O Caça-Fantasmas escrita por Stella


Capítulo 2
Confronto




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Era sábado, dia do grande show de Paul McCartney, pelo qual Julie estava esperando há meses. Ela e Bia não conseguiam encontrar outro assunto para conversar. Naquele dia, Julie estava especialmente ansiosa e animada. Talvez por isso, tenha ficado nada satisfeita em ter que ir à escola, em pleno sábado, para buscar o boletim bimestral. Daniel perguntou se ela queria que ele a acompanhasse, mas Julie respondeu que não seria preciso, que estaria de volta em menos de quinze minutos. Se ela soubesse o que aqueles "quinze minutos" lhe reservariam, não teria tido tanta pressa em chegar à escola.

– Julie! - exclamou Ângelo, ostentando um sorriso estranhamente simpático, assim que a garota entrou no colégio - É ótimo ver você por aqui. Eu preciso resolver uma questão com você... É sobre o seu boletim. Acho que confundi algumas notas e preciso que você me acompanhe até a minha sala.

Julie tentou explicar ao professor de física que estava atrasada, que precisava ir à secretaria e voltar para casa, mas foi inútil. A garota viu-se obrigada a seguir o professor até a sala no segundo andar. Era estranho ver a escola silenciosa e vazia daquela forma. Até o momento, Julie não tinha visto mais ninguém ali.

A garota entrou na sala que ficava ao final do corredor e sentou-se, desconfortável como nunca, na cadeira que o professor lhe indicara. Ela olhou em volta. Aquela era a antiga sala dos professores, com uma mesa enorme e ligeiramente bamba, algumas cadeiras, uma cafeteira estragada e vários armários de ferro.

– Então, Julie... Seus amiguinhos fantasmas estão aqui com você? - perguntou o professor, e toda a simpatia de sua expressão havia se dissipado. A menina olhou para ele, um pouco assustada com aquele tom de voz ameaçador. Era isso o que eu temia, ela pensou. - De novo essa história, professor? O senhor já é meio grandinho pra acreditar nessas coisas, né? Francamente... Olha, eu preciso mesmo ir embora.

Julie se levantou e começou a andar em direção à porta, mas Ângelo foi mais rápido, quando se colocou na frente da porta e a trancou. O professor guardou cuidadosamente a chave no bolso, sorrindo com tranquilidade.

– Você só vai sair daqui, mocinha... Quando fizer um fantasma aparecer.

O coração de Julie disparou e ela tentou dizer algo que parecesse razoável, mas acabou gaguejando ao perceber o olhar completamente enlouquecido do professor.

Ângelo abriu um dos armários de metal e tirou de lá uma arma enorme e indiscutivelmente estranha.

- Isso aqui é uma coisinha que inventei. Essa arma prende fantasmas em um campo de força espectral e também descarrega uma corrente elétrica suficiente para eletrocutar qualquer fantasma (ou pessoa) que levar o tiro. Fantástico, não acha?

Julie estremeceu por dentro, respirou fundo e anunciou, no tom de voz mais firme que pôde produzir:

– O senhor está alucinando com essa história de fantasma. Abra essa porta agora e me deixe sair daqui. Me deixe sair ou eu vou gritar.

Ângelo riu de forma descontrolada e depois lançou à garota um olhar de irritação.

– Não tem ninguém nessa escola hoje, Julie. Gritar é inútil, ninguém vai te ouvir. E eu já sei de tudo. Eu te vi tocando com aqueles fantasmas. Não há outra explicação para aquela cena. Instrumentos não flutuam no ar e nem tocam sozinhos.

– Você invadiu a minha casa? - perguntou Julie, chocada. - Ficou maluco?!

– Sim, eu invadi a sua casa. Em nome da ciência. Agora olha bem pra mim. - o professor se aproximou da menina e a encarou com olhos enfurecidos - Eu sei que você trouxe algum fantasma com você. Ele pode estar aqui, nesse momento. E eu acho bom você fazer com que ele apareça agora, porque caso contrário, você vai sofrer as consequências, está me entendendo? Julie mordeu o lábio inferior e desejou, com toda a força, que Daniel não estivesse ali, que nenhum dos fantasmas tivesse inventado de segui-la. Ângelo estava maluco, e Julie não gostava nem de imaginar o que aconteceria se ele pegasse Félix, Daniel ou Martim.

– Bem, você pode desistir, professor. Não tem nenhum fantasma aqui, e, mesmo se tivesse, ele não apareceria pra você.

– Jura? Pois eu acho que apareceria sim. Esses fantasmas estão sempre com você, Julie. Mesmo que não estejam aqui agora, algum deles vai aparecer, mais cedo ou mais tarde, pra procurar por você. E aí, tenho certeza que ele vai querer aparecer pra mim. Afinal, esses seus amiguinhos do além não iriam querer que você se machucasse por causa deles, certo? - ameaçou o professor.

Julie mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Sabia que o professor Ângelo era estranho, mas não imaginava que ele fosse insano o suficiente para ameaçá-la daquela forma.

– Nenhum fantasma vai aparecer pra você! - ela gritou.

O professor pareceu não escutar. Ficou admirando em silêncio a arma que projetara.

Então, para o desespero de Julie, ela viu Daniel atravessar a parede da sala. Ficou um pouco aliviada ao perceber que ele não estava visível para Ângelo, mas ainda assim preferia que ele não estivesse ali. Daniel parecia furioso, e ela tentou dizer com os olhos que ele estava proibido de ficar visível para aquele professor maluco.

Daniel aproveitou o momento de distração do professor e retirou cuidadosamente a chave que estava guardada no bolso da camisa de Ângelo. Julie estava começando a fugir, mas quando o fantasma girou a chave na fechadura, destrancando a porta, Ângelo percebeu imediatamente e apontou a arma pra Julie, que estava só a alguns metros da saída.

– Ah, isso é maravilhoso! - gritou o professor, empolgado. - O fantasma está aqui!

– Eu já disse que ele não vai aparecer pra você! - berrou Julie, enfurecida.

– Sabe, Julie... - o professor sorriu - Essa arma pode provocar alguns segundos de dor insuportável em um fantasma, mas se eu atirar em você, que é quase uma criança, frágil e indefesa... Vai ser muito, muito pior. Um tiro dessa coisinha aqui pode te deixar em coma. Então eu sugiro, senhor fantasma, que se você se importar só um pouquinho com a Julie, você deveria aparecer. Agora.

Julie olhou para Daniel e viu uma mistura intensa de desespero e ódio nos olhos dele, e soube que ele iria ficar visível.

– Se você ficar visível pra esse maluco, eu te mato, Daniel! Vou fazer você morrer pela segunda vez, eu juro! - ela gritou para ele, em desespero - Ele está mentindo, não vai fazer nada contra mim. Por favor, aconteça o que acontecer, não fique visível.

Julie sabia que Ângelo não a machucaria, afinal, um professor de ensino médio que atira em uma aluna pega uns bons anos de cadeia. Ângelo nunca correria aquele risco. Mas se ele pegasse o Daniel...

O professor virou-se de costas, a tempo de ver uma cadeira voadora atingi-lo com força. Depois de atingir o professor, Daniel pegou Julie pela mão e eles saíram da sala, correndo.

Os dois atravessaram o corredor e estavam perto da escada, quando o professor apareceu, correndo atrás deles. Novamente, Ângelo apontou aquele objeto estranho para Julie, e, enquanto acionava a arma, gritou:

– Seja rápido, fantasma! Você não vai deixar que ela se machuque por sua culpa, vai?

O raio esverdeado que saiu da arma foi exatamente na direção de Julie. Ela fechou os olhos e esperou o impacto. Mas o tiro nunca a atingiu.

Julie viu, chocada, que Daniel havia se colocado na frente dela e fora atingido pelo raio. Agora ele estava preso dentro de um tipo de campo de força, chutando inutilmente as paredes da redoma estreita em que se encontrava.

– Daniel! - Julie gritou, socou a parede do campo de força e olhou para ele, preso lá dentro.

– Você não devia ter feito isso, Daniel. - ela sussurrou.


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Notas finais do capítulo

Comentem! :) Postarei um novo capítulo em breve.



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