Lembranças! escrita por


Capítulo 15
São e Salvo.


Notas iniciais do capítulo

Leiam, porque eu chorei pra caralho escrevendo esse capítulo ):
nada mais a declarar, até mais.
E o próximo capítulo está pronto, dependendo de como for os comentários, no máximo na semana que vem o capítulo já tá aqui pra vocês, até breve lindas!



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Deitei a Flor no sofá enquanto via a Mia se ajoelhando ao seu lado e falando com ela, ambas choravam e eu não tinha percebido em que parte do caminho a Mia estava chorando mais que a Flor.

– Vicente? – a Flor disse me chamando.

– Oi? – respondi prontamente.

– Você podia ligar pro Ethan? – ela perguntou.

– Claro... Eu... – de repente como pego desprevenido a dor voltou como um soco. A dor que fazia com que eu esquecesse meu nome voltou com força total, começando pelas minhas pernas e rapidamente queimando toda aquela parte, precisei me apoiar na parede.

– Vince? – a Mia disse me olhando.

Não consegui, minha perna esquerda era fraca demais para me manter em pé, então eu cai e junto a minha dignidade.

– Vicente? – a Flor já estava ao meu lado, encostei a cabeça no batente da porta.

– Meu remédio... – eu sussurrei.

– O que? – ela perguntou aproximando o ouvido da minha boca.

Fechei os olhos incapaz de dizer mais qualquer coisa, a dor que antes corroía as minhas pernas, começaram a subir e eu sabia o que aconteceria daqui pra frente se eu não tomasse meus remédios e fosse imediatamente para o hospital.

– MIA! – a Flor gritou. – O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Abri os olhos e reuni toda a força que me sobrou.

– Eu preciso de um hospital. – eu disse encarando a Flor. – agora. – minha voz falhou no final e eu fechei meus olhos, incapaz nem de conseguir deixa-los abertos.




POV Ethan.

Corri por aqueles corredores brancos que eu já conhecia tanto, encontrei a Flor há alguns passos de distancia, mas não consegui ir em sua direção primeiro, precisava vê-lo. Saber como estava.

– Meu irmão... – eu disse batendo em cima do sino que ficava na recepção. – Vicente Hall, um metro e oitenta, tatuagem nos braços... – a moça me olhou confusa.

– Câncer, ele sofre de câncer nos ossos. – o Liu disse atrás de mim.

– Acabou de entrar. – a moça disse nos olhando. – sinto muito.

– O Vince tem câncer? – a Mia disse perplexa.

– Ele não te contou? – o Liu perguntou a ela.

– Não. – ela disse chocada.

– Então ele tem mesmo? – a Flor disse me encarando.

Sua expressão era desoladora, me afastei da mesa da recepção e segurei a sua mão.

– Quer saber como foi? – perguntei.

Ela assentiu.

Puxei ela para sentar um pouco mais afastado dos demais, onde não tinha ninguém e esperei que ela sentasse na minha frente, para começar a contar.

– Quando tínhamos seis anos tínhamos o hábito de disputar corrida. Em qualquer que fosse o lugar, gostávamos de ver quem chegava primeiro. E o Vince sempre chegava, porque além de ser o mais velho, ele era mais rápido, mais alto e mais ágil. Nunca nos cansávamos dessa brincadeira. Quando ele fez dez anos, em uma dessas brincadeiras, ele caiu. Não entendi porque e começou a chorar de dor. – eu olhei pro branco das paredes enquanto me lembrava com clareza daquele dia.

“- Está queimando, tá queimando muito! – ele gritava para nossa enquanto ela corria para ajuda-lo.”

“Eu achei que ele estava fazendo manha, por isso naquele dia quando fomos ao hospital e ele estava sentado na cadeira de rodas, eu disse a ela que parasse de ser mulherzinha, que dá próxima vez seria muito mais fácil ganhar dele. Eu era criança. Eu não entendia o que estava acontecendo. Até que naquele dia, quando o exames do Vince vieram, e foi comprovado que ele tinha um câncer, eu achei que íamos morrer. Todos. Ele por ter uma doença que eu nunca havia ouvido falar e eu por achar que podia perder o meu irmão mais velho, o meu herói. Depois daquele nunca mais pudemos apostar corrida, as dores que ele tinha não era só dores, eram problemas sérios e que um remédio não conseguia resolver. Aos quinze anos, ele ficou tão mal que achamos que ele iria morrer, ele chegou a ficar cinco meses em cima de uma cadeira de rodas e eu entrei em depressão. Nessa época contamos ao Liu o que estava acontecendo e ele nos ajudou, sendo o apoio dos dois. Aos dezesseis eu discuti com os meus pais para doar as minhas células tronco para o meu irmão, porque havia um jeito. O Vince poderia voltar a andar, as células cancerígenas podiam retroceder. – a Flor me encarava enquanto meus olhos enchiam de lágrimas. – foi a pior dor que eu senti na vida. Não podia tomar anestesia, e você não sabe como é ver uma agulha enorme entrar nas suas costas. A única coisa que eu podia era me pregar fortemente que era pro meu irmão. Toda aquela dor que eu estava sentindo era para ajudar o meu irmão. – abaixei os olhos. – fiquei dois meses andando de cadeiras de rodas, o Vince voltou a andar. Meu irmão voltou a andar e eu também. As dores dele diminuíram muito, mas a quantidade de remédios que ele tinha que tomar crescia a cada dia, mas tudo bem. Voltamos para a escola juntos e sempre tivemos desentendimentos, éramos irmãos afinal. E depois viemos para a faculdade e conhecemos você e você é tão maravilhosa. – encarei seus olhos. – E as dores dele aumentaram. O dia em que você o encontrou sentado lá, era porque ele estava com dor. Hoje era porque ele estava com dor. – abaixei a cabeça para conter as lágrimas. – ele está morrendo Flor, ele vai morrer. O médico reuniu a minha família para dizer que ele está morrendo. Quando as células funcionaram, o médico disse que mais cedo ou mais tarde as dores iam voltar piores, e que não ia mais adiantar. Não ia adiantar mais células tronco, mais remédios. Nada mais ia adiantar. – ela me abraçou. – e ele está morrendo. Vicente está morrendo.

Deixei que todas as lágrimas que eu estava segurando saíssem.

– ETHAN! – o Liu gritou.

– O que? – eu disse me levantando de supetão.

O silêncio que se fez na recepção fez com meus ouvidos apurassem e então eu ouvi os gritos do meu irmão.

– Isso são... Isso é... – a Mia disse parando ao meu lado.

– Está acontecendo de novo Liu. – meu melhor amigo ficou parado ao meu lado e então eu senti o arome doce e uma mão delicada segurando os meus ombros.

– Quero que meu filho seja transferido daqui, agora! – a voz do meu pai grossa atrás de mim não abafou os gritos que eu estava ouvindo. – quero os melhores médicos cuidando dele!

– Ethan... – minha mãe disse perto do meu ouvido, quando virei a cabeça foi apenas para vê-la com o rosto molhado por lágrimas.

Minha mãe que nunca chorava.

– Mãe... – me virei pra ela.

– Mandem dar alguma coisa a ele, não posso mais ouvir esses gritos. – ela disse se virando e saindo pela porta de entrada do saguão do hospital.




POV Flor.

Após quinze minutos os gritos cessaram, mas a palavras do Ethan ainda giravam na minha mente, todos sentados quietos na sala de espera do hospital. E nem mesmo Mia, que era tão descolada e inteligente tinha algo a dizer a respeito daquilo.

– Vicente Hall Walker? – a senhora Hall levantou rapidamente e agitou a mão, o médico veio andando em sua direção.

– E então? – todos de pé, ansioso por respostas.

– Nenhum remédio que demos a ele funcionou. – ela assentiu. – esperávamos que esse dia demorasse a chegar, mas infelizmente... – Ethan sacudiu a cabeça.

– Meu irmão não... – encarei ele sentindo o mundo desabar na minhas costas.

– Não, Vicente não está morto. – minha melhor amiga deixou escapar um soluço baixo atrás de mim. – mas está em um coma induzido. Demos uma quantidade muito grande de morfina, contrariando nossos princípios. Senhora Morgana, ele estava sentindo muita dor. – a mãe dele soltou um suspiro alto. – receio que as dores só aumentem a partir de agora, e eu não acho que Vicente seja capaz de andar de novo.

– Mas... – Ethan abriu a boca para falar.

– Não posso mais te sujeitar a cirurgia de novo Ethan, não é justo com você! – o médico disse.

– Mas não é você que escolhe! – o Liu disse alto. – você está propondo o que? Que matemos o Vince como se ele fosse um animal? Vamos sacrificar o pobre Vince porque ele está sentindo dor, ah pelo amor! Ele é uma pessoa!

– Liu... – o Ethan disse segurando seu ombro.

– NÃO! NÃO ENCOSTA EM MIM! – ele gritou. – estamos falando do Vince! – o médico fez uma careta de dor e se aproximou do Liu.

– Vicente tem mais ou menos seis meses de vida. – sufoquei. – contando que as dores deem um tempo, ele tem quatro meses de lucidez, eu recomendo que vocês aproveitem esse tempo porque qualquer tempo além disso, vai ser um milagre.

Morgana sentou no sofá e desatou em um choro compulsivo, seu marido o Senhor Walker sentou ao lado da esposa e afagou seus braços, não ousei olhar para a expressão do Liu porque já era demais ter que lidar com o bolo na minha garganta.

Só então quando olhei pro Ethan percebi que ele estava sentindo a mesma coisa que eu: aquele sentimento de fracasso. Algo como “eu devia ter acreditado nele, eu podia ter feito melhor” e não fizemos.

Não fomos melhores.

– Vocês podem entrar se quiserem. – o médico ainda estava ali? Desde quando?

– Eu posso entrar? – perguntei aos familiares ali presentes, como ninguém me respondeu, eu apenas segui o médico até e UTI.

Vicente estava deitado imóvel, agulhas perfuravam o seu braço e percebi que seus braços e pernas estavam presos com tiras de couro, provavelmente porque ele estava sentindo tanta dor que estava impossibilitando os médicos de fazer o acesso com a medicação.

Segurei a onda de tristeza que me invadiu naquele momento.

Fui até o seus braços e soltei as tiras de couro e depois fiz a mesma coisa nas pernas, o tubo respiratório estava na sua boca o que só me possibilitava ver pouca parte do seu rosto, sua testa estava enrugada como se ele ainda estivesse com dor e aquilo fez meu coração se apertar.

Com deve ser sentir dor e estar impossibilitado de gritar?

Horrível.

– Vince... – eu disse segurando sua mão. – Vince, eu te amo. Eu nunca mais vou me separar de você. Vince, você é muito amado. Sobreviva, fique bem, fique comigo. – as lágrimas ameaçando cair. – Vince, você é uma pessoa maravilhosa, você vai ficar bem. Eu vou te ajudar a ficar bem. – aproximei a boca do seu ouvido. – não morra, eu te amo.

Senti um leve aperto na minha mão e então eu sabia que onde quer que ele estivesse, ele também lutaria por mim. Porque eu lutaria por ele.

E ele ficaria bem, ele ficaria a salvo.

E ficaria comigo.


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Notas finais do capítulo

reviews?



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