Elas pararam quando tiveram certeza de que estavam longe o suficiente, estavam em uma cabana abandonada. Nela tinha uma pequena cama, que parecia não ser usada há séculos, cadeira de madeira empoeirada e uma mesa empoeirada.

- Senti saudade daqui - disse Ice Love passando o dedo pela mesa, com um sorriso - Bem, você não disse quem era, lembra? - disse se virando para olhar Marsh.

- Ah! Perdão, sou Marsh – respondeu - Não quero ser rude, mas quem você é e por que me ajudou?

- Sou Ice Love, uma vampira nômade. Te ajudei porque...- Ela parou, pareceu pensar no que dizer - Sabe que não sei...

- Por que é nômade?- Marsh perguntou curiosa.

- Porque...- o sorriso de Ice Love sumiu - Minha família foi morta, comida e...

- Desculpe, não queria...- Marsh tentou se desculpar, mas Ice Love a interrompeu.

- Não, você não sabia – forçou-se a sorrir - Bem, agora é minha vez de perguntar. Por que estava na área dos lobos? Eles não gostam de vampiros, sabia?

- Sei disso, mas preciso salvar meus irmãos. Eles foram sequestrados por eles, e eu preciso salvá-los - Marsh disse dando ênfase em “preciso”.

Ice Love a olhou e pareceu avaliá-la. Seu sorriso aumentou quando escutou algo roncar.

- Esta com fome?- Perguntou rindo um pouco, Marsh assentiu - vamos comer, então.

Ice caminhou até um armário da cozinha e pegou algo. Voltou com um ratinho, ele era pequeno, mas dava para beber o seu sangue. Estendeu a Marsh.

- Pode ficar, já comi hoje - disse sorrindo.

- Não, obrigada - respondeu olhando o quanto o rato estava sujo.

- Já sei, quer uma fruta? - Perguntou pegando a mochila que estava em suas costas, a qual Marsh não percebera.

- Claro! - Disse sorrindo.

Ice tirou uma maçã de dentro e lhe entregou. A maçã era bem vermelha e doce.

- Porque você não se assustou quando o sol começou a aparecer? - A garota perguntou, sentando no balcão sujo.

- Eu posso sair no sol, com isso - disse mostrando o rosário.

- Ah!

- Ice Love, certo? - Marsh perguntou.

- Pode me chamar de Ice - disse sorrindo ainda mais.

- Ok! Ice, eu tenho que ir. Preciso salvar meus irmãos.

Marsh jogou as sementes da maçã fora. Ice fez uma cara de triste, pensou um pouco. Olhou para Marsh, sorrindo ainda mais.

- Obrigada - agradeceu sorrindo.

- Pelo o que? - Marsh perguntou confusa.

Ice desceu do balcão, pegou sua mochila e jogou-a nas costas.

- Por me lembrar de como é ter alguém - ela sorria de canto - Eu vou com você, salvar o seus irmãos. A propósito, qual o nome deles? - indagou pegando algo no bolso, um colar. Colocou-o no pescoço.

- Zeu e Seysyu – seu tom de voz era melancólico.

- Bem, então vamos, acho que se formos pela floresta, chegaremos lá ao anoitecer – ela caminhou até a porta.

- Espera, como você vai sair no sol? Você não é vampira? - Perguntou confusa. Ice deu uma risadinha pela preocupação.

- Acalme-se, eu posso sair, contando que use isso - disse apontando para o colar- Então? Vamos? - Perguntou e Marsh assentiu.

As duas saíram pela floresta, que estava linda com a luz do sol.

Caminhavam lentamente. Marsh ainda se sentia desconfortável com a presença do sol e a sensação esquisita do calor em sua pele, porém Ice Love já parecia estar acostumada com isso, não demonstrava sentir desconforto.

Ice Love tentou puxar assunto algumas vezes, porém percebeu que a princesa estava mais preocupada com o resgate dos seus irmãos do que em sustentar uma conversa, então desistiu.

Não muito longe dali, Seysyu já havia voltado à consciência depois do violento soco que levara de um dos lobos. Ao acordar, percebeu que não estava mais na cela, era um lugar completamente diferente. Também percebeu que não conseguia se mover normalmente por conta das cordas que haviam colocado em volta de seu corpo. Olhou para o lado e viu o irmão também amarrado, assim como ela, porém com uma faixa na boca para que ele parasse de falar – ela sabia muito bem que numa situação como essa ele jamais pararia de fazer pirraça.

Zeu se debatia e resmungava alto, estava extremamente furioso. Seysyu, pelo contrário, não sabia onde estava e muito menos como havia parado ali, isso a deixou muito mais assustada do que o normal. Olhou em volta e se viu num salão escuro, a pouca luz que havia ali vinha de velas penduradas nas paredes apenas. Logo à frente dos dois, um trono. Nele, uma mulher. Revolution.

- Ooh, a Bela Adormecida acordou! – no momento em que ela disse isso, Zeu olhou para a irmã com surpresa, pois não havia percebido que ela já estava com consciência – Achou que pudesse nos enganar, hein? Bom, pelo menos sua atitude não foi tão inútil, recebi a notícia de que sua irmãzinha já estava bem perto daqui para resgatar vocês dois, pirralhos. Com ela aqui, vai ser mais fácil. – terminou com uma risada irônica.

- Por que diz isso? – indagou Seysyu, a única dos pequenos que era capaz de falar.

- Você ainda pergunta?! Menina tola, assim eu poderei matar os três de uma vez só, óbvio!

- Você nunca vai conseguir matar Marsh! Ela é mais incrível do que você pensa!

- Ah, cale logo essa boca – disse ela, ordenando com um gesto para que a amordaçassem também – Antes que eu mate você aqui e agora.

Enquanto isso, o sol já se punha e Marsh estava se sentindo mais confortável. Durante a caminhada, ela e Ice Love fizeram um trato para que o resgate de seus irmãos fosse mais rápido: quando os lobos aparecessem, Ice Love ficava para distrai-los enquanto Marsh entrava na clareira e lá ela se virava sozinha. E assim fizeram.

Sem diálogos e enrolações, quatro lobos partiram para cima das duas. Marsh rolou por baixo deles e tratou logo de entrar enquanto a atenção dos animais estava toda voltada para Ice Love.

Dentro da clareira, a princesa fez uma pequena oração pela sua nova amiga e logo partiu para sua missão. Caminhou com leves passos dentre os imensos corredores do esconderijo dos lobos. Assim que um aparecia, ela tratava logo de se esconder, já que possuía uma agilidade incrível.

Prosseguiu assim até que parou em frente a uma gigantesca porta roxa com detalhes em ouro.

- Foi fácil... – respirou – Até agora.

Ela sabia muito bem quem estava lá dentro, ela sentia seus irmãos. Porém, também sentia outra presença, uma presença maléfica e cheia de ódio: Revolution.

Sem mais delongas, empurrou as maçanetas e entrou.

É agora, disse a si mesma.