(Isabella)

Fomos todos ter com Simão à cozinha. Não sabia o porquê de ele nos ter chamado a uma divisão daquelas para nos dar novidades. Mal entrei na cozinha, percebi o porquê. Yuki tinha vindo visitar-nos, mas não via Kiba.

— Yuki, que fazes aqui? – perguntei.

— O Kiba pediu-me para que viesse, preciso de falar convosco.

— Mas passa-se alguma coisa, assim… grave? – perguntei, com hesitação.

— Muito sinceramente, não te sei responder a isso… – a expressão na cara dela não era nada boa.

Sentamo-nos todos ao redor da pequena mesa da cozinha.

— Lembras-te que te disse que o casamento ia para a frente? – anui. – Bem, ele decidiu contar toda a verdade ao pai uma semana antes do casamento. Desde então, ele tem andado a vaguear por aí, pois já sabes o que pode acontecer. Eu senti a presença dele perto daqui, mas não consegui localiza-la concretamente.

— Eu tenho quase a certeza que sei onde ele está, mas só vamos lá depois de me esclareceres todas as minhas dúvidas!

Idiota! Ele era um idiota! Se o pai não me conseguisse matar, podia mata-lo a ele, mas o pai teria essa coragem? Matar o próprio filho? Não fazia ideia… Os lobisomens tinham regras e uma maneira de pensar muito diferentes da sociedade em geral, para além de terem as suas tradições características.

— Yuki… sabes o porquê de ele ter feito isso?

— Tu e eu sabemos muito bem os sentimentos dele para contigo… – todos ficaram a olhar para mim, menos Petrus, ficou cabisbaixo. Eu nem lhe tinha contado sobre a nossa despedida. – Ele disse ao pai que não queria casar comigo e que só voltava ao clã quando terminasse de te proteger.

— Eu não estou para aturar infantilidades… – murmurei, seriamente alterada.

Ao levantar-me, bati com as mãos na mesa e saí pela porta de trás. Ele estava no bosque, tinha quase a certeza disso. Ele sabia perfeitamente que eu não precisava de proteção…

“Espírito, por favor, diz-me se sentes a presença dele” – pedi em pensamento. “Não é só ele que aqui está..., tem cuidado Isabella” – a sua voz calma e serena fez-me ter mais certezas de quem o acompanhava.

Se ele quisesse lutar comigo, estava pronta, não tinha medo. Parei a cerca de dez metros de distância deles. Os dois devem ter sentido o meu cheiro, pois olharam imediatamente para mim.

— Posso saber o porquê de teres falhado com a tua palavra? – perguntei-lhe.

— Ela já foi fazer queixa, não foi? – falava dela como se Yuki fosse uma queixinhas.

— Ela fez o que já devia ter feito há mais tempo! – estava a ficar bastante irada com ele. – Já passou um mês desde que vocês, supostamente, deveriam ter-se casado e só hoje é que ela veio ter comigo. Eu sempre me disponibilizei para vos ajudar no que fosse preciso, tanto na amizade como na guerra, e agora tu desiludes-me dessa maneira?

— És uma rapariga sábia, Anciã. Eu sou o pai do Kiba, Inugami.

— Devo agradecer-lhe, mas penso que da minha parte não necessita de apresentações, não é verdade?

— Sim, pode-se dizer que sim.

— Pai, não faça nada por favor! – pediu Kiba, desesperado, sabendo que o seu poder em nada se equivalia ao do seu pai.

Inugami estava a colocar-se em posição de ataque. Bem me parecia que ele queria luta. Não havia descrição física possível a ser feita. Kiba era tal e qual o seu pai, não conseguia ver diferenças, a não ser os traços faciais de uma pessoa mais adulta, mais velha.

— Tu queres ser cavaleiro dela, então ela tem que te merecer.

Quebrei logo a sua confiança, dizendo muito calmamente:

— E quem lhe disse que eu queria o Kiba como meu cavaleiro? A escolha foi dele, não minha, eu não pedi nada…

Inugami ficou espantado com as minhas palavras. Provavelmente não esperava aquela resposta. Cruzei os braços. Petrus, Catarina e Zach vieram ter comigo.

— Se houver luta, vocês não se metem, perceberam?

— Mas Bella… – Catarina tentou persuadir-me, não valia de nada.

— Não há “mas”, nem meio “mas”. Se vamos lutar, será só entre mim e Inugami.

— Muito bem Anciã, mas não será aqui… Será na minha floresta, no meu território. O Kiba irá conduzir-te lá. Tens até amanhã. – ditas estas palavras, transformou-se e partiu.

Anui e sorri. Dirigi-me novamente para casa. Ninguém se atreveu a perguntar-me anda pelo caminho. Quando chegamos, eu ia para o meu quarto, preparar-me, mas todos quiseram falar comigo. Fomos para a cozinha novamente.

— Isabella, tu não podes confrontar o meu pai. Tenho certeza de que ele irá fazer alguma coisa. De certeza que ele não vai lutar sozinho. Por favor Isabella, ouve-me. Eu sei o que digo.

— E eu sei o que faço. – eu estava encostada à banca, de braços cruzados.

— Sabes o que é lutar contra um clã de lobos?

Eles estavam a esquecer-se de uma coisa muito importante e que, quando eu encontrasse e confrontasse Inugami novamente eu iria dizer-lhe. Dirigi-me para perto da mesa, bati com as palmas das mãos e falei bem alto para que todos ficassem esclarecidos.

— Vocês esquecem-se que eu controlo e tenho poder total sobre coisas essenciais à vossa existência, não é? Sei que provavelmente não vou sair daquela luta sem uns valentes arranhões, mas tenho poder superior a todos vós juntos.

Acho que assustei um pouco Simão. Todos estavam estupefactos. Poucas vezes tomava aquela atitude, mas naquele momento era necessário.

— Não achas que estás a ser um pouco prepotente? – perguntou Zach.

— E tu achas que eu quero matar o clã, não? Achas que sou estúpida? – nada disse, nada respondeu. Eu sabia a resposta e qual seria a reação de cada um. – Eu não me importo se vocês não me quiserem acompanhar, eu compreendo. – explosão da Catarina a caminho!

— Mas o que é que tu estás para aí a dizer? És estúpida? – eu sabia…

— Por acaso tenho cara disso? Kiba, diz-me que fase da Lua vai estar amanhã à noite. – ele certamente que saberia.

— Lua cheia. –respondeu, sem perceber o porquê daquela pergunta.

Sorri e fui para o meu quarto. A batalha do dia seguinte iria ser muito interessante…