Two Pieces escrita por Olavih


Capítulo 9
Encomenda de caldos


Notas iniciais do capítulo

Heeey, como prometido na quarta! Enfim, esse capítulo tá tão ruim quanto os outros, desculpa. Maas, o próximo vai ser ótimo sabem porque? Porque vai ser a quadrilha! E eu to preparando muuitas coisas para acontecer. Vou agilizar um pouco as coisas viram? Mas, enfim, espero que gostem desse capítulo. Obrigada a todos que comentaram, me deram bastante animação ^^. Aproveitem o capítulo, beijos.Capítulo não revisado, qualquer erro me avise :))



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Pulei cedo da cama. Fim de semana tinha acabado e agora eu não estava de folga mais. Hoje era o dia das compras para fazer a quadrilha. Geovanna, Marcelo, Kamilla e eu íamos para Campinas a fim de comprar as devidas coisas para fazer o tal evento. Porém eu não levantei cedo para isso, pelo menos não só para isso. Tomei um banho rápido e saí do quarto.

Fui até a sala de Elisa, que por acaso já estava acordada. Ela sempre parecia acordar cedo, como se nunca dormisse. Assim que bati recebi um “entre” de resposta e adentrei a sala. Elisa, que antes tinha uma expressão cansada, estava totalmente recuperada. Não tinha sinal de noite mal dormido e nem a expressão de cansaço que víamos há dias. Era apenas a velha Elisa, com um sorriso iluminado no rosto e um olhar interessado.

Elisa sempre foi uma boa madrasta. Sempre me tratou com muito carinho, como se fosse minha mãe mesmo. No começo tive relutância em aceitar que ela se casasse com meu pai. Minha mãe havia morrido em menos de dois meses e ele já estava se casando de novo. Mesmo que estivessem separados há mais tempo, foi tudo muito rápido. Depois de um tempo ela conseguiu que eu e meu pai ficássemos mais “amigos”. Apenas suportamos a presença um do outro.

—Bom dia Lis.

—Bom dia querido. Espera, você acordado às... — ela olhou para o relógio e arregalou os olhos. — seis e meia? Vai chover canivete! — ela riu e eu ri junto.

—Certo. Eu não escutava esse ditado há anos. Desde que... — deixei minha voz morrer em minha garganta.

—Desde que sua mãe morreu. — Elisa completou com um olhar triste. Assenti em silêncio. Não era fácil. Desde que ela morrera eu nunca tinha conseguido falar dela normalmente porque parecia errado. Principalmente com Elisa.

—Então, não vim aqui para falar da minha mãe. — falei tentando mudar de assunto. — vim apenas para conversar.

—Sobre? — ela perguntou com a sobrancelha arqueada.

—Kamilla. — corei um pouco. Para disfarçar, cocei a nuca. Ela deu um meio sorriso e abaixou a cabeça para os papéis.

—O que quer falar sobre ela?

—Eu queria saber um pouco mais dela. Ela me deixa confuso sabe? Sempre com aquele jeito durão.

—Ah Kamilla faz isso com todos. Ela sempre teve esse jeito durão. Também, não a culpo. Abandonada pela mãe e perder o pai como perdeu... É de deixar qualquer um não muito normal. No começo era bem mais reservada. Nunca falava nada. Até tentei terapia com ela, porém ela não quis. Recusou-se e ameaçou sumir daqui. Então deixei de lado. Depois, quando Geovanna chegou ela melhorou. Começou a falar e se enturmar. Logo estava muito popular, tanto pelo seu jeito esquentado quanto pelo jeito como ela age, quanto por sua beleza.

—Realmente, ela é muito bonita. — disse alto. Depois fiquei um pouco envergonhado.

—Ela sempre foi ótima mentirosa. Eu tinha dificuldade em encontrar a verdade em seus olhos. Ela nunca parece demonstrar nada. Certa vez há muito tempo, tivemos nossa primeira festa beneficente. Muitos empresários vieram e eu precisava muito de dinheiro nessa época. Lembra quando tivemos aquela crise? Então, foi naquela época. Daí, eu disse para os meninos que iria trazer alguns amigos para ajuda-los e que eles tinham que ser educados.

“Kamilla nunca era educada e odiava aparecer em público. Mas sempre foi muito esperta. Ela via como as coisas estavam sendo regulados, tanto os alimentos quanto as roupas. Eu sabia que ela odiava aparecer em público e por isso fiquei bastante preocupada com ela. Porém, saiu tudo melhor que encomenda. Ela foi tão simpática com todos, sorria e acenava e conversava como eu nunca tinha visto. Perguntava de um jeito meigo e doce se as pessoas estavam à vontade e quando perguntavam a ela como era aqui ela dizia que era ótimo e que graças a mim e aos doadores eles tinham vida de rei. Detalhe, ela escolheu a roupa mais velha e surrada de seu guarda roupa. De propósito óbvio, queria mostrar a todos que ela era humilde. Ganhamos tantas doações nesse ano que você não iria acreditar. A maior parte foi ela quem conseguiu. Depois disso, passei a leva-la em quase todos os eventos que tinha”.

—Uau. — disse sorrindo. Kamilla sempre foi muito impressionante mesmo.

—E por que quer saber sobre ela? — perguntou ela com um sorriso malicioso. Corei novamente.

—Hã, só pra saber ora. Não posso saber mais sobre uma amiga?

—Pensei que se odiassem.

—E nos odiamos. Colega, eu quis dizer colega. — Elisa agora ria. Ela pegou a minha mão e a pressionou enquanto falava.

—Fique tranquilo, não vou contar a ninguém. Eu já vi como olha para ela. E devo dizer que aprovo. Tanto você quanto ela merecem alguém. E por que não juntar dois pedaços de corações?

—Pedaços de corações?

—É. Você tem uma metade e ela a outra. Duas pessoas perdidas que não conseguem ver o que está a sua frente.

—Elisa, estou ficando sem graça. Mas, hipoteticamente, se eu estivesse começando a sentir algo por ela, o que eu deveria fazer?

—Não desistir dela. E não correr atrás dela, de modo algum. Seja você sempre e nunca a pressione. Ela costuma fugir quando pressionada. Boa sorte! Tomara que consiga.

—Ótimo. Vou me lembrar caso essa situação hipotética chegar. — ri sem graça e ela também. Levantei da cadeira e fui em direção da porta. — você vem? Já está na hora.

—Tem razão. Bem, já vou sim. — ela pegou suas coisas e nós seguimos pelo corredor.

Kamilla estava de péssimo humor. Ela estava batendo os pés nervosamente e de braços cruzados. Tinha olheiras embaixo dos olhos e bufava a cada cinco minutos. Usava uma blusa regata apertada e uma calça jeans surrada, um all star sujo e velho nos pés. Assim que nos aproximamos nos cumprimentamos.

—Bem, já que estão todos aqui já podem ir. Tem um taxi esperando por vocês na saída e aqui estão as listas de compras. Uma de comida e a outra de decoração. Tenham uma boa sorte e os vejo ás sete. — Elisa se afastou e nós caminhamos para a saída. Ofereci meu braço e Kamilla aceitou sem expressar muita coisa. Ela nunca parece demonstrar nada, foi o que Elisa dissera. E agora lembrando de alguns dos nossos momentos juntos percebi que não era verdade. Ela sempre pareceu tão fácil de ler quanto um livro para crianças. Admito que realmente havia momentos que ela se fechava, porém a maior parte do tempo podia achar a verdade em seus olhos.

—Tem alguma coisa errada com a minha cara?

—Hã? — perguntei confuso.

—Você está me olhando de um jeito estranho. O que tem de errado com a minha cara?

—Ah! Nada não. Eu só estava viajando.

—Bem, tudo bem então. — chegamos ao táxi. Kamilla, Marcelo e Geovanna foram atrás e eu na frente. Seguimos para Campinas em silêncio.

Assim que saltamos do carro Geovanna deu um sorriso, com as duas listas em mãos.

—Então, é o seguinte: para o lado direito são as comidas e para o lado esquerdo são os artigos de decoração. Vamos nos dividir pra ficar mais fácil terminarmos essa lista hoje. Eu fico com Marcelo e vocês dois podem ficar juntos. — ela disse apontando para mim e para Kamilla. — qual lista vocês vão querer?

—A de comida. — Kamilla e eu respondemos ao mesmo tempo. Olhamos um para o outro com um sorriso torto nos lábios.

—Ótimo. Boa sorte nos vemos as cinco e quarenta e cinco!

—O mesmo para você. — Kamilla e eu seguimos para o lado direito. Ficamos em silêncio por um tempo antes de ela começar a falar.

—Tem alguma coisa entre Geovanna e Marcelo.

—Acho que sim. — afirmei. — ele parecia sonhar acordado ontem.

—E trocam olhares o tempo todo.

—E sorriem toda vez que falam o nome um do outro.

—Argh, gente apaixonada! Me enojam.

—É incrível, todo mundo parece ter alguém.

—Menos eu. — ela respondeu.

—Menos eu. — concordei.

—Ah eu duvido. Aposto que lá em São Paulo era um monte de meninas correndo atrás de você. — ela sorriu travessa. Não era necessariamente verdade. Havia uma garota sim, mas não rolava romance, só pegação.

—Não é verdade. E você? Aposto que deve haver um monte de garotos loucos para te beijarem.

—Só por que eu sou “difícil”. Mas é como eu ouvi uma vez: eu não sou difícil. As pessoas é quem desistem rápido de mais.

—Ou talvez você seja difícil.

—Talvez. — ela concordou. Passou um minuto de silêncio. — é aqui, eu acho. — “aqui” era uma lanchonete na esquina da rua. Cheirava a óleo e era muito quente. A atendente, uma garota de dezoito ou mais anos estava apoiada no balcão olhando entediada para fora. Mal pareceu perceber nossa presença quando nos aproximamos.

—Vocês fazem caldo por encomenda? — perguntou Kamilla. A atendente pareceu acordar de seu transe, olhou para mim e para ela e respondeu olhando com desinteresse.

—É sim. Quer que eu chame a Dona Ana?

—Sim, por favor. — pedi. Ela deu um meio sorriso e gritou “mãe”. Uma mulher morena com uma toca e um avental sujo apareceu pela porta que havia do outro lado do balcão.

—Bom dia, em que posso ajudar?

—Queremos caldos por encomenda, por favor!

—Ah sim, certo. Entrem. — ela abriu uma portinha do balcão e passamos pelo lado de dentro. Entramos na cozinha realmente quente. Era uma cozinha até grande. Tinha três fogões industriais, dois armários e duas mesas médias de madeira. No canto oposto da sala havia uma porta que eu supus que era a dispensa.

—Aqui estão os caldos. Tenho de frango, mocotó e feijão. Querem experimentar? — ela perguntou entusiasmada.

—Claro. — Kamilla parecia animada. Olhei curioso pra ela. — que foi? Estou com fome.

—De que querem?

—Feijão. — disse.

—Frango. — falou Kamilla. A mulher estendeu dois potes mornos para nós. Ia falar algo quando escuta um grito vindo do balcão e revira os olhos.

—Novatas! Fiquem a vontade, volto logo. — ela nos deixou a sós. Do nosso lado estava uma mesa de madeira toda suja. Kamilla atacou o pote com voracidade. Colocou três colheradas na boca de uma vez e depois deixou a colher descansar no pote. Deu um sorriso torto e fechou os olhos se deliciando com o caldo. Eu também coloquei uma colher na minha boca. No canto da boca dela, um pouco de caldo escorria. Não aguentei e o limpei com o polegar. Ela, que já havia engolido o caldo, abriu os olhos um pouco espantados com o contato, porém gostando. Então, agindo por puro impulso coloquei as mãos em seu pescoço e abaixei a minha cabeça, encostando os meus lábios nos dela.

Largamos nossos potes na mesa. De primeira, foi apenas um selinho, lábios grudados sem se mexer. Então, as mãos dela foram para meus cabelos e os meus braços para sua cintura. Nossas bocas se abriram um beijo rápido e cheio de desejo começou. Eu não conseguia parar de explorar sua boca, era algo que eu precisava. Sei que soa estranho, até porque eu nem sabia que sentia algo por ela até esse fim de semana. Porém, ao agir por impulso pude ver que eu desejava aquilo.

Meu estômago se contraiu violentamente. Meus braços tremiam, porém eu os mantive firmes em volta daquele corpo pequeno. Ela respondeu o beijo com intensidade. Também parecia querer aquilo. Podia ver pelo modo como ela puxava meus cabelos. Ficamos nos beijando um tempo, alguns minutos talvez.

Quando nos soltamos, ambos estávamos arfando. Ela olhou para mim espantada. Seus lábios vermelhos pareciam tentar-me a voltar para eles. Porém, eu não sabia se ela queria. Já havia agido por impulso. E se ela não gostasse? E se quisesse me bater? E se eu tivesse estragado a única chance que talvez pudesse ter? Antes que tivéssemos chance de dizer algo, a cozinheira voltou sorrindo.

—E então, gostaram? — Kamilla continuou olhando para mim. Parecia entorpecida.

—Sim, amamos. — disse eu. Kamilla concordou saindo do transe.

—É ótimo. Vamos encomendar. — Kamilla e a senhora continuaram falando sobre a encomenda enquanto eu ficava tomando meu caldo. Quando saímos de lá, Kamilla se pronunciou:

—Certo, o que foi aquilo?

—Desculpa. Eu agi por impulso.

—Não, tá tudo bem. É só que foi de surpresa.

—Você gostou? — perguntei olhando para ela. Nós paramos um de frente para o outro. Ela levantou a sobrancelha e pareceu pensar. Sem saber o que estávamos fazendo, avançamos novamente um para o outro, desesperados por outro beijo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram, não gostaram, amaram ou odiaram? Conte-me onde posso melhorar e o farei! Quero que comentem hein? Três reviews só. Nem que seja só "gostei, continua". Por mim tá ótimo, juro. Um beijo e até quarta que vem!!



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