No momento em que Mikasa se afastou de Rivaille ela finalmente raciocinou a situação que acabara de acontecer. Ele havia beijado ela, e a garota tinha adorado a sensação de sentir os lábios do Heichou nos dela, mas seu orgulho era tão grande que dificilmente admitiria isso, alias, os dois eram orgulhosos demais. Ele era muito prepotente e arrogante, e Mikasa odiava isso nele. Odiava o fato de que a presença dele era intimidadora a todos, e ele odiava o fato dela ser tão difícil com ele. Era a única que chegou a levantar o tom de voz com ele. Mikasa sempre que podia desobedecia ao Heichou – coisa que ele detestava, mas no fundo adorava ver como a garota o desafiava.

Ele continuava parado lá, na mesma posição encarando ela nos olhos e vendo que ele não faria nada nos próximos minutos a garota fez algo que ele não imaginava, no pouco tempo que ele encarava ela, a única coisa que sentiu nos próximos segundos foi uma ardência. Mikasa havia acabado de lhe dar um tapa no seu rosto.

— Endoidou? – Rivaille perguntou irritado, estava incrédulo com o que a garota havia acabado de fazer com ele.

— Você que deve ter perdido a pouca sanidade que possui. Ficou louco de me beijar a força? – Mikasa respondeu irritada também.

— A força? Você só pode estar de brincadeira, certo? Porque há segundos atrás você estava praticamente arrancado parte do meu couro cabeludo. – Levi falou de forma pouco exagerado com um sorriso sarcástico no rosto. – Eu não te beijei a força, eu te beijei de surpresa.

— Isso foi um erro. – Ela retrucou.

— Não me venha com esse papo de “foi um erro”. Mikasa eu sou um homem, não um dos pirralhos da sua idade. Aquilo definitivamente não foi um erro pra mim, e nem para você, por que se não quisesse não teria retribuído.

O Heichou resolveu deixar a garota sozinha e saiu de lá. Sim, aquilo tinha sido inesperado até para ele. Nunca imaginou ele fazendo tais coisas impulsivas como a que havia acabado de fazer. Odiava ter que admitir, mas Hanji tinha razão. Ele gostava da garota.

Mikasa não sabia como iria encara-lo amanhã. Não sabia se conseguiria ficar perto dele sem corar profundamente. Precisava conversar com alguém sobre tudo que acontecera, mas optou por não escolher Hanji, não que ela não confiasse nela, era mais por que Hanji era muito escandalosa e provavelmente teria um ataque se soubesse que o Heichou havia lhe beijado.

— Mikasa, finalmente te encontrei. – Armin falou animado quando havia encontrado a amiga de infância.

— Ah. Oi, Armin. – Ela respondeu normal. – Aconteceu algo?

— Não. Eu apenas vim para ter dar um recado. Hanji está te procurando há um tempo, ela disse que precisava falar com você. – Mikasa sentiu um frio na barriga. Será que aquela mulher louca havia descoberto sobre o beijo?

Depois de receber o recado de Armin, Mikasa foi de encontro à sala onde a tenente Hanji Zoe costumava ficar. Parte dela estava bastante curiosa para saber o que a mulher tinha para lhe dizer.

— Han... – Mikasa antes mesmo de terminar de bater viu que a porta havia sido aberta e Hanji lhe recebia com um grande sorriso, coisa que era normal nela. Ela sempre era muito animada.

— Mikasa, entre, entre. – A mulher deixou passagem para que a garota passasse.

— Armin me disse que você estava me procurando. Bom, estou aqui. – Mikasa resolveu ser mais direta, queria ir logo para seu quarto e descansar. Hoje definitivamente seu dia estava sendo turbulento.

— Bom eu separei alguns remédios para você dar pro Levi, já que Erwin lhe deixou encarregada para ajuda-lo em sua recuperação. Definitivamente queremos que ele melhore logo, afinal, é o melhor soldado.

Hanji só podia estar de brincadeira com Mikasa, certo? Por Deus, como ela iria encara-lo hoje? Depois de tudo que havia acontecido na tarde que ela deveria estar treinando e depois ter ido para seu quarto e descansar.

Mesmo por má vontade a garota recolheu todos os remédios, mas antes de sair Hanji resolveu alerta-la.

— Levi é meio fraco a remédios, acredite ou não, o soldado mais forte da humanidade é péssimo a remédios e a bebidas, então se ele dormir ou algo do tipo não estranhe, ele não morreu. – Hanji falou humorada e Mikasa apenas deu um sorriso.

Mikasa resolveu ir terminar logo isso e foi direto aos aposentos do Heichou. Deus será que seria pedir demais para ela finalmente poder ir para seu quarto e tomar um banho e logo após dormir?

Ela deu três batidas fracas na porta. Tinha certeza que ele ainda não estava dormindo, ainda não era tão tarde.

— Rivail... – Antes de terminar a frase a garota corou violentamente. Esse idiota havia tirado o dia para fazer ela se constranger. A cena que acabara de ver era Levi sem camisa. Não era nenhuma novidade que o corpo dele fosse bem definido, afinal ele era um soldado.

— Ackerman... – Ele falou surpreso com um sorriso malicioso no rosto. Quando é que ele havia ficado tão abusado?

— Bote uma camisa, idiota. – Ela falou ríspida.

— Você acaba de me chamar de idiota? Você tem sorte por trazer o que eu estou precisando se não eu juro que faria você limpar todo esse local estupido sozinha umas duas vezes.

“Trazer o que eu preciso?” Ah sim, agora que ela havia se lembrado do real motivo de ir ao quarto de Levi.

Ele a convidou para entrar, e finalmente botou uma camisa deixando Mikasa bem mais confortável. Não gostava das sensações que ele causava nela, sempre fazendo com que ela fosse submissa a ele.

Ela entregou um copo de água a ele e logo após alguns comprimidos. Não sabia exatamente para o que cada um servia, mas apenas seguiu as ordens de Hanji. Ela poderia ser louca, mas devia saber o que estava fazendo.

— Sente aí. Vamos conversar. – Ele falou meio divertido. Mikasa obedeceu e se sentou em uma cadeira próxima a cama dele.

— Você não é irmã biologia do Jaeger, certo? – Ele perguntou mesmo sabendo a resposta, queria puxar assunto com ela. – Como você foi parar na família dele?

Aquilo era um assunto delicado para Mikasa, mas ela resolveu se abrir com ele. Não sabia o porquê de decidir contar para ele, mas resolveu falar.

— Meus pais foram mortos por bandidos, e Eren e seu pai me salvou. – A garota decidiu minimizar no máximo os detalhes, não queria tocar muito no assunto.

— E você? Já que me perguntou sobre minha infância fale sobre a sua. – Mikasa retrucou. Levi se impressionou. Ninguém nunca havia lhe pedido para contar seu passado, e ele também nunca havia dito a ninguém.

— Meu pai nunca gostou de mim, e para completar ele era um inútil bêbado que vivia batendo em minha mãe. Afinal, por que ele gostaria de um “filho” bastardo? – Aquilo chocou Mikasa, então Rivaille havia sido fruto de um adultério? – Que meu pai devia para um monte de homens perigosos não era novidade, mas um dia aqueles desgraçados mataram minha mãe. Um pouco depressivo? Esse mundo é cruel, Mikasa. Só aqueles que já sofreram conhecem a verdadeira dor. Você conhece certo?

Mikasa por respeito a historia que ele acabara de contar resolveu não responder nada. Logo depois ela percebeu que ele havia dormido. Levi dormindo era um anjo, sim, ele se parecia com um, mas acordado não era nada parecido. Mikasa o observou dormindo e se lembrou do dia em que ele havia a salvado e dormiu numa das carroças. Teve vontade de acariciar os cabelos negros, mas resolveu não fazer nada e apenas saiu do quarto. Se ela achava sua própria história sofrida, imagina a daquele homem. Por quanta coisa ele já devia ter passado?