Radiação Arcana: Totem De Arquivo escrita por Lucas SS


Capítulo 5
Capítulo 4: O Botânico do Deserto


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito caminhar e de passar por algumas lutas, finalmente chegamos ao deserto. Mas o que nos espera no grande mar de areia? Vejam nesse novo capítulo.



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            Logo de manhã eu e meu irmão fomos à casa do Jeff. Eu tinha que retribuir o favor.

                Como sempre, ao chegar lá ele já estava nos esperando. Mas ele tinha um tom sério, preocupado. Ele sempre parecia alegre, por isso era fácil notar quando estava preocupado, por isso fui direto:

-O que aconteceu Jeff? Você parece preocupado.

- Estou sim. Tenho que te pedir um favor.

- Bem, coincidentemente eu também ia perguntar se eu não podia te retribuir pela comida e os jogos.

-Então irei direto ao ponto. Mas vamos para um lugar mais afastado, aqui tem garotos jogando e alguns que ainda estão se preparando, não quero que eles escutem nossa conversa.

Quando ele falou isso eu notei que a casa estava cheia de beliches e camas espalhadas pelo chão. A maior parte ainda estava vazia, mas alguns jogadores já estavam lá. Jeff no levou para um lugar onde ninguém estava jogando, então falou:

- Recebi uma mensagem do povo da Lua. Foram eles que nos deixaram esse jogo, com um motivo: eles querem ver as lutas que tem dentro desse jogo. Nós estamos servindo como diversão para eles lá encima. Mas para incrementar o jogo eles conectaram 500 jogadores da Lua ao nosso servidor. O objetivo deles é lutar contra todos os jogadores daqui e escolher os mais fortes para...

- Para o que? –Perguntei cheio de curiosidade.

- Para levar esses jogadores para morar na Lua e fazer um grande show desse jogo. Só os 500 melhores daqui poderão ir.

Por mais que essa notícia parecia cruel, colocar crianças para jogarem somente para divertir-se, eu ainda fiquei feliz. Se eu e meu irmão ficássemos fortes nós poderíamos ir morar na Lua. Lá viveríamos bem melhor.

-Conte-nos mais Jeff. - Falou meu irmão.

- O negócio é o seguinte. Vocês terão de formar grupos de jogadores. Cada grupo receberá uma missão diferente. Os grupos que terminarem a missão serão selecionados para viver e jogar lá na Lua. Lá vocês terão uma casa melhor do que qualquer uma aqui, receberão comida diariamente, água e todos os cuidados básicos que precisarem. Eles irão querer manter vocês vivos para jogarem para sempre para eles. Será um show que será transmitido para a Terra e a Lua. Mas para chegar lá vocês precisam de um grupo com no mínimo quinze jogadores com pelo menos nível 50. Se vocês quiserem chegar a isso rápido deixarei vocês jogando o dia inteiro, desde as dez da manhã até às dez da noite. Darei comida e água para vocês. Não posso deixar de contar uma coisa. Se vocês forem para a Lua eu serei convocado também pois sou quem lhes empresta o servidor e a internet. Por isso quero tanto que vocês ganhem. Sei que são os melhores jogadores daqui, possivelmente da região, não quero mais viver aqui. Por favor, ganhem por mim.

- Iremos ganhar Jeff. Eu prometo. Se eu prometo irei cumprir. Vamos ficar conectados o dia inteiro. O que acha maninho?

- Eu adorarei ganhar para ir pra Lua. Vamos jogar irmãozão.

Eu nunca tinha visto meu irmão tão alegre. Nós dois tínhamos esperança de ter uma vida melhor agora. Eu tinha que ganhar, tanto pelo Jeff quanto por meu irmão.

Entramos no jogo.

Estávamos no bar. Assim que entramos no jogo o atirador Limcon apareceu. Ele devia estar jogando já fazia um tempo. Como ele era do meu grupo achei que ele devia saber da história. Contei tudo. Ele ficou pensando um tempo, então respondeu:

- Então vamos ganhar nível! Vamos arranjar pessoas para encher o grupo. Acho que um bom lugar para ganhar nível e fazer um grupo será longe daqui. Precisamos de membros fortes, os mais fortes irão explorar lugares desconhecidos, lá terá mais tesouros. Vamos fazer isso também. Olhei pelo mapa um lugar perfeito para isso: a Vila da Floresta, Grasjund.

- É muito longe? – perguntei.

- Deve demorar o dia inteiro para chegarmos lá, é bem longe. Mas valerá a pena. Só teremos de passar pelo deserto para chegarmos rápido. Vamos comprar água e comida, pois no deserto é difícil arranjar comida.

Fomos comprar a comida e saímos da vila. Pegamos uma estrada que levaria direto ao deserto e nos guiaria lá dentro até a cidade que vivia no centro da floresta. A estrada cortada o bosque. Suas árvores não eram muito altas, pois eram árvores frutíferas. Fui colhendo algumas frutas no caminho, podíamos usar. Mas ao me aproximar de uma moita, percebi que estávamos sendo seguidos. Rápida e disfarçadamente avisei meus colegas com um assobio. Eles olharam para trás pelo canto do olho. Cinco jogadores nos seguiam pelas árvores. Eles tentavam ser furtivos, mas não conseguiam. Percebi que um deles usava um capuz vermelho e andava um pouco mais atrás do grupo. Possivelmente era o mago do grupo. Se os outros andavam tão mais a frente, uns 20 metros, deviam ser guerreiros. Diminuíamos a velocidade para que eles chegassem mais perto e quando estavam a cerca de 20 metros atrás de nós, Fear, Limcon e eu nos viramos, com armas em punhos, principalmente eu que usava manoplas, preparados para lutar.

Os inimigos também estavam com as armas preparadas. Como eu tinha imaginado, eles eram guerreiros, sem elementos. Todos eram humanos, com exceção do possível mago, que era um elfo. Ele já estava com o punho fechado apontando para nós. Os guerreiros avançaram contra meu irmão, que estava fazendo a linha de frente principal. Meu irmão desviou de dois golpes laterais pulando para trás, preparou seu machado, pulou cerca de 3 metros de altura dando um salto mortal, caiu sobre os ombros do inimigo e acertou-o na cabeça. O golpe causou dano crítico, eliminando o jogador somente com esse golpe. Os outros recuaram um passo. Dava pra ver o medo em seus olhos. Suas pernas tremiam. Mas o inesperado aconteceu. Uma bola de fogo atingiu meu irmão, que quase morreu. Ele estava com muita pouca vida. Suas roupas estavam em chamas. Tirei água do meu inventário e joguei nele. Olhei para onde a bola de fogo tinha surgido. O mago já estava preparando um segundo tiro. A segunda bola de fogo, com o tamanho de uma bola de futebol, voou contra mim. Agindo por instinto, usei minhas manoplas para me proteger. O dano foi reduzido à zero. Minhas manoplas reduziam os danos de fogo em vinte pontos. O mago se surpreendeu por ver que eu não sofri nada com seu poderoso ataque. Mas ver que meu irmão estava no chão incentivou os guerreiros a darem uma nova investida, dessa vez contra mim. Usando novamente minha manopla, segurei a lâmina da primeira espada, tirei-a da mão do adversário e acertei um soco direto em seu queixo com a mão esquerda. Instantaneamente o inimigo pegou fogo e depois de 3 segundos ele também morreu. A espada dele agora era minha. Usei-la para defender o golpe do outro guerreiro, mas fui atingido pelo que sobrou com um corte por cima. Mas ele não durou tempo o bastante para poder me acertei de novo, pois escutei o lindo som do tiro de Limcon, onde o fervente líquido negro (descobri conversando com ele que era piche quente) eliminou o adversário. Enquanto isso o mago atirava uma terceira bola de fogo. Usei o guerreiro como escudo-humano para impedir a esfera flamejante de acertar Limcon. O guerreiro, como esperado, sobreviveu. A esfera flamejante não dava um dano alto o bastante para matar, mas depois de alguns segundos o alvo iria morrer pela queima constante das chamas. Por isso joguei o guerreiro para o lado e corri em direção ao mago. Ele, amedrontado, virou-se para correr, mas o conhecido som de lâminas girando preencheu o ar. Meu irmão tinha se levantado e atirado seu machado pequeno em direção ao mago. Acertou em cheio na perna, fazendo o mago derrubar e rastejar. Mas não demorei quase nada para chegar ao medroso controlador de fogo. Acertei com um golpe e vi ele queimar por dois segundos antes de morrer, deixando somente um anel prata com o símbolo do fogo, que também marcava minhas manoplas. Peguei o anel e coloquei no dedo. Agora eu tinha meu poder de esfera de fogo novamente. Eu sabia usar esse poder, mas sabia que gastava muita mana, então esse mago devia ter um alto nível de inteligência, pois tinha conseguido lançar três ou quatro vezes a esfera. Com toda a inteligência e mana (o nível de inteligência é somado com alguns outros atributos para dar o total de mana) que eu tinha possivelmente só poderia atirar umas duas esferas. Mas era o bastante. Primeiro atirar e depois bater, esse seria meu estilo de luta.

Limcon recarregava sua arma e Fear recolhia seu machado. Entreguei a espada a ele, que guardou em seu inventário. Coletamos o ouro dos adversários e vimos o corpo deles se transformarem em números binários, antes de desaparecer, possivelmente enviando os inimigos para o início do jogo.

Seguimos viagem em direção ao deserto, conversando sobre a divertida batalha que tivemos. Fear demoraria alguns minutos para recuperar a vida. Todos os jogadores tinham recuperação igual a um, que significa que a cada dez minutos recupera um de vida. Pelos meus cálculos demoraria duas horas e meia para recuperar os vinte pontos de vida que ele tinha no total. Na verdade, todos nós tínhamos isso, pois não nos preocupamos em ter vida alta.

Quando chegamos ao deserto a vida de meu irmão já estava completamente recuperada. Tivemos de parar durante dez minutos para comer, pois se ficássemos muito tempo sem comer ficávamos fracos e perdíamos vida. Sorte que eu tinha colhido algumas frutas no caminho, pois assim todos puderam satisfazer a fome sem gastar a comida que compramos na vila. Enquanto comíamos a beira do deserto, uma dúvida nasceu na minha mente, então perguntei:

-Limcon, o que você escolheu quando começou o jogo?

-Está falando da minha espécie e meu posto ou elemento?

-Sim.

-Eu sou um Burfilcon, uma raça de seres humanoides que podem entrar em combustão enquanto luta. Na verdade esse é o poder da minha raça, assim eu queimo todos que estiverem a minha volta, tanto amigos quanto inimigos. Eu não escolhi um posto, escolhi um elemento. Era um elemento especial, raro. Só aparece para alguns jogadores sorteados. Eu nunca chamaria isso de elemento, mas por algum motivo os criadores do jogo decidiram que isso também era um elemento. Chama-se Elemento Tecnológico. Ele envolve coisas como lasers, piche, robôs, borracha, pólvora, tecidos e quase tudo que tem que ser produzido pelos seres humanos. Acabei ganhando minha escopeta de piche como objeto do meu elemento.

-Que legal, parece um ótimo poder. Você viu mais algum jogador com esse elemento?

-Sim, vi um jogador com uma pistola de laser. Por mais que parecesse simples, era bem perigosa. Ele estava lutando contra um urso, mas somente com um tiro o urso morreu.

-É perigoso achar um jogador desse tipo. Qual é o elemento que ganha desse? Você sabe que cada elemento perde de outro. Por exemplo, meu elemento é fogo, que perde para água.

-Bem, o meu perde de...

Ele abriu o guia de informações procurando a sua fraqueza. Rapidamente deu a resposta:

- O meu perde de metal, tempo e raio.

- Tempo? – Perguntou meu irmão.

- Sim, existe um elemento chamado tempo. Mas ninguém pode pegar no nível um. Pra conseguir deve-se lutar contra os chefões, pois somente esses dão itens raros. Além do tempo também tem o poder do espaço. Pelo que eu saiba os chefões com esses itens são tão poderosos que ter um elemento desses nem fará diferença para quem ganhar deles, pois o poder do jogador já tem que ser muito grande para derrota-lo. E vocês, perdem do que?

- Meu elemento é fogo. – eu disse. – Perde de água, gelo e nuvem. Tecnicamente só perco para poderes aquáticos. Tenho que arranjar um jeito de resolver essa desvantagem, pois se eu encontrar um jogador do tipo água, morrerei logo de cara.

- E esse pequeno? Qual seu elemento Fear?

- Eu não escolhi nenhum elemento, escolhi um tipo de jogador. Sou ladrão, que me dá vantagem em se esconder, roubar, fazer manobras acrobáticas, atacar sem ser visto, atirar objetos, destrancar portas e desativar armadilhas. Mas não tenho grandes danos. Ganhei esses machadinhos como item do meu tipo. Eles me ajudam a abrir portas, pois de um dos lados deles têm ferramentas para abrir fechaduras.

- Isso pode ser útil no futuro. Mas você precisa arranjar um jeito de causar mais dano. Vi que sei golpe no guerreiro de agora a pouco causou grande dano, mas te deixou desprevenido. Além do mais nem sempre você terá tanto espaço para dar pulos como aquele. – disse Limcon.

- Então vamos seguir viagem, quem sabe encontramos uma arma melhor para mim.

Pegamos nossas mochilas e seguimos viagem. Até hoje eu tenho inveja do meu irmão pela capacidade de adivinhação dele.

Caminhamos no deserto pelo que pareciam ser horas. Subimos e descemos dunas, vimos tempestades de areia surgirem no horizonte e sumirem como miragem, achamos pedras do que parecia ser uma antiga construção, mas não podemos escavar já que não tínhamos os equipamento necessários. Depois de muito caminhar e horas suando, a monotonia acabou. Mas começou com uma coisa simples, como um:

- Ai! – Gritei surpreso por me ver no chão com uma queda inesperada.

Meus amigos, que andavam alguns passos a frente, viraram para ver o que tinha acontecido. Riram ao me ver deitado na areia quente. Mas logo o sorriso sumiu do rosto, pois em menos de um segundo, eu estava de cabeça para baixo a 3 metros do chão. Olhei ao redor e avistei o que me segurava. Era uma grande raiz que surgia da areia e segurava meu pé. Possivelmente essa raiz também me derrubou no chão.

Antes que meus amigos pudessem fazer algo, uma segunda raiz surgiu perto da primeira, voando como um chicote em direção ao meu irmão, que em um único e perfeito movimento, cortou-a em três pedaços usando os dois machadinhos, cada um em uma mão. Uma terceira raiz, parecendo estar com sede de vingança pelo parente retalhado, tentou acertar Limcon, que quase foi acertado, mas desviou para o lado na hora certa, atirando com sua arma no chicote vegetal que já estava virando para tentar um segundo bote. A planta queimou, dando a brilhante ideia para o Limcon de atirar na planta que também me segurava. Me assustei com a segunda queda em menos de dois minutos. A diferença é que essa eu cai de cabeça de uma altura de três metros. Por sorte a areia era fofa e amorteceu minha queda. Levantei-me tonto e preparei minhas manoplas com um simples balançar dos punhos.

                Um grito estridente interrompeu a sinfonia do vento, seguido do barulho de passos descendo uma duna. Atrás de nós corria um garoto (digo isso pois o personagem não parecia ter mais de quinze anos) segurando um saco de papel numa mão e o que parecia ser três amendoins na outra.

                Antes que pudéssemos fazer qualquer coisa o garoto atirou as sementes no chão, de onde nasceram cactos instantaneamente. Os cactos cresceram até chegar a 2 metros de altura. De suas bases surgiram raízes iguais as que nos atacaram no minuto anterior. Mas já sabíamos o jeito de derrotar essas raízes.

                Sem nem dizer nada, Limcon recarregou sua escopeta de bala única, dando três rápidos tiros, um para cada cactos. Os cactos, como esperado, queimaram até virar cinzas. Então meu irmão correu como um tigre corre para sua presa, perseguindo o botânico, que ao ver seus cactos queimarem, virou-se e tentou fugir. Mas a agilidade e velocidade de meu irmão eram tão grandes que ele nem perdeu muito tempo para alcançar o medroso botânico do deserto. Sem perguntar o motivo do ataque, meu irmão desceu o machado nele, repetidas vezes, até eliminar o jogador. Nós tínhamos combinado de não ficar dando ouvidos para os inimigos, pois assim eles poderiam ganhar tempo para fazer algum truque ou recuperar mana ou vida.

                Meu irmão voltou correndo com um sorriso no rosto, então me disse:

                -Irmão, olhe o que eu ganhei! Luvas de cactos e um anel do elemento areia!

                Olhei para meu irmão, que pulava de alegria. Aquele maldito tinha conseguido dois itens em uma só morte. Ele colocou o anel no dedo por cima das luvas de cactos, que não passavam de luvas de couro com alguns espinhos de cactos muito afiados. Imediatamente seus machados brilharam. Quando o brilho diminuiu, seus antigos machadinhos fracos tinham dado lugar a machadinhos verdes, com espinhos iguais aos das luvas. Por algum motivo o jogo melhorou os machadinhos, dando mais dano e a habilidade de criar uma única raiz que lutaria ao lado de meu irmão, surgindo a partir da luva nova.

                Depois disso, seguimos viajando rumo a uma montanha, que pelo que o mapa mostrava, daria um atalho para a vila da floresta. Mas nem sempre atalhos são bons.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo será lançado na quarta. Se e história fizer sucesso talvez eu possa colocar 5 capítulos por semana, pois estou escrevendo e colocando os capítulos assim que acabo de escrever. Deixem comentários dizendo se querem que eu escreve mais seguido. Falando nisso, enquanto não tiver 10 leitores, eu irei escrever somente na segunda, quarta e sexta, sendo o capítulo de segunda geralmente o maior, pois posso escrever durante o final de semana. Obrigado por lerem um pedaço da minha confusa cabeça. Arigato!