Esses Seus Olhos De Tempestade escrita por jessyweasley


Capítulo 30
Capítulo 29




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/403952/chapter/30

Acabei pegando no sono enquanto esperava Annabeth abrir a porta do quarto. Quando acordei já haviam se passado duas horas. Levantei e me espreguicei, nem o pai nem a madrasta vieram ver a gritaria que ela fizera. Coloquei a orelha rente a porta e não pude ouvi-la chorando mais. Abri a porta vagarosamente e enfiei o rosto na pequena fresta. Ela estava deitada de costas para a porta na cama, abraçada com um travesseiro, aparentemente dormindo.

Fui até ela na ponta dos pés, sentei-me ao seu lado na cama e afaguei seu braço delicadamente. Ela acordou e deitou de costas. Abriu os olhos com preguiça, eles estavam um pouco inchados devido ao choro, sorri para ela.

Annabeth sentou-se também e me olhou séria, tirando o sorriso do meu rosto. Observei-a com atenção.

__ Annie – toquei em seu rosto – Me desculpe pelo que fiz na sala agora a pouco. Fui pressionado pelo seu pai, agi por impulso, se você não quiser se casar nós não nos casamos e ponto.
__ Tudo bem Percy – ela me abraçou – Eu agi feito uma louca também, acho que esses hormônios da gravidez já estão tendo efeito.

Ela se levantou e prendeu os cabelos num rabo de cavalo. Deitei-me em sua cama e a fiquei vendo trocar de roupa. Ela deitou-se ao meu lado e se aninhou em meu peito, eu comecei a acariciar seus cabelos, ficamos assim por uns minutos até que ela apoiou o queixo em meu peito e me olhou.

__ Percy... – ela começou
__ Hum? – continuei com os olhos fechados e acariciando seu cabelo.
__ Você prefere menino ou menina?

Dei uma risada abafada com a preocupação dela, me elevei um pouco e ela continuou me encarando.

__ Eu prefiro que ela ou ele venha com seus olhos, por que eles são os mais lindos que eu já vi em minha vida, os cabelos podem ser meus, o gênio também, o seu é meio...

Ela cerrou os olhos e abriu um sorriso desafiador.

__ Meio?
__ Meio exaltado e não sei... Acho que não consigo lidar com dois gênios desse

Nós dois rimos, Annabeth empurrou meu ombro, passou a perna por cima da minha cintura e sentou-se sobre ela. Passei meus braços em volta da sua cintura, ela passou as duas mãos por meu rosto, por meus cabelos, ela examinou meu rosto, admirando cada detalhe. Nossos olhares se encontraram.

__ Eu te amo – sussurrei

Ela grudou nossos lábios demoradamente.

__ Eu te amo mais – diz ela

Annabeth se levantou, me deixando com uma vontade de quero mais. Vestiu um casaco e um par de botas.

__ Aonde vai? – perguntei
__ Meu pai, marcamos de sair para comprar algumas coisas para o jantar – ela se olhou no espelho – Como estou?
__ Ótima – me levantei também – Quer que eu vá?
__ Não... Preciso conversar com ele, a sós.

Concordei com a cabeça e a puxei para mim, pela cintura e tornei a beijá-la. Annabeth sorriu entre nosso beijo e se soltou de meus braços. De mãos dadas descemos as escadas. Na sala estavam os irmãos de Annabeth, o pai e a madrasta.

Quando o pai a viu, levantou-se e pegou as chaves do carro, eles rumaram juntos a garagem. Sentei-me junto aos irmãos dela no sofá.

__ Annabeth surtou quando você a pediu em casamento é? – perguntou o irmão com o cabelo maior
__ Mais ou menos – eu ri – Ela não gostou muito da forma espontânea que eu fiz o pedido, seu pai pode ter o olhar meio perturbador às vezes.
__ Concordo – disse o outro – Mas já aconteceu isso antes, Annabeth não é muito fã de noivados
__ Como assim? – olhei para eles
__ Luke... Luke chegou a pedi-la em casamento e pouco tempo depois ela foi embora pra Nova Iorque – continuou ele
__ Papai era hiper fã de Luke, mas depois de toda formalidade que Luke teve, de vir aqui, pedir a mão de Annabeth para a família e ela sumir de repente, o pai ficou ainda mais obcecado com essa coisa de que Annabeth tem que desencalhar. - completou o outro
__ Acho ele meio doido por isso – disse o cabeludo
__ Não fale assim de seu pai – brigou a mãe deles

Quer dizer então que Annabeth fugiu de São Francisco porque Luke a pediu em casamento? Matei o assunto ali mesmo. Annabeth querendo ou não ainda guardava sentimentos por Luke, mesmo que eles sejam de ressentimento.

__ Com licença – pedi

Os três me acompanharam com os olhos. Subi até o quarto de Annabeth, acho que a única coisa no momento que me acalmaria seria um bom banho. Eram 13h, pude sentir o cheiro de algo sendo assado na cozinha subindo e adentrando todo quarto, meu estomago roncou em sinal.

Tomei um banho demorado, saí me enrolado na toalha que estava estendida no porta toalhas do banheiro. Vesti uma roupa casual e um casaco de lã mais espesso que o que eu estava antes.

Desci as escadas, o cheiro estava ainda mais delicioso, reconheci o cheiro de pernil assado. Annabeth e o pai já haviam voltado e pareciam estar se dando bem novamente, o que me deixou um tanto alegre, exceto pelo fato de Luke, Luke e Luke estar tomando conta da minha mente.

Ela me notou e acenou com a mão para que nos juntássemos na cozinha, abri um sorriso torto e fui. A mesa estava posta, ela ajudava a madrasta e os irmãos a ajeitarem os últimos detalhes. Sentamo-nos todos a mesa quando tudo já estava em seu devido lugar.

__ Que Deus abençoe essa refeição – disse Sr. Chase na ponta da mesa – E essa família que a cada dia aumenta mais.
__ Amém – repetiram todos, menos eu.

Me servi de tudo um pouco e tive que repetir, pois a fome estava maior que minha educação. Annabeth ouvia atentamente quando os irmãos lhes mostravam as ideias que tinham para a nova feira de ciências do colégio, a mãe parecia babar nos garotos, mas as vezes podia notar que ela lançava um olhar ressentido a Annie. Já o Sr. Chase... Bem, esse não tirava os olhos de mim o que me fez pensar no arrependimento de ter ajudado ele com Atena diversas vezes, eu o encarei de volta, até quando Annie nos tirou da nossa briga ocular.

__ Percy – ela chamou – Percy!

Olhei para ela confuso, o que a fez abrir um sorriso.

__ Desculpe, estava concentrado demais na deliciosa comida que a Sr. Chase fez – levantei o garfo a cumprimentando e ela sorriu de volta – O que foi, amor?
__ Amor... – ela repetiu, digerindo a palavra, pois foi a primeira vez que a chamei assim – Meus irmãos estavam me falando que gostariam de dar um passeio pela cidade, que tal levarmos eles? Assim você aproveita e conhece um pouco minha cidade.
__ Claro – disse, contendo um pouco do cinismo.

Terminamos de almoçar e ajudei a Sra. Chase com os pratos. Ela pareceu gostar de mim. Annabeth desceu com mais um casaco e o entregou para mim junto com as chaves do carro. Nós quatro fomos juntos para a garagem e entramos no carro.

__ Qual o destino? – perguntei, olhando os garotos pelo retrovisor
__ Tem uma praça onde começaram a decorar para o natal, poderíamos ir lá, temos alguns amigos trabalhando por lá também
__ Sim senhores – liguei o carro e comecei a tirá-lo da garagem.
__ Essa é a praça que eu costumava ir com Thalia quando ela passava férias por aqui? – Annabeth perguntou aos irmãos
__ Sim, os donos da lanchonete ainda perguntam por você e Luke.

Apertei as mãos no volante e os músculos da minha mandíbula ficaram tensionados, Annabeth me olhou de lado e notou minha reação, ligou o rádio e tocava um rock indie, fiquei em silêncio até chegarmos a tal praça.

Realmente a decoração de natal já começava a ser posta, em especial as luzes. Era sábado, então famílias passeavam com as crianças correndo felizes pelo parque.

Demos as mãos e começamos a andar pela praça. Os irmãos de Annabeth saíram para encontrar com alguns amigos, às vezes eu queria voltar aos meus 14 anos de novo. Ela me guiou até uma lanchonete, creio que seja as que seus irmãos estavam falando.

__ Irís – ela cumprimentou – Jano! Como vocês estão?
__ Pequena Annie – eles saíram de trás do balcão e vieram a abraçar – Quanto tempo!

Eles se abraçaram durante um bom tempo. Jano era um velho barrigudo, meio careca e que parecia ter um tique no rosto, porque uma hora estava rindo outra meio carrancudo. Já Irís parecia uma velha hippie, usava um arco entre os cabelos, um óculos redondo estilo John Lennon e uma camisa com um arco íris desenhado.

__ Pessoal, esse é meu namorado, Percy – ela me puxou pela mão até eles
__ Muito prazer – os cumprimentei

Irís me abraçou e deu vários beijos no meu rosto. Já Jano se conteve em apenas um aperto de mão e um sorriso torto.

__ Onde está Luke querida? – perguntou Íris, mas lembrou-se que eu era o atual namorado dela – E Thalia também...

Jano colocou a mão em minhas costas e nas de Annabeth, nos empurrando até uma das mesas de sua lanchonete.

__ Vou pegar um refrigerante para vocês – diz ele
__ Obrigado – digo

Íris continuou conosco até que um casal com duas crianças sentar-se em outra mesa e ela ir atender. Jano voltou com um refrigerante, dois copos e dois sanduiches. Annabeth apertou-lhe a mão e ele foi preparar os pedidos que o casal com as crianças fizeram.

__ Desculpe por ter ouvido tanto o nome de Luke desde que chegou aqui – Annabeth colocou sua mão sobre a minha – Achei que as pessoas se esqueceriam disso depois de um tempo...
__ Tudo bem... Acontece – respondi, um pouco frio.
__ Percy... – ela chamou, a voz um tanto estranha e a encarei – Aconteceu alguma coisa? Está assim pelo casamento ainda...
__ Mais ou menos – admito
__ Não entendo...

Cobri sua mão com a minha, deixando-a entre as minhas. Sorri de lado, no fundo eu estava me sentindo como um palhaço de Annabeth, seus olhos cinza estavam sobre mim, soltei um longo suspiro e a olhei nos olhos.

__ Eu sei o porque você foi fugida para Nova Iorque – falei

Annabeth arregalou os olhos em surpresa, ela não esperava por isso, tirou sua mão do meio das minhas e ficou remexendo o gelo dentro do copo, talvez pensando numa desculpa para me dar. Esperei o tempo necessário.

__ Quem te contou?
__ Importa? – digo – Acho que sou um brinquedinho na sua mão, não?
__ Você está louco? – ela falou baixo, mas com uma raiva contida na voz – Não quero que você fale isso nunca mais, NUNCA mais entendeu?!
__ Então porque você ainda continua ligando o que eu faço com as atitudes de Luke?

Annabeth olhou para os lados e se levantou, afastando a cadeira com brutalidade, pediu com o dedo para que eu esperasse, foi até o balcão e se despediu de Íris e Jano, passou pela cadeira e apertou meu pulso com força me puxando com raiva.

Andamos até o carro, ela acenou para que eu entrasse, mas dessa vez ela assumiu o volante, a obedeci. Ela dirigiu até perto de um lote vazio e ficou encarando o volante até começar a falar.

__ Como você se autodenomina brinquedinho? – ela ainda encara o volante

Fico em silêncio.

__ Percy, porque você acha que eu te perdoei? Acha que eu me interessaria por você e continuaria com você atoa? – ela bateu no volante com raiva – ACHA QUE EU ESTARIA FELIZ TENDO UM FILHO DO LUKE?

Continuei calado, repensando um pouco no que havia dito.

__ RESPONDE PERCY! – ela gritou
__ Annabeth – toquei em seu braço, mas ela me afastou
__ Percy – ela se virou para mim – Eu te amo... Fiquei desesperada quando soube, eu de verdade não queria esse filho, não mesmo, mas quando você chegou... Ficou preocupado comigo, eu notei o quanto você me ama, o quanto ficou do meu lado... Eu nunca te trataria como um brinquedo
__ Então porque tem tanto medo de casar? – pergunto
__ Porque não quero que você faça o mesmo que Luke fez por mim, como prova de amor
__ E o que ele fez?
__ Matou – ela tamborilou os dedos sobre o volante – Segundo ele, por amor...

A noticia de Luke ter matado alguém caiu como uma âncora em meu peito. Agora tudo se encaixa... Quando eu estava na casa dela, quando ele quis voltar e disse que fez coisas que eu não pensava por ela, essas coisas incluíam matar.

__ Annabeth, isso é muito sério – falei baixo, como se alguém pudesse nos ouvir – Ele... Matou
__ Eu sei Percy, por isso brigamos na frente da universidade, por isso eu o larguei! – ela liga o carro de volta – Ninguém sabe disso Percy e nem vai saber, agora vamos voltar e buscar meus irmãos
__ Como assim? Ele não foi julgado nem nada? ANNABETH!
__ Esquece isso Percy! Por favor...

Continuo olhando para ela, mas vejo que ela está meio irredutível. Afundo no banco do carro, frustrado. Os irmãos de Annabeth entram com mais duas garotas dentro do carro e pedem que os deixemos na casa de uma delas.

Antes de um deles sair, Annabeth o puxou pelo braço e deu um sermão estilo mãezona. Nós dois seguimos até sua casa.

Chegando lá e estávamos sozinhos. A história de Luke estava batendo em minha cabeça, Annie subiu até seu quarto e eu fui atrás. A segurei pelo braço e ela parou, virando-se para mim com um rosto cansado.

__ Eu preciso que me explique tudo direito – pedi
__ Sinto muito Percy – ela disse suplicante – Eu prometi a ele que não contaria a ninguém
__ Como você quer que eu confie em você sendo que ainda guarda segredos com ele.
__ Isso é golpe baixo – ela se soltou e deu uma volta pelo quarto – Percy, ele era militar quando estávamos juntos, você se lembra de como ele era não se lembra?

Concordei com a cabeça e ela continuou.

__ Foi quando estávamos andando pelo Brooklyn, íamos a um restaurante por ali, porque tinha o melhor taco dos Estados Unidos, então um desses drogados me pegou pelas costas e colocou uma faca em meu pescoço – ela sem notar passou a mão pelo pescoço – Luke sacou a arma e atirou no cara, não era pra matar, mas matou.
__ E ele foi afastado?
__ Foi expulso, por isso ele voltou a trabalhar com o pai, quase foi preso... Mas não consegui ficar com ele depois daquilo. Satisfeito?
__ Obrigado e me desculpe pelo ciúme
__ Tudo bem... Mas chega disso, não aguento mais esse seu espírito possessivo, ele pode ser pior que o meu – ela se joga na cama

Sentei na cadeira giratória da sua mesinha de computador, enfim olhei ao redor do quarto, havia algumas fotos pregadas num desses quadros, além de vários livros em uma estante, logo acima dos livros encontravam-se diversos troféus. Annabeth acompanhou meu olhar até a estante e me olhou rindo.

__ O que foi? – pergunto
__ Nada, só sua cara ao ver meus troféus – diz ela
__ Minha cara? Qual é ela...
__ Meio abestado.

Pego uma almofada do chão e jogo nela, Annabeth pega a almofada e a abraça, olha de lado pra mim e me chama com o dedo. Vou me deitar com ela e dormimos.

Acordo com ela me chamando para jantar, olho no relógio e já passa das oito da noite. Me ajeito mais ou menos e descemos juntos. Durante o jantar o pai de Annabeth tentou retomar o assunto casamento, mas eu desviei da maneira que pude, ele disse que tínhamos que marcar antes que a barriga comesse a apontar e eu apenas concordei com a cabeça.

Voltamos para o quarto, dessa vez para dormir de verdade, pois nosso voo sairia cedo. Annabeth e eu dormimos abraçados.

Era cedo quando levantei no dia seguinte, Annabeth ainda dormia tranquilamente, faltava cerca de 8h para nosso voo, por isso a deixei dormir mais um pouco. Eram sete da manhã, peguei meu telefone e disquei o número de meu pai, não havia contado a ele ainda sobre a gravidez.

O telefone tocou duas vezes até que uma voz masculina atendeu do outro lado.

__ Alô? – diz a voz do outro lado da linha
__ Hã... Alô, gostaria de falar com Poseidon – disse
__ Quem gostaria?
__ Percy, Percy Jackson...
__ Ah! – ouvi um tom meio contido – Irmão!

Fiquei em silêncio tentando me recordar do nome dos meus outros dois irmãos.

__ Sou eu, Tritão.
__ Ah sim, olá – cumprimentei – Como está?
__ Estou bem, vou passar para o pai agora, até
__ Até.

Pensei que ele me odiaria ainda mais pelo fato de eu ser fruto de uma traição do meu pai para com sua mãe. Acho que causo mais ressentimento a mãe dele, que a ele próprio. Meu pai logo atendeu.

__ Percy, filho... Como está? Não aconteceu nada não é?
__ Não senhor, quer dizer... Mais ou menos
__ Humm
__ Queria marcar um horário com você amanhã
__ Claro, te dou um telefonema assim que chegar a empresa, pode ser?
__ Sim!
__ Mais alguma coisa? – ele hesitou – Bem... estou numa reunião de família agora e quero evitar brigas com minha esposa...
__ Tudo bem, até amanhã pai..

Por mais que ele queira me inserir nesse meio familiar, acho que nunca serei encaixado perfeitamente entre eles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Esses Seus Olhos De Tempestade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.