Extraterrestres -interativa escrita por Lucy


Capítulo 19
Acidente




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Andrew Moon

Depois de termos resgatado a tal Kayla, continuamos dirigindo feito loucos pela estrada, com medo de que os homens de terno surgissem atrás de nós a qualquer instante, atirando para nos matar. Mas agora a noite já caíra, a Lua iluminava a pavimentação cinza, enorme e prateada, não havia nuvens naquela noite. 

E sem a adrenalina pura injetada em minhas veias, o sono me encurralava, minhas pálpebras pareciam chumbo de tão pesadas que estavam. Hana continuava acordada, e a toda a hora se certificava que os óculos estavam no lugar. Emily fazia carinho naquela gata dela, olhando para o céu com grande admiração e Kayla desenhava em seu caderno, aproveitando o momento de paz. O único som que se podia ouvir era seu lápis arranhando com firmeza o papel, sem se incomodar com o fato do carro estar em movimento. 

-Então, Kayla, qual é o seu poder? Ainda não nos contou. -Tentei puxar conversa, para espantar o sono. Eu tinha que continuar dirigindo, ou então os homens de terno poderiam nos alcançar. Só precisava me distrair um pouco.

-As coisas que eu desenho se transformam em realidade. E o de vocês, qual é? -Ela perguntou, levantando a cabeça. Eu ainda não conseguira decifrar de que cor eram seus olhos, mas conseguia ver  algumas sardas douradas em seu nariz, quase invisíveis contra a pele pálida. 

-Eu consigo criar ilusões e deixar as pessoas presas lá. Foi isso que eu fiz com aquele homem que estava prendendo você. -Emily explicou, ainda com os olhos fixos na Lua. -Andrew consegue se teletransportar, só que ele próprio e mais ninguém. Hana dá choques nas pessoas e levita objetos á alguns centímetros do chão. E falando nisso, Hana, por quê você não tira esses óculos escuros? Quer dizer, está de noite.

-Não é da sua conta. -A de cabelos cor de petróleo erigeceu, e fechou as mãos com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos.

-É verdade, por quê os usa? -Kayla franziu o celho, e se inclinou, curiosa, uma mecha roxa caindo sobre seu rosto. Ela a colocou atrás da orelha, e vidrou seu olhar exclusivamente em Hana. Até Emily tinha parado de observar a Lua para encarar a menina, como sua gata. Dava medo os olhos azuis das duas serem tão... Idênticos. Eu ficava pensando se a dona do animal o fazia por meio de uma ilusão, para ficar mais legal. Porém, cansaria muito manter uma ilusão por tanto tempo, portanto, descartei a hipótese. Devia ser só uma conhecidência super assustadora mesmo, ou então a gata também era alíenigena. Sei lá, depois de ver tanta coisa eu devia estar ficando só um pouquinho paranóico com as coisas. Tinha que parar com isso.

-Vão se catar e me deixem em paz. -Hana disse, fria e arrogante.

-Ah, vai, diz! Não deve ser grande coisa. -Emily disse, teimosa. Eu estava com o pressentimento de que aquilo não iria dar boa coisa, não. Quer dizer, quatro E.Ts dentro de um carro, um deles raivoso... Não podia dar coisa boa mesmo.

-Gente, deixem ela, ok? -Eu pedi, bocejando de tanto sono. Porém, aquelas duas não me escutaram, ou fingiram que não ouviram. Talvez eu estivesse ficando invisível.

-Só diz o por quê, não precisa tirar eles. -Kayla insistiu, pressionando a jaqueta contra o corpo em uma tentativa de espantar o frio do carro.

-Cuidem das vidas de vocês. -A de óculos escuros respondeu, enterrando as unhas no estofado do banco.

-Vai doer tanto falar? -Emily perguntou, estreitando os olhos, e fazendo biquinho. A cara dela me faria rir se eu não pudesse sentir os pequenos e inofensivos choques que Hana me dava. E eles poderiam ser bem perigosos, disso eu tinha certeza absoluta. 

Eu já não prestava atenção na estrada, estava entrertido demais na conversa das três para me lembrar que poderia ter curvas. E que poderíamos bater em outro carro que viesse na direção contrária. Não, eu só queria ver aonde aquela conversa ia acabar mesmo.

-DÁ PARA VOCÊS DUAS ME DEIXAREM QUIETA?! EU NÃO QUERO TIRAR OS MEUS ÓCULOS ESCUROS, E NÃO VOU DIZER PARA VOCÊS O MOTIVO, RESPEITEM A MINHA DECISÃO, CARAMBA! É PEDIR DEMAIS?! -Ela berrou, a eletricidade percorrendo os fios dela, cuja os cabelos formavam uma áura negra elétrica ao redor de seu rosto delicado, a pele alva em um belo contrate com a cor escura de seus cabelos. Ela emanava perigo, mas isso não fez nem Emily nem Kayla se afastarem. Entretanto, quando eu parei para observá-la, parara de dirigir. E só no último segundo percebi o carro que vinha em nossa direção, á toda a velocidade. Só consegui fazer uma coisa naquele momento: Gritei feito um louco.

Olha, eu adoraria dizer que a minha vida inteira passou pelos meus olhos, isso ia soar muito legal mesmo. Só que tudo o que eu pensei foi: "Eu vou morrer, eu vou morrer, porra!". Não foi muito dramático, só pensei em seguida todos os palavrões que eu me lembrava, antes dos faróis do outros carro me cegarem, e sairmos capotando, até pararmos na beira da estrada, quase caindo morro abaixo.

Levei minha mão até a minha nuca e percebi que ela estava sangrando. Olhei em volta, conferindo se todas as garotas estavam bem. Hana estava com o cabelo caindo sobre o rosto, mas conseguia respirar, procurando com as mãos a maçaneta. Emily verificava se aquela gata dela estava a salvo, e Kayla xingava baixinho, tentando em vão abrir a porta.

Abri a minha, e consegui. No entanto, não dava para a rua, se eu tentasse sair por ela caíria em uma queda de mais de quinhentos metros, dando direto para a morte. Eu a fechei rapidamente, cortando o ar. Tinha que pensar em um jeito de nos tirar daqui.

-Kayla, vamos tentar quebrar as janelas! É a nossa melhor chance! -Hana disse, tirando o cabelo do rosto. E pela primeira vez pude ver seus olhos. Prata, luminosos, chamavam a sua atenção á quilômetros de distância. Eram lindos, não entendia porquê ela os escondia atrás daqueles óculos horríveis.

Ouvi os sapatos das duas baterem contra as respectivas janelas ao mesmo tempo. E então de novo. E mais uma vez. Por fim, na sétima tentativa, quando estavam prestes a desistir, o vidro se estraçalhou, e só conseguimos fechar os olhos para não ficarmos cegos. Um caco fez um corte profundo em minha coxa, ardendo em brasas. Fiz o máximo que pude para não gritar de tanta dor, mas não conseguia me mover.

-Por favor, nos ajudem! Tem duas pessoas presas lá o carro, feridas. -A voz de Hana atingiu os meus ouvidos. 

-E uma gata. -Kayla acrescentou. 

-Está bem, vamos ajudar vocês a tirar eles de lá. May, venha, elas estão feridas! -Uma voz masculina disse. 

-Acha prudente mostrar o... Talento de May só por eles? Nem os conhecemos. -Dessa vez era uma garota falando.

-Ou eles podem morrer, Roxanne. -Outra garota disse, e ouvi passos correndo em nossa direção. Uma menina de olhos esverdeados e cabelos loiros entrou, e colocou a delicada mão em cima do meu machucado. Imediatamente senti minha pele se juntar lentamente, a carne se regenerar com rapidez. Eles eram como nós. 

-Vocês também estão fugindo dos homens de terno, não é? -Perguntei, arregalando os olhos. Ok, agora choviam alíens por todos os cantos. Ela me olhou surpresa, antes de assentir com a cabeça, já indo curar os cortes mais superficiais na minha pele quando a impedi. -Já consigo me mover, não desperdice sua energia comigo.

-Está bem, vou ir ver se a que garota do banco de trás tem algum machucado sério. -May disse, antes de sair do carro, me dando passagem para sair. Engatinhei, tomando cuidado com os cacos maiores, e quando finalmente consegui sair, Emily e a sua gata inseparável saiam do carro com ajuda de May. Segundos depois que ela saiu o carro tombou para o lado, o monte de metal e vidro caindo pelo ar. Ótimo, tínhamos perdido um carro. 

-Que bom que eu já tinha pego a minha mochila! -Kayla comentou, parecendo bastante satisfeita, abraçando a bendita mochila.

-Roxanne, Zac, eles são como nós! -May disse, sorrindo. -São E.Ts! 

-Beleza, quantos seres não terráqueos tem por aqui? Cinquenta? Cem? Duzentos? -Hana bufou, e percebi que ela não salvara os óculos escuros. Graças á Deus, ninguém tinha feito nenhum comentário sobre seus olhos.

-Antes disso, temos que sair logo daqui. Tudo isso vai atrair a atenção da polícia, e dos homens de terno. -Emily falou, franzindo a testa. Concordei com a cabeça.

-Bem, o nosso carro não está nos melhores estados, portanto, estamos presos aqui. E como podemos saber que vocês são mesmo como nós? -Roxanne questionou, estreitando os olhos.

-Deixa que eu faço isso. -Hana foi lá e deu um pequeno choque na garota, cuja o rosto eu não conseguia ver muito bem pela pouca iluminação do lugar. 

-Eu acredito. -A vítima do choque suspirou. -Mas ainda, como vamos sair daqui? 

-Deixa eu procurar alguma coisa. -Kayla se sentou no chão, pegou um dos cadernos dela e começou a passar as páginas como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. O trio ficou com uma cara de "essa menina é louca" que deu vontade de rir. -Eu não acredito que aqui só tem uma Ferrari vermelha, acho que um Gol prata é muito mais bonito, mas vou ter que me contentar com isso mesmo. -Ela se lamentou, e em seguida fechou os olhos, mordendo o lábio inferior de concentração. Dois minutos depois, uma Ferrari vermelha surgiu na nossa frente. 

-Eu vou dirigir. -Zac sorriu e foi para o banco do motorista. May foi para o do passageiro, e o resto de nós teve que se espremer atrás, cinco pessoas. Hana colocou a cabeça em meu colo, bocejando, e encostei a minha cabeça na janela, deixando-me levar para o mundo dos sonhos, o único lugar onde conseguia escapar da realidade.


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