Clarity - Primeira Temporada escrita por Petrova


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Mudei o prologo essa noite, tá bem meeeeeeeelhor. Comentem se gostarem, beijos!



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Possivelmente naquela noite, não haveria nenhuma confirmação de testemunhas. Eu havia me certificado de todos os detalhes.

Era a melhor parte do dia, a noite. Quando o céu é negro, raios e trovoadas rasgam o céu e fazem a terra tremer, a escuridão é um alvo preferencial para os famosos ataques de pânico, onde não há luz, não há esperança, onde não há esperança, não há uma alma que se preze. As pradarias do outro lado do campo se estendem por territórios inimigos, onde as pessoas criaram suas casas, algo para chamar de lar, embora seja aqui onde a história realmente começa.

Nós não somos muitos, com o tempo, as espécies diminuíram drasticamente, vez ou outra, somos aterrorizados por mudanças climáticas, caçadores e maldições. As maldições são as piores, são inquebráveis ou difíceis de serem solucionadas. Igual como algumas espécies viraram escravas do dia e outras escravas da noite. É um mal que carregamos. A maldição.

A floresta se estende em quilômetros de distância, a chuva está caindo tão grossa e malvada que sinto os pingos arderem na minha pele lúcida de mármore. A água não é filtrada, ela desliza pelo meu corpo igual como desliza por uma pedra. Elas, como nós, são baseadas em transformações, nós somos o fato em verdade de uma transformação perfeitamente traiçoeira. Nós fomos feitos pelo pecado, e aqui estamos, vagando por todos os lados do mundo fingindo ser quem não somos, deixando ser quem realmente somos – e assumindo as conseqüências por isso - ou nos vingando. Eu gosto da ultima parte, a de vingar. Muitas vezes nós mesmo somos submetidos a regras e códigos de leis demandados por uma sociedade medrosa. O medo de uma extinção. Embora, muitas vezes, esses códigos de conduta sejam ignorados nos trazendo problemas piores, do tipo, penalizações. A morte para a imortalidade é controversa, mas até mesmo para os seres mais perfeitos, há uma chance de saída, um regresso, um botão de deletar. Nós somos deletados e não há mais vida depois disso.

Se algum dia já existiu vida quando nos transformamos.

Parei. A terra estava úmida abaixo dos meus pés, a água lavava meu corpo, meu cabelo e deixava minha roupa mais pesada, mas, ainda assim, eu tinha a certeza de que o meu alvo está perto. Está lento, está traiçoeiro, mas conheço esse aroma, conheço esse estalar de passos, para onde seu perfume é levado quando o vento bate.

Eu sei de quem se trata.

Encontro um caminho comum entre quatro arvores que circundam um campo de mata baixa, o alto dos calcanhares. Eu me ajeito ali, perto de um tronco grande e marrom sendo engolido por musgos e fungos verdes até metade da minha altura, de lá, galhos se transformam em braços troncudos, agarram-se com os vizinhos e formam uma tela protetora, como um ringue de boxe. Mas esta não é uma luta, é apenas um aviso.

A mulher de quem eu procurava estava ali, sua silhueta brilhava com a luz da lua chamuscando as gotas de água que percorria o corpo da mulher. Seus lábios eram tão vermelhos quanto o tom da sua blusa fina de seda que caia muito bem no seu corpo magro atlético, as alças finas escorregavam pela sua pele macia enquanto se formava um sorriso sedutor e tentador no rosto dela.

– Você demorou. – eu disse.

Ela sorriu triunfante, ou talvez parecia.

– Mas eu sempre apareço, Andrew.

A voz de Alice percorre os centímetros daquele lugar e chega até mim como o ar que faltava em meus pulmões. Só tem um problema: meus pulmões não precisam mais desse ar.

Ela se chama Alice Notherm, é a única vampira de minha espécie a ganhar uma luta contra o nosso maior código de todos. O trono Triarco. Ela podia enganar com aquela beleza sensível e frágil, mas era uma das mulheres para traiçoeiras e fortes que eu já conheci.

– Isso é um mal de ser você, não é Alice? Estar sempre aonde não deveria estar, e desaparecer aonde você não poderia faltar.

Alice me olha com desdém. Ela sabe dos motivos que levei a chamá-la esta hora da noite, bem aqui, no meio de uma floresta entre North Pole e Sponvilly.

– Estamos falando de desonra, Andrew? – seu salto afunda na areia coberta de grama quando ela anda até mim. – Porque eu posso citar milhares de vezes em que você me deixou no quarto, numa cama de hotel depois de uma noite de amor selvagem.

Estico meus braços para trás e me encosto novamente no tronco. Minha temperatura é mais fria que o próprio tempo.

– Sexo. – eu a corrigi.

Ela ri tão fria que seus ombros tremem.

– Ingenuidade é uma coisa que perdemos quando os dentes cheios de veneno penetram na nossa pele quando despertamos da morte, Andrew.

– O que você quer dizer?

Ela se aproxima.

– Que você é não é um bom mentiroso.

– Engraçado, essa parte eu tenho certeza que aprendi com você. – nossos corpos se encontram.

Não respiramos, mas a chuva ainda cai forte e trovões irrompem o silencio.

– Por que você não vai direto ao assunto? Você sabe que sempre fui muito curiosa. – ela ergue os dedos e alcança parte do meu peito nu.

– É sobre Rebecca.

Ela fica decepcionada, mas posso ver um pouco de raiva no fundo dos seus olhos escuros como noite.

– Sua mãe. – ela responde. – Estamos no meio do nada depois de quase dez anos e você está querendo falar sobre sua maravilhosa mãe que já tentou cravar uma estaca no meu peito? Qual é, Andrew.

Eu empurro seus dedos, mas Alice não desiste.

– Ainda está de pé a parte de uma loucura selvagem, sabe, uma reconciliação. – ela sussurra perto do meu ouvido, seus lábios vermelhos tocam minha pele.

Meu corpo treme de raiva e não de desejo.

– Nós bem sabemos fazê-lo.

E ela ri.

Sua mão caminha tão levemente no meu peito que posso duvidar que ela esteja fazendo realmente isso. Ela é rápida, seu corpo está perto, nossos toques agora são seletivos, ela sabe onde me tocar, sabe onde se aproximar e está mirando minha boca com os olhos, a ponta da sua língua brinca com seus lábios e suas mãos caem e param nas minhas costas. Minha blusa está presa no meu corpo por causa da chuva, mas não é difícil de Alice tentar rasgá-la.

Eu seguro seu braço e atiro para longe, braço e corpo, antes que ela tente mais alguma coisa. Alice é forte para se equilibrar antes que eu pudesse arremessá-la para arvore.

– Não me toque de novo, Alice.

Ela nem parece ofendida, parece se tratar de um jogo.

– Você está se esforçando demais, Andrew. Não se lembra do quanto gostava dos meus toques?

Eu tive que rir.

– Normalmente esse tipo de lembrança, como você disse, remete ao passado. Passado, Alice. Acabou, para sempre, você gosta desse para sempre? – eu brinco com ela.

Alice dá de ombros.

– É tão doce ver esses seus lábios negando algo tão provável e óbvio. Somos uma ligação inquebrável, corpo e corpo, mente e mente, somos iguais, idênticos.

Eu não consigo escutá-la ao ouvir isso, parece que me estômago embrulha.

– Um dos seus grandes defeitos, Alice, é acreditar que eu ainda estou apaixonado por você. As pessoas evoluem e depois de um tempo elas percebem o que é melhor para elas e você nunca foi melhor para mim.

Ela riu de uma piada particular.

– Você é tão hipócrita.

– Nós vamos falar de hipocrisia agora, Alice? – eu me irritei. – Tanto eu quanto vocês sabemos o que esconde atrás desse seu passado escuro, Alice. Uma longa jornada de traições, você quer eu as liberte? Porque eu me lembro como tudo isso aconteceu: você foi banida, Alice, banida pelo Triarco.

– Eu já me resolvi, você sabe disso. – ela rói o canto da unha, encostada num tronco de árvore me olhando.

Eu me irritei.

– O que você fez não tem pena no mundo que pague. Você sabe disso.

Alice inspirou fortemente.

– Acho fantástico essa ideia sua de que sou sempre a culpada da história Andrew, devemos passar por cima e seguir em frente. As pessoas inteligentes fazem isso.

Esmurrei uma arvore.

– O que você está tramando, Alice?

Alice respira fundo e começa a andar até mim tão tranqüila quanto alguém poderia estar naquela situação.

– Não acredito que você me ache tão má ao ponto de vir aqui para tramar alguma coisa. – ela me olha nos olhos. – É tão difícil acreditar que o motivo verdadeiro de eu estar aqui, é você? Eu te amo, Andrew.

Ela segura meu rosto. Eu seguro seu punho.

– Você pensa que eu sou idiota? – murmuro. – Não sou hipócrita ao nível de esquecer que uma vez ao seu lado, você foi capaz de trair ao nosso código e a minha família, quase fomos mortos por sua causa, Alice.

– Meu braço, Andrew. Solte meu braço, você está me machucando.

– Você é incapaz de sentir alguma coisa, nem dor, nem amor, nem compaixão. Você é a parte ruim de se tornar um vampiro. Você é a transformação que deu errado, quando os vampiros ficam cegos.

Ela me empurra com tanta raiva que eu sou arremessado até a arvore mais próxima, batendo as costas e sentindo as mãos de Alice na minha roupa.

– Nós somos feitos para sermos incapazes de sentir, é esse o legal de ser o que somos, Andrew, sem laços. – e sorri. – Algumas vezes quebramos as regras. Isso aconteceu quando nos apaixonamos.

Eu ri sem humor.

– Você é maluca.

– Deve ser. – ela sorri. – Mas eu acho que é esse o seu tipo preferido, Andrew. As garotas que não esperam pelos moçinhos. Nós fazemos o nosso próprio caminho.

– O seu caminho é cheio de falhas, não se esqueça. – apontei o dedo em negativo.

Ela ri.

– Meu caminho é eterno, e você pode juntar a mim quando quiser. – ela se aproxima, convidativa.

– Eu já estive num inferno, uma vez, não quero ir para lá com você de novo.

Quando eu falo, eu empurro ela para trás alguns centímetros.

Alice dá alguns passos para trás, com uma feição séria. Comecei a limpar minha roupa enquanto tentava mudar o assunto de “nós dois” para “somente ela.

– Vamos falar sobre o que viemos fazer aqui, Alice.

Ela fez um meio sim com a cabeça.

– Podíamos fazer isso depois de alguns exercícios... Extra-curriculares.

Eu tive que rir.

– Esse tipo de atividade eu não cometo com traidores, Alice.

Ela me examinou com raiva.

– Traição... – ela diz preguiçosamente. – Eu não fiz nada.

– Minha familia estaria morta se Edwin não tives...

– Você é tão dramático, querido. – ela me interrompe, dando de ombros.

Eu vou até ela, com um pouco de raiva, seguro-a pelos braços e trago para perto.

– Não me chame de querido como se você se importasse.

– Mas eu me importo, querido. – seus olhos são doces. Falsos. – Por isso voltei, para estarmos juntos, eu já me redimi com o Triarco, só basta que você e sua querida mãe esqueçam aquele passado miserável.

– Eu não quero estar com você.

Ela me avaliou com seus olhos castanhos impermeáveis.

– Já disse que você é um péssimo mentiroso, amor?

Eu a empurro para longe.

– Não me chame de amor, – estou gritando. – não me chame de amor, Alice, não acredito que está me dizendo isso, falando sobre o passado, sabe o quanto isso nos prejudicou?

Ela se encosta num tronco de madeira e me olha sedutoramente.

– Não o suficiente capaz de fazer você parar de me desejar, Andrew. Poupe dessa complicação, se entregue a mim novamente, meu amor, como nos velhos tempos.

Seus olhos castanhos caminham para mim e para meu corpo, ela está tentando me seduzir. Eu tenho plena confiança de que isso é um dos seus truques, mas não posso negar o quanto Alice é bonita, se não a vampira mais bonita que eu já conheci. Ela tem um cabelo loiro pesado caindo pelos seus ombros aparentemente frágeis, fios ondulados descem até abaixo dos seus seios numa perfeição, seu corpo aspira a sensualidade que faz qualquer ser entrar em loucura. É isso que ela faz, Alice tem uma facilidade em convencer as pessoas do contrário, ela exala perigo, mas consegue distribuir um perfume irritante de confiança, de tranqüilidade, tudo que ela não é. É como se eu tivesse um bip esperneando: perigo, se afaste!

Seria um tipo de perigo na qual a maioria dos homens entraria com muita facilidade. Eu já estive naquele radar a muito tempo, se houvesse algo para resgatar das lembranças, seria arrependimento.

Embora eu grite a mim mesmo que não sinto nada por aquela mulher, eu ainda vou até ela ao mesmo tempo que se aproxima também, nossos corpos se chocam e vejo o quanto ela está desesperada para me beijar, mas antes que isso aconteça, eu puxo seu rosto e sussurro:

– Nunca, Alice, e escute bem, nunca esquecerei das sua traição, eu poderia matá-la agora.

Ela ri presa nos meus braços.

– Sabe por que você não conseguiria me matar? Porque existe um nível, mesmo baixo, de amor aqui dentro desse seu coração semi-novo.

– O que não me fez prosseguir com essa ideia são meus planos, Alice, e você não está neles. – eu me afasto.

Alice me segue.

– Então é verdade? Você e Lewis e essa incrível sociedade entre vocês?

Nossos olhos se encontram.

– Como soube?

– Vampiros são observadores. Você sabe que Lewis é tão traiçoeiro quanto uma cobra.

– Você não é capaz de entender. – eu inspiro fortemente aliviado por sentir o gélido ar da floresta. – E meu trabalho aqui é fazer você ir embora, - viro-me para ela. – e você sabe que eu posso fazer isso.

– Você não me deixaria.

Eu me aproximo.

– Vá embora quando pode, Alice, mas se decidir ficar, eu mesmo terei o prazer de fazê-la ir, viva ou morta.

Alice fecha a feição e grita para meus ouvidos com muita raiva. Ela se aproxima de mim tão rapidamente e tão cruel que agora sim eu posso ver a verdadeira Alice que estou acostumado a ver.

– Eu só irei embora Andrew, quando você falar a verdade sobre seus sentimentos. – ela segura meu peito. - Apenas me diga que não me quer, se disser, será a última vez que nos veremos.

Eu tive que ri.

– É isso?

– Olhe nos meus olhos, Andrew. – ela prosseguiu. – Diga.

Eu inspirei fortemente para dizer, essa seria uma das poucas verdades que eu já havia sido capaz de dizer.

– Eu me enganei, Alice, nossos sentimentos nunca foram de verdade, nem reais.

– Você mente com a facilidade que um humano respira.

– Essa é a verdade, Alice. Enfrente-a.

Ela grunhiu.

– Eu te conheço, você está mentind.

– Não, você não me conhece, não quando eu não estou apaixonado por você, não quando eu sou melhor do que aquele antigo Andrew. É essa a verdade sobre o que somos Alice, temos pequenas capacidades de amar as pessoas, mas somos muito melhores em odiá-las ou desejá-las. No seu caso, esgotou-se qualquer probabilidade dos meus sentimentos por você serem amor ou desejo. Na verdade, sinto orgulho em dizer que sinto pena de você.

Ela não se move, mas faço questão de me afastar facilitando seu trabalho.

– Esse é o meu adeus, Alice. – murmuro. – Tenho planos para hoje e você não está incluída.


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Notas finais do capítulo

Nem tudo é o que parece ser... Lembre-se disso.