Uma Nova Chance escrita por Lady Padackles


Capítulo 33
Capítulo 32




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Finalmente chegaram à porta de Roger. Sam reuniu toda a sua coragem e bateu.

– TOC TOC TOC.

– Pode entrar – respondeu uma voz masculina.

Sam abriu a porta, e Dean, trêmulo, escondeu-se atrás do namorado. Era sorte que Sam fosse tão alto...

Era uma sala espaçosa e bem iluminada. Próximo à janela havia uma mesa grande, e, sentado junto a ela, um homem de meia idade. Era um homem magro e de aspecto triste, porém bem vestido e, pelo jeito, bastante organizado. Tudo parecia estar em seu devido lugar. Sam não pôde deixar de compará-lo ao filho nesse aspecto.

Roger olhou para Sam um tanto curioso. Notou que havia outro garoto com ele, mas não pode vê-lo direito. O que aqueles meninos queriam?

– Pois não? – perguntou o homem solícito.

Dean olhou para o chão na tentativa desesperada de encontrar um buraco para se enfiar... Apertou o porta-lápis que segurava com força. Ele estava patético carregando aquele pedaço de MDF velho com uma pintura antiga e muito mal feita... Por que aceitara se expor ao ridículo daquela forma? Pela milésima vez pensou em virar para trás e correr o máximo que suas pernas permitissem.

– É... Bem... – Sam também estava nervoso e gaguejava. – É que... Eu sou amigo do seu filho... – falou por fim.

A expressão no rosto de Roger passou de curiosa a surpresa. Não era uma surpresa boa, entretanto. Parecia mais uma surpresa triste, como se ver um amigo do filho, que julgava morto, lhe trouxesse recordações muito infelizes.

– Amigo do Dean? – perguntou o homem, querendo certificar-se que falavam da mesma pessoa. Roger não se lembrava de nenhum amiguinho do filho. Adoeceu quando ainda era muito pequeno... Tinha coleguinhas na escola. Mas amigos de verdade? Ainda não...

Sam balançou a cabeça afirmativamente. Apesar de ter ensaiado o que dizer a Roger, as palavras lhe fugiram.

Talvez aquele garoto pudesse ter estado internado no hospital na mesma época que seu filho. Vai ver tinham feito amizade por lá... Mas por que estaria ele lhe procurando agora? Será que Dean, pressentindo sua morte, havia pedido ao amigo que encontrasse seu pai para lhe dar um recado? Tinha passado muito tempo, mas talvez o garoto só tivesse tido a oportunidade de encontrá-lo agora... Os olhos de Roger encheram-se de lágrimas com a perspectiva de receber uma mensagem do filho. Saudade, amor, remorso, tristeza, amargura... Era impossível descrever tudo o que aquele homem sentia.

– Seu filho... Dean... – Disse então Sam, titubeante. Sua voz embargou. Ele não conseguiria dizer mais nada sem que começasse a chorar. Sabia do desespero do namorado. Sabia do amor que sentia pelo pai. Nos olhos de Roger, ele enxergava a dor e o arrependimento. Era emoção demais que os dois finalmente se reencontrassem. Então Sam deu um passo para o lado, segurou o namorado e colocou-o de frente para Roger.

Quando o olhar do pai cruzou com o do filho, Dean começou a chorar. Estava nervoso, mas acima de tudo emocionado. Pensou que nunca mais veria o pai... Agora, finalmente, tinha-o diante de si. Estava um pouco mais velho, mas isso ele nem reparou... Sob seu olhar, sentiu-se novamente como uma criança: pequena, desamparada e desesperadamente dependente de seu progenitor.

Roger demorou dois segundos para reconhecer o filho, não mais do que isso... O olhar que aquele lindo rapaz lhe lançou, e seu choro de descontrolada emoção, foram o suficiente para que o homem pudesse reconhecer nele a versão crescida do seu anjinho. Seu menino... A quem ele tão covardemente havia abandonado... A criança que para ele havia morrido há anos. Era um milagre de Deus... Um milagre que ele não merecia... Um milagre que fazia dele, naquele momento, a pessoa mais feliz do universo.

Sem que percebessem, Dean e Roger já estavam um nos braços do outro. Agora era difícil dizer qual dos dois chorava mais... O filho apertava-se contra o corpo do pai, como se Roger pudesse protegê-lo de suas próprias emoções. Roger ria em meio às lágrimas, e vez ou outra afastava seu rosto para que pudesse ver o do filho. Por vezes achou que estivesse sonhando. Dean estava vivo, lindo, forte, crescido e saudável... Não disseram nada por alguns minutos, apenas curtindo a emoção do reencontro.

– Dean... Meu filho... Você está lindo... Está maior que eu... – Finalmente Roger falou, olhando o filho nos olhos.

O menino sorriu. Sem ainda conseguir dizer palavra, lembrou-se do porta-lápis que segurava na mão esquerda. Estendeu-o em direção ao pai.

– É para mim? – Roger perguntou surpreso. Dean balançou a cabeça afirmativamente.

O homem pegou o objeto e analisou-o com cuidado. A pintura, inconfundível, havia sido feita por seu filhinho quando pequeno. Era visivelmente um objeto antigo. Ele logo compreendeu que Dean guardara o presente para lhe dar durante todos os anos que estiveram separados.

– Que lindo, meu filho! Um cavalo... O meu animal predileto... – exclamou Roger emocionado, para felicidade de Dean. Seu cavalo havia sido confundido com um cachorro a vida inteira... Mas era apenas o julgamento de Roger que importava. O menino sentiu que as lágrimas já voltavam a pular de seus olhos.

Quantas vezes, sozinho, Dean não havia conversado com o animal estampado no porta-lápis? Quantas vezes não havia lhe falado sobre o pai? O melhor homem do mundo... Havia prometido ao cavalo que um dia ele seria de Roger... Estava feliz em poder cumprir sua palavra, mesmo onze anos depois. Dean quase podia ouvir o bicho relinchar de felicidade.

Sam, quietinho em seu canto, assistia a tudo, sentindo-se imensamente feliz. Lágrimas escorriam por seu rosto. Finalmente a cena com a qual tanto sonhara se desenrolava diante de seus olhos... O reencontro perfeito, repleto de emoção... Ao seu lado, Castiel estava invisível, por ordens superiores. Também chorava, mas em seu caso, de tristeza e preocupação. Para ele, ver Dean nos braços do pai parecia mais um pesadelo. Tudo se encaminhava para o que mais temia, e ele não iria aguentar... Não iria aguentar...

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Quando todos puderam finalmente se acalmar, Roger foi embora para casa, levando os dois garotos consigo. Morava sozinho, nunca havendo se unido a outra mulher.

Os meninos contaram a ele de suas aventuras fugindo da escola, e da surpresa que Sam fizera a Dean, que até então nem sabia sobre o local de trabalho do pai. Falaram de Oliver, porém mantendo a versão de que este era um parente idoso de Sam. Roger, é claro, não podia estar mais feliz. Não cansava de admirar o filho... Foi com muita alegria que o homem arrumou o quarto de hóspedes para os meninos. Gostaria que pudessem ficar ali para sempre... Entretanto, como adulto, era sua obrigação avisar ao Colégio. Com certeza estavam desesperados a procura dos dois.

Enquanto os garotos tomavam banho e colocavam as roupas limpas que Roger havia emprestado, o homem ligava para o Saint Peter para avisar sobre o paradeiro dos alunos. O diretor, logicamente, ficou muito aliviado com a ligação. Já estava arrancando os cabelos de preocupação. Até a polícia já havia sido acionada...

O Sr. Campbell tentou amenizar a culpa do filho e de seu amigo, é claro. Não queria que fossem punidos... Contou sobre a coragem e determinação dos dois em irem procurá-lo. Por fim, pediu encarecidamente que o Sr. Beaver não fosse muito severo.

– Eles já pagaram pela imprudência, Sr. Beaver... Passaram fome, dormiram debaixo da ponte... Aprenderam com o próprio erro... - Ponderava o pai de Dean. – Peço, por favor, que pegue leve no castigo...

O diretor prometeu ser benevolente. Pediu, entretanto, que os garotos ligassem para casa. Ele, logicamente, avisaria que tinham sido encontrados, mas os pais de Sam e a mãe de Dean com certeza ficariam aliviados em poder falar diretamente com os garotos. Roger prometeu que os levaria de volta a escola na manhã seguinte. Teria então o resto da tarde de domingo para curtir o filho.

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– Mãe... Não precisa chorar...

– Sam, meu filho, nunca mais faça isso! Você quase matou a gente do coração...

– Desculpa, mãe... – suspirou o menino. Estava tão empenhado em cumprir suas duas missões que esquecera por completo de sua família. Não queria ter sido motivo de tanta preocupação...

Depois de conversar com a mãe, Sam falou com seu pai e também com sua irmãzinha. Pediu desculpas a todos e garantiu que se comportaria a partir de então, principalmente quando o pai falou em tirá-lo do Colégio. Isso ele não queria, de forma alguma...

Quando finalmente Sam desligou o telefone, entregou-o a Dean. Roger estava apreensivo, afinal o filho estava prestes a ligar para a mulher a quem ele havia largado anos atrás. Saíra sem se despedir... Roger lembrava-se daquela noite com amargor.

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Estava sentado na sala ao lado da mulher. Era estranho como ela parecia tão tranquila... Dean estava doente. Ele não conseguia pensar em mais nada...

– Vamos dormir, querido? – perguntou a moça de forma sedutora.

– Esqueceu que o Dr. Petrowicz vai ligar? – surpreendeu-se Roger.

– Já está tarde... – Ponderou Joan – Vai ver os resultados não ficaram prontos ainda...

– Ele disse que ia ligar ainda hoje! – Reclamou o homem. Não sairia de perto do telefone de forma alguma... Aguardava o resultado ansioso. Precisava saber o quão grave era o estado de saúde do menino.

A mulher olhou para o marido parecendo desapontada. Ligou a televisão. Minutos mais tarde Roger ouviu um barulho vindo do quarto do filho e correu para averiguar.

– Sou só seu, Senhor Campbell... Vim ver se o menino estava precisando de alguma coisa...

Roger sorriu para Miss Hernandez, e deu um beijo na testa de Dean que dormia pesadamente. Saiu deixando os dois a sós. Era muita sorte poder contar com uma empregada tão solícita e cuidadosa, que demonstrava gostar de Dean como se fosse seu.

Assim que Roger desceu as escadas, percebeu sua esposa ao telefone. Joan parecia muito assustada. Ela afastou o aparelho do rosto e sussurrou para o marido, nervosamente.

– É leucemia...

Roger entrou em pânico. Pegou o telefone para falar com o médico, mas o Dr. Petrowicz se recusou a dizer mais. Queria que levassem Dean ao hospital na manhã seguinte, e então conversaria com eles pessoalmente.

– Não, doutor... Não podemos esperar até amanhã! – protestou Roger.

Dr. Petrowicz tinha terminado uma cirurgia e estava prestes a voltar para casa, mas Roger Campbell insistiu tanto que o médico concordou que o casal fosse até o hospital imediatamente.

Roger se lembrava de estar sentado em frente ao Doutor, ao lado de sua mulher. O olhar sério do médico apenas servia para deixá-lo mais nervoso.

– O estado do seu filho é muito grave. Eu sei que é difícil para vocês escutar isso... Precisam fazer uma escolha... Se ele não fizer quimioterapia, não tem mais que dois meses de vida. Podemos mantê-lo no hospital apenas para que fique o mais confortável possível. Sem sofrimento... Se optarem pelo tratamento, ele pode viver ainda, quem sabe, uns três ou quatro meses a mais...

Roger não conseguiu processar a informação de imediato. Voltou para casa com a mulher sem derramar uma lágrima. Horas mais tarde, sem poder dormir, sentia como se tivessem arrancado o coração de seu peito. A dor era insuportável. Não aguentaria meses de expectativa... Meses fazendo contagem regressiva até a morte do filho. Seria tortura demais. Ele simplesmente não era forte o suficiente.

Joan tinha acesso a todo o dinheiro que tinham. Ficariam melhor sem ele por perto, tanto a esposa quanto o filho... Se sua vida estava prestes a desabar, que então desabasse de vez. Roger entrou em seu carro e dirigiu sem olhar para trás. Deixou emprego, família, amigos... Pensou em se suicidar, mas nem para isso ele era forte o bastante...

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– Mãe? Aqui é o Dean. Estou ligando para dizer que estou bem...

– Dean!? Onde você está? Até que enfim apareceu! Eu já tenho problemas demais para ficar me preocupando com você, sabia? – Ralhou a mulher.

– Desculpa, mãe... Eu estou aqui com o meu pai... – atreveu-se o menino a dizer. Queria que a mãe soubesse que tinha fugido por uma boa causa.

– Seu pai?! – a mulher ficou surpresa.

Dean então explicou toda a história. Roger prestava atenção à conversa, apreensivo. Não tinha tocado no assunto de sua “fuga” com o filho... Tinha medo que a ex-mulher quisesse enfrentá-lo. Ficou aliviado quando viu Dean finalmente desligar o telefone.


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