Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 18
Cara Anne


Notas iniciais do capítulo

Ooooooooi, meus amores *-* Enfim, desculpa pela demora da postagem, mas é que semana passada eu fui viajar e ainda não tinha o capítulo pronto :-S
Mas aí está / E vai ter a resposta que todos estavam aguardando .-.
Ah, e Feliz Natal atrasado, hehe G.G e tenham um próspero Ano Novo *-*



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Pus os pés descalços em cima do banco, com os joelhos dobrados e as mãos tapando o meu rosto, apoiando-o ao mesmo tempo. Comecei a soluçar, os meus ombros tremendo.

– Anne, o que está acontecendo? – ele exclamou a pergunta, colocando uma das mãos sobre um dos meus ombros.

Eu soluçava ainda mais, enquanto se formavam minúsculas poças de lágrimas em minhas mãos.

– Por culpa de uma anemia severa que eu tive, o meu coração começou a falhar, e o meu histórico familiar ajudou. Mais tarde, – tossi – comecei a ficar com falta de ar enquanto me deitava, e só então descobri que eu estava com insuficiência cardíaca, assim como minha mãe, porém, um outro tipo. – Limpei o rosto com uma das mãos, e então olhei para o Brandon, que estava com a boca um pouco aberta, surpreendido. Ele evitava olhar em meu rosto. Seus olhos corriam por todo o carro, tentando achar um foco, exceto para mim.

Eu poderia contar das diversas noites que passei em branco por conta da minha dispneia, ou também das vezes em que quase caí da escada por causa da tontura. Poderia falar sobre as minhas fraquezas repentinas ou sobre os fortes ataques de tosse após um exercício. Mas preferi prender a mim mesma. Fazer uma pessoa sentir pena de mim era o que eu mais desprezava.

– Por que não me disse isso antes, Anne? – Ele se exaltou. – Eu... poderia te ajudar, ou sei lá. Eu realmente tentaria fazer alguma coisa.

– Não dá para fazer nada, você não entende? – Alterei a voz. – Você não sabe como é tomar remédios que você nunca ouviu falar só para prolongar a sua vida.

– Prolongar? – ele me perguntou, mas soou como se estivesse interrogando a si mesmo.

Minha boca começou a tremer levemente. Brandon e eu nos entreolhávamos, sem ter o que dizer.

– Se os remédios não fizerem efeito, eu... não sei o que vou fazer.

Abracei os joelhos e joguei a cabeça para trás, a encostando no encosto do banco. Mirei o teto cinza aveludado do carro, tentando me recuperar. Aquele silêncio todo estava me deixando cada vez pior, então calcei novamente as sapatilhas para ir embora, quando ele me interrompeu.

– Gosta de ler, não gosta? – Brandon me perguntou, com uma expressão reconfortante, mudando completamente de assunto.

Fiz que sim com a cabeça e ele tentou sorrir.

~~~~ ♣ ~~~~

– No sótão da minha casa há alguns livros antigos, sabe? Eles não parecem ser tão legais, até porque livros não são nem um pouco legais, mas se quiser ir... será bom para você se acalmar um pouco. – Não sabia o motivo de eu ter dito isso, até porque eu não era bom em dar conselhos ou reconfortar. Eu não sabia nem cuidar de mim mesmo! Mas algo me dizia que eu não podia deixa-la ir embora naquele estado.

Anne arregalou os olhos, vermelhos por conta do choro. Ela mordeu o lábio inferior, ponderando sobre a minha ideia, e, por fim, aceitou.

Trocamos os lugares. O caminho até minha casa parecia, por um instante, ter se expandido, o que me fazia ficar mais tenso com o tenso silêncio do carro. Mas o que eu poderia esperar? Anne estava muito doente. E ela havia me contado tudo há menos de quinze minutos. Eu, naquele momento, sentia uma imensa vontade de quebrar tudo o que via pela frente, mesmo tentando disfarçar com a merda do sorriso no rosto.

Estacionei na garagem e saímos do carro. Anne jogou os cabelos para o lado esquerdo e pôs uma mecha atrás da orelha, esperando enquanto eu girava a chave na fechadura da porta de casa. Quando finalmente consegui abrir, deixei que ela entrasse por primeiro. Subimos as escadas e entramos na menor porta à nossa vista. Para pisar no sótão, era preciso pular, então, feito isso, limpei as mãos na calça enquanto Anne admirava as estantes empoeiradas de livros mais antigos do que Os Simpsons.

– Esses livros... – disse ela, correndo os dedos pelos mesmos. – parecem ser incríveis. Sempre sonhei em ter uma biblioteca.

Me sentei em um canto, no chão, observando-a contemplando o depósito de poeira e teias de aranha.

– Com uma casa daquele tamanho, achei que tivesse uma.

Ela virou-se para mim e sorriu. Sinceramente, fiquei feliz por vê-la sorrindo.

Não, eu não estava virando um cara do tipo que admira a natureza ou fica imaginando desenhos nas nuvens. Nada disso. Apenas fiquei feliz por vê-la feliz.

Enquanto Anne estava entretida com os livros, eu me imaginava no lugar dela, sem pais, doente, com um tio pra lá de insuportável, ter que cuidar da avó também doente e ainda fingir que tudo está às mil maravilhas. Devia ser horrível ter que passar por tudo isso.

Sorri quando Anne pulava para tentar alcançar um livro na última fileira da estante. Aproveitando isso, reparei em como ela é bonita de corpo, se é que me entende. É, realmente, era muito bonita. No entanto, logo me estapeei mentalmente por estar secando Anne Mitchell. Justo ela! Mas, tudo bem, eu era um garoto, e garotos fazem isso.

– Uau, o pôr do sol é sempre assim visto daqui? – perguntou ela, abrindo a pequena janela rangente que havia ali. – Eu gosto de vê-lo da janela do meu quarto, mas não é tão bonito como visto daqui.

Me ergui e me aproximei dela, o meu sorriso de canto no rosto.

– É, eu acho, pois não costumo vir aqui – respondi, virando a cabeça um pouco para ver o seu rosto parcialmente alaranjado. Quando viu que eu estava a encarando, me olhou pelo canto dos olhos e sorriu. – Seus olhos têm uma cor exótica bem legal.

O sorriso aumentou um pouco mais.

Mirei a minha frente, pensando em alguma coisa para dizer. Arrumei a postura e sambei os dedos rapidamente na beira da janela quando uma ideia surgiu na minha mente.

– Quer ver uma coisa? – opinei.

Ela esboçou uma mistura de cenho franzido com sorriso, mas assentiu.

Pus uma perna para fora da janela, e Anne arregalou os olhos quando fiquei totalmente sobre o telhado. Lhe ofereci a mão. Ela hesitou antes de pegá-la e ficar em pé ao meu lado.

– Isso daqui vai quebrar, Brandon. – Ela tentou parecer séria. Somente tentou.

– Não vai, não, eu prometo – respondi.

A guiei até o outro lado da casa, onde o pôr do sol era bem mais visível e a paisagem muito mais verde. Quando nos sentaríamos à beira do telhado, ofereci novamente a minha mão para ajudá-la.

– Algumas árvores ainda atrapalham a vista, mas está bom – afirmei.

Anne não retrucou. Ela apenas estava com a cabeça virada para frente e com os olhos fechados, sentindo a brisa que batia contra o seu rosto e fazia com que seus cabelos esvoaçassem. Mirei a vegetação à minha frente e decidi fazer o mesmo que ela; parecia relaxante.

– Pode me fazer um favor? – ela indagou. Olhei para o lado e seus olhos, naquele momento azuis, me fitavam. Somente consenti, e ela sorriu com ternura.

Uma das minhas mãos se ergueu, e necessitei colocar uma das mechas do cabelo dela para trás da sua orelha esquerda. As bochechas da Anne se coraram.

– Obrigada por hoje – agradeceu. – Eu só... Não sei como vou falar isso, mas...

Eu a observava enrolar-se com as próprias palavras; era divertido e um tanto engraçado ao mesmo tempo. No entanto, senti um arrepio percorrer pelo meu corpo na hora em que Anne pôs uma das mãos em minha nuca e me deu um selinho.

Foi o melhor arrepio da minha vida.

Ela arregalou os olhos, o constrangimento era perceptível. Anne se afastou um pouco de mim, mas a aproximei de novo quando segurei seu pulso e, com a outra mão, o seu rosto, beijando-a novamente. Anne segurou um pedaço de pano da minha jaqueta, nas costas, tentando se afastar, mas resistiu, e então pousou a mão sobre o meu ombro.

Sua boca tinha um gosto adocicado. Não de morango, ou de cereja, já que ela provavelmente não havia passado batom antes de sair. Mas de um gosto que eu jamais poderia detalhar a alguém. Bem, e a sua pele... era tão macia quanto os lábios. Nunca pude sentir seu rosto, mas, naquele momento, era como se eu tocasse em pêssegos.

É, eu estava maluco. Completamente pirado. E ainda por cima, eu estava incrédulo sobre eu estar gostando de beijá-la. A garota com quem eu havia dado o último beijo fora uma participante do jogo verdade ou consequência, no segundo ano do ensino médio. Mas, mesmo assim, eu não conseguia acreditar que eu, Brandon Cooper, estava beijando Anne Mitchell. A Anne Mitchell, que eu odiei por tanto tempo.

Depois de longos segundos – que, sinceramente, pareceram poucos –, Anne me deu um leve empurrão, não forte, mas o suficiente para deixar nossos rostos a centímetros um do outro. Ela estava ofegante e um tanto nervosa, então levantou-se, quando escutei alguém abrir a porta abaixo de nós: minha mãe.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Com certeza vocês ODIARAM o capítulo, né? Hehehe :-B
*-* Mereço seus maravilhosos reviews?
Bj bj