Amiga Morte escrita por Quézia Martins


Capítulo 11
A Verdadeira Salvação


Notas iniciais do capítulo

A fic está entrando na reta final, esse trabalho é bem pequeno.

Boa leitura.



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...

— Oi Lua - respondeu num murmúrio.

— Está tudo bem?

— Não. - Babi começou a chorar outra vez - Que bom que você está aqui! - e ela a abraçou calorosamente. Lua correspondeu. - Você é tão fria. - comentou ainda nos braços de Lua.

— Estamos no Alasca! - a velha falou brincalhona. - E eu espero que essa faca não arranque um pedaço de mim. - Babi saiu do abraço e olhou a faca constrangida. Colocou a mesma sobre a pia.

— Perdão. - Babi falou baixo. Ela sentiu a necessidade de se desculpar.

— O que pretendia fazer? Se matar? Achou mesmo que isso acabaria com tudo?

— O que queria que eu fizesse? - ela retrucou limpando os olhos.

— Eu não queria que se suicidasse. De verdade.

— Por que se importa tanto? - Babi questionou.

— Porque sou eu quem enfrenta suas crises contigo. Sou eu quem está com você quando pensa em morrer. Em se matar.— havia muito ênfase na última frase.

— E por que? - Babi perguntou nervosa, confusa. - Por que só estais comigo em momentos ruins?

— Porque sou sua amiga. E sendo sua amiga, eu digo que se matar não iria resolver.

— Iria me livrar da dor.

— Que dor, Bárbara? - Lua indagou elevando o tom de voz.

— As que tenho tentado ignorar. Eu estou morrendo, Lua!

— Faz tempo. - ironizou a velha.

— Mas, eu não... Eu não sei se consigo aguentar isso. - Babi falou fazendo movimentos exagerados com as mãos.

— Poderia ser pior. - Lua falou se aproximando dela.

— Pior? Como?

— Você poderia estar nessa sozinha. - Babi a olhou. Lua tinha razão. Como sempre.

— Você tem razão. - Babi concordou deixando os braços caírem ao lado do corpo.

— Você tem o direito de surtar. - Lua falou dando um meio sorriso - eu surtaria.

— Lua você... É confusa. - Babi falou se virando para pegar a faca de cima da pia e guardá-la em seu devido lugar. - Você me faz ver as coisas e depois... Lua? - Babi inquiriu ao se virar novamente e não enxergar Lua ali. - Não tô dizendo? - Ela falou para si ao constatar que a velha realmente não estava mais lá.

***

Octávio falava com sua irmã que fora limpar o apartamento.

— Como ela é? - gritou Paula do quarto.

— Linda. Especial. Amo ela.

— Então por que parece tão triste? Ela não te ama? - perguntou Paula entrando na sala de estar.

— Ama. Ama muito.

— Então qual o problema?

— O problema? - ele a olhou com os olhos marejados. - Ela está morrendo - e ele saiu da sala. Paula ficou um tempo digerindo aquela informação. Então, o seguiu até o quarto.

— Quer falar dela? - questionou sentando na beira da cama.

— Talvez - ele disse dando de ombros.

— Isso é um sim?

— Eu a amo de verdade. Não acho justo. - ela pensou em dizer algo, mas sabia que ele continuaria. - Você sabe o que é amar alguém a ponto de se perguntar "Por que ela e não você?" - ela abanou a cabeça num "não" não verbal - Eu agora sei. - ele ficou em silêncio.

— O que ela tem?

— Câncer. - ele suspirou - Que já virou metástase. - completou.

— Mas não dá pra retirar?

— Não. Já se alastrou. É esse o significado de metástase. E ela desistiu de lutar. Ela é teimosa.

— Por que ela desistiu? - ela perguntou baixo, limpando com o polegar uma lágrima que correu no rosto de Octávio.

— Lutar tomaria muito tempo dela.

— Mas devolveria também. Disse isso a ela?

— Tentei, mas ela argumenta bem. Nunca vi alguém fazê-la mudar de ideia.

— Achei que o amor mudasse as pessoas. - ela comentou sentindo os olhos arderem. Era difícil se imaginar naquela situação e ela sentiu a dor do irmão.

— O amor mudou ela. Mas, ela não aceitou uma mudança completa. - os dois ficaram em silêncio. Paula não sabia o que dizer. -já terminou a faxina? - Octávio perguntou saindo da cama.

— Terminei. - Octávio tirou a carteira do bolso de sua calça social e entregou a sua irmã o dinheiro da faxina.

— Obrigado por tudo. - e a abraçou.

— Quer que eu fique?

— Daqui a pouco tenho plantão no pronto-socorro.

— Que saco! - ela praguejou se soltando do abraço apertado e indo em direção a porta. - Então até a próxima faxina! Fica bem. Me liga se precisar de alguma coisa.

— Obrigado Paula. - e Octávio fechou a porta vendo-a sair. Ouviu batidas na porta segundos depois e achou que sua irmã tinha esquecido algo. - Eu sabia que... - mas, ao abrir a porta, uma senhora de branco estava ali e ela não parecia nada bem. Ele a pegou pelo braço, dando apoio a ela e a colocou no sofá. - A senhora está bem? - a velha murmurou algo inelegível e Octávio voltou fechar a porta que deixou escancarada para entrar com a velha. - Quer algo? Um copo com água? - ele ofereceu prestativo.

— Só quero a sua atenção. - a velha falou ficando em pé totalmente mudada e recomposta. Com a face descompassada como se nada tivesse ocorrido ou como se ela não estivesse passando mal minutos antes. - Octávio Magalhães né? - ele consentiu. - Meu nome é Lua. Tento pouco tempo então, por favor, não me interrompa com questionamentos desconexos! As coisas se esclarecerão por si só.

— Ok - Octávio falou simplesmente.

— Resumindo: Sou quem vai levar a Babi - Lua falou e fez uma pausa ao ver que Octávio se contraiu. - Eu sou o anjo da guarda dela. Sou a morte, como fui a vida. Eu permiti a doença. Sim, é claro que eu poderia salvá-la. - ela engoliu em seco. Parecia estar lendo tudo em um papel imaginário e retirando dali somente as coisas que ela queria. - Poderia. Acredite, já fiz de tudo para reverter o quadro mas, eu brinquei com algo que estava além de mim. E agora senti as consequências, eu só queria que a Babi valorizasse mais a vida, queria mostrar outra dimensão de visão a ela, mas tudo saiu do controle. Agora é tarde demais. Não posso mais curá-la, esse é o meu castigo por ter brincado com forças maiores. Eu não posso mais fazer nada além de estar com ela e aparecer para confortá-la, mas você, você Octávio, é o anjo carnal dela. Você pode fazer muito por ela. Realizar os desejos. Amá-la intensamente. Fazer amor com ela ao relento, por favor, realize todos os desejos eróticos malucos daquela mulher com alma de criança. Você deu a ela uma primeira vez inesquecível. Seja carinhoso, paciente e cúmplice de cada loucura que ela sugerir. Dê a ela motivos para ficar viva e para sentir-se viva. Dedique-se a ela. Desfrute cada momento e saiba que, cada segundo pode ser fatal. Definitivo. Peça desculpas a ela mesmo quando você estiver certo. O tempo é curto demais para deixar motivos fúteis interferir. Faça tudo isso até que cesse o ar dos pulmões dela. Só não a deixe sozinha. Só você pode dar a ela a verdadeira salvação. - dito isto, ela sumiu. Bem na frente de Octávio. Foi num piscar de olhos.

Octávio se sentiu atônito e deixou o corpo cair no sofá. Como digerir tantas informações? Morte e vida? Tarde demais? Anjo carnal? Desejos eróticos? Primeira vez? Salvação? ... Espera... Primeira vez? Babi não disse nada. E ele nem reparou pela emoção do momento. Sentiu-se culpado. Como pôde não ter percebido? A delicadeza, insegurança...

Foi só então que ele percebeu que já conhecia Lua. Uma vez ela invadira seu apartamento para lhe dizer umas verdades. Agora ele queria Babi ali. Para esclarecer tudo de uma vez.

Arrumou-se para o plantão e saiu perturbado.

 


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Notas finais do capítulo

~Keel