Todos estavam desesperados. Andavam de um lado para o outro, roíam unhas… Eliane deixava algumas lágrimas lhe escorrerem pelo rosto, enquanto Gary as limpava. May abraçava Drew, enquanto Max e Brock roíam unhas, desesperados.

     Ash caminhava de um lado para o outro, bagunçava ainda mais o cabelo… não sabia o que fazer.

     Uma hora. Já fazia mais de uma hora que a Enfermeira Joy estava com a ruiva no quarto. Estavam cada segundo mais preocupados, até que a maçaneta abre.

     Todas as cabeças viraram automaticamente em direção à porta. Brock e Max pararam de roer suas unhas, mas o desespero continuava em seus olhares. A rosada sorri.

JOY: Ela vai ficar bem – todos suspiram aliviados ao mesmo tempo. Brock e Max já nem tinham mais unhas para roer.

     Eliane levantou e antes que qualquer um pudesse fazer algo ela se trancou ali dentro. Hobbye olhava apreensivo para a porta, mas agora com um sorrisinho no canto da boca.

     Misty descobrira a verdade graças a ele. Então ela não iria querer ficar com nenhuma pessoa senão o mesmo, afinal, fora ele quem lhe revelara a verdade. E ela sempre amou a verdade.

     Dentro do quarto as duas se encaravam. Os verdes esmeraldinos de Misty demostravam uma mágoa sem tamanho, enquanto os olhos verdes esmeraldinos de Eliane demonstravam uma preocupação ainda maior.

ELIANE: Mistika… olha, eu…

MISTY: Não me chama assim Eliane… por favor – os olhos de ambas estavam cheios de lágrimas, algumas já caíam. Elas eram mais irmãs do que primas.

ELIANE: Eu que peço… prima. Olha sei que eu devia ter te contado, mas – os olhos da garota transbordavam, assim como os de Misty – eles não deixaram e…

     Não havia palavras. Pelo olhar Misty a perdoou e ela correu, abraçando a prima que se sentou na cama, recebendo melhor o abraço de Eli.

MISTY: Eli…

ELIANE: Mistika… não importa o que vai acontecer ok? Vou estar com você, pra sempre.

MISTY: Pra sempre.

     No lado de fora, os amigos da ruiva andavam de um lado pro outro, Brock e Max voltaram a roer as unhas já ruídas, Ash voltou a andar de um lado para o outro, May continuava tensa no colo de Drew e Hobbye ainda mantinha o sorrisinho no canto dos lábios. Sorrisinho que já estava irritando profundamente Ash.

     Eliane abriu a porta, mas não saiu. May pulou do colo do namorado e invadiu o quarto antes que alguém o fizesse. Max e Brock a seguiram, mas antes que Ash conseguisse se mover, Eliane trancou novamente a porta.

     O moreno se atirou no sofá ao lado de Drew. Jogou a cabeça para trás e colocou as mãos em frente aos olhos.

ASH: Eu estraguei tudo Drew! Tudo mesmo – ele murmura. As lágrimas voltaram aos seus olhos, mas não receberam a permissão para sair.

DREW: Realmente Ash. Você estragou absolutamente tudo – ele concorda com o amigo que apenas afunda mais no sofá. Hobbye abre um mínimo sorrisinho satisfeito – mas pode mudar isso. Vocês se conhecessem desde quando?

ASH: Desde os meus dez anos e os onze dela – ele murmura automaticamente. Conhecia essa resposta de cor.

DREW: Nossa… quanto tempo – ele fala pensativo – vocês se conhecem bem cara. Então deve saber o que fazer para que ela fique bem com você.

ASH: Exatamente Drew. A gente se conhece muito bem. Então eu sei que é uma missão incrivelmente complicada fazer ela voltar a ser a minha amiga… principalmente quando eu não quero que ela seja apenas isso – ele fala frustrado, cuspindo as palavras.

     Estava com tanta raiva de si mesmo que a mão já coçava para bater. Bater nele mesmo. Pois isso é exatamente o que acontece com quem mente para a ruiva. Apanha do Ash. Mas e quando é o próprio Ash que mente para ela e a magoa?

     Ele não achava resposta para essa pergunta. Uma lágrima lhe escapa dos olhos, mas o moreno a limpa antes que ela possa ser percebida por um deles.

     May encarava a amiga receosa, mas a ruiva mantinha o olhar em Brock que se via em um beco sem saída. Os olhos esmeraldinos dela sempre foram uma perdição para qualquer pessoa. Mentir os olhando é considerada uma missão impossível.

MISTY: Brock… sai daqui – ela o olha de forma fria. Havia tanta mágoa em seu olhar.

     Tanta mágoa que o moreno se sentiu um lixo. Como pudera se prestar a isso? Eles prenderam a amiga em uma teia de mentiras que ia aumentando cada vez mais.

BROCK: Myst – ela fechou os olhos, uma lágrima lhe escorreu pela bochecha, mas logo foi limpada por ela – desculpa.

MISTY: Acha que é tão simples? – ela senta-se frustrada – acha que é só pedir desculpas que vai ficar tudo bem? EU CONFIAVA EM VOCÊ – ela grita com as lágrimas agora lhe escapando continuamente pelos olhos – eu confiava – ela sussurra.

     O moreno vai até ela e a abraça. A ruiva agarra-se a ele bem firme, tentando expulsar tudo o que sentia. O perdoou. Como não? Afinal a culpa não fora dele. Sempre conseguiria perdoá-lo. O verdadeiro culpado nisso tudo era Ash. Mas mesmo assim ela não conseguia ficar irritada com o moreno.

BROCK: Desculpa, por favor, desculpa – ele também chorava. Max foi até o lado de May, que olhava a cena com os olhos um pouco arregalados. Não conhecera a verdadeira Misty. Apenas o que acontecera com ela depois. A Misty que tentou ser perfeita.

     A ruiva não respondeu, apenas o apertou mais forte e ele soube que estava perdoado. Limpou suas lágrimas. Afastou-se da ruiva e limpou as delas também.

MAY: Misty – a morena começou incerta – olha, eu sei que…

     Mas foi interrompida pela ruiva que levantou da cama e a abraçou. May correspondeu, mesmo sem saber o motivo de ser recebida por um abraço.

MISTY: Você foi uma grande amiga May – ela se afastou da morena. A olhava com um sorriso, mesmo que as lágrimas ainda estivessem presas em seus olhos. O rosto já vermelho – e eu te agradeço por tudo. Faria a mesma coisa que você, afinal a gente nem se conhecia, mas mesmo assim você me tratou super bem. Todos vocês – ela olhou para Max e abraçou o pequeno também, que correspondeu.

     Todos estavam incrivelmente assustados com a reação da ruiva. Menos Eliane que apenas sorriu. Era bom ter a velha prima de volta.

MAY: Pode contar comigo sempre amiga! – May a abraçou e Eliane pulou entre elas. As três riram. Uma forte amizade estava nascendo ali.

     Brock e Max saíram. May ficou um pouco mais, mas logo foi embora também. Cada passo deles era observado por um certo moreno de olhos castanhos, vermelhos no momento.

HOBBYE: Acho que é a minha vez – ele se aproximou da porta. Ash nem se mexeu. Seria o último.

     O moreno de cabelos arrepiados entrou e Misty o encarou de forma duvidosa. Não gostara da forma como ele contou a ela a verdade, mas também era o único que fora sincero com ela.

MISTY: Hob.

HOBBYE: Mis! Nossa como eu fiquei preocupado com você – ele se aproximou cautelosamente. Ela sorriu e ele sentou-se na cama. Ela cruzou as pernas.

MISTY: Obrigada por me contar a verdade Hob, mas… não precisava ser dessa forma – ela murmurou.

ELIANE: Vou deixar vocês a sós. Qualquer coisa grita Mis. Vou tentar segurar a praga do Ash por algum tempo, mas do jeito que ele estava preocupado com você daqui a pouco arromba a porta – Misty solta um sorrisinho. Era verdade. Verdade… algumas lágrimas lhe invadiram os olhos, mas ela não as derramaria. Ainda não.

     Ela fica em silêncio e Eliane lhe deposita um beijo na testa, saindo logo em seguida.

HOBBYE: Eles não deixavam que eu me aproximasse de você. Eu sempre soube que ele não era o seu namorado. Se fosse você teria me contado!

MISTY: Não foi o que pareceu no hospital – ela murmura, mas assim que as palavras saem de sua boca a ruiva deseja que voltem.

     Começara um assunto que ela não queria falar. A declaração dele. Isso não era um bom assunto.

HOBBYE: Eu fiquei muito triste e não raciocinei Mis! Mas agora que você recuperou a memória e aquele mentiroso não pode mais te enganar nós…

MISTY: Hobbye – mesmo que Ash tenha feito muita merda, ela sempre fora a única que poderia ofendê-lo. Mais lágrimas presas nos olhos ao pensar nisso – eu acabei de recuperar a memória. Descobri que a pessoa que eu mais confiava no mundo inteiro me enganou – uma lágrima escorre. Lágrima que logo é limpa pela ruiva – não estou com cabeça pra isso, desculpa.

HOBBYE: Não, eu entendo tudo bem. Claro… só… pensa com carinho tá? – ela assentiu. Ele tentou beijá-la, mas a mesma virou o rosto e recebeu um beijo na bochecha.

     Ela olhou para o lado e ele saiu do quarto. Ash andava impaciente de um lado para o outro, deixando os presentes tontos.

BROCK: Quer ficar parado no lugar? Eu já estou tonto Ash.

ASH: Não dá – ao ver Hobbye o olhando com um sorrisinho cínico no rosto ele ficou cheio de raiva.

     Passou pelo moreno esbarrando de propósito nele e entrou no quarto, trancando a porta atrás de si.

     Mal o barulho da fechadura foi ouvido, o som de vidro se quebrando sobre a porta se fez presente. Os amigos pularam de susto.

MISTY: SAI DAQUI IMBRCÍL! – mais barulho de coisas sendo atiradas.

     May, Eliane, Max, Drew, Gary e Hobbye olhavam de olhos arregalados para a porta. Será que Ash sairia vivo dali?

     Para a surpresa de todos, Brock começou a rir.

GARY: O Ash vai sair vivo dali?

BROCK: Vivo vai – ele ri um pouco mais – mas com muitos hematomas.

     Eliane faz um sinal negativo com a cabeça e ri um pouco, mas não muito. A tensão no ambiente era grande e a presença de Hobbye não ajudava em nada.

ASH: Calma Myst! – ele se esquiva de um travesseiro – eu só quero conversar.

MISTY: Vai embora – as lágrimas ainda presas.

     Ficaram se encarando por alguns segundos. Havia tanto para falar e as palavras pareciam fugir. Os olhos marejados de ambos estavam ainda mais perceptíveis.

ASH: Eu não vou pedir desculpas. Eu o faria se me arrependesse, mas não me arrependo – ele começa devagar – eu me arrependo de não ter te contado antes de você descobrir a verdade desse jeito, mas… não me arrependo de nem um segundo que passamos juntos.

     Ele fala baixo, mas cada palavra parece penetrar na alma da ruiva. As lágrimas já caíam e ela nem tentava impedi-las.

MISTY: Sabe Ash – a voz estava embargada pelo choro – eu teria imaginado isso de qualquer pessoa. Não ficaria nem um pouco surpresa se Hobbye fizesse isso. Ou qualquer outro, mas você – mais lágrimas – você nunca. Não você. Eu te confiaria a minha vida. Sei que a única parte que foi mentira, foi o namoro. A mais importante né? – ela olhava para o teto. Não tinha coragem de encará-lo.

ASH: Myst…

MISTY: Não. Deixa eu falar.

     Ele ficou em silêncio.

MISTY: Nós passamos por tudo… tudo que é possível passar. Nos sujamos em festas – eles riram um pouco. O brilho das lembranças se misturava às suas lágrimas – rolamos na lama, brigamos por causa de uma pokebola, rimos da cara um do outro e já batemos em muita gente pra proteger um ao outro também. Eu pensei que te conhecia melhor que qualquer outra pessoa. Pensei que conhecia você melhor que a mim mesma.

     Ash continuava em silêncio. As lágrimas escorrendo pela bochecha.

MISTY: Eu… jamais pensei que você pudesse me enganar desse jeito – tomando coragem, finalmente o observou – por que você? Se fosse qualquer outro agora eu estaria P da vida gritando aos quatro ventos que iria matar quem quer que fosse. E você estaria do meu lado, jurando morte a quem quer que fosse o desgraçado. Mas eu não consigo. A única coisa que consigo fazer é chorar. Chorar que nem uma idiota por ter pensado que era real.

     Misty já se desfazia em lágrimas. Soluçava alto.

ASH: Misty… eu sei que parece que eu fui um monstro. Eu penso que… eu quero me encher de pancada agora, por que é o que eu faria com qualquer outro, mas…

MISTY: Fala mais nada não Ash. Vai embora e tenta me esquecer.

ASH: Como?

MISTY: Não sei, só… me esquece. Finja que eu fui embora pra bem longe e guarda apenas os nossos momentos bonitos. Finja que isso que nós passamos foi um sonho.

ASH: Eu não consigo. Eu quero ficar com você. Perto de você.

     Cada palavra entrava na alma dela e a mesma apenas chorava. Impossível. Impossível o amar assim.

MISTY: Só vai embora – ela soluça – por favor, Ash. Vai embora.

ASH: Eu vou, mas nem pense que isso acabou. Nunca vai acabar até você me dizer olhando nos meus olhos que não significou nada pra você.

     Ela fica quieta e o moreno se aproxima. Ela tenta se afastar e ele a beija. Precisava guardar o gostinho doce da boca dela. Esse gostinho de Misty. Invadiu a língua na boquinha deliciosa dela e a mesma não resistiu. Eles se abraçavam e o beijo tinha gosto de saudade.

     As lágrimas de ambos se misturavam ao beijo e quando se separaram Misty não conseguia o encarar. Sentia-se suja e ao mesmo tempo o coração pulava a mil. Sua mente lhe dizia que era errado, mas seu coração a mandava pular os braços dele e não o deixar partir nunca mais.

     Ele aproximou-se novamente e sussurrou-lhe no ouvido.

ASH: Eu te amo.

     Depois saiu do quarto. Não falou com ninguém. Já chorava quase compulsivamente. Pikachu pulou em seu ombro e limpava as lágrimas do dono, sem sucesso. Ash trancou-se no quarto, enquanto Brock gritava seu nome atrás de si.

     Eliane e May invadiram o quarto da ruiva e o trancaram.

     Os meninos suspiraram e perceberam que não valeria a pena ficar ali. Cada um foi para um quarto pensando no que acontecera. Em seu quarto, Ash apenas conseguia chorar.

Continua…