Não sabia onde estava.

Era uma enorme sala.Havia cinco cartas à frente,cada uma levaria-me para um mundo diferente.

Sequer tinha uma preferida.Na minha mente,passavam-se algumas cenas dos meus momentos com cada um deles.

Suspirei.Não poderia demorar muito.Queria ouvir o meu coração,mas tudo o que aconteceu foi ficar mais indecisa ainda.

Minha mão,mesmo que trêmula,ameaçou tocar em uma das escolhas.

De repente,um clarão cegou-me por alguns segundos,sem perceber,esbarrei com meus dedos gelados em algum dos papéis.

Quando finalmente abri os olhos,minha visão ficou pouco embaçada.

Achei que estava em um bairro,pelo qual já passara.

Virei-me,conseguindo ver normalmente;ainda que um pouco tonta,fui capaz de reconhecer o prédio que estava atrás de mim.Era a minha casa.

Ouvia uma voz familiar um pouco distante.

-Ei!

-To...Toma?!

Ele se aproximava correndo.Quando chegou a mim,já estava sem fôlego.

-Ah...te achei...que bom que você está bem!-disse aliviado enquanto puxava-me para seus braços.

-Do que está falando?

-Naquela noite...em que te levei ao hospital...hoje fui visitá-la,mas você não estava em lugar algum...

-Eu...-não sabia como completar a frase.Não havia o que inventar.-estou melhor agora...

-Não vamos falar disto aqui...tá?

-Sim.

Estar junto ao Toma,sentir seu calor,sua voz...fez meu coração bater mais forte.

Não pensei em desculpas,apenas aproveitei cada segundo.

-Vamos.

-Hã?Para onde...?-perguntava enquanto meu punho era segurado fortemente.

-Você vai descobrir...-sorriu e levou-me pela calçada.

Mesmo sem falar qualquer coisa no caminho,sentia que ele estava aflito para dizer-me algo.

Recordava-me aos poucos dos lugares.Cada detalhe vinha como um flash em minha mente.

Parecia que estávamos chegando,pois os passos dele iam se encurtando.Ainda sim,não lembrava-me totalmente daquele local.

-Venha,vamos entrar...-convidou-me na porta de um edifício.

“Deve ser aqui o apartamento dele...não me recordo muito bem...”.

-Tá...

Subimos as escadas laterais e fomos até a última porta.

O número fixado na placa de metal trouxe-me uma cena na qual eu estava entrando com uma sacola bege.

Girando a fechadura,ele deixou seu celular cair.

-Eu pego...-assim que segurei o objeto,outra vez veio à minha cabeça uma passagem do Toma ligando para um de sus amigos em uma lanchonete.

-Aqui está...

-Tudo bem?Parece-me avoada...

-Não...eu só...estou pensativa...

-Entendo...deve estar chocada...venha...-pediu abrindo a porta.

-Claro...

Olhei para o canto do quarto e rememorei da jaula.

Um arrepio percorreu a minha espinha.

-O que foi?

-Nada.Na verdade...eu tenho a sensação de que você estava inquieto desde que me encontrou.Toma-kun...quer me dizer algo...?

-Sim.-afirmou batendo na cama,fazendo sinal para sentar-me-Por quê fugiu do hospital?

-...

-Você estava fugindo de mim,novamente?

-Não!Eu...

-Será que...-ele se aproximava de mim,fazendo-me inclinar tanto até acabar por deitar na cama.Só dei-me conta que Toma estava “em cima de mim” quando senti seu dedos tocando o meu rosto-eu terei que trancá-la de novo?Desta vez...não irei comportar-me do mesmo modo...

-Toma...eu...não fugi de você!

-Isto significa que não tem medo de mim?

Concordei fazendo “sim” com a cabeça.

-Então...pode dormir aqui hoje sem problemas,certo?-abriu um sorriso malicioso.

-Ok...só que...posso passar no meu apartamento antes?

-Não.Eu que fique aqui comigo até amanhã.

-É que...

Gradativamente abeira seu rosto ao meu,que corava violentamente. Até que nossos lábios selaram-se em um beijo.Senti a sua língua na minha boca e virei minha face para o outro lado.

-Pare com isso,por favor.

-Se não gosta é só me empurrar para longe...

Toma sabia que não teria coragem para fazer aquilo.Apenas,sobrava-me aceitar a situação.Por isso,ele continuou até eu ficar completamente ofegante.

Não posso evitar,estar tão próxima a aquele garoto,tirava-me o ar.

-Teimoso.

-Demorou para perceber?

-...

-Está com fome?

-Um pouco.

-Eu prepararei alguma coisa...

-Eu vou ajudá-lo.

-Não se preocupe com isso.

-Tudo bem.Eu também não devo deixá-lo com tudo.

Eu fiz um chocolate quente e o Toma os sanduíches.

-Pronto!Vamos comer?-empolgou-se o loiro.

-Vamos!

Estava olhando a chuva pela janela,assim que virei-me para Toma,o vi levando a xícara para a boca.

-Cuidado!Está muito quen...

-Ai!

-Desculpe-me!Devia tê-lo avisado antes...queimou-se muito?-desesperei-me passando meus dedos em se lábio inferior-o quê foi?Seu rosto está avermelhado!Deve ter te machucado muito.

-Pare de fazer expressões tão fofas ou irei perder o controle de mim mesmo...

-Tá!-concordei afastando-me.

-Ei!Não leve tão a sério...

-Des...desculpa...eu...não queria magoá-lo...

-Eu só irei te perdoar se...-pausou e aproximou-se-você prometer que...jamais vai ficar longe de mim...tá?

Beijou minha testa,enquanto abraçava minha cintura,pressionando-me conta seu corpo.Tentei afastá-lo,mas não resisti.

-Você está desconfortável?

-É que...estar com você me deixa nervosa...-murmurei.

-Isto é porque...-ele me pressionava cada vez mais forte-você tem medo de mim?

-Isto é prque...eu te amo,Toma.

Seus olhos ganharam um toque de luz,ele abriu um sorriso e suspirou.

-Como pode?

-Hã?!O quê?

-Você em tão poucas palavras,trazer-me tanta alegria?Eu...te amo...

-Toma...-corei.

Ele me osculou novamente,desta vez,mais confiante;sequer hesitou em qualquer momento.

Estava sem fôlego quando acabou.

-Hum?Já são onze e meia...você tem que ir para a universidade amanhã,certo?

-Sim...

Toma levantou-se e foi em direção ao seu armário.Abriu uma das gavetas e tirou uma camiseta e uma calça de moletom.

-Pode usar isto.-disse jogando-as em mim.

-Obrigada...

Fui até o banheiro e troquei-me.

-Pronto.

-Você fica fofa até assim...

-...

-Bem...vamos dormir?

-Vamos.

Olhei para o chão,não havia nenhum outro colchão.Ao concluir que teríamos que dividir a mesma cama,meu rosto foi avermelhando-se.

-Hã...Toma...nós...

-Hahaha!Não...eu vou pegar o colchão agora,tá?-ria.

-É que...

-Não se preocupe com isso...nós não...

Eu o interrompi puxando sua camiseta:

-Não...é que...não é como se...eu não quizesse dormir com você...

-O quê?!

-Não!Não é nada!

-Eu...eu não esperava que você diria algo assim,de novo.

-Como assim?

-Lembra que eu sempre deitei com você até conseguir dormir?Ah!Deixa para lá...provalvelmente você não...

-Lembro...

-Sério?!Por acaso,relembra da sua antiga casa?

-Sim...

-E...de seu nome?

-Acho que é...Nanami...Mo...Momiya Nanami...

Ele chorou um pouco enquanto abraçava-me.

-To..Toma...?

-Você...lembrou-se...Que bom!Estou tão feliz!Tão feliz!

Abraçando-me mais forte,suspirou e beijou a minha testa cariosamente.

Seus olhos brilharam mais do que nunca.

-Obrigada...

-Pelo o quê?

-Por estar tão contente por algo assim...

-...-corava-Vamos dormir...tá?

-Sim.

Ele já estava pronto.Deitei-me no canto da cama tranquila.

Tudo estava bem,até sentir o cobertor sendo puxado.

Toma deitou-se ao meu lado.

“Ahhhhhhhh!Vo...você vai mesmo fazer isto?!Não...calma...eu já dormi com ele antes...mas...naquela época não éramos adolescentes...peraí!No que estou pensando?!”.

Sem perceber,estava sendo abraçada pelo garoto,que nada falava.

-Hã...

-Hahaha...não se preocupe,não farei nada que não goste...

-...

Meu batimento acelerava a cada segundo,meu rosto corava e corava...estava prestes à explodir.

-Você está muito quente...está com febre?Eu vou pegar o termômetro...-falava levantando-se.

-Não..Toma!-o chamei em voz baixa enquanto segurava sua mão-Não...estou com febre...

-Então o que foi?

-...-virava-me para o outro lado.

-Hahaha!

-Qua...qual a graça?

-Você está nervosa?-ironizava se aproximando.

-...

-Você realmente está nervosa...

-Toma...

-Deixe-me ver seu rosto...

Ele segurou meu queixo e me encarou.

Os seus olhos dourados me intimidavam continuamente.

Avermelhei-me um pouco mais.

-Você está muito fofa...

(É...parece que eu fico muito fofa assim...achava que era alguma psicopatia do Shin...).

-Pare com isso...

Sorrindo,Toma desarrumou meus cabelos e mandou-me dormir.

Não lembro de muita coisa após isto...quando acordei ele já estava de pé na cozinha.

-Dormiu bem?

Concordei fazendo "sim" com a cabeça.

Tomamos o café da manhã juntos e fomos para a universidade.

Na entrada,ele se despediu e disse que voltaria para me buscar.

As aulas terminaram.Já eram 14:00 hs.

Estava no portão de saída,procurando-o com os olhos,mas ele não apareceu.

Já eram quase três da tarde.Resolvi voltar por mim mesma.

Virava a esquina quando o vi entrar em um beco com o Shin.

Corri na direção deles,cheguei a gritar seus nome,mas eles não ouviram.

Quando cheguei na entrada do lugar pude escutar a voz do loiro:

-Finalmente sozinhos,o que queria falar?

-Não finja que não sabe Toma!Você sabe muito bem do que eu quero conversar!

-...

-Até quando vai continuar com essa brincadeira?

-Eu...não sei a que se refere.

-Então serei mais claro...pare de brincar com a Nanami!Ela não merece isto!

Não conseguia acreditar naquelas palavras...Toma estava...brincando comigo...?