A Força De Uma Paixão. escrita por Kah


Capítulo 62
Uma nova Paola




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Nunca em minha vida estive tão certa de algo quando me joguei na frente de Paulina para salva-la. Paulina não poderia morrer, não ela que tinha tanto ainda para viver. Como ficaria sua família sem ela? Como Carlos Daniel sobreviveria sem o amor de sua vida? Como aquele bebê, ainda tão pequeno, viveria sem uma mãe? E acima de tudo isso, como eu poderia deixar minha filha outra vez sem mãe?

Não foi difícil decidir que deveria me jogar em sua frente e receber aquele tiro.

Ao contrario de Paulina, eu não tinha muitos motivos para viver. Minha filha, a única coisa boa que eu tinha feito, estava sendo bem cuidada, protegida e muito amada pela família Bracho e minha irmã. Eu não faria tanta falta assim a ela. Se eu morresse ali, todos continuariam com suas vidas, não haveria nenhum impacto na vida delas, e eu seria apenas lembranças de vagas na memoria de cada um.

E enquanto estava ali sentindo minha vida se esvair, não senti medo. Paulina me segurou em seus braços, ela chorava, pedia pra não deixa-la, eu queria lhe dizer que tudo ficaria bem, que ela estaria a salvo, e principalmente dizer que a amava, mas meus olhos se fecharam antes mesmo que eu consegui sequer tentar abrir a boca.

 ***

Quando despertei naquele hospital, foi como receber um choque de realidade. Durante tantos anos estive afundada em magoa e rancor, tentava afogar qualquer sentimento em viagens, bebidas e amantes, e agora estava ali, havia acabado de levar um tiro no abdômen, me sentia fraca, confusa, mas no entanto, me sentia mais viva do que nunca.

Paulina me visitou antes de ir pra casa, foi tão bom vê-la ali, a salvo, que meu coração pareceu encher de algo que a muito não sentia. Ela me disse que Lizete estava bem, e que graças a Deus, não se lembrava de nada. Aquele canalha havia a mantido desacordada durante todo o tempo que estivemos sequestradas. Fiquei contente quando Paulina me disse que iria me visitar todos os dias. Ela me fazia me sentir amada, e, com uma família.

Pensei que logo poderia sair dali, recomeçar a minha vida. Queria ser uma boa irmã para Paulina, queria estar presente na vida de Lizete, queria encontrar meu caminho. Mas depois de uma conversa com meu medico, percebi que não seria uma recuperação tão fácil assim. Precisaria ficar algumas semanas internada, a bala não havia atingido nenhum órgão vital, mas eu havia perdido muito sangue, passei por uma cirurgia longa, e o doutor Jorge Hernández ainda me disse mais algumas coisas que não entendi direito. O fato era que teria que passar mais dias do que pensei naquele hospital.

Apesar de tudo, estava me recuperando bem. Paulina cumpriu com sua promessa e todos os dias me visitava, sempre acompanhada de Carlos Daniel que a cuidava com muita dedicação. Decidimos esperar ate que eu estivesse melhor para Lizete me visitar, não queria que ela me visse tão debilitada. Apesar das visitas de minha irmã, eu passava boa parte do tempo sozinha naquela cama de hospital, já conhecia algumas enfermeiras e o doutor Hernández que todos os dias passava para me examinar.

— Esta se recuperando muito bem senhorita Montagner. - ele disse analisando sua prancheta.

— Não vejo a hora de sair daqui, - sorri mais para mim do que pra ele – poder sentir o vento, ver as estrelas...

— Bom, por enquanto ainda não pode sair, - ele me olhou fixamente e pela primeira vez pude ver o quão bonito ele era – mas assim que estiver mais forte, talvez possa te levar para um passeio, vai ser bom para você respirar ar puro.

— Seria maravilhoso doutor Hernández. Passar o dia nesse quarto é muito entediante.

— Eu te entendo, você é uma mulher bonita, jovem, certamente com uma vida agitada e cheia de amigos. Não é fácil se ver “preso” de uma hora pra outra numa cama de hospital.

— Minha vida tem sido um erro doutor. - falei pensativa.

— Bom, sempre é tempo de recomeçar. – ele sorriu, era realmente muito bonito, seu olhar era profundo, marcante.

— É, eu estou começando a acreditar que sim.

— Aqui nesse hospital vemos muita coisa Paola, - ele começou a falar pensativo – e aprendemos que quando temos uma segunda chance devemos nos apegar a ela e sermos o melhor. Perdemos tantas vidas aqui que acabamos percebendo o quanto desperdiçamos nosso tempo. Quantas pessoas morrem sem realmente viver, sem serem verdadeiras consigo mesmo...

— Tem razão doutor. – disse pensando profundamente em tudo que ele falou.

— Bom, agora vou te deixar descansar, - ele sorriu – precisa de repouso se quiser sair logo daqui.

— Obrigada doutor, - lhe sorri com sinceridade, o sorriso mais sincero que dava em muito tempo – obrigada por tudo.

Ele retribuiu o sorriso e saiu me deixando sozinha.

 ***

Todas as noites eu sonhava com minha mãe e com Paulina, acho que porque estava pensando muito nelas, pensava em como podia ter sido diferente com elas, poderíamos ter sido uma família.

 ***

— Bom dia Paola! – a voz de minha irmã soou pelo quarto, eu estava sentada na cama foleando uma revista.

— Paulina! – sorri quando ela foi ate mim me cumprimentando com um beijo no rosto – Você tirou o gesso, como se sente?

— Estou bem Paola, - ela sorria radiante, não foi difícil me acostumar com Paulina, e agora entendia o porquê de todos gostarem dela – mas e você?

— Estou completamente entediada, - sorri revirando os olhos, fazendo-a sorrir também – não vejo a hora de poder ir pra casa.

— Logo você vai pra casa Paola, - ela segurou minha mão – mas enquanto isso não chega, trouxe uma surpresa pra você.

A olhei desconfiada enquanto ela caminhava ate a porta, meu coração disparou quando a vi estender a mão e Lizete entrar no quarto.

— Lizete! – minha voz saiu com um sussurro, minha menininha estava ali, tão linda e saudável.

— Tia Paola! – ela correu ate mim e me abraçou apertado – Que bom que esta bem, a mamãe me disse que você estava doente, mas que agora esta muito melhor.

— É sim meu anjinho, - falei alisando seus cabelos – logo logo estarei totalmente recuperada.

— Eu senti muita saudade, - ela deslizou a mão por meu rosto limpando minha lagrima – agora não precisa chorar tia, estamos aqui com você.

— Minha princesa, - a abracei mais uma vez – minha menininha.

— Paola, a Lizete estava muito ansiosa pra te ver, - Paulina disse sorrindo com os olhos marejados – não falava de outra coisa.

— Obrigada Paulina. – a agradeci sorrindo – Senti muito falta de Lizete.

— A mamãe me explicou um monte de coisa, - Lizete me olhou profundamente – você também é minha mãe.

— Sou sim meu amor, - meus olhos umedeceram – você também é minha filhinha.

— Ela me disse que cresci em sua barriga, igual o Otavio cresceu na barriga dela. - ela sorriu alisando meu rosto - É engraçado porque vocês são iguaizinhas. 

— E você gostou de saber que sou sua mãe também? – perguntei tentando imaginar tudo o que passava em sua cabecinha. Quando Lizete era menor, antes de Paulina aparecer, ela sabia que eu era sua mãe, mas nunca me chamou de mamãe. Para ela eu era a tia Paola que a visitava poucas vezes no ano e levava muitos presentes.

— Gostei sim, - ela me encarou pensativa – tenho duas mães agora.

— A partir de agora, prometo que vou ser melhor, vou passar mais tempo com você. – disse acariciando seu rostinho, ela sorriu – Quero ser melhor por você meu amor!

— Agora tenho uma mãe Paulina, e tenho uma mãe Paola. – ela sorriu beijando meu rosto.

A abracei apertado, sentindo seu cheirinho, Lizete era mais do que eu poderia pedir, era meiga, gentil, educada, e com um coração enorme. Sabia que devia boa parte do que ela era a minha irmã, sempre seria grata a Paulina por ter amado e cuidado de minha filha quando eu não consegui.

Naquele mesmo dia tive outra surpresa. Já era noite quando doutor Hernández entrou no quarto, ele não estava com seu “traje” de medico, vestia uma camiseta preta e uma calça jeans azul, totalmente diferente do cirurgião serio e dedicado que eu estava acostumada.

— Doutor Hernández! - disse surpresa.

— Nada de formalidades Paola. - ele sorriu – Hoje é minha folga e sou apenas Jorge.

— E o que esta fazendo aqui? – perguntei sorrindo – Vá aproveitar seu dia, com certeza deve ter alguma namorada te esperando.

— Na verdade não tem ninguém me esperando, - ele me olhou fixamente – faz pouco tempo que vim para Cidade do México, minha família ficou em Puebla. Vivo sozinho aqui.

— E nos seus dias de folga você fica andando pelo hospital? – perguntei divertida.

— Só quando tem alguém que me interessa. – ele respondeu no mesmo tom.

Ficamos alguns segundos em silencio, não sei o porquê, mas Jorge conseguia me deixar sem jeito. Nunca antes havia me sentido tão a vontade e ao mesmo tempo tão perdida com uma pessoa.

— Bom, vim porque avaliei seus exames, e como você tem se recuperado bem e não corre nenhum risco, - ele sorriu – pensei que talvez quisesse sair um pouco desse quarto.

— Serio doutor? – perguntei alegre.

— É serio sim, - ele me encarou sorrindo – e já lhe disse que não precisa de formalidades.

— Ah claro. – sorri olhando-o.

— Bem, então vamos dar uma volta pelo pátio desse hospital. – ele empurrou a cadeira de rodas ate meu lado na cama.

— Acho que posso andar. – falei ainda o encarando.

— Sim, você pode, - ele me estendeu a mão para me ajudar a passar para a cadeira – mas como seu médico, devo lhe dizer que não é bom se esforçar.

— Pensei que por hoje, não seria médico. – falei sorrindo com uma pontada de ironia.

— Só quando me convém. – ele sorriu e saímos daquele quarto.

Jorge me levou para a área externa do hospital, onde havia um jardim, e pude respirar, depois de muitos dias, o ar puro da noite. A noite estava incrivelmente linda.

— Nossa! – falei inspirando profundamente, enchendo meus pulmões daquela brisa tão fresca – Nunca pensei que daria tanto valor a essas pequenas coisas.

— Às vezes só nos damos conta do que temos quando os perdemos. – Jorge disse se sentando no banco ao lado de minha cadeira.

— Obrigada Jorge. – disse com sinceridade – Eu estava enlouquecendo dentro daquele quarto. Há quantos dias estou aqui?

— Precisamente, - ele olhou no relógio – faz, 14 dias, 8 horas e 9 minutos. – ele respondeu.

— Uau! Tão preciso assim!? – falei sorrindo alto – Você sempre se lembra da entrada de seus pacientes com tanta pontualidade?

— Só quando fico interessado. – ele sorriu abaixando a cabeça.

— Hum... E o que eu tinha de tão especial que te deixou interessado?- perguntei feliz por ter voltado a ter meu bom humor de sempre.

— É... bem, - ele sorriu sem jeito – eu tinha acabado de chegar quando vi duas mulheres idênticas darem entrada aqui, vocês duas inconscientes. Mas o que me chamou mais atenção foi o fato de não ter ninguém com você, digo, o esposo de sua irmã estava com vocês, mas ele estava desesperado, não conseguia pensar em nada que não fosse à mulher, enquanto você estava baleada e perdendo muito sangue. – ele me olhou.

— Já sei, - sorri nem um pouco surpresa por estar sozinha naquele momento – você ficou com pena da pobre mulher baleada?

— Não foi pena, - ele abaixou a cabeça outra vez – senti necessidade de te proteger.

Abri a boca para dizer alguma coisa, mas não consegui, ficamos em silencio. Meu coração batia mais rápido que o normal, e por um momento pensei estar gostando da sensação de borboletas em meu estomago. Observei o céu estrelado e fechei os olhos, sentindo a brisa fria da noite tocar minha pele. Me sentia tão viva como nunca havia sentido.

— Você é linda! – ele disse fazendo-me abrir os olhos surpresa, mas logo consegui me recompor.

— Você é muito bonito também, com certeza seduz muitas pacientes ingênuas com esse sorriso. - falei sorrindo, ele sorriu balançando a cabeça.

— Bom, não ando tendo muito progresso, - ele entrou na brincadeira – minha paciente não é nenhum um pouco ingênua, e é muito segura de si também.

— Vejo que terá trabalho doutor. – disse entre um riso alto, mas logo engoli em seco ao perceber a maneira intensa que ele me olhava.

— Sou insistente. – ele sorriu. Senti meu rosto corar.

Ficamos ali por pouco tempo, ao menos foi menos do que eu queria. E quando voltamos para o quarto, Jorge e eu conversamos sobre nossas vidas, ele me contou sobre a noiva que o traiu com seu melhor amigo, e sobre como decidiu se mudar para a capital. Jorge também tinha cicatrizes no peito e na alma, e como eu, tudo o que ele queria era encontrar um porto seguro. Algo que desse um novo sentido na vida.

 ***

Poucos dias depois, finalmente recebi alta. Paulina e Lizete foram até o hospital me buscar. Jorge foi se despedir de mim, e ainda me convidou para jantarmos em um restaurante que havia acabado de inaugurar no sábado. Aceitei sem pestanejar.

Chegar em casa depois de tantos dias foi maravilhoso, Adelina me recebeu com um caloroso abraço, Paulina e Lizete almoçaram  comigo, mas foram logo depois, minha irmã já estava agoniada por ver Otavio.

Assim finalmente fui me adaptando a minha nova vida, eu havia mudado, e essa mudança refletiu em todos. Paulina todos os dias me visitava, mas o que mais me deixou surpresa foi receber a visita de outros integrantes da família Bracho, vovó Piedade, Carlos Daniel, que já não me olhava com os olhos faiscando de raiva, e ate mesmo Rodrigo e Patricia. Aos poucos fui percebendo que aquela família também era minha família, meus pais eram amigos dos Bracho desde antes de Paulina e eu nascermos, eles compartilharam muitas coisas juntas, e nunca abandonaram minha mãe, e percebi que nem a mim.

Quando o sábado chegou me senti ansiosa, fiquei horas me arrumando, coloquei um vestido vermelho e caprichei na maquiagem, e olhei no relógio três vezes em dez minutos.

— Paola, o doutor acaba de chegar. – Adelina disse com um sorriso no rosto. Peguei minha bolsa e desci para o receber.

Assim que o vi senti minhas pernas bambearem. Ele estava tão lindo que parecia uma visão, ele usava um terno preto e estava incrivelmente lindo com ele.

— Nossa! – ele exclamou vindo em minha direção e segurando minha mão – Você esta... esta maravilhosa.

— Obrigada. – sorri o olhando mais de perto, seus cabelos, pareciam tão sedosos.

— Acho que todos os homens vão sentir inveja de mim, por estar acompanhado de tão bela dama. – ele beijou minha mão e senti meu corpo estremecer.

— Acho que as mulheres que vão sentir inveja de mim. – sorri – Você não me disse que era tão galanteador assim doutor!

— Ainda tenho muito para te mostrar. – ele colocou minha mão em seu braço – Podemos ir?

— Claro. – fiz uma mesura com a cabeça.

Chegamos ao restaurante me pouco tempo, Jorge havia escolhido um mais próximo de minha casa, para evitar que me cansasse, ele estava se mostrando um perfeito cavalheiro.

Durante todo o jantar conversamos sobre os mais variados temas, era impressionante como me sentia confortável com sua companhia. Ainda dançamos e apreciamos uma taça de vinho.

— Então você visitou todos esses países em um único ano? – ele perguntou surpreso assim que entramos em minha casa.

— Sim, mas não é algo que me orgulho, - disse pensativa – eu tentava fugir de tudo, e achava que saindo pelo mundo conseguiria me esquecer de tudo. Percebi tarde demais que nunca conseguiria fugir de mim mesma.

— Nunca é tarde para arrependimentos Paola, - ele me olhou compassivo – e você tem toda uma vida pela frente, além de ser jovem, muito bonita, e ser uma ótima companhia.

— Ah obrigada Jorge, - sorri – mas se você tivesse me conhecido há alguns meses atrás, não pensaria assim.

— Tenho certeza que não mudaria nada que penso sobre voce Paola. – ele deu um passo à frente e segurou minha mão – Você é admirável, encantadora...

— Acho que não sou tudo isso que pensa. – disse engolindo em seco.

— Você é sim, apenas não descobriu ainda. – ele acariciou meu rosto e deslizou os dedos por meu pescoço, os prendendo em minha nuca.

Sua boca cobriu a minha antes que me desse conta, passei meus braços em seu pescoço e me colei mais a ele, senti quando sua língua atravessou pra minha boca, e me rendi ainda mais naquele beijo. Movendo nossos lábios e línguas, senti que finalmente começava a despertar algo dentro de mim que a muito tempo esteve adormecido. Separei rapidamente meus lábios dos seus para tomar folego, e logo depois continuamos com aquele beijo cheio de descobertas e sensações.


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