Ele então ficou por um tempo apenas andando e observando a paisagem. Depois, sentou-se em um banco próximo ao lago. Em meio à sua distração, olhou para o lado e avistou alguém. No mesmo instante, seu coração acelerou.

- É minha chance, obrigado Deus! - agradeceu Carlos Daniel

Então foi em direção àquela pessoa e tocou levemente em seu ombro.

- Ca..Carlos Daniel? O que faz aqui? - disse a pessoa ao sentir aquele toque, não conseguindo evitar o espanto.

- Você não foi à fábrica, fui até a pousada e me disseram que também não estava lá, aí vim aqui pensar um pouco, não sabia mais onde te encontrar, Mariana. Ou melhor dizendo, Paulina.

Ela apenas ficou em silêncio, observando o lago.

- Precisamos conversar, por favor, tem tantas coisas que você precisa saber... - Disse ele, sentando-se ao lado de Paulina.

- E vai me dizer o quê? Que só queria brincar comigo? Parabéns, você conseguiu seu objetivo. - disse Paulina, com lágrimas nos olhos, ainda sem olhar para Carlos Daniel

- Eu nunca quis brincar com você, não sabe o quanto eu quis ter a chance de te encontrar, mas...

Nesse momento, sua fala foi interrompida:

- MAS NADA! VOCÊ NÃO IMAGINA O QUANTO EU SOFRI DURANTE TODO ESSE TEMPO. SABE QUANTOS ANIVERSÁRIOS EU PASSEI COMPLETAMENTE FELIZ? NENHUM! SABE QUANTO TEMPO TE ESPEREI? ANOS! E TUDO ISSO POR SER IDIOTA DE TER ACREDITADO QUE UM DIA VIVERÍAMOS NOSSO AMOR. - grossas lágrimas escorriam de seus olhos, e Paulina não podia evitá-las

- Por favor, deixe-me te explicar, as circunstâncias não permitiram que eu voltasse, mas eu também sofri, e não foi pouco. - afirmou CD, com os olhos marejados.

Ela nada respondeu, então ele continuou:

- Após nossa despedida, quando cheguei na capital, houve um acidente de carro no caminho do aeroporto para casa, e meus pais faleceram. Depois disso, minha vó resolveu colocar eu e meus irmãos em um colégio interno, e só íamos para casa nos fins de semana e feriados. E lá ficamos até o fim do colegial.

- E depois disso? - perguntou Paulina

- Bom, tem uma parte da história que você ainda não sabe...

- Estou ouvindo. - respondeu ela, seca

- Aos 16 anos, no último ano do colegial, conheci Elisabeth. Ela era um ano mais velha, e um pouco "atirada", digamos assim. No dia da festa de fim de ano acabamos bebendo, e bem... aconteceu. - contou, envergonhado

E seguiu:

- Alguns meses depois que saí daquele colégio, ela veio me procurar desesperada dizendo que estava grávida. Éramos muito novos, e eu não podia deixá-la desamparada. Minha família entendeu a situação, e acabamos nos casando. A maternidade mudou Elisabeth, e me fez amadurecer muito. Três anos depois, nasceu Lizete.
Apesar de tudo, devo dizer que vivi tempos muito felizes ao lado dela, ainda que nunca tenha chegado a amá-la verdadeiramente, tínhamos um carinho muito grande um pelo outro, pois ela me deu meus dois filhos, meus maiores tesouros.

- E o que aconteceu com ela? - perguntou Paulina, agora angustiada com a história

- Devido à complicações durante o parto, ela morreu logo após o nascimento de Lizete. Aí então, pensei que fosse tarde demais para te procurar. Mas quero que saiba que você nunca deixou meus pensamentos. Na verdade, o que senti foi medo de te encontrar casada, medo de ouvir de seus lábios que já havia me esquecido. Admito que fui fraco. - disse Carlos Daniel, baixando a cabeça.
Depois disso, conheci Paola, e o resto da história você já sabe.

Paulina estava atônita com essa história. Quando tentava imaginar como seria a vida de Carlos Daniel, jamais passou por sua cabeça algo assim. Lágrimas voltaram a molhar sua face nesse instante. Virou-se de frente para Carlos Daniel, levantou sua cabeça e o abraçou, como forma de contenção. Ficaram assim em silêncio, durante vários minutos.

Ao se separarem do abraço, enfim Paulina animou-se a dizer o que sentia:

- Carlos Daniel, me desculpe. Eu fui uma egoísta, pensei somente em meus sentimentos e te recriminei, jamais poderia imaginar que algo assim tivesse acontecido com você. Agora vejo que sofreu e passou por dificuldades na vida tanto quanto eu. Confesso que quando decidi vir pra capital, o que eu menos queria era te encontrar. Mas ao te ver diante de mim na sua sala, meu chão sumiu, meu coração disparou e...

Paulina foi interrompida ao sentir Carlos Daniel a puxando para si e tocando seus lábios nos dela. Inicialmente foi pega de surpresa, mas logo o beijo foi devidamente correspondido. Foi um beijo demorado, transmitindo muito amor e segurança. Ambos sentiam-se protegidos estando um na presença do outro.

Assim que separaram-se, ele a abraçou e sussurrou em seu ouvido:

- Por algum motivo a vida voltou a nos unir. Vamos nos permitir sermos felizes? Não acha que já é hora?