Um Último Adeus escrita por Evelyn Santana


Capítulo 1
01. Breve Instante


Notas iniciais do capítulo

Oooooi! =D
Bom, eu espero realmente que vocês gostem de mais uma das minhas loucas estórias.
Essa tem um teor emocional mais elevado, mas não acho que se enquadre em uma Darkfic!
Bom, de qualquer modo, me emocionei muito escrevendo, e espero que sintam o mesmo, ok?
Até as notas finais!

So... Enjoy! ;)



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De uma forma impressionante, o peso da notícia havia se esvaído.

Estar ali, em meio a um confortável silêncio, olhando o céu estrelado de uma fria noite de agosto, chegava até mesmo a ser acolhedor. Seguro.

Laura respirou fundo, ainda deitada na relva, observando a luminosidade pontilhada no céu.

— Eu amo você — Laura escutou Rafael murmurar. — Talvez não tanto quanto você mereça, mas sim, eu amo.

A moça de cabelos escuros girou o rosto à sua esquerda, observando o perfil bem esculpido do rapaz deitado ao seu lado. Os olhos azuis escuros de Rafael estavam fixos no céu, mas precisamente nas estrelas, e ele não pôde ver o quanto o semblante de Laura iluminou-se com aquelas simples palavras.

A conotação não era a mesma que Laura usaria, e ela sabia disso, mas seu coração encheu-se de alegria, de qualquer modo. Aquela frase, vinda da voz de Rafael denotava afeição fraternal, mas se Laura a pronunciasse, seria algo apaixonado, delatando o sentimento cultivado às escondidas.

— Obrigada — Laura sussurrou a Rafael num sorriso, escorregando sua mão sobre a relva, e segurando a de Rafael fortemente. — Obrigada por ainda estar aqui, quando eu sei que você precisa ir embora.

Sim, ele precisava ir embora. Mas isso não significava que ele poderia ir, ou mesmo que quisesse! Era verdade que, nas últimas duas horas, Beatriz havia ligado para Rafael algumas vezes... talvez umas quarenta e três ligações, ou quarenta e quatro. Rafael se manteria a par do número exato mais tarde e, com muita sorte, conseguiria explicar tudo a Beatriz.

Ela o ouviria, ele estava certo de que sim. Além do mais, não era como se Beatriz estivesse sozinha. Havia um salão repleto de pessoas a postos para parabenizá-la em seu vigésimo aniversário, e ela iria compreender. Em contrapartida, no caso de Laura, uma sala com seus pais, e seus dois irmãos mais novos, era o único coro de “Feliz aniversário” de que ela poderia desfrutar.

Rafael suspirou pesadamente, incomodado pelo fato de Laura estar se desculpando. Era ele quem deveria pedir desculpas, por tudo! Por todas as vezes que a moça sempre esteve a postos para ouvir suas lamúrias quando seu namoro com Beatriz sofria alguma crise. Ou pelo fato de que Laura o ajudou a escolher o anel de noivado que o jovem dera a sua agora, futura esposa, há três meses, mas não pôde comparecer à formatura da jovem em um curso qualquer.

Ele era um péssimo amigo em seu ponto de vista, mas para Laura, não havia no mundo alguém mais especial que Rafael. Felizmente, no mundo dos sonhos, a bela morena ainda conseguia imaginar-se de véu e grinalda, caminhando em direção a um Rafael que a esperava sorridente e apaixonado num altar decorado com rosas vermelhas. Nos sonhos de Laura, ela era a detentora do amor de Rafael, e não Beatriz, a bela ruiva de pele pálida e pernas longas.

A mesma ruiva para quem Rafael voltaria em poucos minutos, e com quem ele desejava constituir uma família. A dona dos olhos verde-esmeralda que o deixavam louco, e o faziam pensar o quanto ele era sortudo por ter encontrado o amor de sua vida, aos vinte e cinco anos de idade. Rafael sabia que a amaria para sempre e, que no decorrer de sua vida, encontraria centenas de formas de se desculpar por hoje.

Por que a vida precisava adorar pregar peças nas pessoas? Por que Beatriz e Laura precisavam fazer aniversário no mesmo dia? E por que sua noiva não podia gostar de sua amiga de infância do mesmo modo que ele gostava?

Rafael suspirou pesadamente, e apertou a mão de Laura com força exacerbada.

— Sou eu que agradeço — murmurou após vários minutos. — Você foi, e ainda é a melhor amiga que eu poderia ter tido, Laura — o jovem murmurou numa voz séria. — Obrigado, e... feliz aniversário de dezenove anos.

À luz das estrelas, e da decadente iluminação vinda dos postes, Laura observou o rosto que tanto amara no decorrer de sua curta existência. Ela não podia ver muito bem os olhos azuis que tanto amava, mas os pelos da barba de dois dias de Rafael estavam lá, deixando-o irresistivelmente sexy. Os cabelos acobreados estavam escurecidos pela pouca luz, e a jovem controlou o desejo de tocá-los.

— Eu nunca vou deixar você, Rafael — Laura segredou-lhe numa voz embargada, sentindo a veracidade de suas palavras percorrer todo seu interior, e levar lágrimas a seus olhos castanhos. — Vou estar sempre ao seu lado, não importa o que aconteça. Todas as vezes que sentir minha falta, apenas... escolha no céu a estrela mais brilhante, e essa serei eu, cuidando de você...

— Não — Rafael contestou numa voz débil, sentindo uma ardência em seus olhos, e fitando Laura demoradamente. — Esse não é o seu dever — ralhou. — Apenas lute um pouco mais.

Ela havia lutado.

Desde que a leucemia fora descoberta, Laura vinha lutando com todas as suas forças. Contudo, há sempre um momento em que a situação foge do controle, e não é algo que as pessoas possam prever.

— Já falamos sobre isso — a jovem o lembrou com um sorriso largo, contrastando com suas lágrimas quentes. — Eu já fiz tudo o que pude, Rafael... pena que não tenha sido suficiente.

— Não quero perder você — o rapaz falou sinceramente, com seus olhos fixos no rosto molhado de sua acompanhante.

Laura era sua melhor amiga, seu ombro amigo, seu apoio em todos os momentos. Perdê-la seria olhar para si mesmo, e não conseguir enxergar-se de forma completa.

— Você não vai me perder, se não quiser — a jovem lhe assegurou veementemente. — Eu estarei sempre viva de algum modo, se puder viver em suas lembranças. Só não sofra por minha causa, Rafael... porque eu não suportaria isso. Eu também amo você... — Muito mais do que pretendo lhe contar... — ela continuou em seus pensamentos. — Apenas me aperte forte em seus braços, como se nunca fosse me deixar.

E Rafael o fez. Deslizando sobre a relva, ele foi para mais perto da jovem, e enrolou seus braços ao redor do corpo de Laura, que apoiou a cabeça no peito de Rafael, fechando os olhos e suspirando contente, deixando o perfume do rapaz adentrar suas narinas.

Longos minutos se passaram, com os dois em silêncio. Um silêncio distinto daquele que fora instaurado no momento em que Laura falara com Rafael sobre sua doença, e de como seus médicos recorreram a todas as alternativas possíveis antes de suspenderem todo e qualquer tratamento, dizendo-lhe que, naquele estágio da doença, ela não teria mais do que quatro meses de vida.

Rafael não chorou naquele momento, mas chorava agora, com Laura em seus braços. Contudo, o tempo não esperava, e ele não poderia querer que Beatriz o fizesse. Depositando um beijo no topo da cabeça de Laura, Rafael se despediu.

Ainda haveria tempo, no fim das contas e, ele poderia ver Laura no dia seguinte. Ou talvez dentro de dois dias. Três, no máximo.

Foi pensando assim que, Rafael decidiu-se por relaxar na festa de sua noiva, lembrando-se bem do pedido de Laura, que lhe disse “Divirta-se por nós dois”, quando ele anunciou que não poderia delongar mais o momento de sua partida.

E ele o fez. Beatriz era uma linda e envolvente distração, e compreensiva a ponto de não se ofender tanto com o atraso de Rafael, logo após ele ter prometido que, as próximas vinte e quatro horas de sua vida, seriam dedicadas apenas a ela.

— Pensei que toda sua vida seria dedicada a mim — Beatriz provocou o noivo, passando os braços ao redor de seu pescoço, e roçando os lábios do jovem levemente com os seus próprios.

— E assim será, mas sempre há o mundo do lado de fora da nossa bolha de felicidade! Nas próximas horas, ficaremos prisioneiros de nosso próprio mundo — Rafael defendeu a ideia de forma apaixonada, beijando Beatriz demoradamente.

Quando todos os convidados já haviam se dispersado, por volta de uma hora da manhã, Rafael levou Beatriz para seu próprio apartamento, e eles fizeram amor. O jovem mostrou a sua amada, utilizando palavras e seu corpo, o quanto a queria, fazendo-lhe a promessa muda de que a amaria para sempre.

Mesmo quando o casal apaixonado já ressonava tranquilamente em seu leito, a aproximadamente vinte e cinco quilômetros dali, Laura permanecia desperta, já deitada de forma confortável, aconchegada a seus cobertores, tendo a insônia como única companhia.

Contar a Rafael sobre sua doença havia lhe tirado um peso enorme do coração e da alma. As palavras do médico ainda reverberavam em seus pensamentos, dando-lhe sua sentença, reduzindo a vida de Laura, prevendo sua morte ao dizer-lhe quanto tempo mais seu coração teria para bater.

— Nesse estágio, Laura, quatro meses de vida... foi tudo o que restou! — sentenciou-lhe o médico, tristemente.

As lágrimas foram incontroláveis, e eram espessas como agora. Um futuro acadêmico brilhante estava sendo abortado, bem como uma vida de espera por Rafael!

— Rafael — Laura sussurrou para o escuro. — Eu te amo tanto... com todo o meu coração! Mas você não tem ideia do quanto, e jamais terá!

De fato, isso era verdade. Rafael jamais saberia. Mas também havia muitas coisas que Laura jamais saberia. Como a sensação de lábios se tocando num beijo apaixonado, ou mesmo o embaraço de um primeiro beijo catastrófico. Não haveria um casamento feliz, e uma casa repleta de filhos. Laura não chegaria a sua velhice e, não havia muito mais coisas que ela poderia experimentar.

Uma lágrima quente rolou pela bochecha de Laura, juntando-se às outras. Fora difícil, mas ela conseguira se abrir com Rafael, e contar-lhe sobre a doença. Obviamente, ela gostaria de ter lhe contado antes, mas todas as ocasiões eram sempre tão inapropriadas! E não que hoje fosse o melhor dia do ano para falar sobre “o prazo de vida” que Laura vinha cumprindo, mas a situação tornou-se insustentável, e a moça não pôde mais protelar. Ao menos não depois de ter passado exatos cento e dezessete dias analisando qual seria a melhor forma de contar a Rafael, que sua vida estava escorregando por entre seus dedos. Se ela fosse um produto industrializado, sua validade expiraria em dois dias, e isso era tão irônico!

Mas é claro que, nem mesmo a tão estimada medicina pode precisar o tempo de vida que resta a alguém. Ou talvez pudesse e, no caso de Laura, a morte se antecipou um pouquinho, para livrá-la da dor que seria causada graças ao fato de que, Rafael não cumpriria a promessa de ir vê-la no dia seguinte ao seu aniversário.

No fundo, Laura já sabia disso. Rafael não apareceria, porque estaria com Beatriz. Instantes antes de ser levada à inconsciência, Laura também se deu conta de que, Rafael não olharia em direção às estrelas em busca de consolo, porque ele o teria nos braços de sua amada.

— Eu o perdoo, Rafael — Laura articulou quase silenciosamente. — Eu o perdoo por me deixar morrer.

E então ela expirou.


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Notas finais do capítulo

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado!
Comentem me dizendo o que acharam, ok? Se tiverem gostado mesmo, mesmo... recomendem e façam uma autora MEGA feliz!
Just love me! U_U
Bom, talvez surja o que Rafael pensa a respeito de tudo o que houve, o que acham? Só aguardando para ver!
Bjk's e até a próxima! ♥