People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 7
Profundidade da Loucura


Notas iniciais do capítulo

esse capitulo idk pode ter ficado meio forte mas não na minha opinião, sei lá o que vocês acham



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O caminho é silencioso, e eu vou atrás com Rose. É estranho, pensar porque uma garota de doze anos está na Orientação, porque ela não parece problemática, só um pouco quieta. Pensando bem, em não sei porque ninguém lá está lá (só tenho uma leve impressão de que Liana está lá pra perder peso). 

-Hm, por que você está na Orientação? -Pergunto, sem jeito, porque é uma pergunta meio pessoal. Rose se vira para me encarar e dá um sorriso calmo.

-Eu moro lá.

-Mas e os seus pais?

-Eles não podem cuidar de mim agora. -Ela diz, simplesmente e eu resolvo ficar quieta. Talvez isso seja uma mensagem pra eu calar a boca. Podia até perguntar para o Perry, mas não estou com vontade de levar patada. Só olho pra janela. Demora uma meia hora só pra gente sair da estrada de chão que parece que foi esquecida um tempão atrás, e depois ele entra pela estrada principal, que entra na cidade. Meu estômago ronca, e eu imagino que seja quase meio dia agora. Quero voltar, e comer. 

Uma coisa que não dá pra reclamar da senhora Kowki é a comida. Mas, se ela tem idade pra ser avó, ela com certeza vai saber cozinhar bem. Acho que nunca comi tanto na minha vida quando nesses três dias. 

-Falta muito pra gente chegar? -Eu pergunto. Perry e Rose já devem ter vindo antes, porque não perguntam nada, e eu já perguntei umas quatro vezes. Chris não parece impaciente. 

-Uns quinze minutos. -Me sinto como naqueles dias de natal, quando minha família se reunia em algum lugar, e quando alguém saia, todo mundo ia junto, de carro, comprar mais vinho ou tomate ou algo assim. Tenho a mesma sensação, a de estar nervosa e ansiosa ao mesmo tempo, como se fosse a primeira vez e como se eu estivesse participando de algo grande, um grande sinal de fraternidade.

Mas eu não sinto fraternidade nenhuma aqui, a não ser com Rose, talvez. Ela foi a única exceto Danny que foi genuinamente gentil comigo. 

Quinze minutos depois, a gente para no mercado. Não é grande coisa -nós não estamos nem no coração da cidade, e ainda parece meio caipira, mas algo me diz que não dá pra sugerir algo mais sofisticado. Então eu, Perry e Rose entramos juntos. Os corredores se estendem e algumas pessoas, com filhos e maridos estão olhando as prateleiras. 

-Se quiserem, vocês podem ver algo que queiram pra comprar ou pra comer no caminho de volta, sei que estão com fome. 

-Posso ir com você? -Rose pergunta, para Chris, ele sorri.

-Claro, venha. -Ele lança um olhar significativo pra nós, que eu traduzo como: não façam besteira.

Quando eles saem, vou na direção oposta da de Perry, porque não quero mesmo ficar do lado dele, e não viro pra ver sua reação (ele nem deve ligar), vou direto pra prateleira de chocolate. 

O negócio é o seguinte: eu não ligo se dá espinhas, ou se engorda, eu amo chocolate. É meu prazer secreto, minha satisfação momentânea, de acordo com o que Shopenhauer disse. Eu amo todos os tipos, as variações, o doce, o sabor, a emoção de comer chocolate. Parece idiota, mas é um ato quase sagrado pra mim aproveitar o chocolate na boca, então vou direto pegar meu preferido. 

-Então, mais uma borboleta? -Um homem ao meu lado, com um uniforme do mercado pergunta. Ele me olha malicioso.

-Perdão?

-Você é uma Borboleta? 

-Você quer dizer... da Orientação? -Ele ri, sem humor. 

-Então você é mesmo. Qual é o seu problema? Você é louca? -Penso em Kristin. Não sou como ela, mas pensar que estou no mesmo lugar que ela estava me dá arrepios e é como se me desse um tapa. 

Não. Sou. Louca.

-Não, com licença. -Tento desviar, para ir procurar Chris. Mas acabo encontrando Perry no outro corredor, o de shampoo. Fico olhando as variedades de shampoo, a uma distância segura, quando o homem volta ao meu lado. 

-Ei, doce, você não precisava ter saído desse jeito. 

-Não sou louca. -Ele ri, como se não acreditasse que eu estou falando a verdade. 

-Escute, quando sair de lá, vem pra cá, que eu te levo pra minha casa e consigo te deixar mais louca ainda, se é que me entende. 

Já chega. Meu punho se fecha, e estou prestes e enfiar minha mão na cara desse idiota, quando sinto a mão de alguém na minha, me impedindo. Não preciso virar pra saber que é Perry. O homem olha, se divertindo. 

-Não. -Perry fala baixo. -Se você bater nele, Chris vai ficar enfurecido. E Deus sabe o que ele vai fazer. 

-Eu quero ir embora. -Me viro para Perry, ignorando o homem, mas saber que ele está me olhando causa um frio na minha espinha. Quem ele pensa que eu sou? Kristin? -Por favor, eu quero ir embora. -Repito, sem confiar em mim mesma pra dar o próximo passo. Perry intercala o olhar entre eu e o homem, depois de puxa, desviando do cara. Paramos no caixa, que está vazio, então ele puxa o chocolate da minha mão e a atendente registra. Do bolso, Perry tira uma nota e entrega. Olho, perplexa. 

-Você tem dinheiro?

-Só pega o seu chocolate e vamos pro carro. -Sigo ele, ficando mais pra trás porque não ando tão rápido. Vou para o meu lugar e ele para o dele, no banco da frente. Ficamos em silêncio, até eu começar a chorar. Quero dar um tapa em mim mesma, mas não consigo evitar. Perry se vira um pouquinho, o suficiente pra poder me ver sem mexer a cabeça. 

-Eu não sou louca. -Digo, incoerente. Aquilo... me marcou. A profundidade do que aquela pequena casa em St. Mara representa parece maior agora. Eles cuidam de gente. Gente mentalmente instável. Gente louca. Ah, Deus. 

-Eu sei. -Sua voz é vazia.

-Isso não faz sentido. Eu estar lá. Eu não sou como aquele cara pensa que eu sou. Não sou como a Kristin. -Ele demora pra falar, mas quando fala, é rápido e acusador. 

-Você sabe por que EU estou lá, Emerson? 

-Não. -Fungo. Ele ri sem emoção.

-Depois que minha mãe morreu, meu pai começou a viajar e me deixar sozinho em casa. Sabe o que eu fazia? Eu ligava pras garotas e elas passavam a noite lá em casa. Você pode imaginar o que a gente fazia. -Me sinto...enojada demais pra voltar a chorar. Eca. Mas ele fala com naturalidade agora. -Eu usava o corpo delas pra esquecer da minha mãe e do meu pai, e fiquei meio viciado nisso. Eu pensava que era melhor do que beber ou usar drogas, até meu pai descobrir a gravidade do problema e me mandar pra cá. Agora, -ele pausa. -você acha que eu sou louco? 

Talvez.

-Não. -Ele sorri, mas não é um sorriso gentil. É mais um sorriso... babaca. 

-Bem, eu sou. -Algo me diz pra correr pra longe desse carro. -Mas todo mundo é um pouco. Danny e Dover estão lá porque têm depressão, já que viram o pai sendo assassinado na frente deles. Liana quase botou fogo na própria casa porque o marido deixou ela. Ela acha que emagrecendo vai reconquistar ele. E você... você tem princípio de depressão. -Ele diz, convicto, tenso e sem tirar os olhos da janela do carro, do meu lado, evitando meu olhar. Seus olhos escuros parecem gelados. -E problemas de raiva e não sabe aceitar a separação dos pais. -Não preciso ouvir isso agora. Realmente. -Tudo isso eu posso entender. Mas o problema é que você não entende. Sim, Emerson, você é louca. Todo mundo é louco, porque olha quanta merda aconteceu. Você só não é tipo de louca que aquele cretino acha que você é. Então sugiro que pare de agir como um bebê, engula o choro e mande ele se foder, porque, honestamente, ele não disse nada que você já não soubesse. -Se ele tivesse enfiado uma faca no meu coração, teria doído menos. Não sei o que dizer, estou atônita, perturbada demais. Digo a coisa mais idiota que vem na minha cabeça, depois de um período de silêncio.

-Quer chocolate? -Ele sorri, e não é o sorriso babaca. É um sorriso de verdade, bem pequeno. 

-Por favor. -Tiro um pedaço, e dou para ele, e nós dividimos o chocolate até Rose e Chris chegarem, e eu ter que fingir sorrisos pra ninguém desconfiar do que aconteceu lá na ausência deles. 


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Notas finais do capítulo

o q acharam???????????? muito esquisito????? fksdjhfskjhskjdfhskdfhkjh