Sem Julgamentos escrita por AnaMM


Capítulo 17
Certezas e Incertezas


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI CAMBADA! É, a faculdade tá realmente complicando a atualização, mas consegui! Espero que gostem e que tenha valido a pena esperar.

Trilha:
https://www.youtube.com/watch?v=ooygo1cmtag
http://www.vagalume.com.br/goo-goo-dolls/sympathy.html
https://www.youtube.com/watch?v=dWk1ebcaQbU - final



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/414997/chapter/17

Constrangidos, Ben e Sofia se afastaram bruscamente, quase sem fôlego.

– QUE MERDA É ESSA? – Ronaldo cobrou furioso. Ainda não conseguia acreditar no que vira, e desejava poder apagar de sua mente o que sabia que tão cedo não esqueceria.

Percebendo o volume ainda presente em sua calça, o garoto puxou Sofia para a frente de seu corpo, abraçando-a por trás para protegê-la do ataque de seu pai.

– Você não tem vergonha? Já não basta tudo que você aprontou? – Indagou enojado. – Estragou nosso casamento, aprontou horrores aqui em casa e agora seduz o meu filho? – Acusou o homem.

– Pai, eu... Ela não... – Benjamin tentou responder pela loira. – Não é nada disso...

– Não é nada disso? Então você não estava agarrando a Sofia em pleno corredor?

– Eu tava! Eu tava! – Respondeu angustiado. – Mas não foi culpa dela, quer dizer, foi, mas também não foi!

Sofia se apoiou nos braços que a seguravam. Arranhou levemente a pele de Ben, tentando se conter, o que gerou arrepios no garoto. A loira ensaiou alguma explicação, mas Benjamin a impediu.

– Eu tô gostando da Sofia, pai. Eu tô gostando dela por conta própria, desde que a gente se conheceu. Não foi nenhuma manipulação.

– Você não sabe o que tá falando! Essa garota está te iludindo completamente! Ela é manipuladora, Ben, capaz de qualquer coisa pra conseguir o que quer! A Sofia não presta!

– Quem você pensa que é? – Sofia gritou.

– Sofia! – Vera repreendeu, recém chegando ao corredor. – O que tá acontecendo aqui? Isso é jeito de falar com o Ronaldo?

Ben rapidamente se afastou da garota, já sem indícios físicos do que havia acontecido. Para sua sorte, a mãe de Sofia não chegou a notar que suas mãos estiveram unidas e que estiveram abraçados até poucos segundos antes. Sofia tentou se recompor, secar as lágrimas que a traíam desde as acusações de Ronaldo. Estava cansada. Ronaldo tinha razão, suas críticas não eram infundadas, mas estava cansada. Cansada de ser vista como e encarnação do demônio naquela casa, cansada de ser julgada como um monstro por seus vários erros pelos quais já estava pagando. Cansada de não poder estar com o cara de quem gostava não só por serem “irmãos”, mas por todos os familiares acharem-na errada para Ben, por verem-na como alguém que o envenenaria, que o destruiria. Jamais acreditariam que quisera morrer quando Ben estivera mal, que desistira de armar para estar com ele, e que brevemente desistira do garoto por sua irmã. Por que a olhavam e só enxergavam seus erros? Eram muitos, confessava, mas não a definiam. Pelo menos esperava que não a definissem... Era tudo tão confuso e, ao mesmo tempo, sufocante. Ouviu a voz abafada de Ronaldo despistar sua mãe ao longe. Dizia estar repreendendo a garota por algo e que Sofia se revoltara com a ameaça de punição. Os adultos se retiraram pouco depois, com Vera ainda agitada pelo que não entendera. Ronaldo olhou para trás uma última vez. Decepção ainda estampava seu rosto.

– Ele não falou por mal. – Ben tentou defender o pai tão logo se acalmou.

– Você tá do lado dele agora? Bom saber. – Sofia comentou ironicamente.

– Sofia... – Interrompeu-a exausto. – Você tem que entender. Você...

– Eu aprontei, eu não presto... Já conheço esse discurso, Ben, não precisa repetir.

– Ei. – Afastou uma mecha do rosto da loira. – Pra mim você é perfeita.

Beijou a garota carinhosamente, voltando a encostá-la contra a parede do corredor.

– Tá bom, quase. – Riu. – Você bem que podia ser menos esnobe, às vezes.

Ignorou o protesto da loira, voltando a beijá-la tão logo a garota abrira a boca para repreendê-lo. Calada pela língua de Bem invadindo sua boca, Sofia bateu de leve em seu ombro, afastando-o.

– Que foi? Só falei a verdade. – Comentou irônico.

– Não é isso. Alguém pode ver a gente de novo aqui.

– Ah. – Concordou desconsertado. – Vem.

Retiraram-se para o quarto de Ben, ignorando os olhares confusos de Vitor e de Pedro ao passarem pela sala. Sentaram-se na cama de Ben, que abraçou a loira.

– Vai dar tudo certo. – Murmurou contra os fios dourados de Sofia.

Em resposta, a garota apenas apertou o abraço, exausta. Era seu porto seguro. Sem Ben, já teria enlouquecido naquela casa.

–x-

– O que foi aquilo, Ronaldo?

– Nada, Vera não foi nada, mas fica de olho que a Sofia está aprontando. E tá levando o Ben nessa!

– O Ben? Não, duvido. Ele é tão correto e sensato, por que ele estaria metido nas confusões da minha filha? – Perguntou confusa.

– Certas coisas é melhor que você nem saiba. Eu estou por aqui com aqueles dois! A Sofia continua a mesma, e o Ben tá entrando na dela.

– Você diz isso por eles andarem se entendendo? Mas, meu amor, eles só estão mais próximos, o que há de mal neles terem virado amigos? O Benjamin vai ser uma ótima influência pra Sofia, você não precisa temer o contrário.

Ronaldo não sabia como convencê-la do oposto sem tirar seu sono com o fato de seus filhos terem se tornado um casal. Precisava mantê-la atenta à dupla, e tampouco queria preocupá-la. Como poderia fazer com que Vera ficasse de olho nos dois sem contar o que realmente acontecia, não fazia ideia. E precisava descobrir o quanto antes.

–x-

Aos beijos, Ben e Sofia foram interrompidos por três batidas na porta. Separaram-se aos poucos, sem energia para esconder mais nada por, pelo menos, o resto do dia. Antes que o garoto chegasse à porta, Ronaldo entrou. Já esperava que encontraria Sofia no quarto do filho e, ainda assim, desconsertou-se ao vê-la.

– O que ela faz aqui? – Perguntou severo.

– Pai, sem essa, tá? Depois do que você viu, qual a surpresa?

– Eu esperava que vocês tivessem um pouco mais de juízo, só isso. Se bem que... O que esperar? Da Sofia, nada, e você não cansa em me decepcionar. – Levou as mãos à cintura, irritado. Antes que Ben ou Sofia pudessem protestar contra as palavras do homem, Ronaldo continuou. – Então é assim agora? Você está íntima da cama do meu filho? – Apontou para a garota ainda sentada contra o encosto da cama.

– Como disse o seu filho, Ronaldo, depois do que foi visto, qual a surpresa? – Respondeu debochada, recebendo o olhar repreensivo de Ben, ao qual deu de ombros. Suas unhas pareciam mais interessantes que o ataque do padrasto.

– Então vocês já...? – Temia a resposta. Vomitou as palavras sem conseguir contê-las. Antes não as houvesse dito.

– Pai, sinceramente, não é da sua conta.

– Sim, várias vezes.

Responderam ao mesmo tempo. Sofia se esparramou na cama, provocante, e escolheu uma revista da cômoda de Benjamin para ignorar Ronaldo. O pai, por sua vez, tentava digerir a informação. Não podia admitir que seu filho e sua enteada estivessem mantendo vida sexual ativa sob seu teto, não podia. Era uma afronta àquele que lhes havia dado casa, comida e condições. Principalmente de Sofia, que o destratava desde o casamento, jamais lhe agradecendo pelo esforço em fazer a mãe feliz e em cuidar de seus irmãos, desrespeitando a casa que lhe havia acolhido de braços abertos ao seduzir seu primogênito como se fora um objeto, apenas para provocá-lo. Era despeitada, mal-educada, traiçoeira, preconceituosa... Não se deixaria explorar por mais um dia.

– Basta! – Gritou. – Você vai sair daqui AGORA! – Assustou-a com o aumento da voz na última palavra. – E vai direto pro seu quarto!

– Pai, por favor, a gente não tava fazendo nada... – Ben tentou se explicar.

– Você vai subir, fazer as malas e hoje mesmo nós vamos pra Barra! Não era isso que você tanto queria? Pois o plano deu certo! Você vai morar na Barra com o seu pai a partir de hoje. – Ordenou.

– Você não pode me obrigar. – Sofia argumentou.

– Ah, posso! Ou você vai, ou eu vou ter que contar pra sua mãe exatamente o que está acontecendo, e te garanto: a decepção dela vai doer bem mais.

Trêmula, Sofia se levantou aos poucos, como se tivesse apanhado. Cada palavra de Ronaldo era um tapa, doía-lhe tanto quanto um. Já estava cansada, havia decidido partir antes, mas agora nem Benjamin a impediria. Não só pela mãe. Não tinha a menor intenção de encarar Ronaldo no dia-a-dia, como se já não lhe bastasse o julgamento de sempre, de todos. Ouviu o som dos passos de Ben e a voz de Ronaldo freando o filho. Agradeceu em silêncio. Precisava estar sozinha, organizar-se por conta própria. Doeria menos. Organizou cada roupa, cada estojo de maquiagem, pouco a pouco. Embora urgisse por abandonar aquela casa, também lhe faltava coragem. Eram seus irmãos, sua mãe, Benjamin. Como poderia deixá-los? Qual explicação Ronaldo daria? Que os havia abandonado? A verdade? Fechou a mala e secou suas lágrimas. Era o que queria, não era?

– Pronta? – Ronaldo cobrou da porta. Tentava ignorar a culpa que sentia ao vê-la chorar. Era apenas uma encenação, concluía, estava o manipulando.

Desceram até a sala, deparando-se com uma Vera assustada.

– Que malas são essas? O que tá acontecendo? Sofia, minha filha, o que é isso?

– Eu...

– Ela vai morar com o pai por um tempo. – Ronaldo anunciou com a voz falha.

De certa forma, as últimas três palavras a tranquilizaram. “Vai ficar tudo bem.” a voz de Ben ecoou em sua memória.

– Como assim com o pai? Sofia, que história é essa? – Gaguejou a mãe, temerosa.

– É isso mesmo que o Ronaldo falou, eu resolvi voltar pra Barra. – Respondeu tentando controlar a voz e a pose de sempre. – Eu cansei do Grajaú, quero dar uma renovada.

– Mas filhinha, logo agora que você e o seu irmão estavam se dando tão bem...

Ronaldo tentou manter a calma. Se estivesse bebendo algo, tinha certeza que engasgaria.

– Exatamente. – Sofia confirmou. – Eu e o Ben até que estamos nos dando bem, embora ele esteja bastante empenhado em me converter pra alguma religião brega da caretice, mas o resto... Bom, eu também não faço questão. Eu vou pra Barra, à beira da praia, pegar um sol, um ar, relaxar... Vocês não me querem aqui, eu não me quero aqui, é o melhor pra todo mundo. – Explicou enfática, com um sorriso no rosto.

– Mas minha filha...

– Não precisa chorar, dona Vera! Eu volto pra visitar todos os dias, prometo! – Garantiu, empolgada com seus planos.

– Vai ser melhor, Vera, o clima está tenso entre os meninos. A Sofia precisa desse tempo pra pensar no que fez e pra descansar.

– Se você se sente melhor assim... Eu vou estar de braços abertos assim que você decidir voltar, ok? – Afirmou derrotada.

Emocionada, Sofia abraçou a mãe talvez mais forte do que sua fachada lhe permitia. Seria tão mais fácil ter seu apoio... E sabia que seria quase impossível. Ronaldo, pelo menos, havia lhe deixado espaço para inventar sua própria justificativa para deixar o Grajaú. Sorriu para o padrasto para agradecer pelo menos aquele gesto, e lhe pedir, com um sinal, que cuidasse de sua mãe. Respirou fundo e abriu a maçaneta, saindo da casa com Ronaldo, que levava as malas, em seu encalço. Fechou a porta tão logo vira Ben à sua espera, ignorando o ar irritado do padrasto.

– Eu pedi o táxi. – Benjamin anunciou do portão.

A loira sorriu, aproximando-se do garoto. Ergueu-se na ponta dos pés até ficar de sua altura. Segurou seu rosto, e então sua nuca, beijando-lhe a boca trêmula. Ben a segurou contra si pela cintura, perdendo sua outra mão entre os fios loiros de Sofia, aprofundando o beijo. Ronaldo se conteve. Não podia lhes privar de uma despedida, por mais que condenasse a relação.

– Chega, chega, já beijaram o suficiente. – Aproximou-se do casal, afastando-os um do outro. – Vem, Sofia, o táxi já tá nos esperando.

Irritada, a loira ignorou o padrasto, beijando Benjamin uma última e rápida vez.

– Eu vou sentir sua falta. – Confessou o garoto cabisbaixo.

– Claro que vai. – Sofia sorriu debochada, ao que Ben riu em resposta.

Não a amaria tanto se não fosse tão... Sofia. Amar? Sim, a amava. Sorriu desconsertado para o táxi, acenando. Viu a mão de Sofia repetir seu gesto, já sem nenhum traço de ironia em seu rosto. Doía-lhe vê-la calada daquele jeito. Tudo que Sofia mais quisera sempre fora voltar à Barra. Bastou-lhe o olhar triste para que comprovasse. Não tinha mais dúvidas, Sofia não armava nada. Gostava de verdade de Benjamin. Queria gritar ao mundo, que todo Grajaú soubesse que Sofia era dele, que estava com a garota mais incrível e surpreendente que conhecera e que era tudo real. E que a amava. E como a amava...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários aqui embaixo, podem me xingar pela demora e até o próximo capítulo ;) Bjs
Ps.: Sympathy direto da trilha de A Nova Cinderela, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, vício eterno, que completou 10 anos agora(pqp tamo tudo velha, gente)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sem Julgamentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.