Clarity escrita por Mafê


Capítulo 4
I Know You Want Me, You Know I Want Cha


Notas iniciais do capítulo

No último capítulo, deixei a entender que queria 4 comentários na história, não no cap. Mas quero nesse 4 comentários. Sem mais nem menos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410610/chapter/4

"Live fast, die young

Bad girls do it well"

–Bad Girls, M.I.A

Ian me olhou e foi aos poucos diminuindo a distância entre nós, deixando somente alguns centímetros entre nossos narizes.

–Ian, olha...

–Shiu... Não fala nada. - E, assim de repente, a distância se foi. Ele me puxou para um beijo que fez um calor até agora inexistente subir como montanha russa. Eu não estava consciente. Não sabia o que estava fazendo. As únicas coisas que existiam para mim eram nossos corpos virando um.

Até eu ter outro espasmo. Me soltei de Ian e caí no chão. Acho que pelo fato de ter sido o segundo ataque da noite e por eu ter bebido, esse foi o pior que já tive. Todas as sensações boas do beijo foram embora e os pesadelos tomaram seus lugares.

Estava de volta há dois anos, no Caribe. Estava sozinha na praia, Nellie estava na sessão de bronzeamento de novo e Dan estava no bar interno. Comendo, como sempre. Mergulhei e quando levantei para respirar, algo me segurou pelo pé e me puxou para o fundo. O desespero começou a tomar conta de mim.

Eu tentava voltar à superfície, mas o que me agarrou era muito forte. Gritei, gritei e berrei, mas ninguém escutou. Pontos pretos surgiram na minha visão e o medo em meu coração. Será que ninguém viria me buscar? Cadê as pessoas dessa praia? Eu não quero morrer...Não, não agora!

Então tudo se apagou. A uma coisa que escutava era um grito em minha cabeça.

–Amy! Amy! – gritavam. Por favor, para! Minha cabeça, argh!

Mais um grito e consegui acordar. Hoje foi rápido. Geralmente os pesadelos demoram uns 10 minutos para passar.

–Amy... Ai meu deus Amy! Escutei seus gritos lá de baixo! Vem se deite aqui. – dizia Nat. Eu ainda via tudo preto, mas conseguia escutar. E nesse instante escutei outro grito. Que, dessa vez, não era meu.

–O QUE VOCÊ FEZ COM ELA, COBRA?- era Dan.

Dei o grito mais alto que consegui e abri os olhos. Como previsto, todos os olhos se concentraram em mim. Dan parou de gritar com Ian e Sinead parou de sussurrar para Nat como aquilo começara.

–Não... Não foi... Argh! – Mais uma onda de dor de cabeça. Consegui controla-la; estou ficando boa nisso. Que ótima hora para fazer piadas.

–Hey, hey! – falou Nat, quase sussurrando – Não gritem, briguem depois, não viram que a coisa mais importante da vida dos dois tá tendo um ataque?!

Awn sou a coisa mais importante da vida dos dois! Depois dou um abraço na Nat! O, oh, álcool tomando posse de novo.

–Eu... Eu queria dizer que...

–Amy, Amy, não se esforce. Não tem problema. A culpa foi minha mesmo: era para eu te vigiar tomar cuidado para não ter outra crise. Dan tem razão de gritar comigo.

O queixo de Dan foi ao chão. Um Kabra dizer que ele tinha razão é uma grande novidade. Mas o álcool continuava em meu sistema e não me contive. As palavras simplesmente fluíram sem permissão.

–Mas eu nunca tive ataques por causa de um beijo... – disse com um sorriso (bêbado) estampado no rosto.

–VOCÊ BEIJOU A MINHA IRMÃ?

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

Depois de Dan partir para cima de Ian e Nat gritar que se ele movesse mais um músculo estava tudo terminado entre eles (Dan parou no meio de um soco que quebraria o lindo nariz de Ian e se levantou pedindo desculpas), e, claro, depois de nossos queixos caírem com essa frase, as outras pessoas que ainda estavam no quarto em que jogávamos o Jogo da Garrafa vieram correndo com caras estupefatas pedindo explicações para Dan e Nat, que ficou muito vermelha.

Depois de toda essa situação, já estava me sentindo muito bem, e o álcool começava a sair de meu sistema. Consegui me sentar na cama e beber a água que alguém trouxera para mim e, ao repousar o copo na mesa de cabeceira, reparei em meu relógio digital.

6:15. SEIS DA MATINA. SEIS E QUINE DA MANHÃ.

–Gente... Gente! – gritei, tentando atrair a atenção de todos presentes – São seis horas da manhã! – e apontei para o relógio. – Se os homens puderem dar licença eu e as mulheres, que obviamente estão hospedadas no meu quarto, vamos tomar banho por que eu não quero ficar com cheiro de ontem.

Alguns riram e foram deixando o quarto, até que só restasse eu, as meninas... E Ian. O que, em nome de Gideon Cahill, ele ainda estava fazendo aqui?

–Mudou de lado, Ian? – preguntou Madison, rindo. – Arranja outro, Amy! – e um coro de risos ressoou no meu quarto. Ups! Uma Thomas morreu.

–Na verdade, eu queria falar com a Amy – respondeu Ian, meio envergonhado. Óh, céus, eu mereço.

–Então vamos deixar os pombinhos, certo? – disse Juliet e puxou todas para o meu grande banheiro.

Estávamos, novamente, sozinhos. Da ultima vez que isso aconteceu, ele me beijou. E eu tive um espasmo. Gideon que me abençoe!

–Amy. Por que você não me contou?

–Contei o que? Que era seis da manhã? Você tem que dormir cedo ou coisa do gênero? – andei até a janela para ele não ver a vermelhidão que tomava conta do meu rosto.

Ele riu. ELE RIU. E nem foi uma piada. Ou ele está sem graça ou está jogando charme. Acho que a segunda é a certa. Mas a primeira é mais segura.

–Não, não. Porque não me contou da doença. Eu sei o que é. Ela pode ser curada, sabia?

–Era um segredo. Depois que descobri, passei a trancar a porta todas as noites. Num dia que Sinead passou a noite aqui, acabamos dormindo no sofá vendo filmes de romance. Quando acordei a noite, gritando, ela despertou também e tive que lhe explicar tudo. Depois passei a não me descuidar mais. Sempre dormia sozinha em meu quarto, ao lado de um copo de água, milhões de travesseiros e embaixo de muitos cobertores. Pensei sempre ter escondido bem, até que, em uma noite dessas, Dan entrou em meu quarto e disse que me ouviu gritando.

Suspirei e olhei para o sol que nascia e continuei:

–Enrolei uma desculpa qualquer e ele pareceu acreditar. Mas nessa noite eu não sei. Simplesmente aconteceu do nada.

–Eu posso te ajudar. esse tipo de transtorno é difícil de se lidar. Se você for a um médico, tudo fica bem fácil.

–Obrigada. – estava começando a ceder. Não. Mantenha sua pose! – Mas o que você queria? Era só isso?

–E isso. Acho que não acabei. Onde paramos?! Ah, é, aqui...

Antes que eu pudesse fugir, já estava em seus braços e ele estava me beijando. De novo. Eu até tentei resistir. Mas quando reparei nos braços dele... Ah, os braços dele. Pelo visto Ian andou malhando...

–QUE AGARRAÇÃO TODA É ESSA AQUI?! –Reagan. Tinha que ser. Mas, por incrível que pareça, Ian não me soltou. Nem deixou que eu me soltasse; pelo contrário, me virou de frente para as meninas e me abraçou bem forte.

–O que foi Reagan? Vocês não deviam estar tomando banho?

–E vocês, não deveriam estar só conversando? – rebateu ela.

–O que nós fazemos ou deixamos de fazer não é da sua conta.

–Ele já te pediu? – perguntou Nat, com ar de romântica, me fazendo corar até as raízes do cabelo.

–Pedi o que? – disse Ian levantando a sobrancelha.

–NATALIE KABRA! VOCÊ NÃO OUSE FALAR SOBRE AQUELA NOITE! EU TINHA ACABADO DE BEBER SAQUÊ!

–E agora, Amy, você bebeu saquê hoje? E ontem, quando ele te beijou?

–Ata... Entendi – disse Ian, rindo no meu cangote.

–NÃO RESPIRA NO MEU CANGOTE! EU TENHO CÓCEGAS! – disse, já rindo. Mas aqueles braços fortes não me soltavam. E ele continuava respirando em mim.

–Para! Para! Para! – Eu não conseguia parar de rir, e ele não me soltava. Eu sabia que todas as meninas assistiam àquela cena, atônitas, mas não conseguia pensar em nada, só na respiração dele no meu pescoço.

–O que está acontecendo aqui? – e Dan entrou no quarto. Ao mesmo tempo em que Ian levantava a cabeça, eu parava de rir e o queixo de Dan caia, a campainha tocou.

–Eu... Eu vou atender. – disse, me soltando do abraço de Ian e indo até a porta. Desci a escada meio correndo, meio andando, enquanto a campainha tocava repetidas e repetidas vezes. Quando alcancei a porta abri, já dizendo:

–Calma, já vou aten... Quem é você? – perguntei, ao me deparar com uma morena de olhos verde-mar, com um short-calcinha que acabava antes da bunda e um top que fazia seus seios pularem para fora de um sutiã neon.

–Olá – disse, com uma voz que me deu vontade de levar minha mão aos ouvidos no instante em que saiu da boca de sua dona, mas a educação não me permitiu. – Ian Kabra está aí?

–Me responda quem é você antes.

–Sou Drew. Agora me deixe vê-lo.

–Não; a casa é minha. - olha o ciúme batendo na porta... – E eu faço o que eu quiser.

–Quem é Amy...? – olhei para traz e vi Ian vindo até mim. – Ah não.

Quando ele viu “Drew”, quis sair correndo. Ela quis sair correndo atrás dele, mas eu impedi.

–Licença, querida. Quero falar com meu namorado.

Aquela palavra doeu mais do que o esperado. Então Ian me beijou enquanto estava namorando? Canalha de uma figa. Hipócrita do caralho!...

OLHA A BOCA, AMY! ELA NÃO VALE ISSO TUDO!

Respira, Amy. Conte antes de bater... 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10...

Mas o mais impressionante não era isso. Era que eu senti ciúmes, dor, raiva e um monte de outras coisas ao mesmo tempo. Eu estava inteira e completamente quebrada. É impressionante o quanto um palavra pode machucar...

–Ah, namorado, entendo. – respondi olhando para ele.- Bom, então vocês tem muito o que conversar...

Mas quando ela fez menção de entrar na minha casa, a bloqueei.

–Querida, eu preciso falar com Ian.

Ah, Ian. Aquele que até agora não tinha desmentido nada. Ou seja: era mesmo verdade.

–Claro, lá fora. Você pode ser namorada dele, mas não gostei de você. Não demora muito porque tem que voltar para a esquina, certo? Suas amiguinhas de programa estão te esperando.

Antes que ela falasse qualquer coisa, empurrei Ian para fora e vi sua cara de culpado, não tempo de mais, porque fechei a porta na sua grande cara de pau.

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

–NAMORADA?! – berrou Sinead.

–Pois é.

–MAS VOCÊS ESTAVAM NO MAIOR CLIMÃO! Quero dizer: primeiro, ele te beijou quando estavam sozinhos à noite. Depois, agora quando nós estávamos no banheiro. Então aquele ataque de fofura sobre “cangote”, que ainda não sei o que é. Mas em que diabos ele estava pensando?

Eu tinha acabado de subir, com lágrimas pedindo para escorrer e corri para meu quarto. Quando entrei, desabei no choro, e as meninas vieram me acolher. Só Nat não estava ali.

–Não chore por aquele cafajeste. Vamos escutar um pouco de música.

–Não, não. Primeiro vou tomar um bom banho e trocar de roupa. Não aguento mais esse cheiro de ontem.

Entrei no banheiro e liguei o chuveiro; quem dera a água levasse a mágoa também. A dor, talvez. O choro para fazer companhia à elas... Lavei meus cabelos e o corpo, depois coloquei um shortinho azul (só pra provocar: a cor preferida de Ian) e um top preto de franjinhas. (Roupa da Amy).

Mal saí do banheiro e já escutei a música.

–Live fast, die Young, Bad girls do it well, Live fast, die young, Bad girls do it well – cantavam (lê-se: gritavam) elas.

–AMY! VEM COM A GENTE! – gritou Reagan, enquanto dava mortais na MINHA cama. Não sou eu que vou arrumar mesmo.

Subi na cama e começamos a pular, voltando a ter seis anos de idade. Reparei no rosto de todas que estavam ali: realmente esse “momento só para meninas” estava sendo bom. Meninos são muito complicados.

–GENTE! PERA! – gritei, finalmente escutando. – DESLIGA A MUSICA, SI! ACHO QUE SEI ONDE A NAT TÁ! – ela parou a música (que estava num volume de dar lesão cerebral) e todas olharam para mim e ouviram o que eu já tinha escutado. -Risadas. Vindas do quarto do Dan. O estrangeiro está lá embaixo, Ted, Ned, Hamilton e Jonah já foram e voltam só a noite. Dan e Nat estão sumidos. Isso não está me cheirando bem.

Desci da cama, andei até a porta e dei meu melhor olhar de Sherlock Holmes:

–Sigam-me.

Todas riram e vieram comigo. Fomos andando silenciosamente até o quarto de Dan, e o volume das risadas só aumentavam. Mas, do nada, pararam, como se tivessem sido interrompidas. Fiz o sinal de silêncio para trás e abri a porta. E eles estavam no meio de um beijão.

–Achamos a prima sumida. – falei um pouco alto e eles olharam para a porta, assustados, mas ainda abraçados. Vendo aquela cena, eu comecei a rir, e eu tenho uma risada de cavalo muito alta. E todos riram da minha risada. Como sempre.

–Garotas... Eu escutei musica. – disse Nat com um sorriso amarelo, se levantando da cama – Também quero participar da festa!

–Hum... Não, pode voltar para o quarto do amor! – gargalhou Juliet, fazendo com que todas rissem junto.

–Mas eu escutei outra coisa também. – disse Nat, com um sorrisinho malicioso. Lá vem merda... – Uma coisa do tipo “namorada”... – ela riu e eu fiquei mais séria. Lembrar da situação que estava acontecendo lá embaixo não me agradava.

–Olha, Nat, esse grito não é nada do que você está pensando. – respondi, ríspida, vendo sua cara de desapontada – Todos que estão dentro da casa – enfatizei o dentro, olhando para as meninas, justo por que Ian estava lá fora, com a namorada. –Ainda são solteiros.

(N/S: #sóquenão)

–Nem todos – disse Dan se levantando – Pelo menos a Nat não.

–Aonde quer chegar Dan? – perguntou Nat, vermelha até a raiz dos cabelos – Eu ainda sou solteira.

–Não mais – dizia Dan se ajoelhando.

–Ai Meu Deus!... – sussurrou Sinead ao meu lado – Ele vai...

–Ah, ele vai. – disse Mary, atrás de mim.

–Natalie Kabra – começou meu irmão – Você aceita – Ai senhor. Tem muita gente atrás de mim. Tem muita respiração no meu cangote!– Namorar comigo?

Natalie ficou atônita por um momento. Depois riu.

–Namorar um ninja deve ser muito legal.

–Isso é um sim? – perguntou um esperançoso Dan.

–S...

–EPA! – Yeah! Pontos para mim, melhor cortadora de clima do universo. Parabéns Amy. - Meu irmão mais novo não pode namorar antes de mim. Não é jus...

–CALA A SUA BOCA, AMY! – berrou Mary no meu ouvido e me encolhi.

–Sim. – continuou Nat.

–É, Amy, eu também não acho justo os mais novos namorarem primeiro – dizia uma voz masculina vindo em minha direção.

Eu rapidamente entrei no quarto e fiquei ao lado de Nat, que tinha um sorriso no rosto mais largo que achava ser possível, e me virei para ele.

–Eu posso achar isso, você começou a namorar antes dela. Não tem nada para reclamar – disse, tentando esconder a mágoa por trás da frase toda.

–Amy, eu queria te explicar...

–Você não tem nada para me explicar. Sua namorada é a Peitos-Para-Todos que estava lá embaixo com aquela vozinha irritante.

–O que? – começou Natalie, mas não conseguiu parar de rir. Depois de tomar fôlego, continuou – Drew? – eu assenti, e ela riu mais – Amei esse apelido! Não, ela é uma garota que perseguia o Ian desde quando tinham cinco anos! Eles não têm nada.

–Bem, ela o chamou de namorado e ele não desmentiu. E eu não tenho nada com isso. Ian não é meu. – disse, e saí dali andando, quase correndo. Ah, pena dela se cruzasse comigo na rua. Se eu vir aquela carinha de puta de novo, não respondo por mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

AGORA EU FALO: SÓ POSTO COM 4 COMENTÁRIOS NESSE CAPÍTULO. NESSE CAPÍTULO.
"Nunca deixe ninguém te dizer que não pode fazer alguma coisa". Xoxo