Little Spark Of Hope. escrita por Vick Pimentel


Capítulo 1
Capítulo 1- A descoberta


Notas iniciais do capítulo

Então pessoinhas, leiam espero que gostem, tentei imaginar como seria a reação da Katniss, mas como não deu certo, eu escrevi como eu acho que seria a reação da Katniss heuheu



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Volto a passos duros para minha casa na Vila dos Vitoriosos. Não poderia dizer a passos firmes porque minhas pernas bambeiam a cada pedra do reconstruído Distrito Doze. É um caminho relativamente longo do novíssimo Hospital até nossa casa, minha e de Peeta. Não gosto de hospitais – me lembram tudo que passei, ainda no treze-, mas foi necessário ir até um para confirmar aquilo que por um motivo estranho, eu já sabia. E durante essa caminhada pouco mais longa que habitual, são muitos os rostos me encaram. O que só contribui para me deixar ainda mais irritada. As vezes eu até aceno para uns, sorrio para outros, afinal, para eles, eu ainda sou a cara da revolução. Mesmo após quinze anos eu não mudei muito, aos trinta e dois anos tenho algumas poucas cicatrizes e marcas de queimaduras deixadas por aquele passado tortuoso que assombra todas as minhas noites, acho-me até um pouco parecida com minha mãe agora, só que não tão desgastada como ela, meu rosto e meu corpo não estão envelhecidos, nem bonitos porque sei que não sou, apenas Cinna poderia fazer com que eu fosse, mais ainda assim mantive minhas formas saudáveis devido a tanto tempo caçando na floresta. Effie me disse a pouco tempo que minhas feições também não mudaram muito, com exceção das olheiras que marcam bastante meus olhos, mas isso não tem na haver com a minha idade e sim com os pesadelos. No fim das contas só estou mais adulta, mais mulher como diz Peeta, por fora sou a mesma Katniss, ainda sou o tordo, a menina que acendeu as chamas que queimaram Snow e sucumbiram os jogos com ele. Não me orgulho disso, nem dos olhares, que pelo menos hoje queria que não estivessem sobre mim, olhares esses que de perto poderão perceber que o envelope em minhas mãos balança, e não é pelo vento fresco, nem pelo quão rápido são minhas passadas, e sim porque minhas mãos estão tão tremulas quanto minhas pernas.

Percorro o caminho sem realmente prestar atenção nele. Poderiam recolocar no meu braço aquela pulseira de “mentalmente desorientada”. Porque é assim que me sinto, desorientada.

Adentro a Vila e corro para minha casa. Sinto-me mais relaxada ao perceber que Graesy Sae não esta mais aqui. Acabamos contratando-a de vez, Peeta e eu, ela limpa a casa e Peeta faz o resto, como comida por exemplo, já que sou uma negação. Haymitch, desde nosso casamento a dez anos, nos pergunta quem é o homem da relação afinal, mas tenho outras coisas a fazer do que me preocupar em responder aquele bêbado criador de gansos os quais já roubei dois.

Subo os degraus perfeitamente lustrados por Graesy até meu quarto e de Peeta. Em algum momento perdi o envelope pela casa, mas minha cabeça esta perturbada de mais para me lembrar quando. E exatamente como fazia no treze, me enfio dentro do grande armário, meio meu meio de Peeta. Sei que a parte em que entrei é a dele, pois o cheiro inebriante de canela adentra rapidamente minhas narinas, acalmando as emoções e hormônios a flor da pele. Mais calma consigo pensar, e isso só torna as coisas piores. Eu havia concordado com isso, havia parado de tomar a mistura de ervas que mamãe me receitara por telefone e os comprimidos que Effie me mandava da capital. Peeta vinha me pedindo isso à tantos anos, e eu já vinha cedendo em partes desde que o vi brincando com Finn, o filho de Annie e Finnick, quando ainda era pequeno, até hoje ele nos visita as vezes, e ainda pequeno pestanejava sempre que tinha de ir embora, era bonito vê-los juntos, Peeta é como um pai para Finn, o exemplo paterno que, por minha culpa, Finnick não pode ser. Não havia como negar isso a Peeta, o direito a uma paternidade de verdade, sei que ele será um ótimo pai. Por isso há mais ou menos cinco meses, logo após o discurso de Finn ao qual fomos convidados por Annie, já que era a formatura do garoto de quase quinze anos em sua escola fundamental no quatro, eu cedi aos pedidos de Peeta. Qualquer um iria ceder se estivesse presente para ver o discurso da pequena réplica de Finnick Odair. Finn agradeceu a mãe por, mesmo com tudo que ela havia passado, mesmo com todos os boatos sobre seu estado mental, ter se mantido forte por ele, estado lá, tanto física quanto mentalmente para ele; agradeceu a mim, por ser a madrinha carrancuda que ela tanto amava, e por ter iniciado a revolução que segundo ele salvara sua geração; mas dentre os agradecimentos o de Peeta foi, para mim, de longe o mais bonito. Agradeceu ao garoto com o pão, por ter sido o pai que ele não teve. Disse que mesmo não tendo conhecido Finnick, o amava, tinha orgulho dele e queria que pudesse estar presente, mas que de qualquer forma agradecia a Deus por ter lhe dado um segundo pai, que mesmo não podendo estar tão presente quanto o de verdade estaria, não poderia ter sido melhor que o mesmo. Que o amava tanto quanto amava seu já falecido pai. Que Peeta era o exemplo de homem que queria ser um dia, assim como Finnick seria se estivesse vivo.

Todos choramos. Annie, Peeta e eu.

Eu sei que não poderia haver pai melhor para os meus filhos do que Peeta. Mas ainda assim, por um filho nesse mundo sombrio é algo tão egoísta da minha parte, que me irrito comigo mesma por ter cedido a aqueles olhos azuis que mesmo depois das atrocidades impostas pela capital, permaneceram tão inocentes. Olhos azuis que me convenceram a isso. E tenho raiva de mim por ter aceitado. A antiga Katniss não queria isso, não cederia a isso. Não faria mais ninguém inocente sofrer nesse mundo.

Penso em como Gale riria na minha cara se soubesse. Diria algo do tipo:

“Como a vida é contraditória, não é Catnip?”

Tenho vontade de chorar, mas o estranho é que não sei qual sentimento me toma realmente, não sei por qual deles quero realmente chorar. Há uma parte de mim que é culpa, culpa por ser egoísta, por saber que algo tão puro possa sofrer nessa Panem a qual o trarei em alguns meses, Snow se foi assim como os jogos, mas o mundo ainda é o mundo. Outra parte de mim é de uma felicidade estranha, indescritível e tão grande que não sei o porque de senti-la.

As mãos que abraçavam meus joelhos, abraçam agora o meu ventre, sabendo que o pequeno ser que habita aqui, não tem culpa do meu egoísmo. Mesmo com toda raiva que sinto de Peeta e de mim, quero que ele saiba que não é indesejado, que não o recrimino por não ter pedido permissão para se instalar dentro de mim. Se há algum culpado, somos Peeta e eu, mais Peeta do que eu.

Só percebo quanto tempo permaneci trancada nesse armário, quando ouço a porta da sala se abrir. Passos pesados ecoam pela casa. Os mesmos passos que espantam toda a minha caça quando me obriga a leva-lo comigo até a floresta. Os passos de Peeta. Sinto um cheiro forte de pão de queijo invadir o ambiente. Sempre que sobra tempo na antiga padaria de seus pais, que Peeta reconstruiu, ele traz pães de queijo para mim, e quando o movimento esta maior faz em casa mesmo. Eu normalmente só sinto o cheiro quando desço para lhe dar um beijo, ou perguntar como foi seu dia, mas não estou em condições normais, e devido as “minhas condições” meu olfato está tão aguçado quanto o do velho Buttercup.

Minhas emoções confusas se esvaem tão rápido quanto começaram, e tudo o que sinto é fome, fome e desejo de atracar os pães de queijo de Peeta como se não houvesse amanha.

Saio do armário cambaleando. Não sei exatamente como não tropeço na escada.

Os pães de queijo parecem brilhar como a auréola de um anjo. Ataco com tanta ferocidade, que é impossível evitar a cara que Effie faria se me visse agora.

Estou tão entretida com os pães de queijo que não ouço quando Peeta se aproxima de mim e me abraça por traz, enterrando seu rosto no meu cabelo, calor irradia do ponto onde seus lábios tocam meu pescoço. Em dez anos de casados, e quinze de convivência depois dos jogos era óbvio que ele já havia feito isso muitas vezes, mas eu sempre ouvia ele se aproximar, e quando não ouvia, sentia logo seu cheiro de canela próximo a mim.

A sensação de seu toque na minha pele é tão boa que não serei eu a primeira a deixar que ela se esvaía, mas quando meu corpo estremece perante seus beijos, e o cheiro de canela torna-se insuportavelmente forte, um torpor percorre meu corpo, desde o estomago até a garganta, sinto todos os pães de queijo voltarem com a mesma rapidez que haviam sido ingeridos.

Largo um Peeta estático para traz enquanto tento alcançar o banheiro antes que seja tarde demais.

Vomito tudo que havia tudo que consumi e mais um pouco. Lavo rapidamente a boca e sento-me no vaso enquanto Peeta adentra o banheiro com o envelope que perdi em mãos.

–Você esta bem?- pergunta se abaixando na minha frente e alisando meu rosto. Seu toque me traz uma sensação conhecida. Uma sensação que jamais deixará de ser boa.

Balanço a cabeça positivamente.

–O que é isso?- Pergunta Peeta, levantando o envelope. Ao vê-lo todo aquele sentimento estranho, toda aquela confusão e culpa me consume novamente.

–Katniss, esse envelope tem haver com o fato de você ter corrido para cá. Verdadeiro ou falso?- pergunta.

–Verdadeiro- respondo com a voz meio embargada devido ao nó que havia se formado na minha garganta. E eu novamente queria chorar sem saber o motivo.

–Você pode ser mais especifica? Eu estou meio confuso.

Suspiro, a ingenuidade de Peeta chaga a me irritar.

–Eu estou grávida! E é culpa sua!- falo deixando as lagrimas rolarem, enfim.

–Culpa minha?- Pergunta, arqueando as sobrancelhas, mas não é exatamente nelas que reaparo e sim na linha torta em seus lábios, claramente contendo o sorriso mais bobo que Panem já vira.

–Claro! Ele não entrou aqui sozinho! E foi você quem insistiu!

–Quando um não quer, dois não fazem. – Debocha, já não contendo sua felicidade.

Meu rosto queima instantaneamente com a raiva que me consome. Eu me culpando por colocar uma criança nesse mundo obscuro e ele todo bobo, fazendo piadinhas ridículas.

Saio do banheiro deixando-o para traz e me jogo no sofá. Dessa vez chorando como uma fonte a céu aberto. Se eu não me matasse, essa gravidez e esse hormônios idiotas me matariam. Peeta se senta ao meu lado e me puxa para si, pondo-me em seu colo e me aconchegando em seu peito. Como fizera na arena-relógio quando pensei ter ouvido os gritos de Prim, Gale e tantos outros que eu amava.

–Você não quer esse bebe. Verdadeiro ou falso? – Quero me desvencilhar dele e soca-lo por essa pergunta tão descabida, mas eu não sei qual Peeta a fez, o meu menino com o pão, ou Peeta telessequestrado. E no fim, de qualquer forma, parte disso é culpa minha e desse novíssimo temperamento insuportável.

Respiro tentando me acalmar, e não soltar um horrível soluço ao responder.

–Mais falso impossível, Peeta.

–Então porque você está... Assim?

–Porque eu quero tanto esse bebê, tanto... Quero protegê-lo desse mundo. Porque eu não quero perdê-lo como eu perdi a Prim.

–Você não vai perdê-lo . Nós, não vamos perdê-lo.- Responde dando ênfase no "nós".

–Não?

–Não.

Peeta me solta e se deita meio de lado no sofá dando espaço para que eu me deite ao seu lado. Aconchego-me de barriga para cima, usando seu braço como travesseiro.

–Ele é nosso- Peeta diz, sua mão repousando sobre o meu ventre.- Ninguém vai tira-lo de nós.

–Eu te amo. - Digo a ele, tão instantaneamente que me surpreendo. Eu nunca havia feito isso. Já havia lhe respondido “verdadeiro” muitas outras vezes, mas isso, nunca.

–Eu também te amo. Os dois.

Nossos lábios se juntam numa sincronia já conhecida. Um beijo delicado, que exala amor e proteção. Exala a segurança que eu preciso e somente Peeta pode me dar. A esperança do dente de leão que me manterá viva todos esses anos. O amor de Peeta não me deixou morrer e me juntar a todos aqueles cuja morte eu sou culpada, o amor que ele me dera, e que eu me dedicava em retribuir, o amor que agora se transformara num pequeno pedaço fragmentado de cada um de nós dois.

Minha mão se junta a dele. Velando por nosso filho até durante o sono. Velando por um bebe que havia sido concebido com muito amor apesar de todos os meus temores por ele. Temores de uma mulher que já vira o pior da vida e temia que meu filho passasse pelo que Peeta e eu passamos. Eu posso ser egoísta por trazê-lo a um lugar tão horrível, mas lutarei como uma leoa por ele.

Por esse bebê.

Por mais essa pequena faísca de esperança que Peeta me dera.


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Notas finais do capítulo

E ai pequenos grãos de purpurina? O que acharam? A katniss já é tão... Katniss normal, gravida ficou pior kk' mandem suas sugestões e se eu conseguir fazer uma coisa shows de bola eu posto heuhue Mereço reviews???