Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 54
Capítulo 54: O Céu Chora Óleo


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas postei!! Espero que gostem, não consegui falar sobre os zumbis nesse porque tava com um pouco de pressa, então vou falar no outro, quando as coisas se acalmarem.



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O sótão era uma mistura de caixas com cheiro de queimado, poeira e um guarda-roupa de pinha que não conseguimos nos livrar depois do incêndio.

Tudo que se ouvia lá dentro era a irritante agitação que ocorria lá em baixo. De fato, essas coisas não eram zumbis, eles possuíam inteligência, não tentavam morder, atacavam com facões e marchados.

Ouvia apenas o eco do meu salto contra o chão escorregadio de madeira limpado a ceira. Era abafado e quente, meu cabelo grudava nas têmporas e na testa.

Rasguei o vestido rosa salmão nos joelhos e me escorei por cima do armário tentando escalar o topo, não era tão difícil quanto o paredão de lava do acampamento.

Com a agilidade de um gato e a sutileza de um cisne, alcancei o topo do guarda-roupa segurando-me com o chicote enrolado no braço como se fosse um bracelete de ouro branco em forma circular em espiral. Apoiei meu pé na maçaneta do guarda-roupa e saltei subindo com um pulo bem na hora que percebi que algo estava atrás de mim.

Pousei ajoelhada em cima do frágil móvel levemente carbonizado. Fitei o defunto abaixo. Vestes coloniais rasgadas como se fosse um marinheiro mercante. O cabelo que lhe faltava a cabeça grudava na carne restante do rosto. A boca rasgada já comida pelos vermes da terra; agora seus dentes pútridos ficavam expostos de forma horrenda. A sua carne estava estragada, praticamente irreconhecível, cheia de feridas, podridão, hematomas e quando ele esticava o braço para tentar subir no guarda roupa percebi que seu fêmur estava quebrado. Uma leve linha roxa arrodeava o pescoço, ele morreu enforcado.

Ele tentava subir, já estava com os braços apoiados em cima do guarda-roupa, mas toda vez que colocava o pé na maçaneta para subir ele escorregava.

Dei as costas ao morto e alcancei a janela oval de vidro, tentei abri-la mas estava emperrada, a argamassa deve tê-la vedado, pois os cantos estavam cobertos por gesso endurecido. Chutei o vidro sem piedade.

O barulho cortante de vidro partindo foi estranho, me fez lembrar de Drew -minha meia irmã irritante. Quando nos jogamos pela janela da escola enquanto fugíamos de Francesca. Aquilo parecia tão distante agora, nem mesmo conheci a anja direito, a graciosidade como se movia, era incrível.

–Eu sou tão leve e graciosa quanto quiser e, eu quero ser graciosa e delicada como Francesca.

As palavras cintilaram pelos meus ouvidos, havia falado aquilo tentando convencer quem além de mim?

Sai pela estreita janela terminando de quebrar todos os caquinhos de vidro que insistiram em continuar na janela. Quase escorreguei do telhado, mas consegui me equilibrar até mesmo de salto alto contra as telhas coladas.

Agora poucos zumbis estavam no gramado, haviam entrado na casa ou provavelmente sido mortos pelo Cam. Essa era a opção mais obvia, pois no jardim dos fundos estava o anjo, as asas recolhidas, um cerrote francês na mão e destroçando tudo e todos que tentassem se aproximar da porta dos fundos.

Fui me equilibrando pelo telhado, um passo de cada vez até tomar a confiança devida para poder correr. Sentia-me realmente como um cisne, talvez se eu acreditasse poderia voar, mas sabia que isso seria impossível.

Corri até a parte da frente do telhado e vi Molly Zane com o que pareciam muchachos de pontas afiadas. Cravava-os no coração das criaturas com divertimento. Ela estava com um enorme galo roxo na testa. Dançava por entre a multidão de mortos, a fúria de um anjo era implacável.

Não entendi porque Molly e Cam mantiveram as asas recolhidas.

A palmeira no jardim da frente era grossa e firme, talvez aguentasse meu peso. Me curvei quase abraçando os joelhos, posicionava-me a beirada do telhado como um nadador pronto para saltar na piscina.

–Ariane. Agora! –Gritou Molly me encarando por cima do ombro.

Disparei tentando manter os olhos abertos, mesmo com medo. A sensação de estar caindo foi como ser engolida pelo medo, afogada numa cachoeira que iria cair para sempre. Mas não tive a sorte de cair para sempre, o chão se aproximava, assim como a palmeira, não iria dar tempo de abraça-la, iria bater nela e cair.

Meu grito não saiu, ficou preso na garganta, submergido e suprimido por um estalo de vidro sendo estilhaçado. Uma luz prateada se acendeu iluminando a noite e cegando a vista. O angelical bater de asas tão sutis e charmosas como a de uma águia em caça, mas também, tão letais quanto uma leoa enraivada.

Em meio ao suspiro, um abraço, forte que me levava para o alto. Retomei o controle de mim mesma.

Ao abrir os olhos vi o chão se afastar rapidamente, estava voando, abraçada a um corpo feminino.

Eu estava de bruços para o chão, minha cabeça repousada levemente no ombro de Ariane. Dali pude ver Molly abraçando meu pai e levantando voo.

Seus braços fazendo um nó sob o ombro dele. O curto cabelo da anja exibia a camada vermelha e rosa de tinta por cima de algumas partes que ainda estavam loiras voava sob seu rosto e batia nas costas do meu pai.

As asas douradas de Molly eram imensidões rubras e glamorosas. Brilhava como ouro líquido apodrecendo ao sol. Mesmo de longe conseguia ver alguns piercings refletindo junto a luz.

Meu pai sem entender nada do que ocorria mantinha-se de olhos arregalados em quanto a anja levantava voo o mais rápido possível, agora seu muchachos estavam guardados na bainha das vestes.

Outra luz dourada ruboresceu o ar. Era Cambriel exibindo suas pesadas asas tão douradas quanto pirita –ouro dos tolos. O anjo estava inquieto, seu smolking amassado e um leve rasgão no joelho estavam manchados de um licor dourado denso grudando contra a dobra do joelho com o rasgão e melecando o tecido em leves tiras de mancha.

Era apenas um ferimento superficial.

Tudo que podia ouvir era o uivar do vento em seus ouvidos e o cabelo fustigando levemente o rosto em quanto era soprado para frente tapando a visão. O bater forte e rigoroso das asas de Ariane era divino, um som amedrontador e aconchegante ao mesmo tempo.

O ar ficou mais denso e frio. Senti uma tristeza tão forte que meu coração poderia ter murchado igual a uma flor soterrada na neve. Tudo que pude ver sobre a cortina negra e espessa de cabelo esvoaçando ao vento foi o céu mudando de cor. Ficando meio azulado, um azul sujo, parecia mancha de óleo refletindo nas nuvens.

Uma figura alta e enrugada se aproximava. Era um anjo de asas azuis, azuis claras quase translucidas. O roso enrugado junto a uma cabeça calva e grisalha. O nariz pontudo pesava e caia a pele em volta manchada por sardas claras. Em seu pescoço estava uma capa grande de um azul marinho absurdamente escuro. Olhos marrons claros tão cansados quanto o sol do nosso sistema solar – nada podia surpreender o sol, pois não existia nada novo para ele ver.

O zumbido fino das minúsculas asas azuis se multiplicou. Vários idosos de asas azuladas quase transparentes surgiram.

–A Balança.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem um comentário sobre oque acharam até agora. Qual acham que será a próxima parada de Phoebe? Só uma dica, não é o mundo grego e nem o fantástico mundo dos anjos



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