Inalcanzable escrita por Duda


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Desculpem não ter postado ontem, eu estava na casa da minha mãe e tava sem internet!



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Três dias depois da ida dos alunos à escola, agora era a vez de German ir para lá. Era um sábado. German acordou, tomou seu banho e colocou o terno, como sempre. Chamou Violetta, desceu, tomou seu café e leu seu jornal, como fazia todos os dias, só que hoje teriam de voltar para a St. George. Organizou o que havia para organizar e foram para escola. German gosta do que faz, por mais que tenha que lidar com jovens e que não tenha a mínima paciência para isso, ele gosta. Quando chegou na escola, pediu para que Ramalho, seu único amigo e coordenador geral da escola, organizasse todos os alunos no auditório do colégio. Ele ia dar aquela mensagem de boas vindas que todo ano fazia questão de dar, para ao menos parecer ser legal. A verdade é que os alunos o odiavam, o consideravam um verdadeiro carrasco. Ele apenas fazia o trabalho dele, pesava um pouco a mais em cima dos alunos que não gostava e, com exceção do primeiro dia, não fazia questão nenhuma de ser simpático com os alunos.

Depois de organizados todos os alunos no auditório e com todos os professores presentes, German adentrou o lugar, ao que todos os alunos levantaram-se, subiu no palco e deu uma olhada bem atenta em toda a extensão do espaço e fez um gesto para que todos se sentassem. Quando German ia começar a falar, uma garota de olhos verdes e cachos loiros caídos pelos ombros entrou correndo, extremamente ofegante. “Mas que garota abusada, quem ela pensa que é para entrar assim?”, pensou. A garota evitou olhar para o diretor, abaixou a cabeça e procurou uma poltrona para sentar-se. German apenas a acompanhou com os olhos.

 Que isso não se repita, senhorita - Por fim disse, com aquela voz grossa que o tornava mais temível. A garota apenas assentiu, extremamente envergonhada. German voltou a olhar para o resto dos alunos e continuou: Bom dia, alunos – Deu um sorriso forçado. Ele realmente tentava parecer legal e bonzinho mas apenas o olhar que ele lançou à garota poucos minutos atrás já contradizia isto. Eu espero que tenham voltado com todas as energias e estejam mais do que preparados para esse ano letivo, principalmente os alunos do último ano, este não será um ano fácil para vocês – E lançou um rápido olhar para a garota de antes, a qual ele supôs estar no último ano. Quando ele pegava birra com um aluno, ele realmente fazia questão de “persegui-lo”. A perseguida desse ano seria a jovem de olhos verdes. Será entregue um papel com as regras do colégio a cada um de vocês, aquele que infringir qualquer uma destas regras, receberá a devida punição. Sejam bem vindos e boa sorte nesse ano que está começando. Ao dizer isso, German olhou para a garota e fez um sinal para que ela o seguisse.

German saiu do auditório e a garota o seguiu. Foram para a sala dele. Ele sentou-se em sua cadeira e ficou alguns minutos olhando sério para a garota, que olhava para baixo e estremeceu quando ele disse:

 A senhorita é nova no colégio então eu deixarei essa passar mas fique sabendo que eu não aturo esse tipo de comportamento e que se isso se repetir, eu a punirei. Estamos entendidos, senhorita...? E fez um sinal para que ela dissesse o nome.

Angeles Saramego, senhor. Ao dizer seu nome, Angeles, que até então estava de cabeça baixa, olhou fundo para os olhos de German, hipnotizando-o. Ficaram se olhando durante alguns minutos e em seguida Angie desviou o olhar.

– O recado está dado, senhorita Saramego. Pode ir.

POV. Angeles

Com o passar dos dias fui conhecendo a escola. Os primeiros dias eram só para isso mesmo e para resolver em qual quarto eu iria ficar. Conversei com o coordenador geral, um homem alto, de óculos, chamado Ramalho. Ele foi bem simpático comigo e ajudou-me a resolver onde ia ficar. Tinham dois prédios de três andares e 20 quartos em cada andar. Um prédio era para os meninos do ensino médio e o outro para as meninas. Ao lado, tinham dois galpões enormes para o pessoal da 5ª a 8ª série, da 1ª a 4ª série não era regime de internato. Tudo isso ficava a uns 30 metros do prédio principal. Cada quarto comportava no máximo quatro garotas. Eu fiquei feliz quando soube que dividiria o quarto com outras duas meninas apenas. Eu gostei das duas logo de início, chamavam-se Francesca e Camila, ambas estudavam na St. George desde a 7ª série e já estavam acostumadas com a rotina da escola, prometeram ajudar a me acostumar.

Depois de resolver sobre o dormitório, fui conhecer direito o prédio principal, onde eu ia estudar. Era um prédio de quatro andares, onde no primeiro andar ficavam as salas da 1ª a 4ª série e a sala dos inspetores, no segundo andar as salas da 5ª a 8ª série, no terceiro andar as salas do 1º ao 3º ano do ensino médio e a sala do diretor e no quarto andar os laboratórios de química, física e biologia, a sala do coordenador e um espaço para os professores ficarem enquanto estivessem sem aula. Haviam duas turmas para cada série, cada turma com no máximo 40 alunos. As aulas para nós, do 3º ano, seriam das 7h às 14h40, 5 aulas pela manhã e 2 pela tarde. Ao lado esquerdo do prédio principal, ficava o refeitório. Entre o prédio principal e os dormitórios havia um pátio, o ginásio de esportes ficava ao lado direito do prédio principal e do pátio e o auditório ficava no subsolo do prédio principal. A casa onde o diretor ficava durante a semana ficava ao lado do prédio feminino mas um pouco mais afastada do que os outros prédios e o lugar onde os inspetores ficavam estava atrás dos dormitórios.

Três dias depois que chegamos à escola Ramalho convocou todos os alunos para irem ao auditório pois o diretor queria falar algo conosco. Ele havia dito para estarmos lá às 10h, eu simplesmente esqueci disso. Quando acordei eram 9h40, as meninas não estavam no quarto, eu estranhei mas não liguei. Eu havia acabado de entrar no banho quando Camila me ligou perguntando o que tinha acontecido comigo e dizendo para eu ir correndo para o auditório, aí eu lembrei. Corri o mais rápido que pude e mesmo assim deparei-me com a porta fechada mas sem pensar eu entrei correndo no auditório. Todos, sem exceção, voltaram seus olhares para mim, o que me fez parar. Eu percebi que o diretor estava me olhando e evitei encará-lo, abaixei a cabeça e caminhei até a primeira poltrona vazia que eu encontrei.

Quando terminou, ele fez um sinal para que eu o seguisse, o que me fez gelar. Eu o segui até a sua sala, que ficava no fim do corredor. Não era uma sala grande, havia uma estante com vários livros de um lado e um armário do outro, sua mesa ficava no meio. Ele sentou-se, ficou me olhando por um momento e então começou a falar, só consegui ficar de cabeça baixa o tempo inteiro. Quando, por fim, ele perguntou meu nome, eu consegui levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos, aqueles olhos duros e frios que me fizeram estremecer. Ficamos algum tempinho nos olhando e então não aguentei e desviei. Ele deu permissão para que eu me retirasse da sala e sem pensar duas vezes, eu saí.

Era um homem maravilhosamente charmoso. Alto, cabelo preto, olhos castanhos e bem expressivos, devia ter uns 30 anos ou mais. Era sério e frio, ao mesmo tempo que isso me incomodava também me atraía. Garotos sérios e com um ar de frieza e complexidade sempre me atraíram, essa coisa de desvendar os mistérios alheios e tentar conquistar o impossível. Todavia, eu disse garotos, não homens bem mais velhos do que eu. Só que ele tinha algo diferente, ele me intimidava de uma maneira que ninguém havia feito antes mas... Olha as baboseiras que eu estou pensando, ele é o diretor, acorda Angie, ele é seco e antipático demais para ser o diretor de uma escola... e é velho.

– Meu Deus, o que aconteceu? Como foi? O que o Sr. Castillo disse?  Cami perguntou-me enquanto eu entrava no quarto e Fran olhava-me atenta.

– Calma Cami, não aconteceu nada,  Eu sorri  o Sr. Castillo apenas disse que como eu sou nova, ia deixar essa passar mas que não atura esse tipo de comportamento. Apenas isso. Sentei em minha cama.

– É sério? Você entra daquele jeito no auditório e ele não faz nada?  Fran estranhou  O que você fez?

– Eu não fiz nada oras. Vai ver ele não é tão ruim assim.

– COMO?  Cami deu uma risada irônica.

– Não, é sério Angie, ele é o maior carrasco, tome cuidado com ele.  disse Fran.

– Tudo bem... mas ele já fez algo para vocês?  Eu perguntei e ambas pensaram alguns instantes. Pensaram, pensaram e pensaram e... nada.

– Não – Responderam juntas.

– Ah, mas já escutei histórias de que se algum aluno faz algo que ele não gosta, ele não pensa duas vezes em expulsá-lo.  Cami falou.

– É verdade. E não é raro algum aluno reclamar por ele obrigá-lo a participar de aulas facultativas apenas para enchê-lo de obrigações... Tudo bem que a maioria desses alunos merecem um pouco mas, sei lá, mesmo assim não é tão certo fazer isso.

– Não sei, não acho que ele seja tão ruim – Eu disse e as duas se entreolharam – mas eu vou tomar cuidado meninas, relaxem. E sorri para elas.

– E o que achou da escola? Cami perguntou.

– Ah, é bastante diferente do que eu estava acostumada, as pessoas aqui parecem que estão sempre de cara fechada, isso me incomodou um pouco mas eu fiquei mais animada ao conhecer vocês. É sério meninas, vocês estão me fazendo um bem danado. Eu sorri para elas.

– Awn – Fran disse. Você vai se acostumar Angie. Leva um tempo até isso acontecer, eu não sei o que aconteceu com você mas pelo que você fala, sua vida deu uma virada brusca. Mudanças são difíceis, garota, mas tudo vai ficar bem – Ao dizer isso, Fran sentou-se ao meu lado na cama e me abraçou. Eu me senti bem por isso, é sempre bom saber que você tem alguém.

– Pode contar conosco Angie, nós vamos te ajudar. Cami sentou-se do meu outro lado e nos abraçou.

– Sabem garotas, acho que esse é o início de uma grande amizade. Eu disse e nós três sorrimos. Ficamos assim um bom tempo, nos afastamos e nos encostamos na cabeceira da minha cama. Vocês querem saber o que aconteceu comigo? Ambas me olharam e assentiram – Meus pais morreram em um acidente de carro no Natal passado, eu descobri que meu pai na verdade era meu padrasto e meu pai biológico é um cara escroto, sério, no tempo que eu fiquei com ele antes de vir para cá, nós discutíamos por algo todos os dias  Ambas arregalaram os olhos e eu sorri triste. Mas eu já estou melhor, meninas.

– Fica difícil agora dizer que tudo vai ficar bem mas, de qualquer forma, agora você tem a nós... espero que isso te conforte de algum jeito – Cami disse sorrindo.

– Obrigada, meninas, mesmo.

POV. German

O que aquela garota pensava entrando daquele jeito no auditório? Aquilo me deixou bastante nervoso, eu não admito esse tipo de coisa, é uma falta de respeito enorme. Ela abaixou a cabeça e sentou-se, era notável o constrangimento e medo que ela sentia, confesso que fiquei com vontade de rir e mostrá-la que eu não sou tão ruim assim, mas eu não posso, porque eu sou tão ruim assim. Eu sou a autoridade maior dessa escola e todos os alunos devem me temer, nenhuma aluna me faria ser diferente, por mais linda e encantadora que fosse. Após tentar ser simpático com os alunos, como eu faço todos os anos e nunca dá certo porque eles sempre acabam me odiando, eu fiz um sinal para que a garota me seguisse. Ela o fez.

Eu abri a porta da minha sala e a mandei entrar, em nenhum momento ela ergueu a cabeça para que eu pudesse encará-la. Ela passou por mim e eu senti um leve cheiro de rosas, entrou e ficou imóvel olhando para baixo. Sentei e fiquei olhando-a durante um momento, o jeito como ela estava me fez sentir uma sensação estranha de que eu não podia ser duro com ela. E eu não fui duro. Com qualquer outro aluno, ainda que fosse novato, eu teria dado uma bronca enorme e ainda o faria participar de aulas facultativas como punição, contudo ela estava ali, parada, tão frágil e assustada, que eu não consegui ser como eu sou.

Eu dei o recado e fiz um sinal para que ela dissesse o nome. Finalmente ela ergueu a cabeça e, pela primeira vez, eu reparei naqueles olhos grandes e verdes que me fitaram profundamente. Senti uma palpitação estranha no peito como há muito tempo eu não sentia. Meu coração acelerou um pouco, um coração que eu pensava nem existir mais. Dei graças a Deus quando ela desviou o olhar e sem pestanejar eu permiti que ela saísse da sala. Ela saiu e eu afrouxei a gravata. Angeles Saramego, era o nome da garota e ela era apenas mais uma aluna. O que eu havia sentido era efeito de... do calor e a gravata estava me apertando, era isso, apenas isso. Ela é uma garota normal, uma jovem como todos os outros daquela escola e seria tratada como tal. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... talvez eu poste o próximo ainda hoje.



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