As Estrelas Da Esperança escrita por Vaskevicius


Capítulo 48
Capitulo 48 – Sobre Destinos




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Submundo – Sete Círculos Infernais

Gritos de dor a agonia ecoavam por absolutamente todos os cantos, incessantemente, o céu era um tom puro de preto macabro, o quão mais fundo se vai mais dava para perceber que nas paredes rochosas haviam marcas profundas de unhas com sangue e algumas pequenas partes formações que se assemelhavam ás faces humanas em completo desespero, não haviam momentos de quietude mas ainda assim pequenas criaturas que se escondem nas sombras se esgueiram à procura de fugitivos ou invasores, muitas delas eram disformes e tinham seus órgãos abertos e amarrados fora de seus asquerosos corpos, algumas delas se rastejavam como grandes serpentes.

— Quando chegaremos?!

—Shh – O garoto levava o dedo à boca em um gesto de silêncio ao mesmo tempo que fazia o som do ar passando por seus lábios entreabertos. – Se nos virem aqui estará tudo acabado, por alguma razão há algum tempo não há mais guardas espectros por aqui e soube que Thanatos desce ao submundo com muita frequência logo após a retirada dos guardas.

— Acha que ele tem algo a ver com isso? – Perguntava o homem trajando uma armadura dourada. – Já estamos aqui há várias horas e não parece que estamos chegando perto.

Um breve sorriso se finta entre os lábios do rapaz vestindo uma armadura prateada que cobria quase todo seu corpo.

— Está enganado de tantas maneiras...

— O que?! – Higor empurra o cavaleiro contra a parede e parece mais sério do que de costume. – Não brinque comigo, eu poderia muito bem ter sobrevivido à queda no Yomotsu sozinho, não pense que lhe devo algo.

— Jamais pensaria algo assim. – Respondeu o rapaz se soltando e parecendo calmo. – Estou fazendo meu trabalho, a tarefa que me foi incumbida é de levar você em segredo até aquela árvore e você será o guarda dela até que este seu serviço não seja mais necessário. – Ele caminhava um pouco mais para frente e entre algumas rochas havia uma estreita passagem. – Precisamos nos apressar, aqui nossa percepção de tempo é praticamente anulada, mas o tempo por si só, passa de forma diferente aqui, o que para você, se pareceu com horas, na verdade foram dias, já faz mais de duas semanas que estamos aqui embaixo, o submundo tem vida própria, mas ligado ao seu deus, por isso ambos possuem o mesmo nome: Hades.

— Não é possível que estamos aqui a todo esse tempo, e quanto a guerra, os outros cavaleiros?

— Já era esperado que tudo isso acontecesse, e certamente não perderão suas vidas naquele primeiro ataque medíocre. – O garoto entrava pela passagem. – Vamos, temos que nos apressar, o momento está chegando. – Logo em seguida o cavaleiro de Câncer também atravessa a fissura escura e estreita, mas sem que percebessem algo passa junto a eles por entre as sombras.

Alemanha – Castelo Heinstein

Um grande barulho assola todo o castelo, as torres tremem com o choque do estrondo, se assemelhava à uma explosão em um nível jamais visto antes, algumas das criadas em seus véus como ébano se moviam rapidamente para alguns cômodos a fim de se esconder, os soldados moviam-se ainda mais rapidamente por entre os corredores brancos e limpos como uma nuvem clara no céu em um dia de verão, eles rumavam em direção à entrada do castelo.

— O que está havendo?! – A pergunta era retórica, a garota estava só no quarto de seu irmão e ela já tinha suas ideias do que poderia estar acontecendo, por um breve momento um sorriso lateralizado para a direita começa a se mostrar em sua face, a expressão de alegria e surpresa se misturavam. O  receptáculo de Hades ainda permanecia inconsciente, algumas pétalas encharcadas se desmanchavam na pouca água que sobrara no jarro de cristal, a feição da garota logo muda com o som da porta abrindo rapidamente e com violência.

— Irmã!!! – Gritava a garota enquanto entrava correndo e assustada. – Aqueles imundos, estão nos atacando?! – Pandora abraça sua gêmea com força.

— Não exatamente.

A pulsação de Requim subia. – Então o que está havendo aqui, Hypnos? – Perguntava esperançosa.

— Um deles veio até nós. – Sua feição não mudava, era exatamente a mesma de quando eles haviam se conhecido e parecia expressar nada, o homem caminhava em direção às duas garotas que se sentavam na beirada da cama. – Ele veio apenas nos entregar sua vida, nossa localização não era exatamente um segredo.

— Não seja tão despreocupado assim irmão. – Uma voz que se assemelhava muito à de Hypnos porém um pouco mais grave vinha do lado de fora do quarto demonstrando certa satisfação no tom. – É um cavaleiro de ouro, um da elite daquela deusa tola, nossa guarda cumprirá seu papel, mas precisamos fazer os arranjos para que realmente aconteça o que fora planejado.

— Não é um simples sono, eu não posso alcançá-lo para fazer com que acorde, mas podemos usar seu poder mesmo enquanto adormecido para iniciar. – As duas garotas prestavam muita atenção do diálogo dos deuses gêmeos que se aproximavam cada vez mais da cama. – Então só precisamos leva-lo ao grande salão. – Ao final de sua frase, os irmãos puxam simultaneamente Hades de seu leito desaparecendo do quarto antes mesmo que o corpo estivesse inclinado suficiente para que pudesse sentar.

No mesmo segundo que abandonaram Requim e Pandora na beira do leito de seu irmão, os deuses do sono e da morte aparecem empurrando Hades pelos ombros, cada um com uma mão no ombro do rapaz adormecido empurrando-o contra o chão, onde havia um grande pentagrama dentro de um círculo cravado no chão, grande suficiente para que os três coubessem em seu centro. Velas decoravam e iluminavam o ambiente, ao toque do corpo do garoto no chão e a pressão que os deuses gêmeos faziam sobre ele emitia uma grande pressão apagando mais da metade das velas que estavam ao redor deles, as chamas das dezenas de velas que permaneciam acesas tornaram-se púrpuras, o ambiente parecia bem mais escuro agora, mas uma luz da mesma cor cobria o corpo de Hades em sono profundo, a luz aumentava rapidamente de intensidade, a pressão aumentava, as chamas se apagavam e o único foco luminoso era o deus do submundo, as sombras dos dois irmãos tingiam as paredes e o teto de preto, mas eram claramente diferentes do que seus corpos sugeriam, haviam formações pontiagudas saindo de seus corpos e algo muito semelhante a asas também, mas aparentemente não havia nada nos dois que fizesse esta sombra.

— Está pronto irmão, o poder que você deu à eles se ativará assim que...

— Sim irmão. – Thanatos interrompera seu irmão. – Acho interessante esta efêmera existência e estou curioso para saber o que Hades preparou.

 Proximidades do Castelo Heinstein

A poeira começava a abaixar, mas era clara a posição dos inimigos, eles realmente não faziam questão de ocultar suas presenças em meio ao campo de batalha sugestivo à tal ação, ao invés disso eles caminhavam calmamente e se reuniam em meio a cortina que se abria como em um grande espetáculo teatral revelando os quatro espectros defensores da propriedade sombria logo atrás deles. O cavaleiro de Virgem percebe que apesar de não terem uma patente que cause intimidação, os espectros pareciam estranhamente confiantes, quando ao se aproximar trajando a completa armadura prateada reluzente um cavaleiro carregando em mãos um instrumento musical de cordas que sugeria sua constelação protetora, ele era Everton, cavaleiro de prata de Lira, antes que ele chegasse perto o bastante, a urna de virgem cai no chão se abrindo e protegendo o corpo do cavaleiro que nasceu sob essa constelação.

— Não os subestime Senhor. – Disse o cavaleiro de prata em um tom mais formal e se posicionando com o instrumento musical em mão. – Venho os observando, como me foi ordenado e há um poder anormal neles, diria até que é de um...

— Deus, sim, de fato é. – Disse Sascha em um tom mais calmo apesar da preocupação. - Mas eles não podem usar esse poder livremente, tamanha força destruiria o corpo e alma deles em um instante.

— Já terminaram de conversar?! – Gritou do outro lado do que seria o campo de batalha entre os cavaleiros e os espectros. – Então já podem descer ao mundo dos mortos e aguardar a salvação de Hades! – Disse o homem carregando uma espécie de harpa e a armadura com feições egípcias.

— Nós, o quarteto infernal lhe daremos a honra de partir e aguardar o fim de tudo! – Gritou com uma voz mais aguda com uma armadura negra como a noite e asas de morcego em sua armadura.

— Esfinge, Morcego, Mandrágora e Dullahan. – Citou o cavaleiro de prata.

— Então já somos famosos ao ponto dos cavaleiros daquela deusa já nos reconhecer sem que precisemos nos apresentar? Interessante. – O espectro tinha uma armadura que imitava uma grande flor negra, ele sorria e sai mão direita tampava a boca do rosto cravado à esquerda no tórax de sua armadura. – Mas isso não faz diferença, afinal, não sairão daqui vivos para contar sobre nós.

Um espectro aparece repentinamente atrás do cavaleiro de prata e naquele ponto já seria impossível se esquivar do chute inimigo, mas Sascha com uma mão apara o golpe em pleno ar, agarra o joelho do espectro fragmentando aquela porção da armadura e o lança contra os outros três, antes de cair ele consegue girar e impedir que o impacto fizesse alguma coisa nele, logo se levantando. Sascha aguardava o próximo movimento, aquele espectro tinha a armadura mais completa incluindo uma máscara e isso fazia com que fosse impossível prever o ataque apenas com a leitura corporal.

— Não baixe a guarda, Lira.

Ao ouvir a advertência do cavaleiro de maior patente, Everton passa os dedos entre as cordas de seu instrumento criando um som harmônico e belo, o chão infértil e já ressecado começa a trincar e abrir, das fissuras cordas prateadas saem e avançam contra o quarteto, poucos metros antes de atingir seu objetivo, as cordas luminosas são interceptadas pelo som grave do instrumento do espectro de Esfinge que sorria de forma macabra.

— Jamais nos vencerá com tal nível

Ao final da frase de Faraó de Esfinge, uma explosão gigantesca e dourada faz o chão tremer e das fissuras, agora maiores, grandes espíritos serpentinos avançam e se chocam contra os quatro espectros, o impacto os lançam no ar e ainda mais espíritos atacam os quatro primeiros defensores da fortaleza de Hades, alguns espiritos atravessam os corpos e aos poucos transforma os corpos dos espectros em um monte de carne e sangue espalhado pelo chão.

— Vocês que não deveriam subestimar um cavaleiro de Ouro! – Vamos, precisamos encontrar uma entrada segura e garantir a passagem para nossa investida.

Ao terminar a frase os dois cavaleiros avançam rapidamente, logo podiam ver as entradas do castelo obscuro e a segurança que parecia escassa e falha, alguns guardas corriam para dentro da residência do receptáculo do deus do submundo e sem entender qual era a situação os dois cavaleiros se entreolharam e resolveram prosseguir, foi quando seus corpos pararam de responder adequadamente, Lira cai no chão ao tentar caminhar, Sascha se vira e se depara com os quatro espectros, suas armaduras estavam rachadas mas seus corpos permaneciam intactos. O cavaleiro de ouro involuntariamente começa a vomitar sangue puro, mal conseguia inspirar o ar e sangue passava com velocidade por sua boca, uma poça já se formava onde virgem estava, os músculos começaram a falhar, ele cai de joelhos, a visão fica turva, sangue negro começa a sair dos olhos, nariz e ouvidos, ele perdia a respiração, mas conseguia ver os quatro caminhando alinhadamente em direção à ele, uma música sinistra era ouvida ao fundo de sua mente, um ruído insuportável também e logo percebe que esse som vinha do quarteto, eles certamente haviam aprimorado suas técnicas em conjunto, o poder ainda mais obscuro e macabro começava a emanar do corpo recém montado deles.

— Vocês que não deveriam nos subestimar. – O som abafado vinha de trás da máscara de Kiew, o espectro que trajava a armadura de Dullahan. – Este será o fim de vocês!

Dois passos separavam o espectro do cavaleiro, mas a distância não diminuía, os vestígios do sangue negro e da êmese de sangue continuavam ali, mas o sangramento havia cessado, aquele ruído tinha se tornado um som agradável como o canto de belas ninfas a beira do riacho, pétalas prateadas dançavam no vento, os soldados de Hades estavam paralisados, entorpecidos pela melodia.

— Senhor Sacha... Corra – O sangue ainda fazia o cavaleiro de prata engasgar, mas suas mãos moviam-se rápida e fluidamente por entre as cordas brilhantes. – Não conseguirei segurá-los por muito tempo assim. – Sua perna cederá e o ritmo era perdido, nesse instante o som grave do instrumento de Esfinge soara e assim como um grito agudo o suficiente para estilhaçar qualquer vidro à vários metros de distância uma rajada de vento sônica joga Everton trinta metros para trás. Sascha avança e golpeia Kiew o jogando contra o espectro de morcego que desvia com facilidade, mas logo é pego por um soco do cavaleiro dourado, a força foi suficiente para desfigurar metade do rosto do espectro, mas logo o som perturbador se iniciou novamente, a sensação horrenda começou a correr pelo corpo do cavaleiro, ao fundo, virgem conseguia ver o sofrimento de lira, então queimando seu cosmos intensamente a ponto de subjugar a força do quarteto o chão se transforma em um piso colorido emanando uma luz dourada.

— Tenbu Horin!!! – O som se dispersara. – Remoção dos cinco sentidos! – Os espectros se contorciam em agonia, fazendo uma estrela negra com um brilho arroxeado aparecesse no centro da testa de cada um deles, a máscara do espectro representado por Dullahan estoura em dezenas de peças como um vidro quebrado, a força que eles estavam adquirindo era absurda, o cavaleiro de prata se levantava com dificuldade, seus músculos ainda não respondiam de forma adequada, o quarteto infernal se levantava se moviam-se como se a técnica suprema de Virgem não tivesse efeito algum. Ao longe uma luz na mesma cor que a que saia dos espectros, porém muito mais intensa atravessava cada um dos vitrais do castelo, a música continua e cada vez mais alta e mais forte, os dentes se batem e os músculos enrijecem. – Remoção da Audição! – O brilho dourado cobriu o cavaleiro de virgem, sua audição havia sido tomada por seu próprio poder, seu sacrifício fora em vão, sem um dos sentidos, os outros se aguçam imediatamente no cavaleiro dourado, agora ele podia sentir e quase ver as ondas sonoras penetrando sua pele, entrando em sua cabeça, ele descobriu que não era apenas com o som, a técnica do quarteto ia muito além daquilo e Sascha soube que sua maior técnica não seria efetiva, e que aqueles espectros já haviam feito seu trabalho perfeitamente, ele fica na posição de lótus flutuando no ar, seu cosmos queimava intensamente, ele ia se privando dos demais sentidos apenas com a meditação, seu corpo ia enfraquecendo e telepaticamente, por um instante, ele conseguiu se comunicar com Everton.

— “Você deve viver, cavaleiro.” – Lira se levanta incrédulo com a visão. – “Deve ficar com essa informação, olhe para o castelo, observe o foco, estes espectros são peões que determinam o raio de alcance da segunda barreira, a barreira dos três deuses juntos, a barreira da morte!” – O cavaleiro de prata entendeu o que deveria fazer, ele apenas acenou com a cabeça e começou a correr, passou pelo cavaleiro de Virgem e ainda mais rápido saiu do alcance dos espectros. – “Essa informação é essencial para nossa vitória, vá!” – O cavaleiro de Lira adentrava na floresta morta e uma imensa luz dourada cobriu cada parte daquela floresta e do campo próximo ao castelo, seguido de um tremor e uma explosão de proporções gigantescas, ao olhar para trás momentos após, apenas a armadura de virgem pode ser vista em meio à enorme cratera, a armadura logo cruza os céus em direção à Grécia.

Águas Costeiras da Grécia – Ilha dos Curandeiros

O pequeno barco de madeira tinha sua vela amarrada com alguns cipós improvisados e o conjunto permanecia imóvel na terra em meio a grama alta, ao se observar mais atentamente, não haviam vestígios de água no barco e nem de algo que indicasse a sua navegação à alguns dias, o único tripulante da minúscula embarcação parecia ter deixado o barco ali para quando voltasse.

O homem caminhava por entre as milhares de folhas e pétalas espalhadas pelo chão junto à terra fofa e grama verdejante, algumas vezes se abaixava e revirava as folhas no chão como se buscasse algo todo o tempo, sua feição era séria e muito preocupada, ele parecia estar com pressa mas não conseguia encontrar o que procurava quando sons da folhagem sendo pisada lhe chamou imediatamente a atenção para um trio de homens, dois idosos aparentando cerca de oitenta anos, haviam manchas solares em suas peles um pouco mais morenas enrugadas e velhas, mas ainda assim os dois senhores de idade avançada pareciam muito bem, não precisavam de auxilio de nenhum instrumento para caminhar, como era de costume as pessoas com idades avançadas perdiam sua mobilidade, mas não eles, a postura era perfeita, os cabelos brancos e curtos cobriam a cabeça deles sem falhas, eles sorriam e a dentição era perfeita também, assim como o homem de aparência bem mais jovem, cabelos platinados e longos que alcançavam facilmente à base de sua coluna, solto e reluzente, eles caminhavam juntos em frente, o caminhar deles eram exatamente iguais, o que surpreendeu o rapaz que procurava por algo no solo e logo se levantava para verificar quem eram aqueles homens que se aproximavam dele, ao perceber a saúde perfeita deles apesar da aparência mais velha, o rapaz volta ao chão, ajoelhado e fazendo um reverência ao trio.

— Levante-se cavaleiro! – Anunciou o senhor da direita. – Nós que deveríamos nos abaixar diante de vossa presença, você que tens nos ajudado com tamanha veemência por tantos anos.

— Sim... – Continuou o senhor da esquerda. – Não pensei que nos encontraríamos tão cedo novamente, e percebo que carregas tua armadura junto à ti.

— Sim. – Respondeu se levantando. – Estava à procura de algo bem especifico, algo que talvez a Trindade da Cura possa me auxiliar.

— O que procuras exatamente, Senhor Bruno? – Perguntou o homem robusto ao centro chegando perto o bastante para que ao falar em um tom mais baixo seria ouvido claramente.

— Procuro algo que seja capaz de neutralizar isso. – Ao falar ele retira uma pequena sacola de couro e dentro diversas pétalas que exalavam um odor ao mesmo tempo agradável e repugnante. – Acredito que aqui seja o lugar correto para isso, aquela flor, desabrocha aqui perto, eu tenho certeza disso.

Lillium Sacramenti. – Disse um dos senhores. – A flor que tem seu nome. – Ele se voltava ao homem mais jovem ao centro do trio.

— Sim. – O homem respondeu com certa seriedade. – A conheço quase que intimamente, mas nenhum mortal jamais conseguiu permanecer diante de Lillium por muito tempo.

— Você diz, a flor. – Bruno deu mais um passo em direção ao homem. – Ou está se referindo a outra coisa, Lillium?!

— Não entenda mal – O homem se afasta com um sorriso no rosto e as mãos levantadas mostrando suas palmas. – Minha época de ser seu rival já se foi há muitos anos, agora sou apenas um dos curandeiros da ilha, e esta noite mesmo, poderei ajudar-te, cavaleiro.

Jamir – Tibete

O som constante de diversas rochas se quebrando era quase insuportável, mas ao redor não havia ninguém para se importar exceto duas figuras na noite em meio às montanhas mais altas da região. As montanhas mantinham um clima frio, algumas poças de água haviam se tornado gelo por conta da baixa temperatura, a altitude fazia com que fosse extremamente difícil de respirar de forma adequada, mas as figuras ali presentes pareciam não se importar com isso, seus movimentos eram rápidos suficientes para que olhos humanos comuns não fossem se quer capaz de segui-los, a formação rochosa do local estava defasada, claramente muitas rochas grandes haviam sido extraídas de lá recentemente, e então os dois param.

— Você realmente conseguiu se acostumar bem rápido!

— Com a sua ajuda, fui capaz de conseguir isso, apesar de termos perdido bastante tempo restaurando aquelas armaduras.

— Eu não podia deixa-las naquele estado, e como você mesmo sugeriu, precisava treinar, com este nível de poder telecinético e a perícia que adquiri, não será difícil concluir a última etapa do processo.

— E qual era mesmo? – Perguntava o cavaleiro de Urso sem trajar sua armadura.

— Assim que eu receber a ordem, você verá. – E pisca um de seus olhos em um tom esverdeado anormal enquanto sorria.

Ao terminar a frase, uma avalanche de rochas e neve parece cair do céu sobre o cavaleiro de Urso, mas logo se dispersa violentamente com o impacto de um único soco jogando as pedras em forma de poeira para cima e fazendo-a se misturar com a neve que agora caíam mais rapidamente pelo peso das partículas, Geovanne ainda com o braço direito estendido para cima sorri queimando seu cosmos, Vaskes logo nota que havia algo de estranho naquela energia, pela primeira vez em muito tempo desde que começaram a treinar juntos e logo se coloca em posição mais defensiva, seu cachecol quase três vezes mais comprido que seu corpo toma vida deslizando sobre sua pele e se prepara para receber o golpe com os dois braços, quando o rapaz chega com um iminente soco de direita que vinha claramente de cima para baixo, o braço passa pelo corpo do cavaleiro de grou como se o que ele tocava fossem apenas pequenas partículas luminosas que se dissolviam conforme a investida prosseguia até alcançar o solo onde imediatamente uma cratera se abre seguida de um tremor ainda maior entre as montanhas. Assim que começava a se levantar, o cavaleiro de urso percebe uma restrição em seus movimentos impedindo que ele concluísse a simples tarefa, de imediato ele vira a cabeça lateralmente junto com os olhos a fim de procurar o que causara tal efeito que provavelmente era oriundo da presença que estava em suas costas, ao se virar notou Vaskes sentado sobre uma parcela de seu cachecol em pleno ar, mas parecida rígido como uma cadeira de madeira, mas era apenas a porção final do tecido, o restante se entrelaçava em seu corpo, então descobriu que a união do cosmos fortificando a télecinese que atuava sobre o grande tecido envolto em seu corpo conseguiu parar seus movimentos e antes que pudesse se pronunciar a outra ponta apresentava-se afiada apontando para sua garganta e então Geovanne sorriu.

— Ainda muito lento. – Afirmou o cavaleiro de prata ainda estático sobre seu manto. – Mas, aparentemente, estamos fazendo algum progresso. – Ao terminar a frase o garoto cai suavemente sobre o solo, recentemente destruído, quase tão leve quanto uma pluma, enquanto a herança de sua mãe voltava a recobri-lo rapidamente como seu tivesse vontade própria.

— Mas ainda podemos melhorar, e muito!

Neste instante os tremores se iniciam e um barulho chama a atenção dos dois, uma avalanche gigantesca provocada pelo embate corria ao encontro deles, antes que pudesse ter alguma ação, Tsukimaru aparece em meio a um brilho entre os dois cavaleiros e a avalanche que se aproximava.

— Vaskes, Vaskes! – Gritava o pequeno sem perceber o que estava havendo e balançando um pedaço de papel que tinha em mãos. – Já podemos voltar ao Santuário, uma carta do Mestre chegou!

Por mais que os cavaleiros tivessem corrido em direção ao rapaz, que agora se voltava para o barulho que o fazia gritar, não o alcançariam a tempo de conseguir salvar a todos ilesos, Geovanne puxou Vaskes pelo braço e o lançou contra a avalanche na mesma direção que um dos pequenos gêmeos lemuriano, e juntamente com um grito semelhante à um rosnar o brilho telecinético explodiu com sua energia fazendo toda a neve e rochas ali pararem por alguns segundos, as pequenas pedras pareciam flutuar no ar, os flocos de neve estáticos, tudo havia parado, aquilo não seria o suficiente para salvar à todos, mas foi o que o cavaleiro de Urso precisava para alcançar os dois lemurianos queimar ferozmente seu cosmos tomando a dianteira, ao liberar um pouco de sua energia, grou consegue envolver Tsukimaru em seu longo lenço ainda preso ao pescoço o protegendo de qualquer coisa que viesse passar e atingir o pequeno, suas mão são levadas às costas do cavaleiro de bronze lhe dando um apoio, seus pés afundavam no chão para lhe garantir firmeza, ações que duraram centésimos de segundos para serem realizadas com perfeição, enquanto Geovanne permanecia parado com os braços estendidos para frente contra a avalanche e as palmas das mãos completamente abertas faziam com que nem mesmo uma pequena gotícula fosse capaz de atravessar o que parecia ser uma formação defensiva, mas o cosmos do urso se intensificava cada vez mais, a coloração se modificava aos poucos, ele grunhia com ferocidade e essa energia que estava apenas bloqueando o impacto começou a modificar o trajeto daquela força da natureza, durando apenas alguns segundos antes que a energia dos dois se juntassem e explodissem em uma só dissipando toda a neve daquela parte da montanha e criando o que parecia ser uma passagem através da mesma. Geovanne permaneceu por mais um tempo parado exatamente na mesma posição, Hikaru aparece ao lado deles neste instante parecendo procurar algo até fixar os olhos naquela formação, o cachecol se solta do corpo do garoto em treinamento, Grou cai de joelhos e em seguida Urso tomba seu corpo torporoso para frente.

— O que houve aqui?! – Perguntou Hikaru ainda espantado com o atual estado do ambiente.

— P-Parece... Que... – A dificuldade de falar que o cavaleiro de prata demonstrou era certamente pela exaustão, estava um pouco ofegante também. – Melhoramos! – Então cai inconsciente.

Hikaru se aproxima e percebe o seu irmão intacto e ainda acordado, ele o ajuda a levantar se entreolham e observar incrédulos os resultados daquela explosão de energia pura.

— Precisamos tirá-los daqui – Afirmou o irmão que havia chegado há pouco tempo.

— Certo, para a torre. – E os quatro somem em meio à luz de energia da raça daqueles que permaneciam escondidos da humanidade.

Grécia - Santuário – Salão do Grande Mestre

Os dois cavaleiros chegavam ofegantes, o Grande Mestre se levanta do trono de pedra e caminha em direção aos dois que recuperavam se fôlego, o tapete vermelho cobria parte do chão de mármore branco, as vestes do homem eram azuis em um tom escuro como céu noturno, exceto por alguns detalhes nas mangas e ao centro do robe que desenhos em vermelho e dourado indicavam a nobreza das vestes.

— Conseguiram algo?

— Sim, Grande Mestre. – Respondeu o cavaleiro de pavão ajoelhando-se, logo o cavaleiro de lobo espelhou os movimentos de seu companheiro de armas.

— Conseguimos algumas informações que podem nos ajudar. – Ele então se levanta e mostrando em suas mãos um conjunto de papeis transcritos para grego de tudo que haviam conseguido.

Wes se aproxima e toma os papeis em suas mãos, rapidamente lia os papéis, a facilidade e rapidez com que ele passava os olhos entendia e decorava cada palavra ali escrita eram sobre-humanas.

— Interessante... – Falava enquanto lia cada trecho e folheava os desenhos. – Sabia que podia confiar em vocês para tal tarefa, essa profecia é a chave para mudar o futuro dessa guerra.

— Há indicações sobre locais e pessoas no manuscrito, coordenadas exatas e há uma menção sobre uma espécie de ritual... – Venício comentava sobre o que havia encontrado sem entender muito bem, talvez à espera de alguma explicação.

— Sim, esse sempre foi o problema, mas com isso aqui... - Wes balançava as folhas em suas mãos. – Com isso podemos finalmente destruir aquilo que nos impede de chegar perto deles.

— A barreira da morte?! – Perguntava Júlio um pouco surpreso.

— Exatamente, precisávamos saber sobre a essência real dessa barreira. – Wes caminhava até onde estava sentado anteriormente, com a mão direita livre das folhas ele puxa uma grande espada coberta por selos de Athena em sua lâmina, mas a bainha continuava escondida aos olhos dos dois cavaleiros. – Assim, podemos destruí-la de uma vez por todas.

— Então a hora se aproxima Wes?! – A voz feminina vinha de uma das saídas do salão, de pé e imponente Athena segurava seu báculo e parecia estar lá já há algum tempo, Júlio voltou a se ajoelhar diante de Stephanie. – Não é necessário isso, cavaleiros, levantem-se. – Os dois então levantaram-se e sua deusa ainda parada na saída complementou: - Fizeram um ótimo trabalho vocês dois. – Ela se vira e começa a sair do salão. É chegada a hora de eu anunciar a nossa investida final, aprontem-se. – Seu imenso cosmos começa a fluir de seu corpo e preencher o Santuário inteiro, ela já estava fora do salão e aparentemente sozinha em seus aposentos. - Já se passou muito tempo cavaleiros.... É chegada a hora de acordarem!

Quatro estrelas cadentes cruzam o céu noturno deixando por alguns momentos um fino feixe de luz dourada.


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