Sem Julgamentos escrita por AnaMM


Capítulo 14
Dúvidas, Acusações e Confissões


Notas iniciais do capítulo

UFA! Voltei! Semana de provas, precisar dormir mais cedo, meu vício no ship da semana auhsuhauhauhsh tudo me atrasou, mas aqui está!



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Separaram-se atrapalhadamente ao som brusco da porta se abrindo. Analisaram a reação de Ronaldo e esperaram que se pronunciasse. Não sabiam como os havia flagrado, se haviam se afastado o suficiente e a tempo. Entreolharam-se culpados, à espera de um sermão, de gritos, provavelmente. Eram, afinal, vistos como irmãos pelos pais. Irmãos que se beijavam ardentemente na agora tão estreita cama de solteira onde dormia Sofia.

–Tá na mesa. – Ronaldo anunciou perturbado.

Tampouco sabia o que havia visto, se apenas alucinara que Ben e Sofia estavam quase grudados na cama da garota segundos antes de seu filho saltar atrapalhadamente do colchão. Ben e Sofia? Seu tão correto e comportado Benjamin não apenas deitado na cama de sua “irmã”, mas com Sofia? Havia alucinado. A patricinha jamais faria o tipo de seu filho. Embora amasse Vera e estivesse a cada dia mais apaixonado pela família que juntara com a esposa, Sofia não era a melhor e mais bondosa alma do mundo. Esnobe, irritadiça, arrogante, um tanto fútil... Não havia convivido com Ben nos últimos anos, mas sabia quem era seu filho. Humilde, altruísta, honesto e correto, Benjamin era o completo oposto da loira. Embora os percebesse mais próximos, mesmo uma amizade entre ambos era estranha para Ronaldo. Um romance, então, impensável. A ideia de seu filho com a filha de Vera já o incomodava por si só, quanto mais sendo aquela filha.

Hesitante, o casal se aproximou do homem à porta, pedindo passagem sem olhar em seus olhos. Ronaldo percebeu o rubor nas faces dos “irmãos” e temeu que fosse a confirmação do que cogitara. Por quê tinham que andar tão próximos pelo corredor, suas mãos separadas por tão poucos centímetros, ou nenhum? Uma lembrança vaga o assombrou. Sofia vestindo apenas a camiseta de Ben, ambos tentando se justificar... A loira usando a camiseta de seu filho só podia significar uma coisa caso estivesse certo. Deus, como queria ter a certeza de que havia apenas visto errado no quarto. Se realmente estivesse acontecendo algo entre os dois, a situação já estava mais grave do que apenas uns beijos na cama de Sofia. Não podia estar certo, não podia!

Sofia se sentou ao lado de Ben novamente, com um sorriso implicante. O pai de Benjamin sentou à frente do filho. Precisava entender, precisava ficar de olho em ambos. O resto da família já os rodeava pela mesa, empolgados com a comida à disposição. Conversavam animados, gargalhavam, mas Ronaldo só tinha olhos para a dupla.

Ben percebeu os olhares do pai e a loira nervosa ao seu lado. Segurou sua mão para acalmá-la. Desenhando pequenos círculos com o dedo sobre a pele de Sofia sob a mesa, tentou rir com a família e escutar uma palavra que fosse da conversa em vão. Não conseguia se concentrar, não sendo vigiado pelo olhar confuso e traído de Ronaldo, muito menos com o medo quase aparente de Sofia.

Ronaldo tentava entender o que os unia. Estavam novamente próximos demais, o braço de um colado no braço do outro, sem que pudesse ver onde se encontravam suas mãos. Estariam entrelaçadas? Como ousavam tal gesto íntimo em meio à família inteira? E como podia o resto da mesa estar tão entretido em uma conversa qualquer que mal percebia o trio em silêncio, tenso, contrastando com as outras reações? E Vera? Deveria contar o que achava que vira para a esposa? E se tivesse entendido errado, e Ben e Sofia estivessem apenas assustados com seu olhar severo para a dupla? Valeria a pena preocupar a mãe de Sofia com algo que bem poderia ser apenas um mal entendido? Precisava confrontá-los. Não podia julgá-los por um crime não cometido, precisava saber o que realmente havia visto, ainda que provavelmente desconversassem caso fosse verdade...

Sofia despertou de seu transe ao ouvir seu nome da boca da irmã.

– Realmente, teria sido lindo o casamento. Uma pena a Sofia ter estragado tudo com aquele plano ridículo de menina mimada. – A primogênita de Vera acusou.

– Todo mundo já sabe o que eu fiz, Anita, não sei porque você insiste nisso. – Lembrou-lhe com a voz monótona.

– Pois parece que esquecem rápido. Como você tem coragem de nos encarar todos os dias depois do que você fez, hein? Como você consegue olhar pra nossa mãe e pro Ronaldo sem sentir vergonha? Ah, não, espera, vai ver é por isso que você tá tão quieta hoje! Não, pra sentir vergonha do que fez você teria que ter caráter. – Anita continuou.

Sofia apertou as unhas contra a mão de Ben, que grunhiu discretamente. Ronaldo observava cada reação.

–Eu também acho! De agora em diante, a Sofia merece almoçar na cozinha, e não com a gente! Se ela despreza tanto essa família não vai se importar.

Ben percebeu uma pequena lágrima se formar no canto do olho da loira e acariciou sua mão com cuidado. Sabia que a qualquer momento a patricinha explodiria.

–Se a Sofia for mesmo expulsa da mesa a cadeira que sobrar é minha! Sempre bom ter espaço nessa casa, é raro. – Vitor anunciou.

– Não precisa fazer cerimônia, mãe, eu já estou pegando o meu prato. – Soltou a mão de Benjamin ao responder o olhar sem graça de Vera.

– Sofia! – Ben segurou sua mão novamente, dessa vez à vista de todos.

O braço da garota se enrijeceu. Olhava diretamente para Ronaldo, que parecia concluir o que temera o almoço inteiro, mas também os outros membros da família assistiam à cena confusos. Puxou a mão com agressividade, afastando-a de Ben.

–Que foi? Pensou só agora em uma crítica também? Tá atrasado, Benjamin.

– Não, eu só acho que ficar e ter que encarar quem você prejudicou pode ajudar a formar o caráter que você não tem.

Estava tão acostumada às críticas de Ben que, no estado sensível em que se encontrava, teve de pensar duas vezes para lembrar que era fachada, que os tempos em que Ben tanto a julgava eram passado. Sorriu ao perceber que os lábios de Ben se estreitavam em um semi sorriso. Benjamin estava de costas para a mesa, apenas ela o via.

–Eu vou pra cozinha, mesmo, que lá o ar é melhor, mais limpo. Não tem hipócritas insuportáveis como você.

Retirou-se para a cozinha, onde caiu desajeitada contra a parede fria. Estava sozinha em sua própria casa. Se ao menos pudesse abraçá-lo sem ter que esperar que todos se retirassem... Respirou fundo, levantou-se em direção ao balcão e terminou seu almoço. Precisava ir embora. Não aguentava mais as acusações repetidas de Giovana e de Anita.

–x-

– Você tá bem? – A voz de sua mãe ecoou pela cozinha.

– Por que não estaria? Prefiro comer aqui a estar lá com aqueles...

– Sofia, eles são seus irmãos.

– Irmãos? Irmãos de verdade deveriam se amar, não? A Anita só sabe me julgar desde que eu me conheço por gente...

– Não é bem assim, meu amor, ela só quer o seu bem. – Vera explicou carinhosa.

“Ben...” Sofia riu. “É o meu outro ‘bem’ que ela quer, dona Vera. “

–Eu esqueço, a Anita é a madre Tereza de Calcutá e eu sou a irmã imatura que mete os pés pelas mãos e não entende os ó-tão-grandiosos planos da minha irmãzinha querida pra me salvar da escuridão.

– Sofia! – Com um suspiro, Vera desistiu de tentar acalmar os ânimos da filha. – Olha, você sobe pro seu quarto, que eu arrumo a cozinha, tá bom? Depois a gente conversa.

Sem jeito, a loira deixou a cozinha. Seus olhos instintivamente procuravam por Benjamin. Subiu as escadas rumo ao quarto, a passos lentos. Para seu alívio, o quarto estava quase vazio, exceto pela presença de Ben. Parecia ter adivinhado sua necessidade de vê-lo, de abraçar alguém que não a julgasse mais por seus erros. Fechou a porta silenciosamente e correu em direção a Benjamin. Abraçou-o com força, sendo envolvida por seus braços sem hesitação. Ficaram em silêncio, quase imóveis. Precisava senti-lo agarrado a seu corpo como se o pudesse perder a qualquer momento. Ben se afastou lentamente, segurando o rosto delicado de Sofia próximo ao seu.

– Me desculpa pelo que eu falei mais cedo.

– Você não tinha opção, Ben, tava todo mundo olhando.

– Por mim, eu assumia que a gente tá junto ali mesmo.

– Ah, as meninas iam adorar! A cruel Sofia, mais uma vez, armando contra o casamento da mãe... Eu não tenho jeito! – Debochou. – Ainda por cima, seduzindo o ó, tão santo, primogênito da família! Você deve ser muito ingênuo pra cair na minha lábia, mesmo...

Ben não pôde conter o riso, ainda que percebesse a voz discretamente trêmula de Sofia. Segurou as mãos da loira nas suas e a encarou.

–Você vai ficar bem?

– Eu bem, Ben. O que vem de baixo não me atinge.

– Não mente, Sofia, eu vi como você ficou.

Percebeu-a baixar a cabeça e passou os dedos delicadamente por sua face, querendo tranquilizá-la.

–Você não precisa vestir a fachada que eles esperam o tempo todo. Não tem problema fraquejar.

– Fraquejar? Por causa de meia dúzia de palavras vindas da ridícula da minha irmã? Não, Benjamin, eu tenho raiva, só isso.

– Raiva? – Perguntou confuso.

– Sim, Benjamin, raiva. Eu não aguento mais a minha irmã! Tudo que ela faz é me julgar! Eu sei que eu errei, eu tô pagando por isso, ela não precisa ficar voltando no assunto o tempo inteiro!

– Bom, nesse caso, eu acho que a culpa é minha. Se eu não tivesse contado, se tivesse conversado com você primeiro... – Respondeu preocupado.

– Não, Ben, a culpa não foi sua, isso vem de antes. Desde pequena eu sou comparada à santa Anita. Eu já cresci com os sorrisos de boa menina da minha irmã pra mim, como se dissesse que eu deveria seguir o exemplo. Tudo que ela fazia era sempre bom, era sempre o máximo. Já eu, não. “Por que você não é mais como a sua irmã?” era o que eu escutava. Todo dia, toda hora. É claro que ela aceitaria o casamento, tão perfeita que é. Eu não, eu queria a Barra. Se é pra morar com a minha irmã e ser comparada a ela diariamente, que seja com vista pro mar e em um apartamento caro. Se eu sou fútil? Eu sou. Afinal, se tem uma coisa em que eu sempre fui melhor que a Anita é na beleza. Sim, eu sempre fui mais bonita e joguei com a minha única vantagem. Depois veio o estilo, o gosto pela moda que ela não tinha. Eu descobri que, sendo o oposto completo dela, parariam de nos comparar. E nunca pararam... Eu cansei, Benjamin, cansei. Cansei há muito tempo. E sabe o que é pior? Que eu ainda assim me preocupo com ela, mesmo que a Anita me olhe de cima como sempre a errada. Eu cheguei a abrir mão de você quando descobri que era o tal príncipe de quem ela falava, sabia? Mas ela insiste tanto em me julgar que eu desisti.Tudo o que eu queria era continuar segurando a sua mão só pra poder esfregar na cara dela. E o que eles diriam? O filho perfeito corrompido pela Sofia! A Sofia não presta, a Sofia isso, a Sofia aquilo... E a Anita chorando com aquele discurso imbecil de príncipe-sapo, de princesa plebéia... Pelo amor de deus! Depois eu que sou a imatura! Eu cansei, Benjamin, cansei! Você quer saber? Foi até melhor poder comer na cozinha, bem longe da cara indigesta daquela...

Ben a observou em choque. Não sabia o que responder. Queria repreendê-la pela forma com que falara da irmã, e também queria dizer-lhe que a amava como era, que a última coisa que queria era que fosse igual à irmã. Ao mesmo tempo, um comentário em especial se sobressaía.

–Espera, Sofia, volta. Como assim você abriu mão do que sentia por mim? Você já sentia algo por mim? Então aquele tempo todo em que você fugia era por causa da Anita?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Dúvidas, sugestões, críticas e o diabo a quatro aqui nos comentários /