Não Pergunte, Apenas Não Me Esqueça... escrita por Anderson Vieira


Capítulo 6
Noite fria




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Assim que a lua se ascendeu, Lucy estava fora da casa enquanto o velhote preparava algo para o jantar. Lucy havia insistido em preparar a comida, porém ele fez questão. Querendo alguém para conversar, ela pegou uma de suas chaves de ouro e disse:

-Portão do leão, abra-te. Leo!

Leo, bem vestido como sempre e com seu jeito galanteador, segurou Lucy no colo quase que instantaneamente ao sair do portão celestial.

-Me solte! Disse Lucy envergonhada e com o rosto avermelhado. Por que você tem essas manias?

-Estou aqui para lhe servir, Lucy!

-Não me venha com essa. 

-E então, por que me chamou?

-Estou meio receosa com tudo isso. Apesar de ter vindo aqui esperando algo para solucionar, só vejo coisas boas e que não passam insegurança.

Leo olhou para Lucy de forma seduzente.

-Se está segura demais significa que temos uma chance de fazer algo diferente...

-O que quer dizer? Perguntou Lucy já prevendo a resposta.

-Você sabe muito bem, sabe que não resisto aos seus encantos, Lucy-chan.

-Pode parar por aí, te chamei para conversar e não para falar de coisas indecentes apenas...

Leo estava diferente naquela noite. Ele sempre estava dizendo coisas daquele tipo para Lucy, mas ele nunca demonstrava estar falando sério. Apesar das tentativas de sedução, suas palavras pareciam mais sinceras, como se o espírito quisesse possuir sua dona.

Lucy e Leo conversaram por horas, falando de como cada um se sentia ou o que estaria bom ou ruim para cada um. Nunca em sua trajetória como maga celestial, Lucy sentiu tamanha segurança ao falar com um de seus espíritos. Não era de se estranhar, afinal Leo já foi Loki. 

Leo se despediu de Lucy com um beijo na testa, o que a deixou particularmente envergonhada, mas feliz. Ao entrar na casa, o velhote já havia preparado o jantar e pediu para que Lucy fosse se servir e que de preferência comesse bastante, pois logo depois viraria a noite para dar continuidade à missão.

O jantar era farto. Apesar de se encontrar no meio do nada, o velhote era favorecido pelos abundantes recursos naturais da região. Ele mesmo caçou os animais e colheu os frutos para aquele jantar. Ambos ficaram satisfeitos com a refeição, e logo, era hora de dormir.

Lucy voltou para fora, assim que o velhote foi se deitar. Apesar da imensa vontade de dormir, Lucy tinha que ter responsabilidade naquele momento, pois segundo o pedinte, os eventos aconteciam no seu descanso.

A cena que se passava dentro da casa era macabra, era como se uma dimensão separada do mundo em que estavam tomasse forma apenas no espaço delimitado pelas quatro paredes. O velhote começou a suar de modo frenético, sua respiração acelerou de modo absurdo e súbitamente ele começou a levitar, como se forças sobrenaturais erguessem seu corpo. A sala foi tomada por uma névoa densa, os móveis tão simplórios começaram a balançar, como se um terremoto estivesse atingindo apenas aquele piso da casa. Os pratos e os talheres começaram a se quebrar, as paredes rachavam, o teto caía sobre o corpo imóvel do ancião que ainda levitava misteriosamente, era algo dantesco e desesperador.

Lucy ainda estava do lado de fora, para ela nada de anormal acontecia dentro da casa, a única coisa que ela via era o velhote deitado e uma vela acesa no centro da sala. Até que o ferrolho da porta se soltou, e aquela dimensão se expandiu para além dos campos de flores. As janelas da casa se quebraram facilmente, juntamente com as paredes que caíram como um monte de pedras. Ela se abaixou e protegeu sua cabeça para não ser atingida por estilhaços e lascas de madeira.

Quando se levantou, olhou para trás e viu uma cena que nunca sairia de sua memória. O velhote ainda estava levitando, porém a sua respiração tinha normalizado, ou melhor, parou completamente. Ela não pensou na possibilidade dele estar morto, apenas não acreditava que aquilo estava acontecendo. A dimensão que tomou conta dos campos era uma visão do que os humanos poderiam considerar como inferno, porém não era um inferno onde as pessoas queimam até perder a carne para ser resposta. O ambiente era tomado por um frio devastador, ventos catabáticos e uma pressão imensa nas camadas baixas da atmosfera. O céu estava completamente roxo, coberto por nuvens negras e hostis.

O velhote, ainda levitando, ficou de pé em direção à horrorizada Lucy. Os cabelos longos e brancos do velhote logo se escureceram, se tornando um negro penetrante. Seu corpo tomou jovialidade e virilidade, as rugas desapareceram e ele tomou a fisionomia de um jovem. Seus olhos se abriram lentamente, liberando uma luz branca e intensa sobre o ambiente negro e congelante, chegando a cegar a visão de Lucy por alguns instantes.

Quando Lucy abriu os olhos, ela viu diante dela um homem perfeito, cheio de atributos físicos. Estava nu e seu olhar era fixo para os olhos de Lucy. Sua voz era divina, tinha um tom grave e acolhedor, porém não emanava um calor humano dele. Então ele disse:

-Poderia eu, um jovem curioso, saber o nome da adorável donzela?

Lucy hesitou em responder, mas não resistiu ao modo como ele fez a pergunta. Apesar de estar em um ambiente tenebroso e de ver uma das cenas mais chocantes e mais surreais que presenciou, ela ignorou isso e respondeu na mesma formalidade.

-Meu nome é Lucy Heartfilia, senhor.

-Lucy-sama, certo?

Seu rosto ficou vermelho, e perguntou:

-Pode me dizer o seu nome...?

-Com prazer...

Lucy engoliu em seco e ouviu a única palavra que não queria ouvir naquele momento.

-Meu nome é...

O jovem parou de levitar e desceu. Assim que tocou o chão com a ponta de seus dedos, o ambiente ficou mais frio ainda. O vento atingiu os quatro cantos daquela região, podendo ultrapassar os limites da interdimensão. Ele caminhou até Lucy como um verdadeiro deus. Seus passos eram carregados de leveza, porém a cada um deles Lucy sentia-se sendo arrastada pelo vento, para mais perto dele, como se ele estivesse ordenando que ela se aproximasse, carregando um sorriso celestial no rosto. Tocou em seu ombro e disse:

-Nephesto, Senhor do gelo.


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