Paralelo T. escrita por Tom


Capítulo 9
Capítulo 9 - Detalhes


Notas iniciais do capítulo

E quando você perde os mínimos detalhes de informações cruciais, você perde tudo.



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Torie estava deitada em sua cama, lendo. Na verdade, ela tentava. Sua cabeça estava concentrada em diversas coisas ao mesmo tempo, totalmente confusa. Era possível que existissem três garotos diferentes para fazê-la pensar em ambos? Tudo bem que Daryos já estava quase totalmente esquecido, mas os outros dois...

Pelo menos por um ela tinha quase certeza que o “gostar” era fraternal. Depois de tudo que havia acontecido com o garoto do jogo, ela ficava feliz por ser apenas amizade. Decididamente gostar de alguém não era o seu forte, mas isso não impedia que novas pessoas aparecessem na sua vida a partir do seu curso e de sua escola.

- Ai meu Deus... – Murmurou ela enquanto desistia de sua leitura. Tinha dias em que tudo transcorria normalmente, mas tinha outros em que Torie tendia a ficar pensando e pensando e pensando. De repente, a garota foi tirada de seus pensamentos. Seu celular vibrou bem acima de sua barriga uma única vez.

“E aí, vai escrever mais da Amerie hoje?”, perguntou Ilee na mensagem. Já fazia algum tempo em que ela cobrava isso de Torie. Devido às tantas coisas que a loira deveria fazer, o espaço para escrever estava diminuindo bastante e ela não gostava disso. Mas agora ela poderia dar continuidade à história. Pelo menos um pouco. E também, escrever ajudaria a ela ignorar a confusão em sua cabeça.

A garota se levantou, então. Foi em direção ao computador, fazendo-o ligar, e depois se sentando defronte a sua tela. Pelo que percebia o modem da internet não estava ali, o que era um pouco triste, mas de certa forma era bom. Ela apenas escreveria hoje. Rapidamente a página de sua história já estava aberta e ela havia começado a digitar.

“Por mais que Amerie havia esperado pela sua vingança por mais de quinze anos, ela não estava preparada para ver o nome de Antti escrito naquele papel.

Era horrível.

Mas então ela se lembrou de que tinha um motivo por ela ter se tornado assassina e que tinha um motivo por ela ter matado todo o resto da família Charlisle. Menos, é claro, Agnes. O pouco espaço na mente de Ame se perguntava o porquê de ela não ter sido antes do prefeito, mas o chefe também deveria ter algum ressentimento com ela. Para a morena, isso era reconfortante.

[...]

Amerie Piktrius já estava totalmente vestida com as suas típicas roupas negras. O cabelo, sempre solto, se movia como se fosse chamas. A porta da casa aberta permitia que o vento frio entrasse e significava que Ame estava prestes a partir em direção à mansão do Prefeito. Novamente ela teria de tomar a rede de túneis, pois as câmeras espalhadas pelas ruas poderiam gravá-la com facilidade.

O dia estava totalmente nublado, mas a neve já havia parado de cair. Grande parte da estrada que saia de sua casa estava coberta por gelo. Ela daria tudo para ver Matthew andando por ali e caindo de cara no chão. Ele merecia. Pensar nele fez com que a mulher se sentisse um pouco pior do que já estava, mas isso não era um grande problema. Seus 37 anos de experiência de vida somados aos anos em que fora amiga de Antti Charlisle já haviam ensinado que os homens eram todos iguais; idiotas.

O caminho que a levava até o alçapão era bem curto, então logo ela já se via de frente a ele, abrindo-o sem qualquer cuidado. Não havia uma única alma viva ali, então não teria problema em fazer um pouco de barulho. Novamente, os túneis estavam totalmente escuros. Lembrou-se de quando saiu com Rodolf nos braços e quase morreu ali. Lembrou-se daquele galho que a fazia lembrar, como sempre, de seu passado.

Como um lugar abaixo da terra poderia guardar tantas memórias?

Ame só esperava que não houvesse nenhuma outra. Ela começou a vagar lentamente pelo caminho iluminado apenas por alguns archotes de fogo. A mulher tentou por todo o caminho esquecer o que iria fazer assim que entrasse na casa do prefeito, mas seus pensamentos eram rebeldes demais para cumprir isso.

Ela imaginava a adaga, a mesma adaga que estava guardada por debaixo de suas vestes, transpassando o coração de Antti.

Ela imaginava o sangue escorrendo pelo corpo do homem e sujando as mãos da assassina.

Mas ela imaginava, também, que aquele poderia ser o momento em que as suas lembranças se perderiam e ela poderia viver sem se lembrar de que um dia fora apaixonada pelo homem responsável pelos piores e melhores momentos de sua vida.

Talvez matá-lo não seria tão ruim assim. Ele era apenas mais um Charlisle.

Enquanto Amerie se focava em pensar nessas coisas ela já se localizava no túnel que dava acesso ao porão da mansão. Prendeu a respiração enquanto abria a porta e saia no cômodo totalmente escuro da casa de seu inimigo. Agora que ela já estava ali, não poderia nem pensar em voltar. Ela estava ciente disso e por esse mesmo motivo continuou o seu caminho até chegar ao corredor iluminado do local.

Só restava saber a onde é que ele estaria, entretanto. Mas isso não era tão difícil... Pelo menos era assim que Amerie pensava enquanto ela se dirigia para o escritório do prefeito. Ela retirou a adaga presa no cinto e parou por um momento, avaliando se não vinha ninguém pelos corredores. A porta para o cômodo estava logo à frente, entreaberta.

Espiar não era o que ela costumava fazer, mas a mulher estava apenas com os olhos pela fenda que se abria para o interior do recinto. Não havia qualquer movimento ou som diferente, a não ser o de algum líquido sendo derramado. Amerie soltou um longo suspiro e entrou, dando de cara com um Antti bêbado.

Por mais que ela esperasse que aquele encontro a matasse interiormente, foi totalmente o contrario. O estado do homem era nojento. Suas roupas estavam amassadas e sujas de vômito, sua barba estava totalmente mal feita, seus olhos estavam vermelhos – possivelmente de chorar – e desfocados e ele não conseguia acertar o whisky dentro do copo, derramando-o ao seu redor.

Ele não se importava.

Amerie sentiu repulsa e pena.

Assim que ela deu um passo cômodo adentro a porta rangeu. Antti parecia não ter percebido por alguns segundos, mas levantou a cabeça e olhou completamente abobado para Ame.

- Quem... Quem está aí? – Perguntou com a voz falha. Ele piscou algumas vezes, para melhorar a visão, e continuou a fitar a mulher. Por ela não ter respondido, ele repetiu a pergunta. Nada. Ame não queria falar com ele naquele estado... Ele não era mais o Antti que ela conhecia. Aquele era simplesmente um homem que sofreu as consequências dos atos de seus antepassados e de seus próprios.

Um bêbado jogado na sarjeta de sua luxuosa mansão.

Ele começou a se levantar, mas assim que se pôs de pé suas pernas tremeram e ele caiu sobre a cadeira. Soltou um grunhido ou algo parecido, tentando se levantar novamente.

- Flala logo quem tá í! – Repetiu as palavras em voz alta. Se é que aquilo fossem palavras, pois a sua língua estava enrolada. Ame se adiantou mais alguns passos até parar a um metro dele. O homem ergueu os olhos e a encarou. Não se pode dizer o que havia naqueles olhos cor de mel, mas Amerie tinha certeza que ele a havia reconhecido. Ela apertou com força o cabo de sua adaga.

- Você jogou a sua vida fora, Char. – Respondeu, enfim, a assassina. Sua voz ficou embargada por um momento, pelo uso daquele apelido que há muito tempo ela havia prometido não usar mais. O homem abriu a boca para responder, mas apenas se via lágrimas em seu rosto. Amerie era a causa daquilo. A causa da desgraça que ocorria na vida do prefeito.

Mas ele era a causa de ela ter virado uma assassina. Ele e sua família.

O homem tentou se levantar, para abraça-la, mas a única coisa que conseguiu foi se jogar em cima da mulher. Os pensamentos de Antti estavam nostálgicos naquele momento. Por aquele breve momento. Um único e breve momento antes de Amerie transpassar a adaga pela camisa rasgada, pele imunda e coração do seu antigo amigo.

E Amerie Pikitrius também estava chorando.

E o corpo de Antti Charlisle jazia morto, aos seus pés.

[...]

A Assassina não se demorou no escritório. Na verdade, não fazia sentido em ela ficar mais tempo ali. Antti não passava de uma pessoa morta. Ele não significava mais nada. Nem ódio e nem amor. Nada a não ser a prova de um assassinato.

Assim que Ame dobrava o corredor que dava acesso à entrada do porão, seu corpo se chocou com o de alguém maior e mais robusto. Seus pensamentos por um momento se clarearam e ela começou a pensar em meios de fugir. Eles deveriam ter colocado uma câmera no escritório depois da morte do guarda e então o segurança que ficava de olho na tela da televisão tinha ido atrás de Amerie. Poderia ser muito bem isso, mas a mulher reconhecia o cheiro do perfume que o homem usava. Quando ergueu a cabeça, não se surpreendeu.

Matthew Flavttion Williams estava diante dela.

Parecia que ele nunca a tinha a visto na vida.

A Piktrius suspirou profundamente antes de se afastar um passo e fixar o olhar no homem a sua frente. Seu rosto estava impassível, sem demonstrar nenhuma emoção. Ame apertou sua adaga, descontando a insatisfação e raiva que tomava conta de seu ser. Ela havia sido usada por ele.

“USADA!”, foi o que gritou em sua própria mente. Mas assim como ele, o rosto da mulher estava impassível.

- O Chefe quer te ver. – Informou o rapaz. Sua saiu ríspida. Ele se virou e começou a andar no sentido contrario ao túnel. Amerie poderia muito bem sair correndo dali, mas havia coisas que a impediam de fazer isso. 1) Ela queria muito conhecer quem era o seu Chefe e 2) queria que ele anunciasse que a sua próxima e última morte seria a de Agnes. Sem dizer uma única palavra, a assassina seguiu o homem.

[...]

O quarto em que ela se encontrava estava totalmente escuro. Ela não sabia qual cômodo era aquele, mas não parecia ser um local muito legal. Havia ali uma única mesa com uma cadeira de encosto alto, tampando quem quer que fosse que se sentava ali. A curiosidade de Amerie estava apenas crescendo.

Mesmo que estivesse escuro Ame conseguia ver a sombra de Matthew se inclinando sobre a pessoa atrás da mesa e sussurrando alguma coisa em seu ouvido. O chefe afirmou com a cabeça e a cadeira girou, para ficar de frente para a morena. Amerie prendeu a respiração e piscou os olhos algumas vezes antes que as luzes do cômodo se ligassem.

Não era O Chefe.

Era A Chefe.

Agnes Charlisle fitava Amerie com superioridade."

Torie sorriu para si mesma com aquele último trecho do texto. Que reviravolta. Ela tinha certeza que Ilee a mataria, mas esse era um dos prazeres de escrever. Causar essas reações aos leitores. A garota se levantou da cadeira e começou a se dirigir para a cozinha. Seus pensamentos estavam menos confusos. Não pelo fato de ter se esquecido dos garotos ou qualquer coisa que a afetasse, mas por estar fazendo uma coisa que ela amava.

Estava na parte final de sua história.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, mas eu estava estudando para minhas provas.

As coisas voltaram a ficar divertidas, não? e.e

Espero que tenham gostado do capítulo. :3