2 MESES DEPOIS

‘’E aí, gata? Feliz aniversário. Nos encontre no Keek’s às 8. Te amo.

– Tobias.’’

Fechei o pequeno cartão vermelho, que Grace havia me entregado hoje cedo. Olhei para a capa do cartãozinho, onde havia um bolo com inúmeras velinhas azuis acesas e um grande e colorido ‘’parabéns’’ escrito logo acima.

17 anos.

E meu irmão não estava ali, do meu lado, enchendo meu saco, com suas histórias idiotas de quando ele mesmo tinha minha idade. Ele havia viajado com Courtney, sem destino, apenas com uma Land Rover, muito dinheiro e malas cheias de roupas. Mas, ele me prometeu que quando voltasse, teríamos o tempo que eu determinasse, com ele. Apenas nós.

Semanas antes, ele chegou em casa com uma garota. Adolescente, eu julgava mas ele me jurou que ela tinha 23 anos. Alta, com um corpo de dar inveja em qualquer mulher que se matava na academia, olhos verdes quase fluorescentes, cabelos que mais pareciam uma cascata de fogo vivo que contrastava com sua pele branca. Um sorriso de deixar qualquer um no chão. Ela possuía uma áurea, quase palpável, de poder, alegria e espirituosidade. E, quando ela olhava para meu irmão, seus olhos ficavam mais claros, se é que isso é possível.

Agora, eu sei o motivo da paixão repentina e inesperada do meu irmão por ela. Até eu duvidei por um segundo da minha preferência sexual.

Fui retirada dos meus pensamentos quando um assobio suave e relaxante cortou o ambiente. E eu até acompanharia se não soubesse que era Patience, o toque do meu celular.

– Ei, eu já estou pronta e você?- ouvi a voz alegre.- Já são 7h30 e você ainda tem quê vir me buscar.

Merda. Eu não havia nem escolhido roupa para usar. Olhei para o grande espelho do meu closet. Eu estava maquiada, usando lingerie brancas e um roupão azul clarinho.

– Já estou saindo de casa, Kira. É bom você estar pronta mesmo.- menti, olhando em volta.

Desliguei e me vesti. Peguei as chaves do meu carro e desci as escadas correndo. Antes da sair, olhei para um espelho na parede oposta. A calça jeans azul escura e a regata branca coladas acentuavam cada curva do meu corpo, dando mais volume, meu par de Louboutin vermelhos faziam parecer que eu andava nas nuvens e a jaqueta de couro preta pendia do meu braço.

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Andei até o carro, entrei e dei partida. Quando cheguei em frente à casa da Kira, ela estava lá batendo o pé, feito uma criança. Seus cabelos, recentemente, pintados de preto tinham um contraste forte contra seu vestido branco.

Ela entrou no carro, bufou e bateu a porta.

– ‘’Já estou saindo de casa’’, é?- ela falou, revirando os olhos azuis.

– Só não desconte no meu carro, neném.

– Eu te liguei hoje mais cedo só que você estava tão grogue que deve nem se lembrar, mas, feliz aniversário.

– Obrigada.- falei, distraída, alternando meu olhar entre a rua e meu celular.- O Axl me mandou uma mensagem, leia para mim, por favor? Não estou muito afim de morrer logo hoje.

– Ele quer saber onde nós estamos.

– Diz que eu não estou falando com ele mas se estivesse diria que acabamos de chegar no Keek’s.- Axl havia cortado seu cabelo, o que me irritou profundamente.

Parei o carro, baguncei meu cabelo de leve e fui em direção ao bar. Assim que entrei o cheiro de hamburgers e bebidas me atingiu em cheio. Uma garota cantava Let Me Go sobre um palco e metade do bar cantava junto com ela.

Absorvi o ambiente amadeirado e Punk Rock do lugar. Um sensação de nostalgia me invadiu. Fazia tempos que eu não ia lá.

Ouvi gritos masculinos provenientes de uma mesa grande e redonda, encostada na parede, e logo em seguida o gritinho estridente de Kira. Ela saiu correndo e quase pulou em cima de Blake, agarrando seu pescoço e o beijando como se fizesse anos que não se viam. Coisa melosa. Revirei os olhos e fui em direção à mesa.

– Aí está a nossa aniversariante.- Blake veio me abraçar e me desejar feliz aniversário, assim como todos na mesa.

– Meu teor de diabetes acabou de aumentar, consideravelmente.- falei, sendo esmagada por um abraço de urso do Tobias.

Me sentei entre Tobias e Jeff. Olhei em volta. Todos estavam ali, rindo e bebendo. Até mesmo Caroline, a nova namorada de Axl. Mas algo faltava no meu pequeno circulo de amigos. Algo que estava em New York agora, cuidando da avó.

James. Nossa amizade cresceu bastante e tinha uma pequena vantagem. A gente se pegava quando quisesse. Quando quisesse e onde quisesse. Ele fazia falta ali, mas nós havíamos conversado quase a tarde inteira. Voltei à realidade quando uma garçonete colocou um Keek’s Burger na minha frente, com batatas e Pepsi.

– Por conta da casa, Mika, e feliz aniversário.- ela disse, antes de se retirar.

– Obrigada, Jenna, é o melhor presente que eu recebi hoje.- sorri. Na verdade, era o único presente que eu havia recebido naquele dia.

Depois de comer o lanche, fiquei comendo as batas fritas e a Pepsi, até que algum ser muito idiota teve um idéia muito mais idiota.

– Ei, Mika, porque você não canta para gente hoje?- Tobias apontou para o palco. Olhei para todos na mesa e pelos seus rostos percebi que negar não adiantaria. Sorri.

– Só se o Jeff cantar comigo.- falei calmamente e vi ele arregalar os olhos.- Vai eu juro que deixo você escolher uma música.

Ele revirou os olhos e assentiu.

Fomos em direção à um cara que mexia num notebook, próximo ao palco.

– Live It Up. - Jeff falou assim que o tal cara levantou os olhos caramelados e entediados para nós. Ele afirmou e deu um gole em sua cerveja, pegando dois microfones e nos entregando.

– Cara, você esta bem?

– Na verdade, bebi bastante antes de você chegar, então, que se foda.- ri junto com ele, assim que subi no palco tirei minha jaqueta, deixando meu decote generoso bem à mostra.- Rebola bastante, hein.- Jeff sussurou, ao pé do meu ouvido, assim que a música começou. Tarado, como sempre.

Jeff começou quase sussurrando, com os lábios colados no microfone, sorrindo e andando pelo palco. Me virei e comecei a andar também, lentamente com toda calma e paciência do mundo.

(N/A: deem play em Live It Up :3)

From the streets of Miami
To presentingat the Grammy's
Con el multito de Jennifer
Maybe now you understand me

Mr. Worldwide
RedOne
And the beautiful Jennifer Lopez
Dale

We don't believe in defeat
That's why we're back for a three peat

Hi Jenny, miraque está loco
Yo me lo como comopastelitos de coco
I get stupid on a beachsee wowo
I got mommies, mommies by the boatload
Yo tengo la carne y ella el mojo
I'm saying "dale", she's screaming "yolo"
She's little red riding hood
And guess who's el lobo?
Me la como

Virei de costas paras as pessoas e Jeff, e, comecei a mexer os quadris no ritmo da música, arrancando assobios e gritos. De soslaio, vi Jeff se virar de lado e apontar para o meu corpo de cima a baixo, enquanto cantava e sorria.

Who's name is globallyknown?
Who's name is on the check
And they're adding an o?
Who's name is on the blimp
When the worldis yours?
Who's name is on schools?
Slam fo sho!
I know, it's hard to understand
How a boy grew to a man
Man turn to a brand
But guess what, here I am
Jenny from the block
Let's rock with the plane

Me virei rapidamente e levei o microfone aos lábios, cantando baixinho e andando devagar, sensualmente. Percebi que muitas das pessoas que ali estavam haviam se levantando e estavam dançando em frente ao palco.

Yeah, push me harder
I'll do the same
Boy, I wanna feel ya
In everyway
Don't even wonder
It's just a game
We're rockingbody to body
Let's go insane

I hit the spotlight, all night
Ready to go
Give you a hard night, so tight
Ready to blow
I'm in the spotlight, all night
Ready to go
Give you a hard night, so tight
Ready to blow

Oh, we can do anything we want, live it up
So live it up, live it up, go
Oh, and we ain't stoppingtill we're done, live it up
So live it up, live it up, go
Go, go, go, go, go, go, go, go

Make love, don't fight

Dei dois selinhos de leve no microfone.

Let's fuck tonight
Let's fuck tonight

Turn up this mother
And let it play
I know you like my bumper
Don't be ashamed
Don't even wonder
It's just a game
We're rocking body to body
Let's go insane

Desci do palco e andei, vagarosamente, entre as pessoas, provocando os meninos que ali estavam. Fui até minha mesa, onde todos riam. Blake me viu e deu um gritinho de incentivo. Kira cantava e se mexia na cadeira. Eu sabia que aquela era uma de suas músicas preferidas.

I hit the spotlight, all night
Ready to go
Give you a hard night, so tight
Ready to blow
I'm in the spotlight, all night
Ready to go
Give you a hard night, so tight
Ready to blow

Cheguei perto de Kira e peguei em sua mão, levando-a até onde as pessoas dançavam. Ela não ficaria passando vontade só por causa do namorado, ficaria? Não, não enquanto fosse minha melhor amiga.

Oh, we can do anything we want live it up
So live it up, live it up, go
Oh, and we ain't stopping till we're done, live it up

Subi em uma mesa que estava ao meu lado e dancei.
So live it up, live it up, go
Go, go, go, go, go, go, go, go

Make love, don't fight

Dei dois selinhos no microfone novamente mas dessa vez olhei para Tobias e pisquei logo em seguida. Ele riu e piscou de volta.

Let's fuck tonight
Let's fuck tonight

Apontei para Jeff e ele começou a cantar.

You name it, she's done it
She's the reason that women run it
Bet this on a Grammy
Maybe now you understand me

Clap your hands, go
Clap your hands, go
Clap your hands to the beat
Clap your hands, go
Clap your hands, go

Comecei a bater palmas e todos me acompanharam.

Clap your hands to the beat
Clap your hands, go
Clap your hands, go
Clap your hands to the beat

Oh, we can do anything we want, live it up
So live it up, live it up, go
Oh, and we ain't stopping till we're done, live it up
So live it up, live it up, go
Go, go, go, go, go, go, go, go

Let's fuck tonight
Let's fuck tonight

A música acaba e todo mundo gritou e bateu palmas. Fui até a minha mesa onde Jeff me abraçou, gargalhando.

– A gente devia formar uma dupla.

– É. Devia.- falei, ou tentei falar, ofegante. Virei minha lata de Pepsi, sentindo a garganta queimar.

– Ei, Mika.- Tobias, veio na minha direção, com o rosto sério, sério até demais. Ele estava com meu celular na mão e uma ligação estava sendo executada. Não pude ver o número. Ele estendeu o celular para mim.- É a Polícia.

Policia? Peguei o celular e sai do Keek’s sendo seguida pelo Tobias, que, acho, já fazia idéia do que se passava.

– Sim?- falei firme.

– Mika Malkovich?

– Eu.

– Sou o delegado Simon. Policia de Miami. É sobre seu irmão, John Malkovich.

– O que aconteceu?- disse, trêmula. Tobias cruzou os braços em frente ao peito e mordeu o lábio inferior, apreensivo.

– Seu irmão sofreu um acidente. Algumas horas atrás. A acompanhante, Courtney Love, morreu na hora do impacto. Estamos encaminhando seu irmão para o West High Hospital nesse momento. Sinto muito.- ele falou tão rápido, como se estivesse com medo de sua voz falhar.

E, com a mesma velocidade que ele falou isso entrou em mim. Rasgando a carne, lentamente, até chegar no coração.

*

POV Tobias

Mika cantava e rebolava em cima de uma mesa, rodeada de meninos. Ela olhou para mim e piscou.

Se ela sabia provocar? Melhor que qualquer uma que já tivesse conhecido.

Desde o maldito dia na piscina da minha casa. O dia que por um momento, apenas um momento, meus olhos caíram sobre seus corpo. Foi sem querer, foi coisa de um moleque de 15 anos virgem, idiota e cheio de hormônios. Mas, a partir naquele dia, ela não era mais minha irmã mais nova, como eu dizia para todo mundo. Ela era minha melhor amiga gostosa para caralho e que eu morria de vontade de ter só para mim. Mas ela não se apega, é boa demais para isso. E, ninguém sabe disso. Além do James, claro.

O celular dela começou a vibrar, eu o peguei e fui para fora do Keek’s.

– Alô?

– Mika Malkovich?

– Não, Tobias Ross, eu sou amigo dela, quem é?

– Delegado Simon, Policia de Miami, eu gostaria de falar com a Srta. Malkovich.

– Claro, um segundo.- Policia? O que aquela menina aprontou? Por favor que não tenha se metido com drogas. Ela não faria isso, faria? Voltei ao bar e ela já estava na mesa virando uma lata de Pepsi.

– Ei, Mika?- ela se virou para mim. Seu sorriso sumiu assim que ela olhou para mim.- É a Policia.

Ela pegou o celular e saiu do bar. Apenas por um segundo, arrastei meu olhar pelo seu corpo. Ah, merda. Segui-a até lá fora. Levou o aparelho à orelha e falou com o delegado. Ela pareceu confusa. Arregalou os olhos e me encarou. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, cheios mesmo. Ela desligou e saiu correndo em direção ao carro dela.

– O que aconteceu? – entrei no carro, junto com ela. Achei prudente colocar o cinto quando percebi que ela estava nervosa. Não que ela dirigisse mal quando estava nervosa, é só que ela acelerava. Acelerava muito mesmo.

E, como previsto, ela deu partida no carro com tudo, quase batendo em um City que estava do lado. Várias buzinas soaram atrás de nós.

– O que aconteceu, porra?

Ela se virou para mim. Suas bochechas possuía leves rastros de maquiagem que iam até os lábios negros. Ela chorava. As lagrimas não paravam de sair, silenciosamente.

– A Courtney morreu. - disse, forçando a voz a ficar firme. Os nós dos dedos já estavam brancos no volante. - Estão levando o John ao hospital.