People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 12
Declínio


Notas iniciais do capítulo

ta mais confuso que eu im sorry



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-Para de rir. -Eu implorei pra Perry depois que cinco minutos se passaram e eu não conseguia olhar pra cara dele sem começar a gargalhar. Até depois que a graça se perdeu, era só encará-lo que se tornava a coisa mais divertida de novo. Sem contar que ele fazia uma careta engraçada quando ria e isso fazia outra rodada de risos aparecer. Então eu comecei a respirar fundo, e só quando olhei para o resto das pessoas na mesa que eu percebi que nós dois deveríamos parecer loucos. Danny estava olhando como se eu fosse de outro planeta e Rose estava rindo da nossa cara. E aquilo não me incomodou. Aquilo parecia divertido.

-O.K. O.K. -Ele retomou o fôlego. -Chega. -Tive que secar uma lágrima do meu olho e explicar para a senhora Kowki que não estávamos rindo da cara dela, e sim de uma coisa que ela disse que nos lembrou outra coisa que era engraçada. Não sei se ela comprou. Ela ficou me olhando meio desconfiada, mas perguntou se eu queria mais comida e ficou em silêncio depois. Não falei mais com Perry, embora nossa situação tenha ficado melhor, eu acho.

Acordo no dia seguinte miserável. É como se toda aquela risada do dia anterior tivesse sido revertida pra um mal humor terrível. Sai para tomar café, mas até olhar pra cara de alguém me fazia (1) ficar com raiva (2) chorar (3) querer me matar. E mesmo que eu não tenha dito nada pra ninguém, Chris percebeu. 

-Tudo bem, Emerson?

-Sim. -É claro que eu vou mentir. Geralmente, quando as pessoas falam não, elas querem que a outra, a que perguntou, se preocupe e pergunte o motivo ou algo assim mas eu não. Só quero ficar no meu quarto, chorando por ver a simples luz do dia e de preferência em paz. 

-Então, já que está bem, por que você não escolhe o nosso tópico de hoje da Conversação? -São. Oito. Da. Manhã. Perry e os meninos saem do quarto e se sentam. Rose já está lá, comendo torrada e eu comendo bolachas, como sempre.

-Vamos falar sobre homens. -Decido que é melhor canalizar todos os sentimentos que acordaram comigo hoje em uma pessoa: meu pai. Sei que ele ligou mais de uma vez pra cá, porque escuto a senhora Kowki desligando o telefone ou mudando de assunto sempre que eu chego, e sei que ele quer que eu fale com ele. Mas não. Ele partiu meu coração. E ele é um babaca. 

Decidi que todos os homens são babacas.

Exceto Danny, mas ele não é bem um homem. 

E Chris. Nah, eu odeio Chris também. 

Por um segundo minha mente hesita quando penso em Perry mas chego a conclusão de que o ataque de riso não foi nada, então que se dane. Odeio ele também. Aparentemente, a Conversação vai começar na mesa do café. A senhora Kowki não parece se importar. 

-Homens?

-É. Sobre como eles são babacas. -E traidores. 

-Alguém em especifico? 

-Sim. Os que não se contentam com uma mulher só. -Paro depois que falo, e não deixo de pensar que essa pode ser exatamente a descrição de Perry. Ele me olha, com os olhos estreitos. 

-Logo de manhã?

-Ele que pediu. -Retruco. 

-Continue, Emerson.

-Decidi que odeio homens. Todo mundo. Cada um que faz besteira e os que vão fazer besteira e os que não sabem que vão fazer besteira. Decidi sair pra matar todos eles. -A última parte digo brincando, mas ninguém ri. Chris me olha com a cara de guru dele, profissional e séria.

-Você quer conversar sobre seu pai? -Fecho a cara. 

-Não. 

-Uma hora vamos ter que conversar sobre isso. Não dá pra ignorar seus problemas pra sempre. 

-Se não se importa, prefiro ignorá-los pelo máximo de tempo que conseguir. 

-Emerson. Raiva não é saudável. Raiva não mostra nada além de que alguém a magoou o suficiente pra causar sentimentos tão fortes. Eu sei o que você quer. Vingança. Ou algum modo de extravasar a raiva. E o modo mais comum pra extravasar a raiva é usando violência, apesar de não ser o modo mais correto. O modo mais difícil é perdoar.

-Podemos voltar a falar sobre homens?

-Está na hora de levarmos o seu tratamento a sério. 

-Escuta, eu não quero, tá? Você já pegou seu pai traindo sua mãe? Você já foi mandada pro meio do nada sem nem poder opinar? Já? Aposto que você não tem problemas de raiva, aposto que a sua vida é perfeita e que você morou nesse lugar espirituoso e maravilhoso a sua vida toda. Aposto que tem uma fila de mulheres atrás de você e você pode escolher a dedo com quem vai ficar. Não opine sobre a minha vida. Não. Você não viveu o que eu vivi você não sente o que eu sinto. Eu sei que eu tenho raiva. Eu sei que ele é meu pai. Mas o problema é esse. Ele era importante. Ele é importante. E quando uma pessoa é importante e você ama ela demais, quando ela pisa na bola e estraga tudo demora mais tempo do que você imagina pra se recuperar. Então me deixa. Por favor. Me deixa em paz. -Levanto da mesa e saio pela porta. Lá fora, eu paro. Respiro fundo. Posso lidar com a minha raiva depois. Só preciso respirar. Ar fresco. Ar puro. 

Preciso ir pra algum lugar. Longe daqui. Começo a correr. Só sei onde estou indo quando eu limpo para longe as lágrimas e encontro a trilha. Estou a caminho da plantação de arroz. Porque eu não sei. Evito pensar. Pensar dói, pensar necessita de esforço e eu só quero vegetar pra sempre, então me mantenho nesse estado de torpor, como se eu estivesse anestesiada. Os galhos arranham meus braços, minhas pernas, e eu entro em pânico quando escuto um barulho que não seja meus pés. Mas é só... Kristin. Seu cabelo ruivo voa pelo ar, e ela cospe algumas folhinhas que bateram contra ela na sua corrida pra me seguir.

-Me espera. Também quero ir. 

-Sabe pra onde estou indo? 

-Pra plantação. É o único caminho. -Ela apoia as mãos nos joelhos, respirando forte. -Quero te mostrar uma coisa. 

-O quê? 

-É do outro lado da plantação. 

-Vai demorar pra chegar. 

-Eu sei, mas é um bom exercício. 

-Alguém te mandou aqui?

-Não sou o cachorrinho do Christian, se é isso que quer saber. -Ela responde, então recomeço meu caminho.

Quando chegamos, as canoas estão sendo puxadas por uma corda, e nós puxamos duas, junto com os remos, até nós e então subimos. Isso me lembra uma conversa que tive com Danny, alguns dias atrás. A gente estava conversando sobre a primeira vez que eu entrei na plantação e sobre a minha queda.

-Você parecia... pilhada. -Ele comentou. Não quis admitir que eu estava, então fiquei em silêncio e ele continuou. -Você parecia neurótica, cara. Como se tivesse uma arma embaixo do braço esperando a hora certa de matar alguém. 

Será que eu só venho nesse lugar quando eu estou com raiva? Um dia Mack disse que o Refúgio dela era o sótão, onde ela podia ficar quando eu estava brava com ela ou a nossa mãe (ela e meu pai nunca brigavam). Será que essa plantação idiota é meu refúgio? 

Ha.

Não. 

Isso não é a minha casa. Estou longe demais de casa, agora. 

Subitamente tenho uma vontade de ligar para Mack, e saber como as coisas estão. Quase penso em desistir no nosso pequeno passeio e voltar pra ligar pra ela. Mas Kristin está tão concentrada em passar para o outro lado que eu desisto e a sigo. Demora uns dez minutos pra chegarmos. Passo os dez minutos apreciando a vista plana e livre, que dá a sensação de que o mundo é maior do que parece, por causa do céu aberto. 

-Vem. -Ela me puxa para fora e meus pés tocam a terra. Tem outra rodada de florestas e árvores e barulhos de animais. 

-Por favor me diga que aqui não tem cobras.

-Não. Eles vasculham a área. -Ela dá de ombros. Entramos pela floresta, procurando clareiras. Andamos em silêncio, até a paisagem começar a rarear... e então, estamos em uma praia. Não é exatamente uma praia, porque não tem areia. É como um rio... enorme. O trapiche se estende por metros, e lá no fundo, a distância, tem montanhas. Dá pra ver uma cachoeira. Se eu não estivesse tão cansada, daria um jeito de ir até lá. Mas andei demais, então me contento em andar pelo trapiche para ficar praticamente no meio da água. Kristin senta na borda e eu sento do lado. 

-Você vai ter que aceitar uma hora, sabe.

-Aceitar o quê? 

-Que está aqui pra ser ajudada. 

-Não preciso de ajuda.

-Precisa. -Fico irritada.

-O que quer dizer?

-Todo mundo precisa de ajuda. -Ela contra-ataca, como se fosse óbvio e eu me acalmo um pouco. Achei que ela ia passar cinco minutos falando sobre raiva/etc/etc. -Mas fica melhor depois de um tempo, lidar com isso. -Ela aponta para o próprio peito. Sei o que quer dizer. -Perry chorava todas as noites também. -Isso  me surpreende.

-Sério?

-Era pior que você. -Reviro os olhos, mas é bom saber disso. Um segundo depois, fico confusa.

-Mas ele está aqui por causa do vício esquisito dele, não está? -Kristin olha pra mim como se eu estivesse perdendo algum detalhe importante.

-Também. Ele está aqui por causa da morte da mãe dele principalmente. -Ela informa, óbvio. -A parte do vício é fácil, só precisa de uma intervenção. Ele foi aceito por causa da morte. Ele está de luto.

Algo me atinge. É como se alguém estivesse me dando um tapa. Eu não percebi. Eu não percebi... mesmo. 

Me sinto horrível. 

São muitas emoções pra pouco eu. Diria que é uma montanha russa de sentimentos mas está mais parecido com uma roda gigante: só sobe e desce. 

Ugh.

-Oh.

-Emerson, todo mundo tem problemas. Ele só é bom em esconder. Você é o contrário. Você deixa na cara. Super na cara. Então, já que não sabe esconder, sugiro que confronte seus problemas de uma vez. É o único jeito pra melhorar. Eu acho. 


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Notas finais do capítulo

n me matem