Diferentemente das duas pessoas sentadas no sofá da pequena sala de estar, a noite estava calma lá fora. O céu claro e uma leve brisa anunciavam uma fresca e agradável noite de sono para todos no pequeno povoado. Menos para Sirius e Lily.

Os dois amigos estavam aflitos na sala, ambos encarando algum ponto fixo e tentando não deixar muito do nervosismo aparecer, talvez em uma tentativa de não deixar o outro ainda mais apreensivo.

– Acha que ele já devia ter voltado? – Lily perguntou depois de um longo tempo de silencio na casa.

– Não sei. Talvez não.

– Já é bem tarde.

– É... hum... que horas são?

– Ah... só uma e meia ainda. – Ela falou olhando para o pequeno relógio de pulso. – É, não está tão tarde assim. Não faz tanto tempo que ele saiu.

– Que horas ele saiu?

– Meia-noite Frank passou aqui. Saíram uns cinco minutos depois.

Sirius, anormalmente quieto, apenas concordou com a cabeça e voltou a encarar um ponto qualquer da parede oposta. Ele e Lily ficaram em silencio por mais um longo tempo, soltando às vezes apenas pequenos suspiros e olhando para a porta ou para janela. Já era por volta das três da manhã quando Sirius falou novamente.

– Acho que não precisamos nos preocupar tanto. Normalmente os membros da Ordem só voltam de missões assim lá pelo meio da manhã.

– É. Acho que não precisamos nos preocupar tanto assim. – Lily concordou, balançando a cabeça, mas continuou a morder o lábio inferior e torcer as mãos sobre o colo. – E o James sabe se cuidar.

– É. E ele e Frank estão juntos para dar cobertura um para o outro também.

– Uhum... – A ruiva concordou outra vez. – Ah... eu devia ter chamado a Alice para vir para cá.

– Acho que ela está na casa da Augusta.

– É.

O silencio preocupado e incomodo se instaurou outra vez por mais um longo período de tempo e dessa vez ele foi quebrado por Lily.

– Alguma noticia do Remus? – Ela perguntou virando repentinamente a cabeça para Sirius.

– Não. – Respondeu entortando a boca e carregando ainda mais o olhar de preocupação. – Mas Dumbledore tem quase certeza de que ele está bem.

– Quase?

– É o máximo que podemos ter por enquanto. – Sirius deu de ombros.

– E o Peter?

– Ah, ele está bem. Falei com ele no inicio da semana, voltou bem da ultima missão.

– Que bom. – Lily deu um pequeno sorriso.

– É.

– Mas já faz quase um mês que não temos nenhuma noticia da Lene. Dumbledore diz que também tem quase certeza de que ela está bem, mas não sei... já é muito tempo sem nenhuma noticia.

– Dumbledore deve saber de mais alguma coisa, ou ele já teria mandado alguém procurar por ela.

– É, espero.

Já estava amanhecendo quando Sirius se levantou subitamente e caminhou até Lily, lhe oferecendo a mão para ela se levantar também.

– O que foi? – Ela perguntou estreitando um pouco os olhos.

– Não vai adiantar nada a gente ficar o tempo todo sentados aqui pensando no que pode estar acontecendo.

– E o que você sugere? – Lily questionou franzindo um pouco o nariz já desaprovando qualquer ideia maluca que ela sabia que surgiria da mente do amigo.

– Precisamos relaxar um pouco. – Ele falou balançando levemente a mão para insistir que ela a aceitasse.

– Sirius, você sabe que você não faz o meu tipo.

– Eu faço o tipo de qualquer uma, ruiva. – Ele falou soltando uma curta risada rouca. – Agora vamos.

– Onde?

– Só dar uma volta na minha moto, Evans. Vem logo.

– E como é que dar uma volta naquela sua moto suicida vai me ajudar a relaxar, Black?

– Merlin, como você é chata! O que foi que o Prongs viu em você?

– Tenho minhas qualidades. – Ela falou piscando para ele e finalmente segurando a mão do amigo e se levantando.

– Pode me mostrar, ruiva? – Ele retribuiu a piscada.

– Já disse que você não faz meu tipo. – Ela falou rindo e abriu a porta, saindo para o inicio de manhã gelada.

Sirius e Lily caminharam alguns metros até chegar à pequena rua onde ele tinha deixado a grande moto o melhor escondida possível. O moreno logo subiu nela, mas Lily ainda ficou encarando a maquina, meio insegura, com o olhar meio desconfiado.

– Vem logo, Lily!

Ela soltou um suspiro alto e chacoalhou um pouco a cabeça antes de subir e se segurar na cintura de Sirius.

– Se eu morrer, Black, eu volto com um fantasma só para dar um jeito de matar você.

– Ai, agora sim estou com medo, ruiva. – Falou rindo e ligou a moto, que soltou um sonoro e longo ronco na manhã ainda silenciosa.

Em questão de segundos ele e Lily estavam voando já alto pelo céu quase sem nuvens. Ela segurando firmemente na cintura do amigo que acelerava cada vez mais, abrindo um sorriso maior e maior a cada segundo.

– Eu odeio você e essa sua maldita moto, Black! – Lily gritou tentando sobrepor o barulho do vento.

– Ok, mas se você continuar apertando minha barriga desse jeito eu vou colocar todo o jantar para fora e isso não vai ser legal! – Ele gritou de volta.

Ela deu um tapa no ombro de Sirius, mas se soltou um pouco dele, finalmente levantando o rosto e deixando o ar frio bater no seu rosto e subitamente Lily abriu um grande sorriso, seguido por uma exclamação de jubilo. Sirius riu alto e lançou a moto ainda mais para cima.

A ruiva começou a rir e se segurando o mais firmemente possível com os joelhos, jogou os braços e a cabeça para trás deixando os cabelos voarem livremente, surpreendentemente aproveitando aquele passeio. Alguns minutos depois ela já estava se segurando com as pernas na cintura do amigo e o corpo totalmente jogado para trás rindo constantemente. Sirius riu e balançou a cabeça olhando para Lily antes de finalmente começar a descer com a moto.

– Você já está descendo? – Ela gritou.

– Antes que os muggles comecem a sair de casa e nos vejam! Quase não tem nuvens para esconder a gente.

Os dois finalmente atingiram o chão quase um minuto depois. Lily desmontou alegre e agitada antes mesmo de Sirius desligar a moto.

– Então, senhora “eu odeio você e essa sua maldita moto, Black!”, acho que gostou do passeio, né?

– Cala a boba, Black. – Ela falou suprimindo uma risada.

– Não.

Ela revirou os olhos, ainda sorrindo, e começou a caminhar ao lado de Sirius até a casa, conversando alegre com ele.

– James! – Ela exclamou e saiu correndo para abraçar o marido quando o viu saindo da porta da frente da casa. – Tudo bem? Como foi a missão? Você se machucou? O Frank está bem? Quando você chegou? – Ela perguntou tudo muito rápido e de um folego só, segurando entre as mãos a cabeça de James.

– Tudo bem, Lils. – Ele riu um pouco. – Onde vocês estavam? Cheguei e não tinha ninguém, fiquei meio preocupado.

– Sabe como é, estava levando a gata aqui para uma volta na minha moto. – Sirius falou rindo e colocando o braço sobre os ombros de Lily.

– Jura? – James perguntou arregalando os olhos e olhando para a mulher. – Quem foi que jurou que nunca subiria “naquela coisa suicida do Black e uma grave violação a lei que vocês quatro chamam de moto” mesmo?

– Ah, cala a boca! – Ela falou entrando na sala e se jogando no sofá.

– Estou surpreso com você, Lily Evans Potter, sair no meio da noite, enquanto seu amado marido está fora em uma missão da Ordem, para andar de moto com o Sirius, tsk tsk.

– Pois é, eu sei como convencer uma mulher. – Sirius falou sentando no sofá, esticando as pernas e cruzando as mãos atrás da cabeça para apoia-la.

– Calem a boca vocês dois ou vou ter que estuporar vocês.

– Dois contra um, Lily, você nunca conseguiria derrubar a gente.

– Então quer dizer que você está do lado do Sirius, James? – Ela perguntou levantando uma sobrancelha.

– Obvio que ele está do meu lado, o James está sempre do meu lado.

– Se eu fosse você pensaria melhor James, afinal o Sirius não pode te dar o que eu posso. – Ela falou com um sorriso malicioso e piscando para o marido, que sorriu de volta. – Bom, pelo menos eu espero que não.