Leslie tinha cabelos negros e ondulados que caíam em cascatas perfeitas e sedosas até o meio das costas.  Os lábios eram de um vermelho místico, tão rubro quanto o sangue que fluía em fervorosos filetes por sua boca machucada e rompida por desgostosos dias de inverno, pela secura do tempo e, claro, por todas as surras que recebera nestes dias tenebrosos.

Há poucos dias, Leslie experimentou um pouco do inferno dentro de sua própria casa e dentro de sua escola. Os piores dias de sua vida, certamente. E há poucos minutos, experimentou o gosto salgado de suas lágrimas que insistiam em cair de seus olhos, já inchados e vermelhos.

O forte azul de sua íris estava realçado. Sentia o coração martelando em suas costelas, o sangue fluindo em suas veias e também sua respiração, pesada e forte. O suor escorria em gotas por sua testa e deixava ambas as mãos, antes macias, um pouco pegajosas e quentes.

A luz que vinha da Lua partia sua face ao meio, iluminando suas últimas lágrimas e junto à janela, criando um cenário de perfeito estereótipo para um bom filme de drama.

E foi assim. Tudo dramático, ensaiado e planejado, como queria. Sentada no parapeito da janela de seu quarto estilo menininha, Leslie observava a cidade, deixando as lágrimas rolarem soltas por seu rosto pálido, de ascendência Grega. Os olhos pairavam sob todas aquelas silhuetas de prédios, luzes das ruas e pessoas caminhando. Ela jurava que podia ouvir o bater de asas dos pássaros noturnos. Estava um silêncio triunfante, o qual criava uma atmosfera totalmente tensa e propícia para o que vinha a seguir.

Sem hesitar, se atirou da janela quarto andar.

Podia ouvir seu coração batendo. O momento da queda era o mais fascinante para ela. Pairar no ar. Sentir o vento cortando num sopro gelado por dentre suas vestes, o frescor do sereno por entre as raízes de seus cabelos, batendo de frente com as gotas de suor em sua testa. Seus sentidos estavam mais aguçados que antes. A adrenalina apoderou-se de seu corpo e corria solta por entre as veias. Leslie estava tão feliz que podia jurar quantas estrelas haviam no céu ou quantos animais no mundo.

Abriu um último e lamentoso sorriso, com uma pitada de serenidade por entre aqueles lábios da cor de botões de rosa, e foi assim que morreu.

Ela nunca esteve tão viva quanto no momento antecedente à sua morte.