Quando eu conheci Edward, com 15 anos, eu nunca me imaginei apaixonada por ele. Na verdade assim que eu o conheci e me tornei sua amiga, eu coloquei na cabeça que nunca me apaixonaria por ele. Edward sempre foi apaixonável, mas nunca foi sadio pra garota nenhuma se apaixonar por ele. Eu sabia disso, todas as garotas que iam pra cama dele também sabiam.

Com o passar dos anos eu assisti a vida de Edward de camarote, vi ele se rebelar contra os pais quando descobriu que era adotado; vi ele sofrer ao conhecer a mãe biológica e descobrir que ela era a pior pessoa da face da terra; vi ele fazer a primeira, de muitas, tatuagens e vi a felicidade no olhar dele ao me acompanhar pra fazer a minha primeira tatuagem; Em três anos de amizade com Edward eu o vi crescer e mesmo assim continuar o mesmo.

Quando decidimos ir juntos pra faculdade em Atlanta eu nunca imaginei que iriamos nos distanciar tanto. Edward, em apenas um ano de faculdade, havia se tornado o mais mulherengo e beberrão amigo que eu poderia ter. As ligações de madrugada, chorando e dizendo o quanto ele se odiava por ser um péssimo amigo, eram quase frequentes e eu sabia que no dia seguinte ele já teria esquecido. Por escolha minha não morávamos mais juntos, uma decisão bem sensata diante do fato que Edward nunca dormia sozinho. Os primeiros seis meses morando com ele me trouxeram à compreensão que eu não podia mais assistir de camarote tantas mulheres passando pela cama dele.

Não sei exatamente quando eu me dei conta da minha paixão pelo meu melhor amigo, mas ele não sabia, na verdade ele sempre me tratou como uma irmã mais nova a quem ele devia proteger. Edward era complicado demais, mulherengo demais, e eu era apaixonada demais a ponto de não me importar e estar sempre la. Sempre que ele quisesse, sempre que ele precisasse, mesmo que ele não pedisse.

“Bella.” Fechei o computador e olhei Alice parada na porta do meu quarto “Tem uma encomenda pra você na porta.”

Pelo olhar da minha amiga eu entendi do que se tratava. Alice dividia o apartamento comigo, e como eu já estava acostumada de pelo menos uma vez por mês receber encomendas deste tipo. Assenti pra ela, que parecia morta de sono, e deitei minha cabeça na cama por alguns segundos mais. Guardei meu computador, afinal eu não poderia terminar trabalho nenhum pelo resto do fim de semana. Levantei e me lamentei ao constatar que ele já havia até dormido no chão do corredor do prédio.

“Edward” Chamei o sacudindo devagar, eu lidava com bêbados tempo suficiente pra saber que não podia sacudir demais. Era como aquelas caixinhas de suco, depois de abertas, se você apertar com força elas podem simplesmente vazar e você não vai gostar do estrago que elas podem fazer.

“Bella” Ele gemeu e eu o ajudei a levantar.

“Esqueceu o caminho de casa de novo?” Perguntei já o arrastando pro meu quarto.

“Eu estava. Numa Festa. E lembrei. De você. Quis vim te ver.” Ele falava pausado, como num soluço constante. Ou num porre épico.

“Queria saber por que você bebe tanto.” Resmunguei o empurrando em baixo do chuveiro, ele não reclamou, mas também não me soltou.

Ele parecia em outro mundo, alienado, bêbado demais pra conversar. Nos despi debaixo do chuveiro mesmo, ficando apenas de lingerie e o deixando apenas de box. Ele não iria se importar, estava bêbado demais pra reparar. Depois do que pareceu umas meia hora, consegui me livrar de seu abraço e sai do box, busquei duas toalhas me enrolando em uma e logo depois enrolei Edward na outra. O conduzi até a cama onde ele deitou com toalha e tudo. Com algum esforço desenrolei a toalha de seu corpo e logo depois deitei também, não me importando com o fato que estávamos de roupas intimas, molhadas. Não era a primeira vez que eu dividia a cama com Edward.

“Aquela mulher veio atrás de mim hoje. Ela me achou Bella.” Ele disse agoniado, a voz ainda um pouco rouca por causa da bebida.

“Ela veio me pedir dinheiro, dizer que eu devo isso a ela já que ela que me deu pra uma família rica. Que eu devo pagar a ela todos os anos que ela viveu na pobreza, enquanto eu disfrutava das riquezas da minha família adotiva.” Sem dizer uma única palavra eu o abracei, deitei minha cabeça em seu peito e depositei beijos ali, próximo a tatuagem que ele havia feito em minha homenagem.

“Por que não veio pra cá? Por que foi beber ao invés de vir conversar comigo?” Perguntei, apesar que já sabia a resposta. Edward não se achava digno da minha amizade. 

“Você é tão boa pra mim Bella.” Eu não sabia o que dizer, eu muito mal sabia o que fazer com o fato de que eu amava Edward e não conseguia nem sequer pensar em ficar longe dele, mesmo diante das suas burradas.

Ouvi um toque de celular irritante e me empertiguei pela cama a procura dele. Eu estava com sono, quem poderia ser o louco que estava me ligando a essa hora da manhã em pleno sábado? Depois de me esforçar a acordar, percebi que o telefone que tocava não era o meu e sim o de Edward. Ele dormia despreocupado, como uma pedra. Sempre foi assim, nem sei como esse cara acorda de manhã pras aulas da faculdade.

“Alô” Atendi sem me preocupar, afinal eu era quase irmã de Edward, toda a faculdade sabia, toda a nossa família sabia. Eu não gostava de ser tratada como tal, mas se era o que eu podia ter eu aceitava sem reclamar.

“Bella!” ouvi a voz de Emmett e sorri

“Oi grandão, bom dia.”

“Bom dia Bellita! O idiota do meu irmão esta ai?”

“Na verdade ele esta dormindo?”

“Então quer dizer que ele finalmente cedeu aos seus encantos e tirou sua pureza?”

“Emmett!”

“Que foi Bellita, eu sei que você é caidinha pelo meu irmão mané e ele nem se da conta disso.”

“O.k. Emmett, vamos deixar essa conversa constrangedora só entre nós.”

“Tudo bem Bellita não esta mais aqui quem falou. Estou ligando pra convidar vocês pro almoço de amanhã. Eu ia te ligar depois de ligar pro mané. Mamãe quer toda a família reunida amanhã, papai já deixou o jatinho no esquema pra vocês embarcarem hoje as sete.”

“Pode deixar que eu vou falar com seu irmão.”

“Então ta certo, nos vemos mais tarde, vou buscar vocês no aeroporto.”

“Beijos Emmett, até mais.” 

Desliguei o telefone rindo e me levantei da cama, afinal eu não iria mais conseguir dormir mesmo. Fiz minha higiene matinal e vesti uma calça de moletom e camiseta. Quando sai do banheiro Edward ainda dormia, não havia movido um musculo sequer. 

“Bom dia Alice.” Minha amiga de cabelos espetados era realmente uma pessoa de hábitos diurnos. Não houve um dia, desde que eu comecei a dividir o apartamento com Alice, que ela não tivesse acordado cedo. Ela sempre estava la sentada no sofá assistindo desenho com um pote de cereal com leite. Parecia uma criança toda encolhida no sofá, tão concentrada no desenho quanto ficava quando tinha algum trabalho pra fazer.

“Bom dia Bella. Eu fiz café, talvez Edward precise de um pouco.” Alice me conhecia bem o suficiente pra saber que eu nunca mandaria Edward embora. Ela, assim como Emmett, sabiam da minha paixão por Edward mesmo eu nunca tendo contado pra ninguém.

“Ele ainda esta dormindo, mas obrigado mesmo assim.” Sorri pra ela que assentiu e voltou pro seu desenho e cereal. Eu fui pro balcão da cozinha, enchi uma xicara de café e a tomei enquanto separava os ingredientes pra fazer uma panqueca.  Edward adorava minhas panquecas, e eu sabia que ele acordaria com fome.

“Ah Alice, hoje nós vamos viajar até a casa dos pais de Edward. Por que não vem com a gente?” Perguntei pra minha amiga assim que a vi sair de frente da televisão. O desenho tinha acabado, dando lugar ao jornal matinal.

“Pode ser legal.” Ela deu de ombros e eu sorri. Alice era sozinha em Atlanta assim como eu, apesar de eu ter Edward eu nunca me senti realmente acompanhada dele. A família de Alice morava no Texas e ela havia se mudado pra um alojamento de meninas da faculdade, o que não deu muito certo afinal a amiga de quarto de Alice era uma gótica meio louca, e a baixinha e espevitada Alice se amedrontou no primeiro instante. Nos conhecemos através da imobiliária que alugou nosso apartamento, e quase instantaneamente nos demos bem. Alice fugiu da companheira de quarto sinistra e eu me livrei das paqueras de Edward.

Terminei de fazer as panquecas, as coloquei no prato com um pouco de manteiga e mel e enchi uma xicara de café. Me surpreendi ao entrar no quarto e não ver Edward na cama. Coloquei a comida sobre o criado mudo e fui até a porta do banheiro que estava fechada.

"Edward." Chamei batendo na porta, ele não respondeu, mas segundos depois abriu a porta me dando a visão dele com uma toalha enrolada na cintura.

"Bom dia Bella." Disse me dando um beijo na testa "Ainda tem roupas minhas aqui?" Assenti ainda meio hipnotizada. 

Edward era simplesmente espetacular, nunca foi forte, mas era alto e malhado o suficiente pra deixar qualquer mulher louca. Com 17 anos Edward fez sua primeira tatuagem, uma rosa no ombro esquerdo em homenagem a Esme, sua mãe adotiva. Depois disso uma sucessão de cinco tatuagens foram feitas fechando seu ombro esquerdo e seu peito. A ultima delas havia sido uma homenagem pra mim, assim que nos mudamos pra Atlanta. Um livro, cercado de rosas e notas musicais. Eu havia chorado muito, pois assim que eu vi eu sabia que era pra mim. 

E era em momentos assim que eu sentia meu peito apertar, porque Edward parecia tão ligado e ao mesmo tempo tão distante de mim, que eu me sentia sufocada. As demonstrações de carinho me enchiam de esperança, mas eu sabia que não ia nunca ter a resposta que eu desejava dele.

"Você fez panquecas." Ouvi ele exclamar e sai do meu pequeno transe. Edward ainda não havia se vestido, o que era completamente incomodo, eu me sentia envergonhada por desejar tanto ele.

"Vou colocar uma roupa e ja volto pra provar essa delicia." Assenti sentindo minhas bochechas arder. Eu podia sentir meu rosto assumindo um tom vermelho. Respirei fundo enquanto ele ainda estava dentro do closet.

"Edward, seu irmão ligou mais cedo, sua mãe nos chamou pra passar o dia amanhã. Vai ter um jatinho pra nos levar a Forks as sete no aeroporto." Me sentei na cama e esperei que ele respondesse do closet mesmo, mas ao invés disso ele ficou em silêncio e apareceu segundos depois ja vestido. Pode parecer estranho, mas Edward tem roupas no meu apartamento, afinal ele passa bastante tempo aqui durante o dia e quase sempre que dorme aqui é de surpresa.

"Eu não quero ir." Fiz uma careta pra ele que deu de ombros e sentou na cama, começando a comer.

"Até quando você vai evitar sua familia Edward? Desde que nos mudamos, se você foi la duas vezes foi muito." Ele permaneceu quieto, comendo como se eu não tivesse falado nada.

"Você vai, eu ja disse pro seu irmão que você vai, e você vai, nem que eu tenha que te amarrar!" Exclamei e ele arqueou as sobrancelhas antes de dar uma risada gostosa. Sorri, eu finalmente havia conseguido ganhar meu dia, a risada de Edward era linda demais.

"Você não existe senhorita Swan."