava comigo nos cursos de culinária, sempre foi melhor que eu e sempre me ajudava com temperos e outras coisas. Quando eu queimava minhas coisas, Lysander era meu anjo e me ajudava. Nossa amizade sempre foi muito grande. Eu poderia chegar às 3hrs da manhã que ele estaria pronto para cozinhar para mim. Lysander estava na escola ainda, ele era um gênio, pelo menos para mim, enquanto eu estava com 17 anos sem fazer um arroz, ele fazia pratos perfeitos com 15. Ele me contava coisas sobre o clube de natação, eu sempre escutava tudo, mesmo não entendendo nada do que ele falava.

- Onde está sua mãe? - perguntei. A mãe de Lysander sempre estava com ele, os pais era divorciados, por isso Lysander morava com a mãe. Não que ele tivesse alguma coisa para reclamar, além é claro dos micos que ela pagava.

Lysander andava até a cozinha, a única coisa que a separava da sala era um degrau e as bancadas perfeitas da mãe dele. Eu subi  o degrau, deixei meus sapatos perto das minhas coisas e andei de meia pela casa. Sentei na bancada que ficava perto do fogão, para onde Lysander ia.

- Ela está experimentando um curso para mães solteiras - respondeu ele.

- Parece divertido - peguei um pote de biscoitos e comi um. - Nossa! Você que fez?

- Eu cozinho nessa casa! - ele falou, rindo.

- Ah, claro! Estão deliciosos!

- O que vai querer? - ele perguntou, já tinha colocado o avental, eu o achava engraçado naquilo, mas ele dizia que o segredo de um chef era eu avental. Eu ri dele. Me lembrou dos tempos do curso.

- Eu queria que você trabalhasse comigo - falei.

- Isso não é de comer!

- Ah! Vamos! Por favor, sabe que eu faria isso se fosse você! 

- Eu estudo, Rei.

- Por favor! - pedi, com cara de santa.

Ele pegou uma tigela e alguns ingredientes como farinha, fermento, chocolate. Colocou tudo na bancada do meu lado. Ele começou a medir as proporções.

- Vai, Lee-chan! Deixa! Você pode estudar depois!

- Estudar depois?

- Pode estudar de noite! Ah, não! Eu sempre te ajudei!

- Eu não tenho tempo - disse ele com um sorriso como se estivesse gostando daquilo.

-Lee! - segurei o queixo ele e virei o rosto dele para mim, ele sorria travesso. - Por favor! Eu não conheço um cozinheiro melhor que você!

- Vai montar aquele café?

- Já montei! - cruzei os braços e esperei Lee começar a dizer coisas como "nossa, impressionante, você é muito boa" ou "parabéns, Rei-chan, você é fantástica". Mas tudo que veio foi só um: criou um café e precisa de um chef? Não pensou nisso antes?.

- Lee! Não seja tão grosso! Eu achei que você iria ser educado de me ajudar!

- Sabe que eu não tenho tempo!

- Você só dorme e faz dever! Tem tempo sim!

- Isso é importante para mim! Eu vou criar uma carreira a partir de dormir e fazer dever! - ele jogou a massa por cima de mim e pegou do outro lado como um mágico. Era um dos truques do Lee, eu não preciso dizer que amava, né?

- Lee! Por favor...

- Vou pensar - ele falou, seu sorriso estava cada vez maior.

- Lysander Teshigawara! Eu juro que se você não me ajudar eu paro de falar com você!

Lysander riu. Ele poderia fingir que não se importava, mas eu era mega importante na vida dele!

- Você não pararia.

- Tente para ver! - cruzei os braços e esperei que ele ficasse com saudade e me implorasse para voltar.

- Rei, é sério, eu não posso mesmo - ele falou.

- Por favor! - pedi. - Eu não tenho outro cozinheiro, se você não me ajudar, eu vou ter que cozinhar...

Parece que o Deus da culinária tocou o coração de Lysander, ele automaticamente disse que não queria que as pessoas provassem da minha comida e que me ajudaria se o caso fosse esse. Ele também disse que não me deixaria na mão, estava apenas brincando. Eu briguei com ele por ser tão idiota e comecei a falar trezentas coisas que um amigo leal deveria fazer. Acabamos comendo um bolo que Lysander fez e ele me prometeu que faria o que fosse possível por mim. Eu devo ter ido para casa umas 10hrs da noite. Já estava tudo combinado. Lysander iria me ajudar no café e eu seria a neko por uns dias até encontrar quem pudesse fazer esse serviço para mim. Então eu teria o melhor café do mundo, e isso com apenas 19 anos, é, esse café foi a melhor ideia que eu já tive, e ter Lee do meu lado foi a coisa mais perfeita que já me aconteceu.