Extraterrestres -interativa escrita por Lucy


Capítulo 14
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Zachery O' Brian

Eu estava na frente de um motel de beira de estrada, tentando achar outra alternativa para descansar que não fosse entrar ali dentro. Era uma casa de dois andares, a pintura branca descascava, a placa em que estava escrito "MOTEL" piscava, como se a qualquer momento fosse apagar de vez. 

Suspirei, passei a corrente na minha moto (eu era cuidadoso), e entrei naquele lugar asqueroso. A recepção era média, as paredes de madeira, um homem de cabelos grisalhos cuja os óculos deslizavam pelo nariz oleoso á todo o segundo se encontrava contando o dinheiro calmamente, passando as notas da mão direita para a esquerda. Um abajur iluminava fracamente o ambiente, e eu podia ouvir gemidos vindos do andar de cima. Nem queria pensar no que eles estavam fazendo, embora fosse normal pelo lugar onde eu estava.

Andei até o homem, e pigarreei, anunciando a minha presença. Ele pulou de susto, e guardou o dinheiro todo dentro de uma caixa, a colocando debaixo de um monte de jornais velhos depois. O velho sorriu, mostrando uma fileira estreita de dentes amarelados, seus olhos de contas fixos em mim. 

-Quanto custa uma noite aqui? -Perguntei, apertando com mais força a alça da mochila. 

-Trinta dólares. Mas onde está a sua garota? -O homem perguntou, limpando as palmas das mãos na calça. A sua garota... Espera, ele não achava mesmo que eu...

"É claro que ele achou isso" pensei silenciosamente, "é por esse motivo que as pessoas vem aqui"

-Eu estou lhe pagando. Isso não é da sua conta. -Coloquei as notas na mesa, o que me deixava com exatamente dois dólares e cinquenta centavos. Acho que o máximo que eu poderia comprar com aquilo era um salgadinho daqueles de pacote. 

-Está bem. -O velho pegou o dinheiro, estreitando os seus olhinhos minúsculos para mim. 

-Uma noite, por favor. -Disse uma voz feminina atrás de mim. Me virei, e vi uma garota que devia ter mais ou menos a minha idade, alta, os olhos azuis gelo em contraste com a pele e os cabelos mais escuros.  Ela tinha feições de boneca, no entanto, sua expressão era safada. Ela passava para o homem vinte dólares com a mão pequena, os dedos longos e finos.

-Claro, boneca. Qual é o seu nome? -Ele nem mesmo olhou para o dinheiro que ela lhe dava. Escutei o som de um carro estacionando, porém, o ignorei, achando que não era nada demais.

-Roxanne. -A menina disse, seca. Peguei as chaves do meu quarto, e já ia subir pelas escadas quando ouvi outra voz vinda da entrada. Olhei por cima do ombro, movido pela curiosidade, e observei uma menina loira, os olhos esverdeados, as bochechas levemente coradas. Ela usava botas marrons de cano alto, os jeans descoloridos, ela tremia de frio, apertando com força os braços cobertos por uma blusa xadrez azul e branca, com uma camisa negra de gola alta por baixo. A ponta do seu nariz estava vermelha, como a de um coelho. 

Olhei pela única janela do local, e paralisei. Um carro negro, com os vidros espelhados estava estacionado do outro lado da rua. O mesmo carro em que os homens de terno e óculos escuros usavam. Mas eu tinha verificado, não tinha nada lá. Espere, o som do carro estacionando... A garota entrando logo depois...

Será que ela era uma agente disfarçada? Quer dizer, quem iria suspeitar de uma inocente menina que só quer um lugar para passar a noite? Alguém tão frágil e indefesa... E quando eu dormisse, ela arrombava a porta, atirava em mim, e trabalho feito! Eu estava muito bem morto. 

Roxanne passou por mim, porém, eu nem liguei. Estava totalmente concentrado na loira de olhos esverdeados que eu tinha certeza absoluta de trabalhar para os homens de terno preto. Por fim, subi os degraus com velocidade, e fiquei esperando nas sombras, atrás de uma coluna onde passava parte do sistema de encanamento, pois eu conseguia ouvir a água caindo ao meu lado. Atrás de mim estava a porta de um quarto, que eu esperava com todas as minhas forças estar vazio. Não queria ninguém ouvindo a pequena conversa que eu iria ter com aquela agente disfarçada de meia tigela. Teria sido mais inteligente da parte dela usar um outro carro, ou disfarçá-lo. 

Ouvi passos subindo a escada, que rangia a cada degrau. Eram botas, eu conseguia reconhecer o som. A menina surgiu, uma chave em uma das mãos, as longas mechas douradas que brilhavam como ouro, lhe dando uma aparência angelical, caindo sobre os seus ombros com leveza e sutileza. A boca carnuda e avermelhada tremia, eram tão vermelhas que parecia que ela tinha comido dois morangos para ficarem daquele estado. A sua aparência, por algum motivo que ainda não compreendo, somente atiçou ainda mais a minha raiva. Tive que me controlar para não causar m terremoto ali mesmo.

Peguei seus braços, a prendi contra a parede, e tapei sua boca com a minha mão. A agente olhava para mim de olhos arregalados, cheios do mais puro terror. Quanto fingimento e falsidade, ela deveria ter vergonha de ser tão duas caras. Eu geralmente não fazia aquilo com garotas, na verdade, odiava me meter em qualquer tipo de briga, entretanto aquilo era diferente.

-Muito bem, aquele carro espelhado é seu? -Perguntei, trincando os dentes. A garota fez que não com a cabeça. -Mentirosa. Eu sei que trabalha para os homens de terno. Ouvi você estacionando o carro lá fora, sua agente descarada. -Ela fez um gesto para que eu destapasse a sua boca. -Vou deixar você falar, mas se gritar, irei fazê-la se arrepender.

Tirei a minha mão de cima da boca dela lentamente, com cuidado. A loira respirou fundo, e começou a contar tudo o que acontecera com ela, detalhe por detalhe. Descobri que a menina se chamava Maysilee Cupper, tinha dezesseis anos, morava em Springfield, os homens de terno também a tentaram pegar, e que ela roubara o carro deles para fugir, tinha o poder de curar as pessoas, e por último que era adotada, como eu. 

Tenho que dizer, depois de ouvir toda a história dela, fiquei um pouco envergonhado com a minha atitude agressiva. Porém, eu precisava de provas concretas para acreditar nela.

-Tudo bem. Como pode me provar que tudo o que acabou de dizer para mim é verdade? -Perguntei, um pouco mais calmo. Ela pegou a palma da minha mão, que estava arranhada, e estrelaçou com a sua. De ínicio, não entendi, mas senti um formigamento na pele, e soube que Maysilee estava me curando. Quando soltou a minha mão, percebi que estava novinha em folha, não restava nem uma cicatriz. -Quer vir comigo procurar outros como nós?

-Claro. Se existe eu e você, quem garante que não tem outros? -Ela sorriu, e percebi que não estava nem um pouco machucada. Deveria ter se auto regenerado.

-Eu vou junto. -A porta do quarto atrás de nós se abriu de supetão, revelando Roxanne. -Os homens de terno também vieram atrás de mim. Estava ouvindo a conversa de vocês o tempo inteiro. 

-Por mim tudo bem. -Maysilee disse, e eu sorri, concordando. -Vamos partir amanhã. -Roxanne entrou de volta no seu quarto, bocejando, e Maysilee já ia fazer o mesmo quando a impedi.

-Olha... Me desculpe pelo modo como tratei você... -Comecei, meio envergonhado, meu rosto quente, mas ela me cortou.

-Tudo bem, eu te perdôo. Também, o que mais você iria pensar? Agora somos parceiros, não fique remoendo o passado. Temos que ajudar uns aos outros. -Ela deu de ombros, e entrou no seu quarto, que ficava á apenas duas portas de distância de Roxanne.

Agora eu tinha duas parceiras.


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