Acordei com meu corpo doendo insuportavelmente, não era à toa, afinal eu havia dormido toda torta no sofá com aquelas roupas desconfortáveis. Eu já me sentia um pouco melhor, apesar de minha cabeça ainda estar me pregando algumas peças. Me arrumei rápido para a escola, e resolvi ir a pé para evitar algum acidente causado pela minha confusão.

O que diabos tinha acontecido comigo ontem? A primeira desconfiança obvia seria de Nina ter feito alguma coisa, mas ela nem encostou em mim, e não parece o tipo de pessoa que tem meios para deixar alguém como eu estou agora. Outro fato era que W também estava agindo de uma forma muito estranha, nem parecia a mesma pessoa. Tinha de ter outra explicação.

Quando cheguei na escola, quase ninguém havia chegado ainda, então decidi me sentar em um canto, quando de repente, o mesmo cara que tinha dado em cima de mim no primeiro dia de aula apareceu.

“Iae gatinha ruiva. Sabia que eu ainda não desisti desse seu rostinho lindo?”

“Pode me deixar em paz?” Eu mesma não reconhecia minha voz, estava fria e estranha.

“Qual é, já que seu amigo esquisito e seu namoradinho não estão aqui eu te faço companhia.” Antes que ele falasse mais alguma coisa, o segurei pela gola da camisa, seus pés nem mesmo tocavam o chão.

“Escuta aqui seu inútil, eu vou arrancar cada pedacinho da sua pele e...” Sai correndo antes de fazer mais alguma coisa? O que tinha dado em mim? Aquele ódio era tão insano que fazia minhas mãos tremerem. Eu estava perdendo a cabeça para meus instintos? Isso não era possível, porque quando acontecia eu não conseguia mandar do meu corpo, era como se estivesse fora dele, mas dessa vez não tinha sido assim.

Fui até o banheiro e joguei litros e litros de água fria no rosto, até conseguir me acalmar um pouco, mas logo que sai do banheiro dei de cara com T-suki, Rangiku, Ichigo e Rukia.

“Oi pessoal.” Tentei parecer o mais calma possível.

“Nossa Ori, o que aconteceu caiu dentro da piscina?” Rangiku perguntou sorrindo.

“Não, a torneira do banheiro está quebrada e acabou me encharcando.” foi a melhor mentira que eu consegui pensar.

“Então meu amor, como foi ontem com o descabelado idiota?” Bem, desconsiderando que provavelmente estamos pirando de vez foi o que pensei, mas obviamente não diria aquilo a Ichigo.

“Tudo acabou se resolvendo.” De certo modo isso era verdade. “Falando nele, onde está o W?”

“Disse que está doente e ia ficar em casa hoje.” Definitivamente ele tinha mentido para T-suki, essa era a confirmação que eu precisava para ter certeza que seja lá o que estava acontecendo comigo estava acontecendo com W também.

“Tsc deve estar só fazendo draminha, aquele estúpido. Vamos pra sala?” Depois disso todos fomos para a classe, mas cada minuto de aula que passava eu me sentia pior. Minha testa pingava de suor, e aquele cheiro de sangue voltava muito mais forte.Eu nem mesmo podia segurar uma caneta e tentar me distrair com a lição, qualquer objeto nas minhas mãos parecia uma faca, uma arma para decepar todos que estavam ali.

Logo percebi que Nina estava me observando. Ótimo, tudo que eu precisava era que ela se interessasse pelo meu estado e voltasse a investigar. Com as informações que ela tinha agora podia chegar aos nossos crimes, compra de coisas ilegais, e até ao passado de W. Sem nem pensar duas vezes, levantei minha mão até que a professora visse.

“Preciso ir ao banheiro.” Mal obtive minha resposta e sai quase correndo da sala, não exatamente para o banheiro, e sim para qualquer lugar sem nenhuma pessoa por perto. Acabei parando embaixo de uma arvore, quando meu celular tocou. Era uma mensagem de W.

“Se você não está em casa, deve estar na escola. Venha até aqui na frente, agora, dê seu jeito.”

Decidi ir checar, era melhor que ficar aqui e acabar fazendo alguma burrice. Como o segurança no portão não iria me deixar sair, escolhi uma parte extremamente deserta da escola e pulei o muro, correndo o mais rápido possível para a frente do prédio, só para me deparar com a situação de W, que só podia ser definida como desesperante.

Sua camisa estava pingando de suor, as mãos tremiam incessavelmente.

“Oi.” Falei com cautela.

“Suba na moto agora.” Ele já estava sentado, dando a partida.

“Por que? O que está...”

“Só faça o que eu disse.” A voz dele estava assustadora, mas mesmo assim obedeci. Afinal, W era a única pessoa que eu conhecia que podia saber o que diabos estava acontecendo. E por mais que fosse perigoso andar de moto com alguém tão perturbado, eu não queria virar um monstro. Tinha que fazer qualquer coisa para impedir que meu lado horrível me dominasse e W com certeza pensava o mesmo, porque se isso acontecesse com nós dois não sei quantas pessoas sobreviveriam em Karakura.