(Petrus)

“Outra vez! Mas como? Como é que ela me consegue apanhar? E porquê? Qual é o plano dela?”

Todas estas perguntas estavam na minha cabeça e eu sem respostas… Faltavam três dias para o meu aniversário e Isabella não me queria ver nem pintado a ouro. Aquele lobo… Aquele maldito lobo estava a tomar o meu lugar! Eu tinha de fazer algo e rápido! Mas, com o que eu tinha feito, era normal ela já estar a refazer a sua vida? Ou não? Não conseguia compreender como é que eu podia ter tão pouca fé na nossa relação, principalmente, no que Isabella sentia por mim. Logo ela que tinha esperado por mim imensos anos. Era injusto. Eu era injusto para com ela em todos os aspetos.

A cena passou várias vezes na minha cabeça. Naquele dia, quando Isabella entrou no quarto, eu estava completamente enfeitiçado. Uma das coisas que não conseguia compreender era o porquê de Isabella não ter percebido nada de estranho, talvez porque o que Valéria fez estava mesmo muito bem feito. Mas um Red Voice não tinha poder para tal coisa. Tinha sido Luther. Luther tinha-lhe dado aquele poder. Já não suportava mais ser um culpado injustiçado, não suportava ser de tal maneira fraco a ponto de não conseguir proteger o meu coração e os meus sentimentos. Ser enfeitiçado durante o sono? Nem num filme eu me acreditaria em tal coisa. Mas existia. Deveras que existia. A melodia da sua voz era algo que atraía qualquer pessoa, principalmente, aquelas que tivessem o coração fraco.

Levantei-me. Comecei a andar freneticamente pelo quarto. Já tinha pensado num plano, estava mais ou menos estruturado, ia avançar no meu aniversário. Eu tinha que ser mais forte que Valéria e fazê-la confessar o que andava a fazer comigo. No entanto, talvez ela preferisse morrer a confessar tudo.

A imagem de Isabella retornou à minha mente. Aquele olhar… O olhar que ela tinha naquele momento… Era vazio… Sem sentimento… Semelhante àquele que me tinha mostrado há uns anos atrás. Ser olhado com aquela expressão era o pior castigo que me podiam dar. Não tê-la pela manhã ao meu lado, tirava-me por completo a vontade de viver aquele dia. Dava-me somente vontade de desistir…

No dia do meu aniversário, o céu estava negro, chovia e o nevoeiro era intenso. Era o cenário perfeito para quem partia para a morte. As horas passaram depressa e em pouco tempo estava a escurecer. Na receção deixei o número da casa onde Isabella se encontrava e o nome a quem devia contactar se algo acontecesse. Dirigi-me para a praia. O mar estava bravo, as rochas eram atingidas por enormes ondas capazes de engolir uma multidão. Chamei-a. Numa fumaça vermelha, apareceu.