Pequim – China, 1484

Pequim era a principal capital do império Ming, era a maior e mais populosa cidade do Mundo, um novem casal e seu filho acabam de chegar de viagem ao entardecer, o casal que acabara de se mudar foram tentar se aprimorar em suas habilidades de trabalho, uma vez em que a mulher trabalhava maravilhosamente na confecção de vestuários com seda e seu marido já era um renomado artista cerâmico, apenas por isso foram aceitos após a China ter fechado suas portas para o exterior, talvez por eles poderem enriquecer a cultura do país de alguma forma, os três param brevemente à frente de uma casa típica chinesa, rica em detalhes arquitetônicos, o telhado levemente curvado quando chega a sua extensão com telhas escuras, casa de madeira fina, a casa não era muito grande, a jovem família ia adentrando a casa com portas de madeira vermelha com puxadores em forma de cabeça de dragão com um círculo na boca, a criança que acompanhava o casal parecia estar encantado com o novo ambiente, a casa já fora propriamente mobiliada, nada muito extravagante, mas o ambiente era aconchegante, a mulher ao entrar acende uma vela que ficava perto da porta de entrada, e com a iluminação da chama e alguns poucos raios de sol que ainda haviam ali e transpassavam as janelas, eles olharam para a parte de dentro da casa.

– Agora aqui é, o nosso novo lar. – Disse o homem enquanto esboçava um leve sorriso em seu rosto.

Dois anos se passaram, a família já havia se acostumado com o novo lugar, todos saiam cedo, os pais para trabalhar e o filho ,agora com doze anos, para a escola, depois das aulas a criança praticava artes marciais no templo Shaolin que se localizava nas redondezas de sua residência, porém um pouco escondido entre os bambuzais, enquanto treinava arduamente até conseguir ver o crepúsculo, o garoto conseguia ouvir ao longe o som de uma cachoeira, porém ele não sabia da existência de tal coisa ali perto, por isso por muito tempo simplesmente ignorou. Quando o menino chegava em casa, ele tinha alguns afazeres domésticos, suas lições e dormia, muitas vezes sem ver seus pais chegando, por ser um pouco introspectivo o garoto ainda não fizera amizades na academia de ensino nem no templo em que treinava todos os dias. Alguns dias depois, antes de sair seus pais avisaram-no que teriam que passar a noite no centro da cidade do imperial a serviço, mas que ele não poderia ir, mas o garoto possuía grande autonomia e conseguiria se virar. Depois do horário do treino no templo naquele mesmo dia, o menino continuava a treinar solo quando o som da cachoeira que ele sempre ouvira parecia estar mais próximo, foi ai que ele decidiu ir atrás para apreciar a dádiva da terra, foi neste momento que o garoto decidira seu destino sem saber, ele então adentra um bambuzal que parecia estar lá desde muito tempo atrás e como já estava escurecendo, ficava cada vez mais difícil a locomoção naquele lugar, mas a persistência do garoto era grande, e ele continuou seguindo o som da água caindo nas pedras até que a passagem foi se facilitando, possibilitando sua chegada ao local no qual nem ele, nem ninguém da vila onde morava sabia da existência.

– Como alguém poderia deixar de notar um lugar tão deslumbrante como esse – Disse o garoto encantado com a enorme cachoeira que em sua queda formava um rio em um leve tom de esmeralda e cercado por uma gigantesca formação rochosa.

Então o garoto repara em um senhor de longos cabelos, que agora sob a luz do luar e das estrelas, parecia ser levemente prateado sentado numa rocha no centro do rio perto da queda da cachoeira, como se meditasse ali, o menino ao tentar proferir alguma palavra para chamar a atenção do homem, não consegue pensar em nada, e apenas deixa sus cordas vocais emitirem um som baixo com a passagem de ar que sai tocando levemente os seus lábios, nesse momento o senhor se vira com um olhar de imensa ira porém com uma estranha face se mansidão, contrastando com seus olhos ameaçadores, uma grande pressão parece ter sido imposta pelo olhar a cachoeira e o rio parecem ter parado aos poucos seu fluxo devido a energia do ambiente, o garoto quase não suporta seu próprio peso e cai de joelhos ai chão enquanto sua cabeça vai descendo levemente, até não conseguir ver nada além de seu corpo e a grama do chão, o olhar durou apenas um instante, mas foi sufocante de uma maneira surpreendente, e quando voltara o olhar novamente para a rocha à beira da queda, o homem não mais ali estava.

– O que fazes aqui jovem? – Questiona o senhor que sai da trilha que o garoto formou atrás de si e vai em direção ao mesmo para ajudá-lo a levantar – Você não deveria estar aqui – Agora o senhor toca os ombros do jovem e recua a mão brevemente com uma expressão de espanto, e volta a mão ao ombro do menino com um pequeno sorriso entre sua barba, bigode e sua feição serena.

– Desculpe senhor, fiquei curioso sobre este local, e como é perto de minha casa, resolvi vir – Disse o menino enquanto se levantava – Mas o que...Como o Senhor... – Mas é interrompido antes de completar a frase.

– Como sabia deste local? Ninguém deveria saber deste local. – Disse o homem

– Eu...apenas segui o som da cachoeira.

– Entendo - uma breve pausa se instala – Pelos seus trajes, suponho que pratique artes marciais.

– Sim senhor, Me chamo Rafael, e serei um grande guerreiro um dia! – disse o garoto com um brilho no olhar.

– Você gostaria de aprender técnicas secretas? – Disse o senhor com um sorriso no rosto instigando a curiosidade da criança – Você me parece um bom garoto, volte aqui em meio ciclo lunar um pouco mais cedo do que chegastes hoje, e o melhor dos mestres estará te esperando bem ali – disse o senhor apontando para a rocha em que estava sentando, Rafael acompanha com o olhar.

Quando o menino se volta para o senhor, ele havia sumido novamente, mas dessa vez não reaparecera em lugar algum, com um sorriso no rosto o menino volta em sua pequena trilha para sua casa. Duas semanas depois o jovem deixara de ir ao templo para encontrar quem seria seu novo mentor, mas o caminho estava muito diferente, até que ele conseguiu ouvir novamente o som das águas, mas por um pequeno momento de euforia o garoto tropeça e se encontra numa mudança de nível como uma ladeira, mas se segura, como reflexo, à um bambu que ali perto estava, ao olha pra baixo e se sentir seguro no alto, ele relaxa e suspira fechando os olhos, mas o bambu em que ele segurava se rompe na porção superior à sua mão e ele acaba caindo, para se defender do chão em sua queda ele coloca os braços na frente do rosto e fecha os olhos, mas a queda não demora muito para se acabar, ele estranhando isso se levanta, com as sobrancelhas encurvadas na testa, e se limpando ele se encontrava em um lugar completamente diferente do que ele estava, já era noite, era lua cheia, e a mesma estava à pino, poucas nuvens eram vistas, e uma grande construção aparentemente muito antiga estava bem a sua frente, uma grande porta vai se abrindo aos poucos, e uma mulher vestindo uma armadura clara como prata, a qual refletia a luz da lua no que pareciam ser grandes penas em seus braços e cintura, ela se arqueia e se levanta com um grande sorriso no rosto.

Já faz tempo que não temos visitas por aqui! Eu sou Kumiko, o Pardal – e com o braço acena para que o menino passasse pelo portão – Prazer em conhece-lo pequeno

– Olá eu sou...

– Rafael certo? – Disse um homem com olhos de besta encostado à um pessegueiro com uma armadura assustadora e negra – Sou Shen, a Kyuubi, fomos encarregados de levar você ao representante do mestre para que seu treino comece.

– Vamos, não fique ai parado – disse a menina puxando Rafael pelo braço e indo em direção a primeira pequena casa de um vilarejo que ficava dentro dos muros, onde a única entrada e saída era o portão pelo qual entrara.

Chegando la dentro haviam o que parecia ser uma pequena sala para reuniões com alguns locais preparados para quatro pessoas ficarem ali, então todos se ajoelham e abaixam suas cabeças a frente de uma porta que aos poucos foi sendo aberta, Rafael não podia ver que era do jeito que estava, passos foram se aproximando dos três que ali estavam, a iluminação era pouca, pequenas chamaras vermelhas em lanternas eram a luz exterior e interior das casas, os passos foram se aproximando cada vez mais, a porta agora parecia estar parada, não haviam o som da madeira nem das dobradiças metálicas.

– Levantem-se, não há necessidade de tanta formalidade. – era uma voz firme e masculina, bem autoritária.

Rafael assim como Kumiko e Shen, se levantaram e se depararam com a imagem de um homem com um quimono em preto e branco, bem alto, cabelos negros e longos, ele tinha uma feição jovem, não tanto como as daqueles que lhe acompanharam desde a entrada mas, ainda assim jovem. O homem então olha fixamente por alguns instantes para Rafael, parecendo analisa-lo, o garoto parecia um pouco desconfortável por um estranho estar fazendo aquilo, mas antes que pudesse dizer algo o homem se levantou, ele se vira para a porta, a abre e virando seu rosto diz:

– Vejo seu potencial, acredito que há poder ai dentro de você, para superar até mesmo a mim – os três na sala se surpreendem, Rafael parece ter sido o que menos ficou surpreso – Vamos, o Mestre quer começar o quanto antes seu treinamento.

E com uma cara séria guia o jovem até a uma mansão, eles entram e seguindo eles estavam Shen e Kumiko, ao caminharem algumas lamparinas iam se acendendo com chamas azuis, iluminando caminho, na parte posterior da casa, encontrava-se um imenso portão.

– A partir daqui, apenas você poderá passar, mas só se apresentar a verdadeira determinação para isso, e daí não sairá até que tenha cumprido com todas as etapas de seu treinamento – Disse o homem se ajoelhando juntamente ao de seus dois novos colegas com uma certa sincronia - Você tem certeza de que quer aprender com o maior de todos os mestres? – Uma breve pausa deixa um silencio no ar que logo é quebrado pelo mesmo homem – Você se acha digno de tal treinamento garoto?

Em resposta, o menino se virou para o portão e tentou empurrá-lo, mas pareceu ser realmente pesado, até que sua conversa com o senhor da cachoeira veio em sua mente, e seu desejo de se tornar um grande guerreiro queimou dentro dele, Rafael com uma feição de determinação toca ambas as portas e as empurra com toda sua força, agora ele sente uma estranha energia fluindo por seu corpo, a luz da lua vai entrando aos poucos pela fresta que vai se abrindo, até que uma passagem é aberta por entre o portão, o garoto passa por ele se vira para o homem que o conduzira até aquele local e diz:

– Quando eu sair daqui, lhe mostrarei o quão digno sou!

Era possível ver um sorriso nos lábios do homem ainda de cabeça baixa e ajoelhado enquanto a porta ia se fechando e a luz que entrara ia se acabando.

Ao se virar Rafael vê uma cachoeira realmente muito parecida com a que ele encontrara a duas semanas atrás, e um campo aberto enorme, ele fica confuso por não encontrar ninguém e chama pelo senhor que ele conhecera, enquanto isso ele vai se aproximando da queda, até que ele se lembrou da promessa do homem, de que ele estaria lhe esperando ali, e quando chega o garoto não vê ninguém sobre a rocha e se sente enganado por um instante.

– Como prometido, você aprenderá as técnicas secretas para se tornar um grande guerreiro!

Era uma voz estrondosa, mas parecia calma e gentil apesar do tom em que falava, o garoto impressionado segue o som olhando para cima e vê agora uma gigantesco dragão branco a sua frente, uma névoa cobria parte de seu corpo, o menino ficou imóvel, e sentiu como se seu coração tivesse parado, e ali ficou por um breve instante, até que ele se ajoelhou e abaixou a cabeça.

–Por favor, ensine-me Mestre! – Gritou o garoto tão alto quanto o dragão – Serei seu melhor discípulo!

O dragão gargalhou e se aproximou do jovem que ali estava abaixado.

– Gosto de você meu jovem, você tem valor! Porém o tempo é curto e eu não pegarei leve com você. Levante-se e prepare-se!

Então deu-se início a um árduo treinamento de corpo e espirito por longos dez anos, por todo esse tempo o portão ficou fechado, o garoto havia crescido, mas as principais características de seu rosto não mudaram muito, Rafael agora mais maduro e centrado, reverência seu mestre e olha atentamente em seus grandes olhos bestiais porém serenos.

– Concluímos aqui seu treinamento, jovem – Disse o dragão – Você mostrou grande valor e força de vontade, assim como seu imenso espirito e perseverança, aprendeu bem sobre o taoísmo e as diversas artes de batalha, mas eu fui apenas uma parte de seu grande destino, ainda há muito pela frente, e tem alguém esperando por você, a mesma pessoa que se mostrou superar qualquer limite, a única que foi capaz de aperfeiçoar as minhas técnicas – houve uma pausa e uma reverencia feita pelo dragão – Agora vá, jovem!

Rafael se voltou, para o dragão sem dizer nada, andou em linha reta com um olhar firme e determinado, em momento algum relaxara por ter terminado seu treinamento, o caminho agora parecia mais curto do que jamais fora, e em um instante ele se encontra de frente para o grande portão por onde ele entrara, ciente do peso da porta ele a toca primeiro com a mão direita e vai acendendo seu cosmos, e a empurra, abrindo os dois lados com um simples toque.

– Adeus Hakuryu-Sama - Disse Rafael se referindo à seu mestre – Espero nos encontrarmos novamente!

– Vá, guerreiro, ainda há o que fazer por aqui para que você possa encontrar o caminho do seu destino!

As portas se fecham separando mestre e pupilo, o local agora estava completamente escuro, até que chamas azuis iluminam completamente o caminho a sua frente, e Shen estava esperando.

– Então você realmente sobreviveu ao treinamento do Hakuryu-Sama? Interessante – Ele sorri, lança um monte de roupas dobradas e balança a mão como se fosse para Rafael segui-lo – Vista-se e me acompanhe, estou ansioso para saber se você é mesmo aquele predestinado a receber o que esta guardado sob a cachoeira de Rozan.

Depois de se vestir ele segue Kyuubi até a casa onde estavam, que é uma extensão de outras casas onde há um pátio no centro, entre os corredores, até que encontram Kumiko no corredor.

– Ele esta aqui – Disse a garota abrindo uma porta enquanto sorria – Espero que você consiga!

No meio do pátio um homem com uma armadura maior do que as de Shen e Kumiko, ela era detalhada em preto e branco, o cabelo podia ser visto pelo elmo, era negro e estava preso, enquanto Rafael ia se aproximando sentia o ar pesando com o cosmo do guerreiro que ali estava, até que ficaram frente a frente, e o homem se mostrou ser um conhecido.

Olá Rafael, sou Fai de Hakutaku – Disse o homem com um sorriso levemente irônico no rosto – Para sair daqui, você deve passar por mim, e conseguir o poder para passar o portão.

Sem mais conversa uma luta com golpes poderosos começara, Rafael tentava arduamente golpear seu adversário, mas a velocidade dele era igualada a sua, e a armadura o atrapalhava em acertar alguns golpes, muitos estilos de artes marciais foram mostrados, até que depois de um bom tempo o jovem aprendiz demonstra cansaço, então Fai eleva seu cosmo e lança uma poderosa rajada de vento, com as mão para o alto Fai faz nuvens negras se aproximarem enquanto Rafael está preso no turbilhão de vento, o guerreiro percebe que será atingido pelos poderes da natureza, os mesmos que ele teve que lutar para sobreviver frente ao dragão que fora seu mestre, então um imenso cosmo começa a emanar de Rafael que neste ponto já estava ferido e sem conseguir respirar muito bem, decide terminar com um único golpe.

Rozan Shoryu Há!

E um relâmpago vai em direção à Rafael, que com o movimento de um soco cria um imenso dragão de cosmo que vai contra o raio que se aproxima, os dois se chocam, o dragão transpassa a eletricidade e vai em direção a Fai, que é atingido a uma imensa velocidade cai vários metros para trás.

– Esta é a prova de que sou digno! – Disse Rafael olhando fixamente para o homem que se levantava com dificuldade.

– Muito bem jovem – Fai limpa o sangue em seu rosto e se aproxima do guerreiro, até chegar bem perto, ele estende a mão e entrega um espelho com marcas Taoistas ao redor – Esta é sua chave para fora de Senkyou, creio que Hakuryu-Sama tenha lhe dito o que você deve fazer certo?

– Sim – Disse Rafael pegando o espelho e acenando com a cabeça – Sou o novo guardião da Torre Maligna da Terra Enclausurada. Assim que eu passar pelo portal o corpo físico de Hakuryu-Sama irá se desfazer e eu devo ficar em seu lugar.

– Pois bem, vá jovem – Disse Fai sei virando e indo em direção oposta à que Kumiko e Shen estavam.

Kumiko se aproxima de Rafael, pega em sua mão que estava com o espelho, olha em seu rosto, sorri e diz:

– Há algo te esperando ao fundo da queda da água da cachoeira de Rozan, e mande lembranças minhas à ela!

Cinco picos antigos e Rozan – 1496

E em um instante Rafael se encontrava perto da cachoeira, entre os cinco picos antigos de Rozan, ele não vê mais o espelho que antes estava em suas mãos, ao lembrar das últimas palavras de Kumiko ele fica confuso, e vai em direção à queda da cachoeira, e vê algo brilhando, e sem hesitar salta para dentro do água e vai nadando cada vez mais profundamente, até que chega em um ponto onde a luz mal consegue alcançar, e ele vê novamente o brilho, era uma grande caixa com um Dragão cravado nele e uma alavanca para puxa, ele então puxa fazendo com que a urna se abra revelando uma figura muito parecida com um dragão que emanava uma energia muito semelhante a de seu mestre, a figura se desmonta e começa a se unir ao corpo do jovem formando uma armadura completa, ele então volta a superfície e saí da água, sem dar um tempo para ele ficar impressionado com o que acabara de acontecer um imenso cosmo, talvez maior do que o do próprio Hakuryu se aproxima de cima, e como uma estrela cadente dourada, uma pessoa aparece a sua frente, ela usava uma máscara com um símbolo dourado do lado direito, a pessoa tinha uma silhueta feminina mas imponente, sob a luz da lua podia ver os fios vermelhos espalhados pelos ventos saindo de trás da máscara.

– Você é aquele que Hakuryu-Sama havia dito a anos trás? – Disse a mulher mascarada – Então alguém finalmente foi digno de vestir a armadura de Dragão.

– Sou Rafael, o atual cavaleiro de dragão, estou aqui para dar prosseguimento à missão de meu mestre – Então houve uma pausa e Rafael mostrou uma cara de dúvida como se estivesse esquecendo algo – Como você conhece Hakuryu-Sama?

– Ele também foi meu mestre por um tempo

– Então você é...