Romeu

Acordo com minha mãe, berrando:

– Romeu! Acorda! Anda! Já são sete horas!

Olho de relance para ela e digo:

– Mas, hoje é sábado.

– Ah, é... Verdade. Acordei Isaac à toa também.

Rio baixinho e volto a dormir. Só acordo ás dez, com o toque do meu celular me avisando que recebi uma mensagem. Era Julieta.

“Encontre-me naquela pracinha perto da escola, hoje ás 11”.

Rapidamente, saio da cama. Escovo os dentes, troco de roupa. Camisa preta, bermuda jeans e sandálias de dedo. Vou até a cozinha e como pão com queijo e bebo um copo com café e leite. Digo aos meus pais que vou andar de skate por aí.

Vou para o quintal, pego meu skate e olho no relógio. Dez e vinte ainda. Penso: “Não posso me atrasar de novo com a Julieta... Ainda bem que daqui até a pracinha é dez minutos.”

Chego à pracinha ás dez e meia. Decido esperar. Aparece um senhor vendendo algodão doce e maçã do amor. Compro uma maçã do amor e volto a sentar em um banco. Mando uma mensagem para ela dizendo que já estou aqui, ela me responde, dois minutos depois:

“Então, estou indo para aí agora.”

Cinco minutos depois, Julieta aparece. Com uma expressão triste no rosto, cabelos presos em um rabo de cavalo, vestindo uma blusa vermelha, short branco e sandália.

– Eu tenho uma notícia para te dar. - ela diz séria.

Estranhei. Não só pela frase que ela acabou de dizer, mas também que ela não disse nem “oi”.

– Ok... Mas, antes, vamos comer essa maçã do amor?

– Depois... Romeu, você contou para os seus pais que estamos namorando?

O caso ficou sério agora. Respondo, devagar:

– Não. Por quê? Você contou para os seus?

– Não vai mais ser necessário. – ela diz, suspirando.

– Como assim? – pergunto, sem entender nada.

– Romeu... Eu vou me mudar para São Paulo amanhã. – ela diz, calmamente.

– O quê?! – me surpreendi.

– Isso mesmo... Eu acho que meus pais querem nos distanciar mesmo sem saber que estamos namorando.

– Mas, e nós? Como ficamos? – eu digo desesperado.

– Eu não queria dizer isso... Eu nunca quis dizer isso, até porque eu te amo muito...

– Eu também te amo muito. – eu a interrompi.

– Mas, eu acho melhor terminarmos... Eu não vou conseguir manter um relacionamento em segredo e a distância.

Ela me olha no fundo dos meus olhos e chora. Eu olho para baixo e ela levanta meu queixo, levemente.

– Romeu, eu te amo... Tchau. Até algum momento no futuro.

– Tchau, Julieta... Eu te amo e sempre amarei... Até algum momento... No futuro. – eu digo, gaguejando.

Ela sai andando, sem olhar para trás e estava com as mãos no rosto, provavelmente, estava chorando.

Eu choro também, me sento novamente e percebo que ela nem comeu a maçã do amor. Dou uma mordida na maçã e relembro nosso primeiro beijo.

Como ele foi magnífico, beijamos ao som de Love Story, nossa música favorita. De repente, volto ao “mundo real” quando minha mãe me liga dizendo para eu ir para casa almoçar.