Harry deitou em sua cama olhando para o teto. Não estava com sono. As imagens da festa de natal passavam por sua mente como fantasmas que não queriam ir embora. Ele havia dito que estava com dor de cabeça e subiu mais cedo do que os outros. Ainda podia ouvir as músicas que tocavam no andar de baixo, vindo do velho rádio da senhora Weasley. Todos os convidados ainda estavam na sala conversando.

Algum tempo depois, que Harry não sabia dizer se tinham sido minutos ou horas ele ouviu Lupin e Tonks se despedindo com a promessa de que todos estariam em seu casamento na tarde seguinte. Ouviu Ian confirmar para Tonks que ele iria com toda certeza. Algumas palavras a mais foram trocadas sem que Harry retesse nenhuma delas na cabeça e então a porta se fechou. Ele ouviu passos subindo as escadas e a voz da Sra. Weasley indicando a Gui e Fleur onde eles iriam dormir.

A porta do quarto de Harry se abriu deixando todas as vozes e outros barulhos abafados entrarem no cômodo junto com Rony e Carlinhos.

– Eu e Harry estamos dormindo aqui. Mamãe adaptou para que as camas se transformassem em beliches. – Dizia Rony. – Pode ficar naquela cama. Eu vou dormir nessa beliche com Harry.

– Certo. Será que Ian se incomoda de ficar com a cama de cima?

– Quem se importa com o que Ian acha? – Perguntou Rony indo em direção a sua cama.

– Ora Rony! Ele é namorado de Gina! Ele está quase entrando para a família, certo? – Repreendeu Carlinhos.

Isso fez com que um gemido saísse involuntariamente da garganta de Rony.

– Não gosto da ideia. Não gosto nem um pouco da ideia!

Harry remexeu-se um pouco com a ideia e Rony desviou o olhar para ele, como se fosse só então que tivesse consciência de que o amigo estava lá.

– Ei, Harry. A dor de cabeça passou?

– Um pouco.

– Estava mesmo com dor de cabeça, ou de cotovelo? – Brincou Carlinhos.

A porta se abriu o que poupou Harry de responder. Ian entrava ladeado por Hermione e Gina. Ao que parecia as duas estavam mostrando a casa para ele.

– Bem, aqui é onde você vai dormir. – Disse Hermione com um leve sorriso.

– Monstrando a casa pra ele? – Perguntou Rony virando-se para Hermione.

– Estavamos.

– Pediu a autorização do Harry para mostrar a casa dele pro Rockwood?

– O que é isso Rony?

– O que é isso Rony! Está dando atenção demais para esse cara! Só isso.

– Esse cara é o meu namorado Ronald Weasley – Gina disse quase gritando. – Não admito que fale com ele assim.

– O que está acontecendo aqui? – A voz da Sra. Weasley surgiu no corredor. – O que é isso? Estão brigando? Você de novo Rony!

– Mas mãe...

– Nada de “mas”. Comporte-se ou vai dormir na sala.

– Ótimo! Prefiro dormir na sala! – E falando isso Rony puxou um cobertor, um travesseiro e saiu do quarto batendo os pés. Não sem antes esbarrar “sem querer” em Ian.

– Por Merlim! O que aconteceu aqui? – Carlinhos estava perguntando atordoado.

– É melhor nem tentar explicar! – Disse Hermione bufando e olhando com cara feia para onde Rony tinha ido.

Depois de um tempo, todos estavam estabelecidos em seus respectivos quartos e camas (e Rony no sofá da sala). Harry se remexia de um lado para o outro, levantou-se e desceu as escadas para tomar água. Encontrou Gina parada no corredor.

– Ei, o que está fazendo aqui? – Perguntou Harry sussurando.

– Ouvindo atrás da porta.

– O quê? – Perguntou Harry sem entender, mas então ele ouviu as vozes de Rony e Hermione e calou-se para ouvir melhor.

– “É sério Rony, você não pode continuar a tratá-lo assim!” – Harry ouviu Mione dizer.

– E porque não? Ele é um sonserino, e um Rockwood, e papai não gosta muito dos Rockwood, eu lembro dele dizer uma vez...

– Dizer uma vez, Rony! Essa história tem anos. Não acredito que ainda se prende a ela. Não estamos falando dos Malfoy.

– Essa história é do tempo que eramos crianças Mione! E os Rockwood foram investigados como suspeitos Comensais. E se Ian estiver fingindo? E se ele e os pais dele trabalharem para “Você-Sabe-Quem”?

– Então ele realmente é um ótimo espião Rony, porque eu sou amiga do Ian a anos. E eu nunca pensaria isso dele!

Harry desviou a atenção da conversa e olhou para Gina. A garota tinha lágrimas nos olhos.

– Você está bem? – Perguntou Harry, mas Gina não respondeu, nem olhou para ele. Continuava prestando atenção na conversa, foi quando Harry ouviu Rony dizer:

– Seu amigo ou não, não confio nele e não acho que ele seja uma boa opção para namorar Gina. Acho que ela foi rápida demais em aceitar namorar o Rockwood depois que o Harry terminou com ela.

Harry mal teve tempo de processar o que tinha ouvido, Gina já estava entrando na sala.

– Cala a boca seu animal cruel e insensivel!

Rony e Hermione pularam juntos do sofá e olharam para Gina como se ela fosse um dragão pronto para devorá-los.

– Você fala da minha vida como se fosse capaz de administrar a sua própria! O que é? Esta com ciumes de quem? De mim ou de Hermione? Já que agora existe alguém mais nessa casa para ela dar atenção?

– Gina...

– Não! Cale a boca Ronald. Você não tem direito de dizer mais nada!

Gina estava vermelha, de uma forma nada amistosa e Harry achou que nunca mais a veria com tanta raiva.

– Eu só estou preocupado Gina... – Rony tentou mais uma vez dizer algo.

– Preocupado? Preocupado com o que Rony?

– Com todos nós! Não percebe? Se Ian for um espião tudo estará perdido. – Rony tentava falar baixo agora e Gina olhava para ele com olhos curiosos.

– Você está falando...

– Claro... Não percebe? Se Ian for um espião a mando de “Você-Sabe-Quem” para se infiltrar no nosso grupo, ele poderá descobrir sobre as Horcruxes e contar a ele que estamos procurando. Então ele irá reforçar a segurança e poderemos nunca encontrá-las.

– Rony! – Gina começou, incrédula – Eu nunca contaria a ninguém sobre as Horcruxes, nem mesmo para Ian!

– Mesmo assim Gina, não podemos arriscar! Esse namoro... não pode continuar.

Rony estava indo bem, Harry e Hermione não podiam negar, mas ele acabara de dizer a unica coisa que nunca poderia mencionar, ao menos não depois do que tinha acontecido na troca de presentes horas antes.

Gina olhou para Rony, toda a raiva retornando ao seu rosto e Rony encolheu-se.

– Não me diga o que tenho que fazer Ronald Weasley! Você pode achar o que quiser de Ian, mas eu não vou terminar com ele porque você simplesmente acha que ele pode ser um inimigo! Desista.

E dizendo isso Gina virou-se e foi embora.

– Rony, você simplesmente não sabe a hora de ficar calado. – Disse Hermione abaixando a cabeça e saindo da sala atrás de Gina.

Rony olhou para Harry que deu de ombros e disse:

– Só podemos esperar e ver no que vai dar. – E dizendo isso Harry saiu da sala, fechando a porta e deixando Rony sozinho.

Nenhum deles reparou na figura alta e loura que espreitava a reunião escondido nas sombras do corredor ao lado da sala.