[Narrador]

Em uma súbita escuridão criada pela longa floresta, Lisa percorria pelo terreno em aclive, passando nos lugares estreitos das árvores, onde quase nenhuma iluminação entrava. Ela tinha como objetivo, descobrir se era verdade ou não a conclusão de Nycry, se o esconderijo deles seria então a floresta, ou perto das montanhas. Em sua opinião, a floresta parecia um lugar mais calmo para os vampiros, onde teriam o sereno da noite para desfrutar e atacar mais e mais pessoas. Ainda correndo pelo local, desviando das árvores à sua frente, ela diminui um pouco os passos, um suave som produzidos pelo contado de seus pés nas folhas secas no chão era a única coisa que conseguia ouvir. "Será que tem alguém aqui mesmo? Ou todos nós estamos errados?" Pensamentos de dúvidas começavam a fazer um breu em sua mente. Pouca gente ia pela floresta de Ranchou pelo fato da prefeitura estar preservando a natureza, então eles fecharam esse lugar, privando a entrada. Segundo Nycry, por ser uma área meia que "abandonada", ele acha que possa ser um ótimo lugar pra se esconderem, mas para isso ser uma verdade, os vampiros teriam que ter achado a resposta para isso, como eles saberiam que lá seria O melhor lugar? Eles teriam que ter obtido a informação de algum jeito, e era esse jeito que incomodava Nycry, porém ele não sabia que isso afetava mais Lisa do que ele, ela estava muito abalada e curiosa, tanto que resolveu deixar a paciência de esperar pro lado e invadir a área restrita sozinha. O sereno estava deixando sua pele úmida, quando ela se sentiu mais fria do que antes, ela parou, e prestou atenção no silêncio, ela estava com algum pressentimento que poderia achar a resposta daquele problema todo, ela abaixa a cabeça para refletir e consegue perceber uma pegada nas folhas que estão no chão, ela se abaixa e tem a conclusão de que alguém passou por aqui recentemente, mesmo suas pernas tremendo de medo, ela não se deixa levar pela escuridão e continua seguindo em frente, olhando sempre pelas pegadas.

Depois da caminhada pela floresta, Lisa estava agachada atrás do arbusto e seu olhos arregalaram quando ela viu uma pedra grande, e abaixo dela um buraco.

– Isso pode ser uma caverna! - Ela pensou alto, sua voz estava tão baixa que ninguém seria capaz de ouvi-la. - Talvez a teoria do Nycry esteja certa. - Ela se afasta um pouco para trás. - Agora só preciso voltar para eles e... - Nesse momento, ela começa a ficar tonta, sua visão fica escura aos pouco e ela perde o equilíbrio, caindo para trás. Ao tentar se esforçar ela consegue enxergar um homem, com suas mãos fechadas e observando ela, então tudo fica escuro.

~~

Leo estava observando a lua, ele sentia saudades do sol, a única luz que ele podia sentir era a luz a noite. Enquanto sentava num toco de árvore olhando para cima, Mariana vem correndo em sua direção.

– Leooo! - Ela grita, se aproximando aos poucos.

– Ah, oi Mari, melhorou? - Ele sabia que ela teve uma perda tremenda, que o Zenier havia morrido.

– Você sabe se o Zenier ressuscitou? Ou se acharam o corpo dele? - Ela parecia mais calma em relação esses dias de desespero.

– Desculpe Mari... - Ele não sabia como responder. - Eu pedi ajuda para alguns de nossos amigos mas ninguém conseguiu achar o corpo dele, nem eu... e em relação a ele ter ressuscitado eu não sei... - Mariana abaixa sua cabeça, algumas lágrimas desceram pelo seu rosto, mas logo ela se recuperou, limpando o mesmo.

– Entendo... acho que vou ter um pequeno problema com o Richard né?

– Eu não sei, por quê? - Por fora Mariana estava calma, mas em relação ao Richard, ela estava com medo.

– Ele falou que eu tinha que ficar de olho no Z... Eu que tinha que mata-lo... mas eu deveria trazer o corpo dele são e salvo pro Richard... não foi o que aconteceu... - Ela fica nervosa. - Alguém pegou o corpo dele, impossível ter sumido desse jeito.

– Ah Mari, eu entendo como se sente. - Leo troca de assunto para distrair um pouco. - Antes de me tornar um demônio eu também perdi pessoas preciosas. - Leo faz um esforço para não chorar ao lembrar de seu passado, logo com a voz seca dele, Mariana esquece sua preocupação e fica curiosa sobre o que ele tinha para falar.

– O que aconteceu? - Logo ela se toca. - Ah me desculpe, se não quiser não precisa falar.

– Que nada, é que eu acreditava demais em Deus, e ele simplesmente me abandonou! Como fez com todos nós. - Mariana ouvia atentamente suas palavras enquanto sentava ao seu lado. - Eu tive uma namorada, o nome dela era Sabrina, eu a amava demais, muito mesmo, a ponto de dar minha vida por ela, mas um dia... Ela adoeceu e acabou morrendo, eu entrei em depressão, e na vila onde eu morava ninguém sabia o motivo, foi o pior dia da minha vida. - O som do silêncio tomava conta dos seus ouvidos.

– E como você virou um deles?

– Depois de alguns dias eu peguei um resfriado, e quando eu percebi, estava morto. - Ele da uma pequena risada. - Mas só depois quando ressuscitei eu lembrei o que aconteceu comigo.

– E o que era?

– A Sabrina, ela tinha voltado para me buscar. Nessa hora eu pensei que Deus havia dado a nós mais uma chance de ficar juntos, mas eu estava enganado. No dia seguinte algumas pessoas invadiram nosso esconderijo e mataram quase que todos nós, e sabe o que mais doeu em mim? Sabrina foi morta na minha frente.

– Me desculpe... - Mariana sentiu a dor em seu coração no que acaba de ouvir, e de uma certa forma, tinha pena do Leo.

– Tudo bem. - Sua voz parecia que o choro estava preso em sua garganta. - Já passou, mas depois conseguimos fugir e montar um novo esconderijo, como você pode ver, e depois disso tudo que aconteceu, eu não acredito mais em Deus, na verdade não é só eu, como todos os outros também não acreditam. - Ela de uma forma, concordava com Leo, já não tinha mais fé em Deus como antes, Mariana acreditava que se Deus existisse, nada disso teria acontecido.

– Mas você sabe o porquê isso tudo aconteceu ? E como começou?

– Cara, a única coisa que sei é que veio da nossa rainha, agora como começou eu não sei.

– Valkiria não conversa com você e os outros não?

– Não... Ela sempre está no seu quarto escuro, sendo alimentada pra sobreviver para gerações futuras. Os únicos que tem contato com ela são os Guardas reais. - Mariana fica paralisada.

– Guardas Reais?

– São os vampiros mais fortes do nosso acampamento, e eu só conheço dois deles, que são o Richard e a Celly. - Mariana fica com dúvida.

– A Celly ? O que ela tem de mais...? - Ela lembra que no primeiro dia que encontrou com Celly ela tinha dito "...posso ficar acordada durante o dia e andar embaixo do sol..." – Os Guardas Reais possuem habilidades que nenhum de nós temos?

– Isso, como andar debaixo do sol como se fosse um humano normal. - Ela já esperava essa resposta. - E sabe o que é engraçado? - Ele coloca novamente um sorriso no rosto. - Só existe quatro vampiros que possuem essa capacidade, eles são muito raros, mas Valkiria está procurando novas pessoas que possam ser de ajuda para ela.

– Então todos nós iremos matar e matar mais para achar essas pessoas?

– Sim e não, não é só isso, também é para nós podermos sobreviver e ter uma viva normal.

– Leo, não tem como ter uma vida normal. - Eles se encaram, Mariana falou uma verdade que apertou o coração de Leo, mas ele tenta não senti tristeza e ignora seu comentário. Leo foge do olhar dela e sobe para o céu, observando novamente a lua.

– A lua está bonita hoje né? - Mariana também se direciona para cima, e com algumas lembranças de sua vida anterior, ela responde:

– Sim, muito linda...

~~

A escuridão predominava o pequeno local onde Richard arrumava alguns papéis em sua mesa, o lugar onde estava tinha pedras em todos os lugares, paredes e tetos rochosos e apenas uma abertura para a saída desse cômodo, era um verdadeiro ninho de formiga. Um dos papéis que chamou sua atenção foi um atestado de óbito. Ele apenas passou o olho rapidamente e misturou com os outros papéis.

– Senhor Richard? - Jasmie adentra a sala, dando leves passos enquanto sua mão estava na parede da entrada.

– Sim Jasmie, aconteceu algo?

– Eu observei cada passo de Mariana, ela encontrou o Zenier e deixou-o vivo durante um tempo. - Richard olha estranho para ela, ela percebe que a autoridade não gostou nada do que ouviu. - Mas depois de passar alguns dias, ele veio a falecer. - A suposta raiva de Richard sumiu.

– E o corpo dele, vocês desenterraram ?

– Então... o corpo dele simplesmente desapareceu. - Os olhos de Richard ficaram vermelhos.

– Como assim desapareceu ?? Mariana depois de ter matado Zenier não pegou o corpo por quê?? - Ele gritava, mas no lugar onde estavam ninguém conseguiria ouvi-los.

– Quando ela o matou, deixou escondido o corpo perto da lagoa, quando ela foi embora eu fui verificar, e tinha simplesmente sumido senhor. - Richard com raiva estraçalha a pequena mesa de madeira, onde quebra-a no meio, as folhas foram espalhados pelo chão. O barulho foi tão grave que ecoou pela caverna toda. Isso foi suficiente para que a raiva e o constrangimento de Richard sumisse.

– Jasmie... presta atenção. - Nesse momento, Jasmie deixou de lado o que estava pensando e se concentrou apenas nas palavras dele. - Quero que você vigie Mariana e não deixa-a sozinha, sempre fique de olho nela, e se ela interagir com um humano novamente, quero que você me informe imediatamente, entendeu? - Sua voz grossa assustava um pouco Jasmie.

– Entendido senhor. - Eles trocaram mais alguns olhares. - E senhor, tenho mais uma coisa a lhe dizer.

– Diga. - Jasmie estava com medo de falar o que tinha a dizer, mas era extremamente necessário que essa informação chegasse a um dos Guardas Reais.

– Ele... - Sua voz travava sempre que tentava pronunciar a frase. - E-Ele está de volta... Eu encontrei com o Lauph...