Decidimos ir para minha casa, Sara não queria que eu ficasse na casa de Carla para eu me lembrar de nada. Acho que foi a melhor decisão que já a vi tomando. No caminho da minha casa, Sara olhava para todos os lados como se procurasse alguma coisa desesperadamente.

  Eu andava atrás dela, mas quando estávamos em frente à casa de meu vizinho ela parou e eu continuei andando. Percebi que ela não havia voltado a andar e por isso voltei. Ela acabara de recolher algo do lixo de meu vizinho.

  – Ei, o que você pegou? – Perguntei desconfiado

  – Nada não. Esquece. – Ela estava ficando nervosa

  Olhei para suas mãos que ela rapidamente pôs nas costas para que eu não visse o que tinha nelas. Fiz um movimento que me deixava um pouco mais perto de suas mãos, mas ela se esquivou. Começamos uma briguinha que ela acabou perdendo por ser menor. Peguei suas mãos com força e tirei delas um exemplar de um dos bonecos de pano que ela tinha em casa.

  – O que isso está fazendo aqui? – Percebi que o boneco estava completamente destruído

  – É que essa é a boneca que eu levo na minha mochila e anteontem ela caiu quando eu fui embora, aí eu estava procurando feito uma louca por ela porque essa é minha boneca favorita, mas agora está destruída. – Ela olhou para baixo com os olhos tristes

  Fomos para casa e Sara parecia realmente chateada pela destruição da boneca, sua ligação com ela era bem mais do que física, tinha algo emocional no meio desse todo... Acho que o resto do caminho para minha casa foi o mais longo da minha vida, Sara estava muito quieta, muito na dela... Isso não é de seu fetiche.

  – Por que essas bonecas são importantes para você? – Perguntei quando chegamos em minha casa

  – Minha avó as fez para mim antes de morres. Disse que eu deveria ter o máximo de cuidado com todas, porque todas eram muito importantes... Como se cada uma fosse uma pessoa sabe? Precisa de cuidados diários que outras bonecas não precisariam...

  Olhei para sua mão que ainda segurava a boneca. Ela era de pano e sem graça, não via o como alguma coisa tão ridícula como aquela poderia ter tanto valor, mas quem sou eu para julgar a mente humana?

  Sentamos-nos no sofá da sala e começamos a conversar sobre o que poderíamos fazer.

  – Acho que devíamos chamar a polícia novamente... Sei lá, poderiam procurar mais uma vez. Eles saíram da casa de Carla muito cedo e quem pouco procura nada acha. – Sara sugeriu

  – Pois eu acho que a polícia não vai ajudar em nada. Não ajudou pela primeira vez, não vai ajudar na segunda. – Massageei minhas têmporas com os dedos – Acho que pelo o que vimos na casa de Carla, não tem nada que possa explicar sua morte... Esse fato só me faz crer que ela escorregou e quebrou o pescoço. Essas coisas acontecem né?

  – Acontecem, mas não é normal que isso aconteça. – Ela bufou – Você vai desistir assim? Sério, eu esperava mais de você! Onde já se viu parar de tentar buscar a verdade por trás de um crime que você sabe que aconteceu?! Ainda mais com a pessoa que você ama! – Sara ficou de pé e apontou para mim – Eu juro que se fosse você que tivesse morrido, eu não dormiria até descobrir quem tinha te matado! Nunca iria acreditar nesse papo de “acidente” porque acidentes não existem, só existem é pessoas idiotas e incapacitadas, o que a Carla não era. 

  Sara foi em direção a porta, mas antes de sair virou para falar algo:

  – Passar bem – E bateu a porta com força 

  Não sei porque minha atitude deixou Sara tão irritada. Ela gosta de mim não é? Então deveria estar feliz por eu ter desencalhado dessa perseguição atrás da pessoa que matara a menina que eu gostava... Não entendo as garotas...