Violentada escrita por C W Elliot


Capítulo 1
Olhos de inocência e bondade - Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olhos de inocência e bondade, não tão inocentes, e não tão bons assim.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/409671/chapter/1

– Sophia, deixa de manha e desça já. O ônibus já está chegando e você não pode faltar. Venha tomar café. Rápido garota. - berra mamãe no andar de baixo.
Não quero descer. Não vou descer. Não vou mais para escola, não saio mais de casa. Não depois desse tempo todo... Eu não posso, eu não consigo. Todos aqueles olhares de nojo e de repúdio das pessoas, aquele olhar que sabe tudo o que está acontecendo, me julgando pelo que eu faço. Mas eu não tenho culpa, ele sim, ele tem, ele é quem faz tudo. Não quero descer.
– Sophia, desça logo menina, não brinque comigo. Se não eu mando o Frederico ir até ir te buscar. Vá lá buscar ela Fred. - continua mamãe.
Não, isso não. Ele não. Ele não pode vir, não pode. Pego minha mochila e desço correndo as escadas, ela não vai me pegar. Não de novo.
– Ora, ora. Agora a pestinha resolveu descer. Venha, sua mal criada, tome logo seu café da manhã e vá para o ponto de ônibus. Frederico não pode te levar todo dia. - prossegue ela, ralhando comigo. Apesar de ser muito dura ás vezes, mamãe costuma ser legal. Ela até me abraça de vez em quando. Sei que ela se importa comigo, mesmo não demonstrando isso toda a hora.
Ele estava lá, com aqueles mesmos olhos de inocência e de bondade, dissimulados, como se nada tivesse feito ontem. Como se fosse um "pai" qualquer. Ele não é meu pai. Meu pai, ele sim é um homem incrível. Nunca brigou ou fez o que o " Amoreco da Mamãe" faz comigo.

Papai sempre foi legal, me levava em sebos, livrarias e discutíamos sobre os livros que líamos. Ele é um escritor renomado, escreveu um livro chamado "Noite sem estrelas", que vem a ser meu livro favorito. Ele quase nunca vem me visitar, não tanto quanto antes. Quando éramos Eu, Mamãe e Papai. Eu era feliz e sabia, e agora, nem sei mais o que é significa ser feliz. Felicidade não existe mais no meu dicionário, foi substituída por Medo.

Apesar de não seguir a ordem alfabética convencional dos dicionários, meu dicionário é muito mais repleto de palavras, não palavras propriamente ditas, mas de sentimentos. Não de sentimentos propriamente ditos, mas de angústias e sofrimento. Sofrimento: Dor física ou moral; padecimento, amargura.desgraça, desastre. Não, não é esse o sentido de sofrimento para mim. Eu sinto tudo isso, é claro. Mas meu verdadeiro sofrimento são as visitas daquele monstro, e isso é pior do que qualquer desgraça ou desastre, não existe palavra capaz de descrever o que acontece.

Meu sofrimento são os olhares, que mesmo não sabendo da existência do monstro, caem sobre mim, como se pudessem ler minha alma, estudar minha mente e condenar minhas ações. E isso é pior do que qualquer dor física ou moral. Não é o bicho-papão, ele é pior do que isso. O bicho-papão fica escondido em baixo da cama ou dentro dos armários, e seu único objetivo é assustar. Seria ótimo se meu monstro só quisesse me assustar, ou pelo menos, seria mais fácil. Não. O monstro quer mais, ele sempre quer mais. Não adianta o quanto eu implore ou tente fugir, ele sempre me alcança, ele é sempre mais forte.

Não posso contar a ninguém, os olhares seriam ainda mais invasivos e punidores, eles nunca me aceitariam ou me consolariam. Eu estou sozinha, sem ninguém para matar esse monstro por mim. Não é um conto de fadas, não vai vir nenhum príncipe encantado ou forte guerreiro de armadura reluzente empunhando uma espada ou montado em seu lindo corcel branco para me salvar e matar o dragão que estava me prendendo. Eu estou presa na torre, para sempre. Sozinha. Ainda posso ouvir os passos do monstro, fazendo ranger a escada, chegando cada vez mais perto, abrindo a porta e tentando me alcançar no escuro.

Meus gritos surdos nas lembranças se misturam com os gritos agudos da minha mãe mandando eu parar de ficar olhando para o Frederico, seu amoreco, e ir para a escola. Eu obedeço, e os olhos dissimulados do dragão chamado Fred, seguindo o andar da princesa Sophia até a porta, esperando pelo seu retorno para retomar seu ritual maligno. Esperando-me retornar para recomeçar o que me faz toda noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Foi um prólogo curto. Mas a história está apenas começando.