"Se o mundo te deixa triste,
Diga o meu nome quando e onde quiser.
Eu sou seu número emergência,
Apenas para você."

______

    Entrei no avião procurando meu lugar, sentei e coloquei meus fones de ouvido, seria uma longa viagem de volta a Seul. Depois de dois anos em Tóquio eu estava realmente feliz por voltar a Coréia, rever alguns conhecidos... e o meu melhor e único amigo.
    Depois que eu fiquei sabendo que iria morar em Tóquio tudo que eu conseguia pensar era em Taemin, como eu ia poder deixá-lo? Ele sempre foi tão frágil, ele era solitário, acho que por isso eu me identificava tanto com ele desde que nos conhecemos. Ele tinha 7 anos e havia acabado de entrar na escola, eu tinha 10 anos e sempre me sentava sozinho no intervalo, então eu vi alguns meninos implicando com ele, ele não fez nada ficou quieto ouvindo aquelas palavras ofensivas. Então eu vi seus olhos cintilarem de lágrimas, ele estava se esforçando ao máximo pra não chorar, eu fui até eles e mandei o deixarem em paz, depois disso nós nunca mais nos separamos e nunca deixei que mais alguém o ofendesse.
    Não houvera um dia desses dois anos em que nos separamos que eu não tivesse pensado nele, que eu não me preocupei por tê-lo deixado sozinho. E também eu queria muito ver sua reação quando eu chegasse na Coréia sem avisá-lo, eu demorei pra juntar o dinheiro da passagem e conseguir que minha mãe me desse permissão mas ela sabia o quanto eu queria voltar então finalmente permitiu e eu comprei passagem com destino a Seul.
    E no meio de toda aquela agitação de pensamentos e ansiedade eu adormeci e só fui acordar quando o avião chegou ao aeroporto.
    ---
    Desci do táxi e olhei para a casa a minha frente, eu a conhecia bem, passava muito tempo na casa dele, sua mãe era uma pessoa muito simpática e quando liguei ela disse que me receberia sem problemas, pedi para que não contasse a Taemin sobre a minha volta pois queria surpreendê-lo e ela concordou dizendo que estava feliz por eu ir vê-lo e que ele ainda sentia minha falta.

    Reuni minha coragem misturada a ansiedade e toquei a campanhia. Esperei mas ninguém atendeu, toquei novamente. Finalmente ouvi alguma agitação vinda de dentro da casa. Um barulho de chaves. O movimento do trinco. A porta se abriu e ele saiu... A figura mais adorável que eu já havia visto em dois anos. Seus cabelos bagunçados, seus olhos inchados... Com certeza ele estava dormindo. Fiquei feliz ao constatar que ele não mudara nada, ainda tinha a mesma carinha de criança. Então ele me viu, me segurei pra não rir da sua expressão chocada, ele simplesmente congelou e ficou me encarando.

    E de repente a porta abriu e ele saiu rapidamente da casa quase saltando em cima de mim e me abraçando. Fiquei surpreso mas logo o abracei também. Céus como eu estava com saudades dele.
    - Não chora 'New. - Ele falou baixinho no meu ouvido. - Quando você foi embora eu fiquei triste por ver você chorando, eu não quero que você chore mais.
    Suas palavras só fizeram com que eu deixasse mais lágrimas caírem, o apertando mais em meus braços.
    Ficamos assim por vários minutos antes d'ele se afastar e me olhar com aqueles olhos inchados de choro.
    - Vem, entra. - Ele pego minha mala e me guiou até a sala de estar. Nós sentamos e um silêncio constrangedor se instalou.
    Eu não sabia bem o que falar, eu quis tanto estar la com ele novamente mas tudo o que eu sempre quis conversar com ele simplesmente não tinha mais sentido e mais nada vinha na minha mente naquele momento.
    - Onew... Desculpa por aquilo... Eu to mesmo feliz que você estar aqui.
    - O que você pensou? Que eu era mesmo um espírito? - Ele riu antes de responder.
    - Claro que não, não sou burro. Eu só... Não esperava que você viesse de repente e sem me avisar. - E agora ele parecia chateado, eu tinha esquecido como Taemin não gostava que as coisas fossem escondidas dele.
    - Mas Tae... Como eu te faria uma surpresa se você soubesse que eu estava vindo?
    - É, foi uma surpresa e tanto.
    - Uma surpresa boa ou uma surpresa ruim?
    - É claro que foi boa né!? - Então eu pulei em cima dele e comecei a fazer cócegas, ele começou a se contorcer e rir alto. Meu coração relaxou ao finalmente ouvir aquela risada infantil e despreocupada.
    Alguns segundos depois a porta abriu e a mãe dele entrou em casa. Eu rapidamente me levantei para cumprimentá-la.
    - Eu imaginei que você já estivesse aqui, dava pra ouvir a risada dele da esquina. - Ela sorriu enquanto equilibrava as sacolas que carregava.
    - Deixe que eu te ajudo. - Peguei as sacolas e as levei até em cima da mesa da cozinha.
    - Espere aí. A senhora sabia que ele vinha? - Ouvi Taemin perguntar pra sua mãe.
    - Sabia, ele me ligou semana passada perguntando se podia vir.
    - Por que não me contou? - Sua voz manhosa de choro me fez sorrir ao voltar pra sala.
    - Porque ele me pediu segredo. - Ela passou a mão nos cabelos dele e olhou pra mim. - Fico feliz que tenha vindo Jinki. Sabe que pode ficar o tempo que quiser.
    - Muito obrigado, só vou ficar três dias.
    - Três dias??? - Taemin exclamou incrédulo.
    - Bom, então não percam tempo, por que não vocês não vão dar uma voltar pra colocar o papo em dia enquanto eu faço o almoço, hum?
    - Obrigado. - Eu respondi e logo depois ela foi pra cozinha, quando olhei o Taemin ele ainda me olhava incrédulo. - Vem, você tem que trocar de roupa, tava dormindo até agora? Já são 10 horas! - O empurrei até seu quarto, fiz ele trocar de roupa e escovar os dentes antes que a gente saísse e fossemos em direção ao campo de futebol, estávamos tão acostumados com aquele caminho que só percebi onde a gente estava quando sentamos no gramado. E todo o caminho fora feito em silêncio, eu tentei falar mas ele ficara quieto o tempo todo.
    - Tae... Eu sei que três dias é pouco mas... Eu tenho aula, e não posso deixar minha mãe sozinha, meu pai trabalha o dia todo, sabe.
    - Eu sei, eu sei... Mas, ah eu gosto tanto de você aqui. - Ele deitou a cabeça no meu ombro. - Não tem chances de seu pai voltar a trabalhar em Seul?
    - Acho que não, ele e mamãe estão muito felizes la em Tóquio, não é tão ruim depois que a gente se acostuma, e agora eu consigo falar japonês fluentemente.
    - Então nem você quer voltar pra Coréia não é? - Lá vinha ele fazendo manha novamente, eu segurei o sorriso mas eu simplesmente adorava essas atitudes infantis dele.
    - Eu não me importo com o lugar em que eu esteja se você ainda for meu amigo.
    - Eu sempre vou ser seu amigo, mas não é melhor quando a gente pode se ver todos os dias?
    - 'Min, não vamos falar disso agora. Vamos aproveitar esses três dias okay? Como vai a escola?
    - Onew, depois de dois anos você volta pra cá e me pergunta sobre a escola?
    - Ah, eu não quero saber exatamente sobre as aulas... Eu quero saber de uma certa senhorita da sua sala que você mencionou no último e-mail. - Eu ri vendo-o corar, ele levantou e caminhou um pouco mais a frente.
    - Humm, você leu? Achei que não tivesse lido, eu enviei ele ontem a noite.
    - Eu li antes de ir para o aeroporto. Mas me fale dela. - Ele ainda estava hesitando, e estava mais vermelho que um tomate. Ele sempre fora assim ao falar de garotas, nunca foi do tipo namorador, e eu havia me surpreendido ao ler seu e-mail "[...] Chegou uma garota nova na minha sala, ela é realmente bonita e não parece ser esnobe como as outras, acho que você também gostaria dela. Talvez eu fale com ela na próxima aula. [...]" - Tae, por que tanta vergonha? Fale pra mim, qual é o nome dela? - Então ele voltou a sentar-se no gramado, dessa vez de frente pra mim, começou a brincar com a grama nos dedos arrancando algumas folhas, e enquanto ele falava só mirava o chão.
    - Juliette. Ela veio no programa de intercâmbio, apesar de ser coreana passou a vida nos Estados Unidos e agora veio concluir os estudos aqui. Ela não fala coreano muito bem. - Ele sorriu, mais pra si mesmo do que pra mim, era como se ele estivesse vendo ela enquanto a descrevia pra mim. - É engraçado vê-la tentando pronunciar as palavras... Ela é bonita e sorridente, não parece ser como as patricinhas da escola, além do mais ela é muito inteligente. - E então seu sorriso sumiu. - Só que... - Ele ficou em silêncio.
    - Só que o quê? - Ele me olhou e eu vi seu semblante de decepção.
    - MinHo. - Foi tudo o que ele disse. E eu não precisei de mais nada para entender. Choi MinHo era um menino da mesma série do Taemin, ele implicara várias vezes com ele, até que um dia eu o cerquei e falei que se ele não o deixasse em paz eu ia apresentar meu punho ao olho dele até que eles ficassem bem íntimos. Ele nunca mais se aproximou do Tae e sempre saía de perto quando eu entrava no mesmo local que ele.
    - O que foi que ele fez? Mas aquele garoto não tem jeito... Acho que eu vou desperdiçar algumas horas dos meus três dias pra fazer uma visita a ele...
    - Não 'New. Você não entendeu. Ele não fez nada, pelo menos não intencionalmente.
    - O que ele fez então?
    - Bom... Ele ta dando em cima dela. Você sabe que todas as meninas tem um belo tombo por ele. - Eu me segurei pra não rir novamente. Ele estava tão inseguro.
    - Mas Tae, você disse que ela é inteligente, não disse? Então não se preocupe, eu nunca se quer ouvi falar que aquele garoto tivesse ficado com uma só garota inteligente. Só aquelas patricinhas burras é que correm atrás dele. Se a Juliette é mesmo incrível como você diz você não precisa nem se preocupar.
    - Ela é sim. Muito inteligente, e está aprendendo coreano muito rápido. Ela entrou na escola há duas semanas e já sabe falar...
    - Duas semanas? - Eu o interrompi.
    - Hã?
    - Ela entrou há duas semanas?
    - É. por quê?
    - E você ainda não falou com ela? - Ele voltou a ficar desconfortável e começou a olhar para os lados.
    - Bom, não é que eu não tenha falado com ela sabe, ela me pediu o corretivo emprestado e...
    - Ai Tae... Você não pode ser tão tímido. Não que você precise se exibir como o metido do MinHo mas você não deve ter medo de falar com ela.
    - Mas... Eu nem sei o que falar com ela.
    - Aí está a parte mais fácil. Ela é nova aqui não é? Então, você dá as boas vinda pra ela, pergunta se ela não quer conhecer a cidade, se ofereça pra ajudar caso ela precise.
    - Mas...
    - Nada de "mas", você vai fazer isso na próxima aula okay?
    - Ta bom. - Ele se deu por vencido e suspirou. Depois ele sorriu me olhando. - Obrigado.
    Depois de um tempo voltamos para sua casa, nós almoçamos e saímos para andar pela cidade. Encontrei vários conhecidos, até mesmo alguns professores, conversei com eles e depois fomos a sorveteria onde sempre íamos depois das aulas, ficava na esquina do colégio. Era muito bom estar ali depois de tanto tempo, eu estava me sentindo muito bem.
    - Você não sente falta daqui?
    - Muita. - Respondi enquanto sentávamos com nossas enormes taças de sorvete. - Você não faz idéia.
    - Sabe 'New, eu estive pensando... - Isso não era coisa boa. - Por que você não... Bom, você podia ir morar la em casa. Eu acho que sua mãe deixaria, é o seu último ano no colégio, você podia fazer faculdade aqui ano que vem, minha mãe não ia se importar. - Eu disse que não era coisa boa. Suspirei e larguei a colher em cima do meu sorvete.
    - 'Min, as coisas não são tão simples. Olha, eu gostaria muito de voltar a viver aqui, mas não dá. Minha mãe e meu pai estão em Tóquio, eu não posso simplesmente deixá-los, minha mãe ficaria sozinha o dia todo. E eu não posso entrar assim na sua casa, sua mãe é uma pessoa muito boa mas não é fácil se adaptar a uma mudança tão brusca. Tae, por favor não fale mais assim, eu me sinto muito mal por ter que viver longe de você. - O que era totalmente verdade, me sentia um inútil vivendo longe dele sem protegê-lo.
    - Desculpe. - Ele disse, com seu tom de voz triste. Mas antes que eu dissesse algo ele olhou pra algo atrás de mim e sua expressão de repente congelou.
    - O que foi?
    - É ela. - Ele respondeu ainda olhando naquela direção. Eu então olhei e vi uma menina entrando na sorveteria. Ela tinha cabelos longos e ondulados, seus olhos eram claros, mas nem verdes ou azuis, eles tinham cor de mel e sorria enquanto ia até o balcão do buffet. Virei para Taemin novamente.
    - Ela é a Juliette?
    - Shhhhhh - Ele me deu um tapa na cabeça. - Ela vai ouvir. - Girei meus olhos pra cima e ri enquanto colocava uma farta colherada de sorvete na boca.
    - O que é tão engraçado? - Ele perguntou bravo.
    - Você se estressando tanto por causa de uma garota. Não é o Taemin que eu conheço.
    - Bom, você ficou dois anos fora, alguma coisa ia mudar não é? - E essa pegou fundo no meu coração. Ele de repente reparou o que havia falado e largou a colher em cima da mesa me olhando. - Desculpe, não queria dizer isso... Eu só... Eu...
    - Tudo bem Tae, respondi calmamente. Você ta nervoso por causa da Juliette. - Eu falei o nome dela bem alto. Ele me olhou incrédulo e eu sorri. Quando olhamos em direção ao balcão ela estava olhando pra nossa mesa, quando percebeu o Taemin ela abriu um grande sorriso, ele tinha razão ela era mesmo muito bonita. Ela pegou sua taça e veio em nossa direção. Ele olhou pra mim e sussurrou "você me paga Jinki", mas eu sabia que depois ele ia me agradecer.