Minutos após ouvir aquela frase, Garfield finalmente retomou a consciência. Ir embora da Torre... Não conseguia de maneira nenhuma se imaginar longe daquele lugar. Desde a morte de seus pais, a Patrulha do Destino e os Titãs tinham sido as poucas referencias que ele tivera de família. Ele poderia procurar Mento, é claro, mas era pouco possível que ele o aceitasse depois do que aconteceu com a Patrulha do Destino.

O metamorfo tinha a sua casa, ou como muitos falavam “sua cidade particular”, mas não era lugar para ficar que o preocupava, sim o fato de perder novamente uma família. Já fora muito duro para ele perder seus pais no passado, mas por sorte ele encontrara a Patrulha do Destino, e esta o ajudara fenomenalmente a se sentir parte de algo de novo. Infelizmente, não durou para sempre... Agora, só lhe sobrava seu pai adotivo e ele estivera muito ocupado desde o assassinato de sua mãe, também adotiva.

Quando os Titãs foram reunidos pela primeira vez, ninguém levou muita fé que a equipe daria certo, mas Gar sentia-se bem em fazer parte de um grupo novamente. Apesar de todas as diferenças e problemas enfrentados pelos Titãs o grupo tinha dado certo, quase todas as desavenças que antes existiram haviam sido superadas. Ele simplesmente não podia, ou melhor, ele não conseguia abrir mão da ligação que fora formada entre eles.

Com muito esforço o metamorfo caminhou desorientado até a cadeira mais próxima e lá se sentou. Ficou vários segundos sentando fitando o nada.

– E agora? Não da pra escolher entre ela ou os Titãs... – Disse ele, ainda com o olhar perdido.

–Escolher quem ou os Titãs?! – Victor perguntou, espantado. Gar estava tão imerso em seus próprios pensamentos que nem notou que o amigo estava ali, bem ao seu lado.

–Ah! Não é nada Vic... - Garfield respondeu, envergonhado.

Cyborg ficou encarando-o por um tempo como que perguntando mentalmente ao amigo se o mesmo não ia falar.

– É uma história complicada...

– Adoro histórias complicadas – Victor insistiu.

Os dois ficaram em silencio por breves segundos, mas aquela decisão perturbava profundamente Garfield, e o metamorfo se perguntava se seria certo envolver o amigo naquela confusão.

–Certo... Então se trata de uma mulher? – Stone perguntou, percebendo os conflitos internos do rapaz.

– Mais ou menos... – Gar falou um tanto receoso- Não é “uma” mulher... É ela. Entende?

–Ela? Como assim? – Pergunta Victor, com um sorriso maroto no rosto.

–Não sei... Eu sei que parece estranho, mas é ela – O metamorfo olhou para a cara do amigo, procurando sinais de entendimento, mas não encontrou, sendo obrigado a prosseguir com sua explicação – O mundo parece diferente perto dela, é como se nada mais importasse... – Ele disse em tom tão baixo que quase parecia estar falando sozinho.

– Mas me diz... Porque você teria que escolher entre ela e nós?

– Dick... Ele disse que isso era pelo bem da equipe...

–Espera! – Falou Victor, gesticulando uma pausa com as mãos – Então você ta me dizendo que essa tal garota não é a Tara?

Gar deu um sorriso amarelo em resposta. Victor nada falou, só ficou observando o rapaz. Não tinha o que dizer, não depois do que o metamorfo lhe dissera a pouco. Só lhe restava esperar a decisão do amigo e torcer para tudo dar certo. O Rapaz-fera, por sua vez, demorou um tempo para perceber que Cyborg se encontrava sem reação.

–Victor? – Chamou ele.

– O que foi?

– Você não vai falar nada? Sabe, me dar um conselho, ou algo do tipo?

–Pra que? Ta na cara que você já decidiu... – Gar o olhou, sem entender muito o que o amigo tentava lhe dizer – Você foi... Qual é a palavra mesmo? Ah, é isso, você foi fisgado verdinho... – O rapaz disse, enquanto fazia um gesto imitando um peixe fisgado por um anzol.

Gar olhou para o amigo e não pode evitar um sorriso. Realmente, a decisão já tinha sido tomada, ele só não tinha notado ainda.

– Tenho certeza que você tem algumas coisas para resolver, ao invés de ficar jogando papo fora comigo – Brincou ele, olhando o corredor sugestivamente.

–Valeu Ciby! – Falou o metamorfo enquanto andava – Até mais!

–Até mais verdinho... – O rapaz falou quase que para si mesmo, enquanto Gar já dobrava o corredor.

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Rapaz-fera caminhou apressadamente pelos corredores da Torre. Sua cabeça estava cheia, havia muito o que pensar mas agora, graças a Cyborg, a decisão mais importante já tinha sido tomada, só faltava conversar com Ravena, Dick e depois arrumar uma maneira de contar tudo para Tara. Muito do peso que Gar sentia estar carregando havia ido embora, mas ainda se sentia mal por Tara.

Por causa de sua cabeça vagando em meio a pensamentos, Gar quase não reparava por onde passava, e se não conhecesse cada canto da Torre como a palma de suas mãos certamente teria se perdido.

– Gar!?

Alguém o chamou, fazendo-o virar para traz. Era Terra.

–Garfield Logan! Eu estou te procurando desde ontem!! Por onde você andou? – A loira perguntou visivelmente impaciente.

– Ah, é uma longa historia... – Garfield fala, muito sem graça com a situação.

– Gar, escuta aqui... Imagino que você saiba que me deve uma explicação sobre a sua ausência de ontem, não é? – Tara diz, quase batendo os pés para demonstrar ainda mais sua impaciência.

–Eu sei, mas... - Garfield começou a dizer – Tem razão, eu te devo uma explicação, na verdade mais de uma... – Tara o olhou, confusa – Acho que é melhor a gente dar um tempo...

–O QUE?! – Gritou a loira saindo um pouco de si.

–Desculpa, eu realmente não queria que fosse assim...

–Não queria que fosse assim? É só isso que você tem para me dizer? Eu passei a noite inteira preocupada me perguntando onde você estava e quando eu te encontro você pede “um tempo”?

–Eu juro que vou te dar todas as explicações que você precisa, só não vai dar pra ser agora... - O metamorfo disse, já começando a ficar envergonhando com aquela situação – Me desculpa... – Ao dizer isso o rapaz se virou e saiu andando.

Apesar da enorme culpa que sentiu com relação a sua nova situação com Tara, o rapaz estava feliz, cada passo para longe de Terra era mais um para perto de Ravena, e no final das contas isso já era alguma coisa.

– Logan! – Gar virou-se somente a tempo de ver a garota tapar-lhe o rosto com um pano branco embebido em álcool – Imaginei que essa seria a sua escolha... – Foi a ultima coisa que o rapaz ouviu antes de tudo ficar escuro.