Além Da Escuridão escrita por HawthorneMark


Capítulo 6
Capítulo 6 - Floresta adentro




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Gale acordou assustado. Seu coração estava acelerado e o suor empapava toda a sua roupa. Sua visão estava embaçada e a sua cabeça girava, parecia prestes a explodir de dor. Respirando lentamente, Gale fechou os olhos e tentou prestar atenção nos sons ao seu redor. Nada, ele não conseguia escutar nada, estava tudo no mais completo silêncio. Tentou abrir os olhos lentamente e agora sua visão parecia estar conseguindo distinguir as coisas ao seu redor. Com muita dificuldade e dor por todo o corpo, Gale se levantou vagarosamente e ficou sentado na cama. Uma leve vertigem fez com que ele pendesse para frente, mas rapidamente se recuperou e ficou com a postura ereta. Ele estava em um quarto. As paredes eram amareladas e cheias de rachaduras. Os móveis pareciam ter sido quebrados e espalhados pelo chão. Havia restos de vidro e espelho espalhados pelo assoalho. A cama era o único objeto que parecia estar intacto. Gale ainda se sentia muito fraco e com o corpo todo dolorido. A última coisa de que se lembrava era do aerodeslizador sendo atacado e de que eles estavam caindo. O resto era apenas uma mancha escura na sua mente. Vagarosamente ele começou a se colocar de pé e instintivamente estendeu a mão para olhar o seu comunipulso. Ele não estava mais no seu braço.

– Droga! - Sussurrou pra si mesmo e começou a andar em direção a porta do quarto.
Havia pouca luz dentro da casa, pois todas as janelas estavam pregadas com tábuas. Apenas alguns frechos de luz entravam pelos espaços entre uma tábua e outra. A porta dava em um longo corredor mal iluminado. Gale começou a andar lentamente quando ouviu um barulho vindo mais a frente no corredor. Ele parou e ficou observando, atento a escutar qualquer barulho que viesse daquela direção.
– Alguém... ajuda!
O coração de Gale parou. Um gelo tomou conta do seu estômago. Ele conhecia aquela voz, era Alicia. Rapidamente ele correu até a porta de onde vinha a voz desejando ter uma arma pra caso tivesse que enfrentar algum tipo de bestante. Ao chegar no quarto, Alicia estava caída no chão. Ela estava com o cabelo vermelho fogo todo desgrenhado e molhado de suor. Na sua testa e bochecha haviam cortes, mas já não estavam mais sangrando, havia apenas sangue seco ao redor das feridas. Ela levantou a cabeça e se deparou com Gale e suspirou de alívio.
– Capitão, graças a Deus o senhor está bem! - Ela disse, tentando se levantar.
– Espere que eu te ajudo.
Gale abaixou do lado dela e passou um de seus braços ao redor do seu pescoço e a ajudou a ficar de pé. Assim que ela conseguiu se equilibrar , ele a soltou, mas ficou por perto, caso ela perdesse as forças.
– O que houve conosco? - Gale perguntou, encarando a menina nos olhos. - Onde está o resto do pessoal?
Ela deu de ombros, parecia tão perdida quanto ele.
– Eu não faço ideia, Senhor. - Ela respondeu, andando em direção a cama e se sentando nela.
Aquele quarto era igual ao anterior, porém os móveis ainda pareciam intactos. Ela então continuou dizendo.
– A única coisa que me lembro foi do aerodeslizador caindo, depois eu não consigo me lembrar de mais nada.
A única coisa que se passava na mente de Gale era que ele não queria perder a sua nova equipe. Ele tinha que achar todos para que pudessem se unir novamente para então buscar uma forma de saírem daquele lugar de alguma forma. Gale começou a andar pelo quarto olhando em gavetas e nos guarda-roupas, procurando alguma arma mais potente que uma faca, que foi a única arma deixada na sua cintura. Não encontrou nada, estava tudo vazio.
– Alicia, temos que sair daqui e tentar encontrar os outros. Será que você consegue andar?
Ela balançou a cabeça positivamente e então se levantou da cama bem lentamente. Gale sacou a faca da bainha e saiu porta afora. Os dois exploraram a casa e acabaram descobrindo que ela era pequena. Haviam dois quartos apenas, uma cozinha bem pequena onde não tinha nenhum suprimento e uma pequena sala de estar. A casa estava completamente vazia, não havia nada além de móveis velhos e quebrados. Os dois então saíram de lá e descobriram que estavam no meio de uma floresta. A casa ficava em uma enorme clareira onde o sol da tarde os castigava. O clima era muito quente e abafado e logo todo o corpo de Gale estava transpirando.
– Por onde vamos, capitão?
Gale não sabia por onde começar e então começou a andar em direção ao que parecia uma trilha no meio das árvores. Ele então avistou uma placa e indicou para que Alicia o seguisse. Os dois adentraram o começo da trilha e avistaram uma placa com uma seta indicando aquela direção da trilha. Havia uma palavra escrita, porém nem Gale e nem Alicia conseguiram entender o que ali estava escrito.
– Merda! - Bravejou Gale, chutando a terra do chão. - O que adianta uma placa com direção sendo que nós não entendemos?
Alicia soltou um risinho nervoso e deu de ombros.
– Acho melhor seguirmos a seta, pelo menos ela está indicando alguma coisa!

Sem outra escolha, os dois então adentraram a trilha. As árvores eram enormes e tapavam a luz do sol, tornando a floresta sombria. Algumas árvores eram velhas, com seus galhos secos, retorcidos e sem vidas que mais pareciam mãos monstruosas. Por um longo tempo os dois caminharam bem próximos e em silêncio, apenas prestando atenção no caminho. Apesar do sol não os alcançar ali, o clima abafado estava deixando os dois cansados e completamente irritados. Pequenas moscas picavam a pele de Alicia e Gale, fazendo com que os dois tivessem que afasta-los a todo o momento abanando as mãos.

– Isso aqui é um inferno, Capitão! Como alguém pode viver em um lugar tão quente assim?

– Não sei, mas eu estou começando a ficar irritado também! - Ele respondeu, abandonando mais uma vez as mãos para espantar os mosquitos. - Alicia, pode me chamar de Gale se quiser, não tem necessidade de se dirigir a mim como capitão a todo momento.

– Tudo bem Cap... - Ela mordeu o lábio inferior e sorriu logo em seguida. - Gale!

Gale retribuiu o sorriso e continuaram andando quando de repente escutaram um som aterrorizante e angustiante. Um gemido com uma espécie de uivo soou por entre as árvores fazendo com que os dois parassem de supetão e agarrassem suas facas. Qualquer que fosse o bicho que tivesse soltado aquele uivo, Gale tinha a impressão de que os dois portando apenas facas não conseguiram conter o animal. O capitão vasculhou ao redor com os olhos enquanto o uivo parecia estar mais perto.

– Que porra é aquela? Perguntou Alicia, puxando o braço de Gale com bastante urgência.

Do lado esquerdo da trilha, onde Alicia estava andando desde o início, se encontrava uma enorme criatura bestial de 2 metros e meio de altura! Os braços eram longos e o corpo todo de uma pelugem castanho avermelhado. O rosto e a arqueadura do animal lembravam um chipanzé gigante, porém ele era mais esguio e terrivelmente feio. A criatura os encarava e segurava na mão um machado gigante.

– Não se mecha , Alicia! Gale sussurrou, quando outro uivo chamou a atenção deles.

Gale virou o olhar lentamente, com medo de que até mesmo o movimento da sua cabeça instigasse a criatura bestante a acata-los. Havia outro igual, um pouco menor, na trilha atrás deles. Os dois tinham apenas duas opções: continuar correndo trilha a frente ou sair correndo pela lateral direita onde Gale caminhava desde o começo da trilha. Ele levou o olhar para Alicia e ela havia entendido quais eram as opções que tinham sem mesmo ter trocado nenhuma palavra com o capitão.

– Em frente ! Ela sussurrou.

O coração de Gale estava acelerado, batendo como um tambor em um ritmo frenético. Seus ouvidos pareciam ouvir as batidas do seu coração. De repente ele foi tomado por uma grande adrenalina. Todo o seu corpo estremecia. Os dois bestantes agora rugiam, prontos para atacar e então Gale fez sinal com a cabeça e ele e Alicia começaram a correr. Alicia corria bastante, magra e esguia, ela parecia flutuar no ar. Gale acompanhava o mesmo ritmo dela. Ele olhou pra trás e então viu que as criaturas faziam o mesmo, arrastando aqueles enormes corpos peludos atrás deles. A principio o Capitão pensou que as criaturas ficariam para trás, mas elas eram incrivelmente velozes e já estavam quase os alcançando.

– Alicia, corre mais depressa! - Gale gritou em plenos pulmões. Sua garganta ardia, seu fôlego estava quase acabando, seu peito parecia que ia explodir, mas ele não parou de correr.

Mais criaturas uivavam e quando olhou para cima, Gale conseguiu ver algumas delas penduradas nas árvores perseguindo-os de cima.

– Merda! - Alicia gritou, sem parar de correr um instante. - Eles são muitos, vão acabar nos pegando.

Ela e Gale olharam pra trás no exato momento em que uma das criaturas arqueava os braços com o machado para trás e o lançava no ar em direção aos dois. Foi como se tudo passasse em câmera lenta. O machado girou em direção de Alicia e Gale jogou o seu corpo contra o dela. O machado gigante passou zunindo por cima dos dois e se cravou em um tronco de uma árvore. Eles caíram no chão, ralando partes do corpo. Os uivos e rugidos aumentavam e sem demorar Gale ajudou se levantou e ajudou a companheira a fazer o mesmo.

– Não vamos conseguir! - Ela gritou, colocando a mão sobre o ombro machucado por causa da queda.

Gale olhou pra frente na trilha. O suor encharcava sua testa e cai-lhe sobre os cílios. Ele conseguia avistar o final a trilha, ele conseguia avistar algo que não fosse árvore, talvez enfim eles conseguiriam entrar em alguma área civilizada.

– Vamos, o fim da trilha está próximo!

Os dois começaram a correr em meio a gritarias, uivos e rosnados dos bestantes gigantes que pulavam pelas árvores e corriam pelo chão atrás deles, querendo mata-los a qualquer custo. Gale esperava que as criaturas parassem de correr assim que alcançassem o final da trilha. Seu corpo queria falhar, suas pernas pareciam começar a perder o controle. Ele se concentrou para que isso não acontecesse e então finalmente eles avistaram o final da trilha. Havia uma enorme ponte de madeira sustentada por cordas. Logo abaixo da ponte havia uma grande queda para um rio com correnteza.

– Não vou passar nessa ponte nem fodendo! - Gritou Alicia, assim que pararam em frente a ponte.

Do outro lado da ponte parecia haver uma pequena comunidade de casas de madeira. Gale olho pra trás, as criaturas estavam perto.

– Alicia, vamos atravessar e depois cortamos as cordas e eles não vão conseguir atravessar!

Gale Também estava com medo de atravessar. A ponte parecia podre e prestes a ceder a qualquer momento. Ele respirou fundo e foi primeiro para que encorajasse Alicia a fazer o mesmo. A ponte balançava muito, mas ele continuou com o ritmo e não parou. As madeiras rangia sob o seu peso. Alicia veio logo em seguida, num ritmo lento, porém conseguia seguir.

– Sem querer te apressar, mas eles já estão no começo da ponte! Gritou Gale.

Todos os animais pararam e ficaram observando os dois atravessarem a ponte. Havia pelo menos uns 20 daqueles bestantes, cada um em tamanho variado. Os menores então começaram a andar pela ponte. Alicia se virou para ver quando um deles estava dando pequenos passos sobre a madeira podre. Ela tentou acelerar o passo e então pisou com força e uma das madeiras cedeu, fazendo sua perna direita afundar no abismo. Gale estendeu a mão para segura-la e tentar tira-la de lá, mas a coxa dela ficou presa entre duas madeiras. A criatura agora se aproximava rapidamente.

– ME DEIXA AQUI, VAI GALE, CORRE! Ela gritou.

– Tenho uma ideia melhor, mas talvez você não goste. - Ele disse, colocando a faca sobre a corda e começando a corta-la.

– Para com isso, você está maluco? Vai morrer junto comigo!

– Pelo menos temos uma chance se cairmos na água, agora se essas criaturas nos pegar, não teremos nem chance.

Alicia tentava a todo momento tirar a perna do buraco e com muito sacrifício ela conseguiu bem a tempo quando a criatura pulou pra cima dela, atacando-a com vontade. O bestante abriu a boca e mostrou os enormes caninos afiados, tentando estraçalhar a cara dela. Alicia segurou a criatura, porém o bestante era forte demais. Gale continuo o processo de cortar a corda com fervor.

– Credo , esse bicho tem um bafo horrendo... - Disse Alicia segurando o pescoço da criatura.

A corta então arrebentou e fez com que a ponta virasse. Alicia soltou a criatura e conseguiu se segurar em um pedaço de corda. Gale fez a mesma coisa, os dois ficaram pendurados no que restou da ponte. O bestante caiu e atingiu a água, sendo arrastado pela correnteza.

– Eu não vou aguentar muito tempo! Alicia Disse, deixando escapar pouco a pouco o pedaço de corta q ela segurava.

– Vamos soltar então, no três. - Gale disse para ela.

Ela concordou com a cabeça.

– Um...dois... três!

Os dois soltaram e despencaram da ponte.


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