Memories escrita por Kirjailija


Capítulo 1
Memórias e desabafos




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Essa não é uma história sobre bruxas e feiticeiros, fadas e dragões, príncipes e princesas. Tão pouco é uma história sobre Deuses, Demônios, Anjos, vampiros ou lobisomens. Não é nem mesmo uma história sobre luta e superação, com uma bela lição de moral no final. Essa é apenas a história sobre uma simples garotinha, que cresceu uma vida normal, em um lugar normal, com uma família normal. Uma história sobre coisas simples, escolhas simples, sonhos simples e desafios simples... Apenas uma vida.

Ela não começa com um “Era uma vez” ou “Há muito tempo atrás”, mas sim com um pequeno presépio que foi deixado na porta de uma casa, juntamente com uma carta. Ela começa com um casal, praticamente recém-casados, que desejavam um filho. Ela se inicia com a capacidade de duas pessoas de acolher e amar um pequeno e delicado ser desconhecido. Foi assim que começou a vida da garotinha. Uma mera recém-nascida. Um presente, de acordo com os pais que a haviam adotado.

Ah, ainda hoje ela acha graça das histórias que sua mãe costumava contar. De como o seu pai, depois de receber a notícia da sua chegada ainda no trabalho, chegou em casa completamente banhado de cerveja, e ainda assim querendo pegá-la nos braços. Ela ainda hoje escuta com arrebatamento quando sua mãe fala dos presentes e da festa que se seguiu a sua vinda. E assim, ela ainda hoje lembra do carinho com que a sua família a acolheu, das suas amadas mães de leite, que também repartiram um pouquinho do seu amor e proteção, e, principalmente, da sua adorada mãe biológica, que a havia deixado naquele lar cheio de amor.

Mas, mesmo assim, nem tudo foi um mar de rosas na vida da garotinha. Ela cresceu risonha e saudável, é verdade; mas, por trás de toda aquela alegria, se escondia uma pobre menininha assustada, que muito cedo presenciou os horrores do mundo, sem, no entanto, conseguir compartilhá-los. Sem ter a coragem de expressar seus temores a ninguém, nem mesmo aos seus amados pais. Ora, como uma criancinha poderia lutar contra uma professora sem escrúpulos, que a fez ficar parada em frente a toda turma, enquanto reclamava da nota baixa que ela havia tirado e do quão estúpida ela era? Como ela poderia contar sobre aquele homem – um conhecido da família – que tentou avançar sobre ela uma tarde, enquanto ela estava despreocupada assistindo desenho e comendo sorvete? Como falar sobre o porteiro do seu prédio, que a encurralou um dia nas escadas escuras? Ela não conseguia. Tinha vergonha. Tinha medo. Pobre garotinha assustada.

E ainda assim ela cresceu com um sorriso no rosto e uma risada nos lábios, com irmãos que eram quase como melhores amigos, e melhores amigos que se converteram em irmãos. Em meio a altos e baixos, à felicidade de ganhar um irmãozinho e à triste, porém suave, separação de seus pais, aquela garotinha chegou à adolescência. E assim começaram os sonhos.

Sonhos de uma carreira, de seguir a sua amada vocação, sua paixão pelos animais. Sua mãe costumava brincar dizendo que esse seu amor pelos seres irracionais havia surgido desde o berço, quando, com um susto, a mulher havia encontrado o pequeno felino, mascote da casa, confortavelmente adormecido ao lado da pequena recém-chegada. Então a garotinha, agora uma tímida adolescente, se esforçou ao máximo em seus estudos para conseguir alcançar aquele sonho que ela cultivava desde a criancice. E foi assim que ela passou pela adolescência, entre sorrisos, saídas com os amigos, aulas exasperantes e não tão exasperante, e uma família exigente, mas ainda sim amorosa.

Então ela surgiu. A chance da adolescente, agora mulher, de realizar seus sonhos. Uma cidade diferente, com pessoas diferentes e desafios diferentes. Uma vida diferente. E ela entrou de cabeça naquela nova experiência, empolgada com o mundo novo de possibilidades que se abria a sua frente e determinada a ter aqueles sonhos de menina realizados. Ah, a inocência!

Os desafios ficaram maiores, as dificuldades mais preocupantes e as falhas mais frequentes. Ela começou a cometer erros. A acumulá-los como se tratando de uma bola de neve, que crescia... E crescia...

E ela tinha tanto medo em desapontar aqueles que puseram tanta fé sobre ela e suas capacidades, que ela se viu completamente paralisada, sem conseguir seguir em frente e deixando que o tempo passasse sobre ela. Começou a se sentir como uma concha vazia. Um objeto que não tinha mais serventia. Uma fraca.

Ah, como ela desejava acreditar que seus pais poderiam perdoá-la por sua incapacidade. Como desejava não ser uma decepção para eles.

E então vieram aqueles pensamentos sombrios, o desejo de desaparecer, de deixar de ser um fardo. A vontade de acabar com tudo... Mas até para isso ela era uma fraca. Uma medrosa. Ela não conseguia, não podia... Não quando o medo do desconhecido era aquilo que mais pavor trazia a sua vida.

Então ela se obrigou a continuar. Encontrou algo que lhe devolveu um pouco da sua antiga vontade, algo que a fez relembrar seus velhos sonhos, algo em que sua mente se apegou como um bote salva vidas e a manteve focada. E ela continuou a rir e a sorrir, a contar piadas e sair com os amigos. Entretanto, bem lá no fundo, aqueles sentimentos sombrios, o desespero e o medo ainda continuam rondando dentro dela. Quietos, é bem verdade, mas ainda assim esperando por um deslize, um único erro, para poderem vir à tona novamente.

E por aqui fica a história... Não um “Happy Ending”, ou um “Bad Ending”, nem sequer era um “Ending”, pois a história dessa pequena garotinha assustada ainda continua acontecendo.


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Notas finais do capítulo

Apenas um momento de tristeza que me bateu e me fez escrever... gostaria de ter a coragem para mostrar essas palavras àqueles para a qual elas são destinadas...



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