People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 37
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

(': to chorando



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Hoje Perry está triste. Posso perceber, posso sentir, está no ar. Ele está quieto, com a cabeça no livro, e me abraçando a cada dois segundos. Ele também confirmou, dizendo que era por causa da sua mãe. E eu entendo isso, porque às vezes a gente acorda triste, com saudade, com raiva, com tudo e pronto. Não é algo que a gente possa controlar. O coração é instável desse jeito. Só o amor é constante, e sei que ele só está triste do jeito que está porque o amor constante pela mãe é grande. E ele sente falta dela. E eu daria tudo para tê-la aqui, com a gente, mas como não consigo, posso apenas o confortar.

Pulo na cama, enroscando as pernas na cintura dele, obrigando-o a deixar o livro de lado, por apenas um segundinho para eu poder falar.

–Podemos fazer alguma coisa hoje. -Dou um beijo em seu pescoço. -Visitar o zoológico? Ela ia gostar disso. Ou podíamos tomar sorvete. Óbvio que a sua mãe gostava de sorvete. -Isso arranca um sorriso dele e eu imediatamente me sinto melhor. -A gente podia dar pão para os patos do lago e depois correr do velhinho que proibiu a gente de fazer isso. Uma homenagem aos tempos rebeldes da sua mãe. Ou, aposto que ela adorava chocolate. -Talvez eu esteja falando por mim mesma. -Podíamos comprar quilos e quilos e fazer uma montanha de chocolate.

–Podíamos botar uma fita adesiva na sua boca. -Ele comenta, mas está sorrindo mesmo que levemente. Não me intimido.

–Uh-uh, assustador. -Beijo a sua bochecha e ele puxa minhas pernas para mais perto, se é que isso ainda é possível. -Eu quero que você melhore, mas eu sei que está pensando na sua mãe, e eu também sei que quer pensar nela, então podíamos fazer alguma coisa por ela. -Ele me olha, daquele jeito que costumava olhar quando nem nos falávamos na Orientação. Porém, seus olhos são bem mais gentis que naquela época. Boto meu rosto na curva do seu ombro e pescoço e recomeço minha fala. -Podíamos até ficar bêbados no final da noite, e eu até pago a bebida. -Ouço sua risada. Ele sabe que o dinheiro que eu ganho escrevendo para um pequeno jornal não é o suficiente nem pra comprar uma roupa legal no fim do mês e só cobre as despesas do meu alojamento e a universidade, então também sabe que se estou oferecendo pagar por algo tão banal quanto bebida, é porque o assunto é sério.

Ou, aparentemente, cômico. Ele ainda está rindo.

–A última vez que você bebeu foi no ano novo. E nesse dia, se eu me recordo, você caiu na piscina da casa do meu pai. -E a memória é dolorida, já que estava muito frio mesmo e eu quase congelei na água de inverno. A dor eu lembro, o resto não.

–Irrelevante. -Digo, irritada.

–Ei, olha pra mim. -Ele ergue meu rosto, então sou obrigada a olhar. Ele faz uma trilha com a sua mão, da minha coxa até a metade da minha cintura, levando minha camisola junto.

Idiota.

–Podíamos assistir Breakfast At Tiffany's. -Era o preferido da mãe de Perry. Sorrio. -E ficarmos só assim. Não precisa gastar todo o seu dinheiro. -Seu tom de voz é calmo e sei que está tentando ficar melhor, mais animado, por mim.

Rolo para o lado, deitando ao seu lado e ele envolve meus ombros com seu braço, me puxando para mais perto e descanso a cabeça em seu ombro.

Estamos nessa rotina há um ano. O que quer dizer que estamos em Nova York há um ano, estudando, vivendo e aprendendo, por mais clichê que isso possa soar. E sinto na necessidade de informar, com orgulho (vindo de mim e de Perry) que eu escolhi filosofia como curso principal. E que agora posso afirmar que existem muitas teses, teorias, ideias melhores que a de Shopenhauer, mais felizes e mais sábias.

Na verdade, acabei de criar uma nova filosofia, que resume minha vida, a vida de Perry, nossa vida em conjunto e provavelmente a vida de alguém por aí, que é a seguinte: você fica triste, então come um chocolate e fica feliz, então lembra de algo da pessoa amada e fica com saudade, depois briga com alguém e fica com raiva, depois feliz, triste, com raiva, nostalgia, feliz, feliz, feliz. E nunca acaba. Não existe uma pessoa na terra que viva feliz a vida inteira, triste a vida inteira, com raiva a vida inteira. Algumas pessoas dizem que a vida é feita de momentos, mas na minha nova filosofia, ela é feita de emoções. Algumas mansas, quietas e outras gritantes e violentas. Faz parte. A única coisa constante é o amor, que pessoalmente, acredito que é o que origina tudo isso, todos os sentimentos e emoções, é o que nos faz procurar a felicidade, encontrar a tristeza e provocar a raiva. Então mesmo que os sentimentos mudem, mudem, mudem, acabem com a gente, nos partam ao meio, deixem-nos sem fôlego, o amor vai estar lá. A espreita, esperando para nos remendar.

Alguns dizem que isso se chama Deus.

Eu gosto de chamar isso de vida em si.

E não importa o nome, desde que você tenha.

E aqui, com o Perry triste com quem eu me encontro, sei que o amor é maior que a sua saudade. A tristeza. Que é o motivo por ele sorrir para mim, me beijar, me abraçar, me deixar viver ao seu lado mesmo quando quer chorar.

Então nós assistimos o filme. Nós comemos chocolate. Nos beijamos. Rimos. Ficamos em silêncio e fazemos outras coisas também, até a felicidade atingir Perry novamente, e continuarmos com as nossas pequenas vidas, esperando pela próxima emoção arrebatadora, esperamos a vida continuar a acontecer, porque ela sempre acontece, e esperamos juntos, com amor, com muito amor, e constantemente vivos.


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