Totalmente Humana? escrita por Ana Mercedes


Capítulo 14
Novo Hospedeiro


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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Um jovem de cabelos loiros, cor de ouro, me olhava por cima. Uma senhora já de idade baixinha acariciava meu rosto. Mais uma jovem loira do meu lado olhando intrigada. Todos são almas, com seus olhos prateados.

“O que houve com ela?” – a loira pergunta.

Estamos numa sala de enfermaria, pelo visto, como já estou bem acostumada, sei reconhecer. Com todo esse branco e o cheiro de ambiente esterilizado. É impossível confundir. Mexer não era mais tão difícil, não tanto quanto antes, mas sinto algo de estranho em meu corpo. Vejo as luzes em meus olhos e vejo o reflexo da prata no rosto do jovem loiro.

“Algo em seu sistema foi compelido. Não consigo achar a causa disso” ele anunciou. Ele é médico.

“Foi Burns” enfim encontrei minha voz. Todos se afastaram com o som da minha voz ou do nome dele. Fiquei em silencio pensando nessa voz que não reconheci. Percebi, é a minha voz.

“Aquele jovem com certeza deve ter feito isso” a senhora baixinha disse. Ajudando-me a sentar na maca.

“Thelma não diga isso! Ele é uma alma, igual a nos!” alertou o jovem médico.

“Por favor, Leonardo, você viu o mesmo que eu, ele tem algo escuro em si. Ele não é igual às almas. Do mesmo jeito que ele não fez bem a essa garota” ela apontou pra mim. Thelma parecia uma mãe. Vendo mais que aparência pode ver.

“E que negocio de ‘operação camuflagem’? O que os Rastreadores estão aprontando agora?” disse a loira. Trazendo um copo de água gelada pra mim.

“Por favor, Katharine, você também não, já me basta a Thelma...” o loiro parecia exausto.

“Concordo com a Thelma, esse tal de Burns não é nada bom, algo nele me trás arrepios” Katharine fechou os olhos. Quando abriu parecia que tinha medo de Burns também.

“Ele não é bom, nem um pouco, ele ameaçou...” será que eles guardariam meu segredo? Protegeriam meus humanos? Melhor ficar quieta. Ainda não reconhecia minha voz.

“Desculpe querida, disse algo?” Thelma perguntou.

“Não senhora” respondi. Eles se olharam. A loira decidiu quebrar o silencio.

“Bom, como se chama?”

“Peg.... na verdade, vem de Peregrina” respondi. Lembrando que era o apelido doce que Jeb me deu. Saudades dele, da sua risada.... Afastei o pensamento antes que tivesse mais lembranças. Baixei minha cabeça pra esconder caso alguma lagrima caísse.

“Sou Katharine, mas pode me chamar de Kate...”

Bateram na porta. Um senhor entrou. Ele era afro-americano com o uniforme de Rastreador. Ele caminhou até mim. Os três se colocaram na minha frente.

“O que deseja?” Thelma o cortou. Leonardo colocou a mão em seu ombro e suspirou. Com certeza, ela tem um gênio forte.

“Desejo falar com essa senhorita. Se for verdade tudo que Burns disse. Ela será um caso que mudara tudo” ele não desviava o olhar de mim. Sentia como um troféu igual o que Burns sempre dizia.

“Não” consegui dizer. Não vou falar com você, não serei seu troféu e não vou entregar minha família. Me mate se quiser. Queria poder gritar para ele.

“Ouviu a moça, então por favor se retire” – Katharine disse.

“O Congresso já esta montado, em breve com o nascer do sol, vocês e todos naquela sala ouviram tudo o que sei, aí sim duvido que fiquem do lado dela” ele apontou pra mim. Nascer do sol? Mas já não nasceu? Só se for outro dia!

“Aguardaremos! Por agora, se retire” disse Leonardo. Todo calmo, mas nervoso no fundo.

Ele se retirou. Parecia que a sala soltou o ar. Parecia que uma grande massa tinha tomado conta do lugar. Thelma correu e segurou minhas mãos.

“Olhe! Você precisa se fortalecer, eles vão jogar pesado com você. Você tem algo que eles queiram, aposto” disse. A senhora esta totalmente certa, eu sei disso.

“Thelma!” Leonardo disse. Como se fosse segurar a língua dela. Duvido, o espírito dela, ver atrás de qualquer corpo, ela vê as almas como são por dentro. Eles se encaravam.

“Parem os dois. Vamos alimenta-la e arruma-la depois vocês resolvem suas diferentes opiniões” disse Katharine. Se virando.

Quando voltou, trouxe uma muda de roupa e comida. Estranhei as roupas. Eram maiores do que achei que vestia. Thelma fazendo sempre olhar pra cima pra Leonardo avaliar. Com isso, ele deu alguns remédios para algumas dores que se situavam em diferentes pontos. Mas meu corpo continuava estranho. Ele se retirou. Thelma e Katharine me ajudaram a me por de pé, não olhei pra baixo, mas sentia que estava maior, será possível? Conduzindo-me para um banheiro enorme, de tons claros.

Quando entrei tomei o maior susto possível. Um espelho que ocupava uma parede toda. E lá, no reflexo estava. Katharine com seus cabelos loiros escuros. Thelma toda minúscula com os cabelos grisalhos. E uma jovem de longos cabelos ruivos, alta, com uma pela clara num tom de oliva. Seu rosto era em formato de uma maça. Seus olhos pratas. Com um corpo que ao mesmo tempo era elegante e escultural. Com certeza essa jovem é forte. Seus braços são desenhados, perfeitamente, suas pernas são definidas... Aquela jovem... SOU EU.

“Foi nos dado a ordem de trocar o seu inquilino. Aquele corpo que habitava era fraco e com vários machucados. O Congresso achou melhor você ter esse corpo.” explicou Katharine meio constrangida.

“Ouça menina, sinto muito que tudo esteja confuso pra você, mas obedecemos a ordens, mesmo com poucos dias que nos conhecemos...” Thelma falou.

“Dias?” interrompi. Quase gritando. Olhei o reflexo. Uma pequena ruga foi plantada no rosto da ruiva. Sua voz combinava com seu corpo. Quero dizer meu corpo. Quero dizer...arght nem sei mais quem sou na verdade!

“Sim, está aqui há uma semana!” respondeu Thelma.

Senti meus pés afundando. Cambaleie pra trás.

Não pode ser. Uma semana. Acho que vou desmaiar. De novo. Novo corpo. Desmaiar agora não é a melhor saída. Uma semana fora de casa. O que aconteceu? Será que Burns cumpriu sua palavra e não levou os outros Rastreadores para eles? Aposto que não. Como se quer pude acreditar nisso, o maior desejo dele era conquistar humanos vivos para mais almas terem inquilinos. Olhei para o espelho e lá estava nos olhos, uma neblina no fundo, como se fosse uma chuva se preparando pra cair. Corpo novo e agora estou á uma semana longe da minha família. Sinto como se todas as formas de violação em mim foram quebradas. Corpo e alma. Ameaça a minha família. Sem Ian. Coração partido. Corpo mudado. Levada ao Júri das Almas. Possível volta a outro planeta.

Não sei para os humanos, mas acho que não vou suportar tudo isso. As duas começaram a descrever como me ajustar ao corpo, disseram que a alma que morava aqui preferiu algo mais frágil e que o porto era de uma antiga modelo. Que se preocupava em ser forte e em ser linda. Claro que isso foi no tempo que os humanos dominavam a Terra. Foi só falar em humanos que minha mente desligou delas. Como desejaria estar com os meus.

“Aguente firme! Você precisa minha jovem, não te conheço, mas algo em ti me faz querer te proteger sempre. E farei isso, conte comigo. Seu coração é bravo e valente, digno de uma verdadeira alma.” ela repousou a mão em cima do meu coração. Abracei-la.

Depois disso, meus movimentos eram robóticos. Andar. Esquerda. Direita. Pra frente. Pra trás. Lavar. Enxaguar... Enquanto me secava, Kate puxou meus ombros pra seu rosto. Pra vê-la direto nos olhos.

“Conte comigo também. Sou nova aqui no departamento, mas já vi que não me encaixo. Vou estar ao seu lado” disse Kate. Abraçamo-nos no final estava as três no abraço.

Uma calça jeans negra, que era colada, uma blusa com mangas curtas cor cinza, com um decote em V. Foi isso que me fizeram vestir, depois de um longo banho. A roupa se moldava a esse corpo. Leonardo entra na sala.

“Licença, mas está na hora, vieram te buscar.” disse.

Soltei-as e fui em direção á porta. Leonardo me segurou.

“Olha, pode não parecer, não acho que haja uma guerra entre as almas, mas devo alertar, cuidado. Nunca vi tanto Rastreadores na minha vida juntos. Eles realmente querem seu pescoço, posso assim dizer. Tome cuidado” disse. Ele me olhava. Ali vi que ele acreditava em mim. Abracei-lhe.

Estou indo pra forca, mas não antes sem lutar. O corpo pode ser novo, mas os problemas não. Vou esquecer pelo menos por hoje o problema desse corpo, da violação do meu direito de escolha ,mais tarde resolvo. Só tenho uma coisa a me preocupar: Salvar os humanos. O resto pode esperar.

“Obrigada, sei disso. Mas ele não vencerão, não hoje!” disse. Abri as portas.

Lá estava um corredor só de Rastreadores. De todos os jeitos e formas. Pus-me pra fora e logo seis se puseram ao meu lado, andando em sincronia. Passando pelos outros, enquanto me olhavam e faziam cara de nojo. Sentia dentro de mim como uma formiga tendo em volta vários leões. Como vou enfrentar eles? Como vou salvar minha família? Senti meus olhos se encherem. Quando um calor de mãos nos meus ombros, fez recolher todas ás lagrimas.

Kate e Thelma do meu lado. Thelma com a mão no meu ombro, olhando pro lado dela, os Rastreadores, como se fosse um escudo. No outro lado estava Katharine que olhava pra frente, andava como se não tivéssemos rodeadas de almas que nos matariam sem problema algum.

Enfim chegamos a uma sala enorme. Um salão quadrado que era diferente de todas as salas que habitavam almas. Era negro, preto como a escuridão. As luzes foram se acedendo e por fim pude ver. As paredes de trás eram beges e a restantes era pretas mesmo. As janelas tinham cortinas vermelho escuro. Tinha arquibancadas dos dois lados. Esquerda e direita. E uma bancada jurídica composta de cinco lugares no formato de U. E bem no centro uma cadeira, toda moldada e com o estofado vermelho. Pra mim, óbvio. Os Rastreadores seguraram as meninas do meu lado e apontaram para um lado da arquibancada.

“Tire suas mãos de mim” gritou Thelma. Ela com certeza já foi do planeta Fogo.

“Sai de perto da traidora!” disse o jovem com cabelos negros. Chegando perto das duas. Cheguei á frente delas.

“Sou eu que vocês querem. Não as machuquem” em tão pouco tempo já amo essas mulheres “Vão se sentar. Daqui por diante sigo sozinha.” elas me abraçaram. Arrependi-me de não ter contado pra elas sobre minha família. Elas iriam proteger meus humanos.

“Senhores, não precisamos ser grossos aqui” disse Leonardo passando por meio deles, passando o braço nelas e piscou pra mim. Sim, ele veio salvar elas.

Depois de mais pessoas chegaram. Sentei na cadeira vermelha, onde tinha dois Rastreadores com armas do meu lado. A plateia, por assim dizer, era diferente. No meu lado esquerdo a arquibancada era cheia de almas, via a bondade em seus gestos. E lá estava Thelma, Leonardo e Katharine de brancos, eles sorriam pra mim. Já no meu lado direito, estava um massa com roupas prateadas, Rastreadores, um monte, mas havia alguns encostado na parede do lado da arquibancada, com certeza era tanto que nem cabiam ali. Valia tudo isso, mesmo? Realmente o amor pela minha família poderia determinar que tudo isso fosse realmente necessário? Estou sendo culpada por amar as pessoas que não são da minha espécie? Ensinaram as almas sempre serem gentis com os outros e esses outros por que os humanos não?

Os múrmuros cessaram. O silencio se instalou. Olhei em volta e todos olhavam pra frente, se colocando de pé.

Olhei pra frente.

E lá estavam os cinco Pilares.


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Notas finais do capítulo

n/b: Se chegou até aqui, por favor nos deixem saber o que acharam.
Comente, por favor!
Boa semana.



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